3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 57 ª LEGISLATURA
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
(Audiência Pública Extraordinária (semipresencial))
Em 6 de Maio de 2025 (Terça-Feira)
às 14 horas e 30 minutos
Horário (O texto a seguir, após revisado, integrará o processado da reunião.)
14:49
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Senhoras e senhores, boa tarde.
Boa tarde àqueles que nos acompanham pela TV Câmara.
Em nome da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, dou as boas-vindas a todos os convidados, que pronta e gentilmente aceitaram o convite para participar desta importante audiência pública.
Gostaria de destacar que acabou de chegar aqui o Prof. Tomasz Lychowski.
Prof. Tomasz, a Graça, a minha esposa, que é prima da sua vizinha a Auxiliadora, acabou de chegar.
Cumprimento, de forma especial, todas as Deputadas e Deputados que participam desta reunião, bem como as assessorias parlamentares, os profissionais da imprensa e o público que nos acompanham presencialmente ou on-line pela página da Comissão na Internet e pelo canal da Câmara dos Deputados no Youtube.
Esta audiência decorre da aprovação, neste colegiado, do Requerimento nº 16, de 2025, de minha autoria, subscrito pelo Deputado Filipe Barros, o Presidente da CREDN, que tem como objetivo debater a criação de uma data nacional em homenagem à comunidade polonesa e seu patrimônio histórico no Brasil.
Aos convidados que participam desta audiência pública faço um especial agradecimento.
Permitam-me fazer uma leitura breve de seus currículos.
Com certeza, se fôssemos fazer uma leitura completa dos currículos de cada um dos convidados, autoridades do nosso segundo país, a Polônia, ficaríamos talvez mais de duas horas somente fazendo isso.
Convido o Sr. Henryk Siewierski, professor titular do Departamento de Teoria Literária e Literatura e coordenador da Cátedra Cyprian Norwid de Estudos Poloneses da Universidade de Brasília, que participará conosco aqui; o Sr. Tomasz Lychowski, professor, membro e ex-Presidente da POLONIA Sociedade Beneficente do Rio de Janeiro, que participará também presencialmente conosco; o Sr. Andrés Bukowinski — nós temos uma dupla de Andrés aqui —, Cônsul Honorário da República da Polônia em São Paulo, que também participará conosco aqui — já estivemos num evento maravilhoso organizado por ele na Sociedade Brasileira de Cultura Polonesa de São Paulo, o que muito nos honrou; o Sr. Norton Morozowicz, maestro, flautista, professor titular em notório saber da Universidade Federal de Goiás e membro da Academia Brasileira de Música, que participará de forma virtual; o Sr. Sérgio Sechinski, Cônsul Honorário da República da Polônia em Porto Alegre, que participará de forma presencial — não sei por que ele não veio vestido com a pilcha (risos), porque ele, com o tempo em que reside no Brasil, no Rio Grande do Sul especialmente, já estaria andando pilchado; o Sr. Fabricio Wichrowski , arqueólogo, historiador, professor e pesquisador vinculado à Universidade de Breslávia, que participará de forma virtual diretamente da Polônia.
Depois eu solicito que façamos um teste para saber se já está tudo bem com a conexão com ele.
Temos também aqui a presença do Sr. Andrzej Cieszkowski, que já está oficialmente designado Embaixador da Polônia no Brasil, um dos avalizadores deste evento tão maravilhoso que estamos organizando aqui agora.
14:53
Gostaria de saudar todos que fazem parte do corpo diplomático da Polônia e dizer para cada um das senhoras e senhores que não se fala da boca para fora. Não somente pela gravata que estou usando hoje, mas eu tenho, sim, o meu coração polonês — já não é um coração original de fábrica, eu preciso dizer isso. Ele foi primeiro mudado na Polônia, quando morei lá...
Está chegando aqui a nossa querida Deputada Carla Zambelli. (Pausa.)
Deputada Rosangela Moro, também seja bem-vinda.
Então, como eu estava falando, o meu coração já não é original de fábrica, mas a primeira mexida nele foi exatamente na Polônia, quando, depois de sermos recebidos com todo o carinho e com toda a fidalguia que os poloneses dedicam aos seus visitantes, nós tivemos o coração branco e vermelho — bialy i czerwony. Recentemente também, há 5 anos e 10 meses atrás, eu precisei trocar uma outra peça. Troquei uma pecinha aqui, uma válvula óptica, que também já não deixou mais o coração original. Aí é que ele ficou menos original de fábrica, mas faz parte.
Em relação às falas aqui, Embaixador, eu gostaria de perguntar se o senhor gostaria de começar falando ou se o senhor teria alguma prioridade de que alguma outra pessoa falasse? (Pausa.)
Não. Então, está bom.
Eu vou fazer o uso da palavra inicialmente para ambientá-los sobre esta nossa reunião aqui, esta nossa audiência pública.
O Brasil e a Polônia são países que têm relações diplomáticas bastante antigas. O Brasil praticamente foi o primeiro país latino-americano que reconheceu a independência da Polônia. O Brasil tem relações diplomáticas com a Polônia já há muito tempo.
Eu não sei se todos têm conhecimento disso, mas quando eu fui designado, em 2002, para ser adido militar na Polônia — na verdade, eu cheguei lá em 2003 —, já existiam dois outros adidos. Então, o Brasil já tinha uma relação diplomática militar há 4 anos. Quando nós chegamos lá, uma das tarefas nossas foi chegar ao Escritório de Ligação de Adidos, ao Ministério da Defesa, o Obrony Narodowej da Polônia, para que os poloneses pudessem mandar para cá também o adido militar. Por quê? Porque esse intercâmbio nosso na área militar também é muito importante. Quando você conhece as pessoas que trabalham nas forças de defesa de um outro País, de um país amigo como a Polônia, você consegue crescer muito mais como país e você consegue respeitar muito mais também a soberania dos países.
Nós entendemos plenamente e ainda estamos tristes, esperando que a Europa volte a reinar em paz. Estamos tristes porque sabemos do passado polonês e sabemos da situação atual.
Eu tive a oportunidade, 6 meses atrás, de visitar a Ucrânia junto com o Deputado Alfredo Gaspar, que é um Deputado de Alagoas. Fomos somente nós dois, em uma manobra bastante complexa. Chegamos a Kiev via Varsóvia de trem. Para aqueles que não sabem, no trem que liga Varsóvia a Kiev, a distância poderia ser cumprida, basicamente, talvez em 9 ou 10 horas, no máximo, e a viagem leva 17 horas. Por quê? Porque o trem fica parado na fronteira, para o reconhecimento diplomático de ambos os lados, na imigração. Depois disso, os trens precisam entrar em tipo um cavalete, um elevador, para mudar a bitola dos vagões, porque as bitolas são diferentes. Então, é uma viagem bastante suada.
14:57
Por uma coincidência também, na noite em que estávamos viajando para Kiev, na madrugada — viajamos na madrugada, saímos no finalzinho da tarde de Varsóvia e chegamos no final da manhã a Kiev —, sem sinal de celular, sem Internet, então, o que aconteceu? A Ucrânia resolveu conquistar um território russo para que as negociações de paz pudessem ter alguma vantagem também. Então, quando nós chegamos lá, que eu consegui ter acesso a isso, eu preparei o meu colega e disse assim: "Olha, é bom você dormir de sapato e com roupa, porque na madrugada a gente não vai ter sossego". E não deu outra. Mas isso é passado. Sabemos muito bem que isso faz parte do passado e agora precisamos que a paz volte a reinar.
Peço a atenção às senhoras e aos senhores para alguns esclarecimentos importantes sobre os procedimentos regimentais que serão observados. Cada palestrante terá até 10 minutos para fazer sua exposição, não sendo permitido apartes.
A lista de inscrição para os debates nesta reunião encontra-se disponível para os Deputados e Deputadas no aplicativo Infoleg, pelo celular.
O tempo previsto para cada inscrito interpelar os convidados é de 3 minutos, em conformidade com o estabelecido no § 5º do art. 256 do nosso Regimento Interno.
O Deputado que não estiver presente no momento em que tiver o seu nome chamado passará a figurar ao final da lista.
Se tivermos algum comunicado de liderança, também o colocaremos aqui na fila.
Os Vice-Líderes também que quiserem falar terão o tempo disponível.
Ao final do debate, cada convidado disporá de 3 minutos para suas considerações finais.
Já que não temos uma prioridade aqui nas inscrições, vou me permitir, então, fazer a chamada aqui das pessoas a falarem "do lado contrário da direita" para a direita.
O senhor entendeu, Prof. Henryk? Eu nem gosto de falar o lado contrário. É "o lado contrário da direita" para a direita.
Então, com a palavra o Prof. Henryk Siewierski, pelo tempo de até 10 minutos.
O SR. HENRYK SIEWIERSKI - Muito boa tarde.
Sr. Deputado General Girão, Sr. Embaixador, meus colegas da Mesa, senhoras e senhores, é uma grande honra e satisfação participar desta audiência pública inaugurada para discutir uma proposta que, para a história das relações de amizade entre Brasil e Polônia, adiciona um ato de tão elevado valor simbólico e real.
Ao justificar a proposta de criação de uma data nacional comemorativa em homenagem da comunidade polonesa e seu patrimônio histórico no Brasil, o Sr. Deputado General Girão lembra a história desta presença e os exemplos deste patrimônio, dando assim um testemunho de como a memória desta presença e deste patrimônio está viva, o que me faz lembrar também um projeto realizado há 25 anos pelo Museu da República do Rio, em celebração de 500 anos do Brasil, do qual tive o prazer de participar, que resultou na publicação de um livro coletivo com o título República das Etnias.
15:01
A obra apresenta, entre os componentes desta República brasileira, também as grandes migrações nos séculos XIX e XX, realçando o seu papel na formação do povo brasileiro, dos japoneses, italianos, alemães, sírio-libaneses, poloneses e judeus, oriundos de vários lugares da Europa. O capítulo Os Poloneses nos 500 Anos do Brasil fala da presença e contribuição dos poloneses em diversas áreas.
O Brasil e a Polônia se assemelham, embora em dimensões diferentes, pela diversidade e pluralidade das suas origens, porque a Polônia, em seu Estado consolidado e fundado em meados do século X, dentro do mundo cristão do Ocidente, na sua pré-história ocupava lugar fronteiriço de encruzilhada dos povos.
No século XVI, a sua diversidade étnica e cultural se acentua quando, com a união entre o reino da Polônia e o grande principado da Lituânia, surge uma república multinacional dos poloneses, lituanos, ucranianos, bielorrussos e judeus, entre outros. Por isso, no século XIX, das terras daquela república, invadidas então pelos impérios vizinhos, nos mesmos navios seguiram ao Brasil os poloneses junto com seus concidadãos daquelas nacionalidades.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, a Polônia recupera a sua independência, mas o intenso fluxo migratório continua ainda por duas décadas. Houve, então, o tempo em que o Brasil foi, para muitos imigrantes da Polônia, uma terra prometida, sobretudo para os que trabalhavam com a terra, os camponeses e camponesas, milhares deles chegavam tanto por estarem desterrados na sua própria terra pelos invasores, quanto por haver falta de terra nas superpovoadas aldeias.
Aqui já não eram mais desterrados, mas assentados na terra do Brasil, que os chamou e acolheu, que eles cultivaram com suor e amor. Será que pode haver um laço mais forte do que este, cultural, telúrico, afetivo, entre povos separados pelo oceano? Laços mais fortes é difícil haver. Mas, de certo, não eram menos fortes os laços estabelecidos entre o povo do Brasil e os engenheiros, técnicos, médicos, professores, artistas, cientistas, freiras, sacerdotes e militares vindos também da Polônia.
Dos laços entre nossas culturas, que a imigração tem originado ou intensificado, queria destacar os da literatura. Quando um dia, no final dos anos 80, visitei em Curitiba Paulo Leminski, um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos, de origem polonesa por parte do pai e origem portuguesa, afro-brasileira e indígena por parte da mãe, ele me mostrou um livro de poesia do século XIX de Adam Mickiewicz, que o seu avô trouxe da Polônia. Pude, então, imaginar quantos poemas e histórias trouxeram os imigrantes nas suas malas, além de trazerem na memória e no coração.
15:05
Paulo talvez também tivesse pensado nisso quando escreveu num dos seus poemas:
Meu coração do polaco voltou
coração que meu avô
trouxe de longe pra mim
um coração esmagado
um coração pisoteado
um coração de poeta.
São muitos os escritores imigrantes poloneses e seus descendentes cujas obras escritas em português fazem parte da literatura brasileira — uns mais outros menos conhecidos. Há também um numeroso acervo de obras escritas em polonês editadas no Brasil ou na Polônia. Entre elas, um clássico da literatura polonesa: Senhor Balcer no Brasil, um monumental poema épico de Maria Konopnicka, publicado na Polônia em 1910, sobre a história de um grupo de imigrantes, ainda não traduzido para o português.
Mas há também um extenso relato de Zygmunt Chelmicki da sua viagem ao Brasil no final do século XIX, traduzido e editado recentemente pelo Senado Federal, com o título Imigrantes poloneses no Brasil de 1891. Destacaria ainda obras de (ininteligível), professor nas escolas polonesas do Paraná, autor de dezenas de peças para teatros poloneses, ensaios históricos e romances sobre a história e vida dos imigrantes, entre outros homens da terra.
Preparei uma lista mais longa, muito mais longa, dos escritores, mas não acabaria de lê-la toda nem em 20 minutos. E não podemos esquecer também os periódicos poloneses no Brasil. Só entre 1892 e 1966, saíram cerca de 100 jornais e revistas. Hoje são dois periódicos: a Polonicus — Revista de Reflexão Brasil-Polônia, editada pelo historiador e padre Zdzislaw Malczewski, em Porto Alegre; e o Boletim TAK!, editado pela Casa de Cultura Polônia Brasil, em Curitiba.
A literatura polonesa entra no sistema literário brasileiro também em traduções, com a sorte de ter, entre os seus primeiros leitores e tradutores, Castro Alves, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Nos últimos anos, aumentou significativamente a lista de traduções. Saíram, entre outras, traduções de obras de Czeslaw Milosz, Stanislaw Lem, Wislawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Bruno Schulz e Olga Tokarczuk.
É cada vez mais intensa a cooperação acadêmica e o intercâmbio estudantil entre nossas universidades. E não é por acaso que o único curso de licenciatura e bacharelado de polonês da América Latina funciona na Universidade Federal do Paraná, e que o maior dicionário polonês-português e português-polonês é obra do filho de imigrantes o Prof. Mariano Kawka, de Curitiba.
Também na Polônia, a literatura brasileira está cada vez mais presente em traduções, sendo ensinada e estudada em várias universidades. Por exemplo, só nos últimos anos foram defendidas e publicadas em livro teses de doutorado sobre obras de Machado de Assis, Samuel Rawet e Clarice Lispector, sobre literatura afro-brasileira e sobre representações dos imigrantes poloneses na literatura brasileira.
15:09
São lembradas na Polônia, com gratidão, as manifestações e atos de solidariedade brasileira, manifestada também nas obras literárias, solidariedade com as lutas pela liberdade e democracia nos últimos dois séculos — a última foi travada sob a bandeira do movimento Solidariedade, que também acompanhava um fértil diálogo polono-brasileiro, diante das experiências e caminhos diferentes, mas ambos rumo à libertação e democracia. Esse diálogo prossegue e ganha relevância diante dos desafios de hoje.
Recentemente, foi inaugurado na Universidade Jaguelônica de Cracóvia um busto de Rui Barbosa, em homenagem a esse grande escritor e político brasileiro, que, no início do século XX, defendia na arena internacional os esforços dos poloneses para recuperar a independência do seu país. Também hoje os gestos de solidariedade brasileira com a luta dos nossos irmãos ucranianos contra a invasão russa não faltam, comprovando e reforçando a relação afetiva entre os povos do Brasil e os dos países da Europa Central.
Ia falar só sobre a literatura, mas a literatura leva longe, também porque a proposta aqui apresentada tem muito a ver com a poesia: faz imaginar o que foi e o que ainda poderia ser. E, assim, o patrimônio histórico da comunidade polonesa no Brasil, o nosso patrimônio comum, aqui rememorado, ao fortalecer os nossos laços, faz vislumbrar também uma história do futuro, do mundo ocidental ainda mais unido, e não só ocidental, pois de onde estamos, nos antípodas do Ocidente, dá para ver e ouvir e sentir talvez melhor também o Oriente e outras partes do mundo.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Prof. Henrique, muito obrigado por sua aula. O senhor nos fez viajar, agora, aqui, no tempo também. Muito obrigado, sinceramente.
Parece que nós estamos também contando com a presença de alguns jovens, meninas e meninos, estudantes.
Vocês são de que colégio, de que escola, de que universidade? (Manifestação na plateia: "Escola Vera Cruz".)
Sejam muito bem-vindos! Eu gostei de ver a beca de vocês: meninos com paletó e gravata, as meninas muito bem vestidas.
Passo a palavra, agora, ao Sr. Andrzej Bukowinski, que tem até 10 minutos para a sua fala.
Ele me disse que ia fazer uso de 2 minutos e meio a 3 minutos. Eu não acreditei, mas vamos lá. (Risos.)
O SR. ANDRZEJ BUKOWINSKI - Um bom-dia diretamente da Polônia!
Que bom, repito, que bom dois países com uma longa data de convivência: Brasil e Polônia!
O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a volta da independência da Polônia em 1918 — o professor já me explicou muito mais essa situação. O Brasil tem mais de 2 milhões de descendentes poloneses — a terceira maior imigração de poloneses do mundo!
15:13
Culturalmente, ambos os países têm laços muito fortes, notoriamente nos festivais de cinema polonês. Eu sempre falo que Polônia tem dois temas: cinema e Chopin. E, por falar em Chopin, vários festivais se realizaram tanto na Polônia como aqui no Brasil. E também há os intercâmbios juvenis tanto da Polônia ao Brasil como do Brasil à Polônia. Isso dava muita ligação entre os dois países.
Aqui tenho que fazer uma pausa. Pediram-me para falar da minha profissão antes de ser cônsul, então eu vou tentar fazer uma breve história da minha vida. Eu nasci na Polônia e morei muitos anos na Argentina. Vocês já sentiram o meu sotaque argentino, é claro. Isso não se perde, ninguém é perfeito. Depois da minha estadia na Argentina, vim para o Brasil. Estou há mais de 50 anos neste querido País. Minha mulher é brasileira, e eu aqui me sinto muito bem, muito honrado.
Então, eu comecei a ser diretor de filmes publicitários e, quando cheguei ao Brasil, completei a minha carreira, aperfeiçoei-me. Eu dirigi mais de 2.500 filmes publicitários aqui no Brasil. Incluindo todos os quatrocentos filmes da Bombril, com o nosso querido Carlos Moreno como ator. Também dirigi todos os filmes do leão do Imposto de Renda, aquele leão que te comia se você não pagava imposto. Foi uma maravilha! Eu virei amigo do tal leão. Minha mulher não gostava muito. Eu tenho uma foto abraçando ele.
Também fizemos a campanha do jornal Folha de S.Paulo. E eu fui muito feliz porque um desses filmes da Folha de S.Paulo, que se chamava Hitler, chegou a ser considerado um dos quarenta melhores filmes do mundo no século passado. Eu só estava por perto, graças a Deus, e peguei essa carona.
Eu sempre falo que o trabalho de cinema e publicitário, sobretudo, é um trabalho de equipe e que, quando essa equipe é um somatório, aparecem essas peças.
Através do meu trabalho de profissional e cineasta, ganhamos muitos prêmios. Ganhamos 25 Leões nos festivais de Cannes e Veneza e onze vezes o Prêmio Profissionais do Ano, que era o prêmio mais importante do Brasil, organizado pela Rede Globo de Televisão.
15:17
Mas agora vamos voltar ao nosso tema, este que nos interessa. O Brasil, como potência, está unido à Polônia. O Brasil é uma grande potência, e a Polônia, em duas palavras, é a quinta economia da Europa. Foram mais de 30 anos depois da queda do comunismo em que nosso país progrediu tão bem. E eu estou muito orgulhoso dessa quinta posição.
Aqui devemos parabenizar e obrigatoriamente vamos falar do nosso amigo Girão, porque, neste dia, nós vamos unir mais a Polônia com o Brasil. Então, em nome do Consulado Honorário de São Paulo, em nome da nação polonesa e em meu nome pessoal, muito obrigado.
Energia Polska! Energia Brasília! Viva Polônia! Viva Brasil!
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - É muito bom quando a gente abre o coração e fala. Ele fez uns escritos ali, mas ele abriu o coração.
Andrzej Bukowinski, eu não tenho palavras para agradecer. Dizem que o elogio estraga, então eu prefiro não ser elogiado para não estragar nada aqui.
O SR. ANDRZEJ BUKOWINSKI - Mas essa é uma amizade de muitos anos.
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Sim. Com certeza, nós nos conhecemos há alguns anos.
O SR. ANDRZEJ BUKOWINSKI - Ele é o general mais polonês! (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - E eu espero que os nossos sonhos possam ser realizados juntos.
Eu queria inclusive apresentar uma reclamação aqui, porque ele falou em 2,5 milhões de poloneses morando no Brasil, mas eu não respondi a esse censo. Agora, eu tenho raízes polonesas, a minha esposa também e o meu filho também. Nós temos orgulho de ter essas raízes polonesas.
Vamos prosseguir com as falas. Agora eu gostaria de sair aqui do lado contrário da direita e ir para o lado direito, convidando o Prof. Tomasz Lychowski para fazer uso da palavra.
O tempo é livre, Prof. Tomasz.
O SR. TOMASZ LYCHOWSKI - Saúdo os distintos representantes do povo brasileiro, o Deputado Girão, o Sr. Andrzej Bukowinski, Embaixador da Polônia, colegas da Mesa, todos aqui presentes.
Foi com grande emoção que recebi o honroso convite para participar desta audiência pública. A data da independência da Polônia, 11 de novembro, é muito importante na família Lychowski. Meu pai, o Tadeusz Lychowski, foi soldado das Legiões do Marechal Pilsudski, o pai da independência da Polônia, e combateu na Primeira Guerra Mundial, bem como na guerra contra os bolcheviques. Guardamos com carinho a Medalha da Independência que ele recebeu do marechal por sua luta por uma Polônia livre e independente
Como já transcorreu bastante tempo da minha vida, um dos temas da minha apresentação está justamente relacionado ao crono, fenômeno tão importante e decisivo no nosso caminhar neste planeta.
15:21
Por ocasião dos 150 anos da imigração polonesa para o Brasil, escrevi um poema que me servirá de ponto de partida:
Cento e cinquenta são
Dez vezes quinze,
Seis vezes vinte e cinco,
Três vezes cinquenta
Ou, talvez, aquelas trilhas na mata,
O suor escorrendo pelas costas,
O ansiado fim do dia,
O lar improvisado,
Tão lar!
A partilha do pão
Dia após dia,
Semana após semana,
Mês após mês,
Ano após ano,
E, então, o madeirame protetor,
O telhado,
A fumaça subindo,
Mesa, cadeira,
A família ao redor.
Tempo de futuro chegando:
Filho na escola,
Agricultor, artesão, doutor,
Nora, genro, neto, bisneto.
Na verdade, são seis gerações,
De vinte e cinco em vinte e cinco,
Para chegar aos cento e cinquenta,
Com desafios sem conta,
Com amor.
Como tinha sido a chegada dessas famílias ao Brasil? Certamente não foi num navio de primeira classe. E o desembarque numa terra nova, onde tudo era novo, diferente? E depois, mato adentro? Abrindo com um facão uma trilha, a luta para plantar algo para sobreviver. Sim, o Brasil é um país de bandeirantes. E esses poloneses, chegando à terra prometida, tinham que enfrentar desafios semelhantes. Depois construíram as suas casas de madeira e já puderam reunir a família ao redor de uma mesa.
Para a educação dos filhos, começava outra luta. A geração de agricultores, como no poema, gerou artesãos, e esta, finalmente, doutores. Todos eles — agricultores, artesãos, cientistas, médicos, políticos — deram a sua contribuição para o progresso do Brasil, uns com técnicas de cultivo da terra, outros com ferramentas e técnicas que trouxeram da Polônia e, por fim, os já doutores, professores, escritores, artistas e poetas, enriquecendo a cultura brasileira. Cada um deles, exercendo o seu ofício de forma anônima, contribuiu para o progresso de um país que os acolheu.
As próximas gerações foram chamadas de polônicos, ou seja, são filhos ou netos de poloneses que aqui aportaram. Evidentemente, houve aqueles que se destacaram em todos os campos da vida brasileira e têm os seus nomes gravados em letras de ouro. A lista é longa, como vimos, mas muitos deles devem seu sucesso àqueles antepassados anônimos, e esses são a grande maioria.
Uma leva significativa de refugiados e imigrantes poloneses aportou no Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial. Estes foram separados de suas famílias pelo duplo invasor e terror nazista e comunista. Viram seu futuro e suas casas destruídos e não tinham mais como voltar, impedidos pela Cortina de Ferro.
15:25
Também com relação a esses, gostaria de salientar a sua contribuição anônima. Uma construção sólida é resultado de uma fundação bem feita e de muitos tijolos, uns sobrepostos aos outros. Uma sociedade harmoniosa depende da soma de construtores do bem comum, que têm consciência de sua responsabilidade cívica e que honestamente exercem a sua profissão.
Hoje, novamente, ouve-se o estrondo de bombas explodindo, famílias são separadas, futuros são destruídos. A guerra chegou ao Leste Europeu, ao Oriente e à África. O Homo sapiens parece não ter aprendido a cruel lição de uma guerra.
O Brasil, que acolheu os imigrantes ou refugiados, entre os quais eu e meus pais, era uma terra de paz, com vocação de paz. Esse fator fundamental influiu profundamente na vida dos imigrantes, facilitou a sua inserção material, social e cultural na vida da Terra de Santa Cruz. Aqueles e seus filhos tornaram-se construtores e cidadãos plenos. Puderam deixar, e continuam deixando, um legado de valores que trouxeram de sua terra natal. O Brasil, além disso, é multirracial e multiétnico. Dessa grande construção de uma nação de bens tangíveis e intangíveis, podemos nós, como também outras etnias, nos orgulhar e dar graças a Deus.
Minha filha, que é torcedora do Fluminense, lembrou que quando o Fluminense está passando por um aperto, a torcida canta A benção, João de Deus, música em homenagem ao Papa João Paulo II, e, então, sai o ansiado gol. Depois que passei a torcer pelo Botafogo e pelo Salgueiro e a acompanhar de perto a política, eu me sinto um brasileiro mais completo.
Tenho certeza de que os poloneses e polônicos, do passado e do presente, construtores anônimos desta Nação, estão de pé aplaudindo a iniciativa dos Srs. Deputados amigos da Polônia, de modo especial o Deputado General Girão, de tornar a data de 11 de novembro um sinal visível da presença da etnia polonesa e da sua contribuição ao progresso do Brasil.
Para finalizar, não posso deixar de mencionar os missionários poloneses, também anônimos, que adentraram o profundo interior do Brasil com uma mensagem de fé e de esperança. Conheço alguns deles, sei de seus empenhos e do bem que fizeram a muitos.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Prof. Tomasz, muito obrigado também pelas palavras, pela viagem que o senhor nos permitiu fazer também.
E gostaria de destacar, Embaixador Andrzej Cieszkowski, que nós tivemos a oportunidade de frequentar uma igreja que fica bem próxima à nossa quadra residencial dos Deputados, a Igreja Nossa Senhora da Saúde. Hoje não é só uma igreja, é um santuário, o Santuário Nossa Senhora da Saúde. Naquela oportunidade, quando começamos a frequentá-la, em 2019, o pároco da igreja era o Padre Kazimierz, ou Padre Casimiro. O senhor falou dos missionários, e eu me lembrei do Padre Casimiro. O Padre Casimiro foi, durante os 17 anos em que residiu no Brasil, um grande pastor de ovelhas, um grande apóstolo de Cristo. Eu tenho muito orgulho de dizer isso e de pedir ao senhor que, juntos, embaixada e nosso mandato, tentemos fazer alguma homenagem ao Padre Casimiro, porque, no final do ano de 2019, no meio de uma obra que estava sendo realizada na igreja, alguns marginais — não sei por que existem marginais na vida, mas existem — foram assaltar a igreja, e o Padre Casimiro reagiu e acabou indo a óbito.
15:29
Registro aqui o meu sentimento de luto em relação a ele. Toda vez que frequento a igreja, eu me lembro dele. Sentamos juntos um dia, e ele me contou a sua passagem como pessoa, como ser humano, inclusive como atirador de squall do Exército Polonês.
Enfim, pela história de vida dele a gente gostaria de, depois, prestar alguma homenagem a ele, infelizmente não em vida. Que deixemos registrada essa presença forte da Polônia aqui no Brasil, caracterizando um momento religioso que a gente sabe que é muito importante nas nossas vidas!
Dando prosseguimento, eu gostaria de passar a palavra ao Sr. Norton Morozowicz, que dispõe de até 10 minutos.
O SR. NORTON MOROZOWICZ - Boa tarde a todos.
Eu falo de Curitiba, minha cidade.
Primeiramente, eu gostaria de cumprimentar o Deputado General Girão, que teve a iniciativa de propor uma data nacional em homenagem à comunidade polonesa e seu patrimônio histórico no Brasil.
Quero também cumprimentar o Sr. Andrzej Cieszkowski, Embaixador da Polônia no Brasil, e os demais representantes do corpo diplomático aqui presentes.
Saúdo ainda aos Parlamentares que aqui se encontram, como também os convidados para falar nesta audiência.
Como descendente de uma família de sete gerações de artistas na Polônia, eu vou falar um pouco das artes e da contribuição no Brasil.
Os poloneses trouxeram para o Brasil um rico patrimônio cultural, incluindo artes, música, dança e culinária. Sua influência é marcante, especialmente na região do Paraná, onde essas atuações deixaram marcas profundas no seu desenvolvimento. Além disso, os imigrantes poloneses (falha na transmissão) da agricultura e da economia e para o progresso do Estado.
Eu gostaria, portanto, de lembrar alguns nomes de relevância, entre muitos outros, os quais, nas suas áreas de atuação, sem dúvida contribuíram para o enriquecimento da cultura no Brasil. Na música, eu poderia citar o maestro Henrique Morelenbaum, maestro da orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e também professor na Universidade Federal do Rio, onde deixou uma plêiade de alunos, tanto na área de composição quanto de regência; o compositor, pianista, organista Henrique Morozowicz, conhecido como Henrique de Curitiba, que foi professor na Escola de Música e Belas Artes, na qual também foi seu diretor, e ainda foi professor na Universidade Federal do Paraná. Ele deixou um legado imenso de obras, que foram editadas nos Estados Unidos, na Bélgica e na Alemanha.
15:33
Cito ainda o violoncelista Zygmunt Kubala, membro do Quarteto de Cordas Municipal de São Paulo e um dos fundadores da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo. Ele também foi professor na Escola de Belas Artes do Paraná, onde formou uma geração de violoncelistas. Cito ainda o violinista Jergy Milewski, membro da Orquestra Sinfônica Brasileira, solista, professor e camerista.
Cito um mais atual, o barítono Paulo Szot, cantor de ópera e musicais, um dos grandes nomes do cenário lírico internacional, que atua nas principais casas de ópera, como no Metropolitan Opera House, no La Scala de Milão, na Ópera de Paris, na Bayreuth State Opera, entre outras. Ele é também detentor de um Tony Awards.
Na área do balé, temos o Prof. Tadeus Morozowicz, coreógrafo, ator de teatro e bailarino. Foi um dos pioneiros do balé no Brasil. Em Curitiba, além da Escola de Dança, também fundou o grupo folclórico polonês do Paraná, o Wista, e também um grupo de teatro amador. Sua filha, Milena Morozowicz, bailarina, coreógrafa e jornalista, foi criadora do balé moderno no Paraná. Escreveu vários livros sobre arte e movimento.
Cito ainda Yanka Rudzka, bailarina e coreógrafa, criadora da Escola de Balé, na Bahia. Foi uma das personagens importantes da dança brasileira contemporânea, abrindo caminho para o desenvolvimento da dança profissional no Brasil.
No teatro, temos muitas pessoas a citar, mas quero citar apenas Zbigniew Ziembinski, ator, diretor teatral, criador do teatro moderno no Brasil; Jan Michalski, destacado teatrólogo, ensaísta e um dos principais críticos teatrais do nosso País; Berta Loran, conhecida de todos como atriz e comediante, atuou em incontáveis espetáculos na TV brasileira e no teatro. Ainda cito Dan Stulbach, ator, apresentador, radialista e diretor teatral.
Nas artes plásticas, também temos uma infinidade de artistas importantes: Bruno Lechowski, que exerceu grande influência na cultura brasileira; Jan Zak, o conhecido Zaco Paraná, escultor, desenhista, escritor; Sofia Dyminski, pintora e artista plástica; Frans Krajcberg, pintor, escultor, gravador, fotógrafo, artista plástico; Fayga Ostrower, gravadora, pintora, ilustradora, teórica das artes e professora detentora de inúmeros prêmios internacionais. E como não citar arquitetos e urbanistas que muito contribuíram e influenciaram a nossa arquitetura? Por exemplo, em São Paulo temos Lucian Korngold; no Paraná, Jaime Lerner e Lubomir Ficinski e ainda o designer Jorge Zalszupin, que, com a colaboração com Oscar Niemeyer, o ícone da arquitetura moderna, teve um impacto substancial na estética. Os móveis criados em seu ateliê fizeram parte daquele período da história do design brasileiro.
15:37
Não poderia deixar de citar ainda Paulo Leminski, poeta, escritor e tradutor, que era também compositor e letrista de vários cantores e músicos famosos. Suas letras foram cantadas por Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso e Arnaldo Antunes.
Como evidenciado, grandes artistas da etnia polonesa e seus descendentes passaram a integrar o universo cultural brasileiro, amalgamando conhecimentos, experiências, ações, contribuindo para que a heterogênea e rica identidade cultural do Brasil fosse amalgamada.
Para terminar, um bom exemplo da integração cultural do Brasil e da Polônia está nas festividades em Curitiba, como na Semana da Páscoa, por exemplo, no belo Parque Polonês, visitado pelo Papa João Paulo II em 1980. O Bosque do Papa, como também é conhecido, um memorial da imigração polonesa, é um tesouro escondido no coração de Curitiba. Com uma área de mais de 46 mil metros quadrados, esse espaço verde é um tributo à fé, à luta e à rica herança dos imigrantes poloneses que aqui desembarcaram no século XIX.
A bênção dos alimentos é uma das mais tradicionais festividades de Páscoa da comunidade polonesa em Curitiba. Os pães preparados na última semana da quaresma são levados ao parque em cestas forradas, cobertas por toalhas ricamente bordadas, junto com outros alimentos, como linguiça, carne defumada, toicinho, manteiga, queijo, mel, beterraba e ovos cozidos. São elementos que compõem as cestas e também as famosas pysankas, que são os ovos pintados com símbolos milenares. Esses produtos são consumidos pelas famílias nas manhãs do Domingo de Páscoa.
O que impressiona justamente é o amálgama da cultura polonesa com a brasileira, pois qualquer pessoa, mesmo não sendo descendente de poloneses, leva suas cestas e recebe os alimentos, visita as casas de madeiras construídas pelos primeiros imigrantes, degustam especialidades da gastronomia polonesa e acompanham as danças tradicionais folclóricas da Polônia apresentadas por grupos vindos de todo o Estado.
Aproveito esta oportunidade para convidar todos os presentes para visitar Curitiba e também se integrar à maior comunidade polonesa do Brasil.
Agradeço a todos. (Palmas.)
15:41
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Prof. Norton, muito obrigado por suas palavras.
Eu sou filho de musicista, minha mãe tocava piano e acordeon, e quando jovem era cantora da igreja. Ela tocava órgão na igreja em Fortaleza.
O senhor nos fez recordar de uma figura importantíssima de Varsóvia, a qual nenhum dos senhores talvez conheça. Quando chegamos a Varsóvia, foi feito o anúncio da minha presença e, quando a pessoa começou a ler o meu currículo, ela disse: "Nascido em Fortaleza, Ceará". Aí, uma voz no meio daqueles que trabalhavam na embaixada, disse: "Pronto, mais um cearense". Eu fiquei quieto e depois fui falar com ele. O cara não era cearense, o cara era carioca, mas ele admirava outro cearense que que estava lá, que era um maestro. Prof. Norton, era o maestro José Maria Florêncio — não sei se o senhor ouviu falar nele.
O SR. NORTON MOROZOWICZ - Sim, perfeitamente.
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - O Maestro Florêncio foi aluno do Colégio Piamarta Montese, lá em Fortaleza, onde funcionava uma escola de música. A banda do Piamarta é muito famosa.
Então, eu rendo as minhas homenagens ao senhor e ao José Maria Florêncio. Como brasileiro morando em Varsóvia, ele conseguiu conquistar o posto de maestro da orquestra sinfônica. Isso nos orgulhou muito também.
Prof. Norton, agradeço mais uma vez as suas palavras.
Eu gostaria de passar agora, de novo, ao pessoal que está participando virtualmente.
Sr. Fabricio Vicroski, o senhor tem 10 minutos para falar, mas o tempo é livre. Por favor, a palavra está com o senhor, que está falando da Polônia, não é isso?
O SR. FABRICIO VICROSKI - Sim, estou falando da Polônia.
Agradeço ao Deputado General Girão e o saúdo pela iniciativa de apresentar o projeto.
Obrigado, Embaixador Andrzej Bukowinski, pelo convite e pela confiança.
Saúdo os demais colegas da Mesa, os Parlamentares e os demais presentes.
Eu sei que o nosso tempo é curto, e por isso temos que apresentar as informações de forma objetiva. Então, eu vou direto ao ponto.
Aproveitando que a gente está discutindo uma iniciativa legislativa para comemorar a etnia polonesa, o patrimônio polonês no Brasil, eu queria trazer algumas informações sobre iniciativas legislativas voltadas à proteção desse patrimônio histórico, cultural e linguístico, porém no âmbito de alguns Municípios do Brasil. Então, eu queria apresentar algumas iniciativas voltadas principalmente para proteção, divulgação e promoção da língua polonesa como língua de herança, patrimônio cultural e material.
Atualmente, principalmente nos três Estados do Sul, 19 Municípios possuem leis de proteção, de preservação, de difusão da língua polonesa no Brasil. São dezenove Municípios, dos quais dois têm leis que reconhecem a língua polonesa como patrimônio cultural e material. Em dezessete Municípios, a língua polonesa é reconhecida como língua co-oficial, ao lado da língua portuguesa. Desses dezessete Municípios, treze fazem o reconhecimento do polonês como língua co-oficial e como patrimônio cultural e material. Portanto, dezenove Municípios nos três Estados do Sul têm essas leis de proteção.
15:45
O reconhecimento como língua co-oficial é muito importante, porque faz uma justiça linguística em relação àquele período de repressão contra essas comunidades linguísticas, durante o projeto de nacionalização que foi implementado durante a era Vargas. Aquelas comunidades imigrantes foram privadas do uso de suas línguas por serem estrangeiras. Então, com essas leis que estão sendo aprovadas nos Estados do Sul, a gente consegue trazer de volta, recuperar, incentivar e valorizar essas línguas, como a língua polonesa e outras línguas de herança, como patrimônio cultural e material.
Isso traz também questões práticas para a administração municipal, que pode, de uma forma mais fácil, a partir da segurança jurídica que essas leis oferecem, incentivar o uso da língua, promover ações como cursos de língua polonesa, programas de rádio e televisão para a difusão da cultura polonesa, fazer placas de ruas bilíngues. Um exemplo prático disso ocorre no Município de Áurea, onde, nesse ano, a gente fez a emissão do primeiro documento oficial em formato bilíngue português e polonês do mundo — trata-se de um alvará. Então, o atendimento ao público utiliza a língua que está presente ali, que faz parte do cotidiano da população. Essas comunidades bilíngues já existem, elas são dessa forma. Por isso, é importante que se faça o reconhecimento dessa diversidade linguística. Municípios como Áurea, Centenário e Carlos Gomes, no Rio Grande do Sul, apesar de serem pequenos, têm população de descendentes de poloneses superior a 90%.
Os Municípios que têm essas leis de proteção no Rio Grande do Sul são Áurea, Carlos Gomes, Casca, Guarani das Missões, Sete de Setembro, Vista Alegre do Prata, Campina das Missões, Ubiretama, Ijuí, Centenário, Horizontina, Nova Prata e Santo Ângelo. Em Santa Catarina estão Itaiópolis e São Bento do Sul. No Paraná estão São Mateus do Sul, Paula Freitas, Mallet e São João do Triunfo. Isso totaliza dezenove Municípios que fazem o reconhecimento da língua polonesa como co-oficial e como patrimônio cultural.
Também é importante mencionar que, no momento, a Polônia envia professores de língua polonesa para muitas dessas comunidades. Atualmente, treze professores da Polônia estão ensinando a língua e a cultura polonesas nesses locais. Em 2025, no segundo semestre, há uma expectativa de recebimento de vinte professores. Esse número está aumentando, o que mostra a importância, o interesse, a demanda nessas comunidades falantes da língua polonesa.
Outra iniciativa é o chamado Projeto de Inventário Nacional da Língua Polonesa. Eu faço parte de uma equipe que vai desenvolver essa pesquisa, sou articulador desse inventário. A gente elaborou o projeto, e ele foi contemplado em um edital do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que é uma autarquia do Ministério da Cultura. Esse projeto vai ser desenvolvido a partir de 2025 e vai durar cerca de 2 anos. Vamos fazer um mapeamento da presença da língua polonesa no Brasil, vamos percorrer de forma amostral Municípios onde há falantes do idioma, vamos realizar entrevistas, vamos documentar a língua de acordo com a metodologia aplicada pelo Iphan, vamos gravar esses falantes, vamos fazer análises sociolinguísticas, enfim, vamos promover a documentação da presença e da vitalidade dessa língua no Brasil.
15:49
Vamos apresentar essas informações ao IPHAN, para que eles façam, então, o reconhecimento, a apreciação desses dados e a posterior inserção da língua polonesa no cadastro das referências linguísticas do Brasil. Na prática, isso consiste no reconhecimento da língua polonesa como uma referência cultural imaterial do Brasil.
É interessante também chamar a atenção porque a língua polonesa presente hoje no Brasil não é a mesma língua polonesa que temos na Polônia, não é a mesma língua do polonês contemporâneo. Ela possui suas origens no século XIX. Era uma língua de origem predominantemente camponesa, que, no Brasil, sofreu as suas alterações, as suas influências da língua portuguesa e das línguas indígenas. Hoje ela possui os elementos suficientes que nos permitem caracterizá-la como uma língua brasileira.
Então, quando falamos da língua polonesa no Brasil, principalmente esta versão, digamos, que foi trazida com os imigrantes do século XIX, início do século XX, ela já é hoje uma língua brasileira, não é um dialeto, não é uma variante da língua polonesa contemporânea. Ela é uma língua brasileira. Isso é interessante. Estamos buscando o reconhecimento já oficial, a partir do IPHAN, a partir do Ministério da Cultura, dessa língua como patrimônio cultural imaterial dos brasileiros, do Brasil.
Temos este projeto, esta iniciativa em andamento, que é muito importante porque é também o maior projeto voltado à pesquisa, à promoção e ao reconhecimento da língua polonesa já realizado fora do território da Polônia. Temos também este direcionamento de recursos do próprio Governo Federal para a execução desta iniciativa e reconhecimento desta língua como patrimônio.
Destaco que, atualmente, quanto às nossas informações no levantamento ainda preliminar, há a presença da língua polonesa em mais de 150 Municípios do Brasil.
Também gostaria de trazer mais um ponto: a atualização estatística dos dados referentes à diáspora polonesa no Brasil. Durante muitos anos, a maioria desses imigrantes, bem como seus ancestrais, que saíram em 1890 da Polônia e emigraram para o Brasil, foram registrados como russos, ou como prussianos, ou como austríacos, ou provenientes do Império Austro-Húngaro, dependendo do período. Então, por muitos anos, os imigrantes da Polônia figuravam nas listas de imigração lá nas posições finais.
Então, nós, a comunidade científica, vimos fazendo uma atualização destes dados, com base em listas de imigrantes da Polônia e do Brasil, uma separação desses imigrantes que figuram com outras nacionalidades, para depurar estes dados referentes à diáspora polonesa no Brasil. Ao passo que chegamos ao número de cerca de 622 mil imigrantes no século XIX, XX e XXI, o que nos dá, de acordo com as projeções, uma estimativa de que temos 5 milhões de brasileiros com ascendência polonesa. É um valor bem expressivo, um número é fidedigno, com pesquisas já publicadas. A própria população do Brasil nos permite fazer também esta atualização, porque também vimos com dados de cerca de 1,5 milhão, 2 milhões, 2,5 milhões, e repetindo muitas vezes esses dados desde a década de 70, quando a população do Brasil era de 90 milhões — aumentou para 91 milhões, 92 milhões, e hoje estamos com cerca de 220 milhões de habitantes no Brasil. Estes números já estão atualizados, junto com o maior número de imigrantes que sabemos que já estavam presentes no Brasil muito antes do que imaginávamos. Por exemplo, a própria língua polonesa está há 200 anos presente no Rio Grande do Sul de uma forma já efetiva, com imigrantes já em 1823 em São Paulo, imigrantes em 1824 no Rio Grande do Sul, registrados junto com as levas de imigração prussiana. Então, conseguimos fazer esta separação dos dados. Há uma permanência e uma evolução desta língua, por exemplo, com o patrimônio cultural brasileiro há mais de 200 anos.
15:53
Para finalizar — os colegas ali já trouxeram muitas contribuições da diáspora polonesa no Brasil —, eu não vou repeti-las, não vou entrar nesses dados, mas vou trazer, talvez, algumas curiosidades. Quando eu falo sobre as contribuições também dos poloneses ao Brasil, eu costumo brincar que a estátua do Cristo Redentor no Brasil, que é um dos pontos turísticos, um dos monumentos, talvez, mais famosos do mundo — as pessoas me perguntam sobre o Rio de Janeiro, há muitos estereótipos também —, eu costumo brincar que a estátua do Cristo Redentor tem, falando em polonês, polskie korzenie, raízes polonesas, porque a estátua foi projetada pelo Paul Landowski, que é um polonês da França. O pai dele lutou no levante de janeiro, no século XIX, lutou pela independência da Polônia. Após esses insucessos, digamos, do conflito, ele migrou para a França, e o seu filho nasceu lá. Paul Landowski foi um renomado escultor, que projetou a estátua do Cristo Redentor, esculpiu a face e as mãos da estátua, que foram depois transportadas para o Brasil, e lá foi concluído o monumento.
Um outro ponto interessante também é que o Brasil é hoje o maior exportador de soja, o maior produtor de soja do mundo, somos uma potência da exportação de soja, e os poloneses figuram entre os pioneiros na introdução e no cultivo da soja no Brasil. Essa é uma informação muito importante. Quer dizer, um dos principais produtos de exportação do Brasil tem ali, digamos, a influência, a mão, esse patrimônio dos poloneses.
Além disso, há os elementos da influência na arquitetura, principalmente no Sul do Brasil. Ainda hoje aquela influência, aquelas primeiras casas de madeira que eram feitas foram transferida para a arquitetura em tijolos, em alvenaria, conservando algumas soluções técnicas.
Então, há essa influência na arquitetura, na culinária, na língua portuguesa também falada pelos descendentes de imigrantes, o que também é um aspecto muito curioso, além da medicina, oftalmologia, desenvolvimento das redes ferroviárias, teatro, dança. Enfim, são muitas contribuições.
Eu vejo este projeto, esta iniciativa como fundamental para o reconhecimento desta contribuição que está muito presente, mas, ao mesmo tempo, é pouco visível muitas vezes fora da diáspora, fora dessa comunidade de descendentes de poloneses.
Por isso, mais uma vez, meus cumprimentos, meus parabéns ao Deputado General Girão.
São essas as informações de minha parte. Espero que tenham contribuído para esta audiência, para discutirmos em torno desta proposta.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Sr. Fabricio Vicroski, eu quero lhe cumprimentar por nos dar uma aula. Você falou sobre história, sobre arqueologia também. A gente fica muito feliz de ter tomado conhecimento desta vinculação da Polônia com Cristo Redentor. Isso daí, para mim, realmente, é uma novidade. Eu fico feliz por isso. É mais um vínculo estabelecido entre a nossa Polônia e o Brasil.
Gostaria de destacar a presença aqui de algumas pessoas: Prefeito Tafarel, de Papanduva, Santa Catarina.
O senhor é parente do Taffarel, o goleiro, ou não? (Risos.)
Seja bem-vindo, Prefeito. (Palmas.)
15:57
Daqui a pouco eu passo a palavra para o senhor.
Gostaria também de destacar, de uma maneira toda especial e carinhosa, o Corpo Diplomático Polonês, que está aqui presente, que trabalha no Brasil: Piotr Ambroziak, Cônsul em Brasília; Maciej Brodowicz, Conselheiro; Edgar Hadasik, Segundo-Secretário, muito obrigado pela sua atuação conosco; Iga Jakubowska, Segunda-Secretária, seja bem-vinda, muito obrigado, que Alexander chegue em paz, com muito carinho e com muita saúde; e Przemyslaw Krzemien, Terceiro-Secretário. Tenho muito orgulho de ter convivido com os diplomatas poloneses em Varsóvia e nas nossas missões na Polônia.
Gostaria também de destacar uma pessoa especial, que demonstrou interesse, porque tem conhecimento e tem parentesco com a Polônia, o Luis, da Gazeta do Povo, que está aqui conosco, um representante da nossa mídia, a mídia conservadora.
Luis, muito obrigado pela sua presença. Depois você tem acesso ao pessoal do Corpo Diplomático para você agregar algum outro conhecimento. Eu acho que você também não sabia essa do Cristo Redentor, não. (Pausa.)
Ao final de tudo, eu vou mostrar uma coisa que também vocês talvez não conheçam, ao final desta nossa apresentação aqui. Por favor, Vitor, não me deixe esquecer.
Gostaria, a pedidos, de passar a palavra ao Prefeito Tafarel, de Papanduva.
O SR. TAFA SCHONS - Boa tarde.
Quero saudar todos os presentes. Parabéns pela atitude, Deputado Girão. Quero saudar o nosso embaixador e, na pessoa dele, todos os presentes.
Eu sou Prefeito do Município de Papanduva. Aqui está o Vice-Prefeito Cleitinho; o Presidente da Câmara, o Vereador Edson; e o Vereador Nego Humenhuka.
O nosso Município é em Santa Catarina, no Planalto Norte — fica até perto de Curitiba. A nossa população é de 20 mil habitantes, e 65% da nossa população é de descendentes poloneses.
Nós temos um trabalho muito grande nessa questão dos poloneses. Temos um professor da Polônia já há 6 anos ensinando a língua polonesa. Temos o Oratório João Paulo II, com uma arquitetura muito bonita. Iniciamos faz 2 meses uma escola para a língua polonesa, onde a arquitetura vai ser no estilo polonês mesmo, construída com um dinheiro que a gente conseguiu da Polônia também.
O nosso trabalho é muito grande nessa questão da etnia e da alimentação. Nós vamos ter a nossa Festa Nacional do Pierogi em Papanduva, que vai ser a primeira do Brasil com esse nome. Hoje, como 65% da nossa população são descendentes poloneses, a gente quer trabalhar muito nessa questão. O nosso objetivo é estar presente aqui também.
Em fevereiro, nós estivemos na Embaixada da Polônia. A gente está em busca de uma cidade coirmã para Papanduva. Esse é o nosso maior objetivo hoje, como Governo do Município. A gente quer uma cidade coirmã da Polônia para Papanduva. Nós vamos fazer muito esse trabalho de valorizar os poloneses no nosso Município.
Muito obrigado. Parabéns pela iniciativa, Deputado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Obrigado, Prefeito Tafarel. Fico muito feliz que tenha esse interesse.
Esse programa das cidades gêmeas ou cidades coirmãs, que tem sido feito, é muito bom. Se você quer um turismo de frio, um turismo de neve, um turismo gastronômico e tal, você vai para uma. Se você quiser um turismo de sol, de alguma outra coisa, de aventura, vai para outra cidade. Então, essa vinculação das cidades coirmãs é muito boa.
16:01
Passo a palavra para o nosso vizinho aqui do lado direito, Sérgio Sechinski.
O SR. SÉRGIO JOSÉ SECHINSKI - Prezados senhores, Embaixador Andrzej, Deputado General Girão, senhores e senhoras, boa tarde.
Eu sou Sérgio Sechinski, Cônsul Honorário da República da Polônia em Porto Alegre, gaúcho de nascimento, neto, e segunda geração de imigrantes poloneses que chegaram ao Brasil no século XIX.
Sinto uma enorme satisfação de poder participar desta audiência pública nesta Comissão, em atendimento ao requerimento do Deputado General Girão, para debater a criação de uma data nacional em homenagem à comunidade polonesa e seu patrimônio histórico no Brasil.
Abordar a Polônia sempre é motivo de grande satisfação e orgulho não somente pelo sangue que trago nas veias, mas, principalmente, por manter o meu olhar nesse país e seu povo, que bravamente vem mostrando ao mundo todo o seu valor e sua história de luta pela soberania.
Quando convidado a integrar esta Comissão, com o objetivo de discutir a criação de uma data nacional em homenagem à comunidade polonesa, logo me veio a ideia de poder me incluir em quaisquer que fossem as minhas considerações. Afinal, eu guardo com apreço e enorme emoção a minha própria condição de descendente de poloneses, ou seja, participo ativamente de uma trajetória de muitos anos da gente polonesa no Brasil. E isso, senhores, permitam-me brincar com as palavras, já é patrimônio histórico da gente polonesa no Brasil, já é patrimônio histórico brasileiro. Afinal de contas, os poloneses trabalham, participam, fundindo o seu orgulho polônico com valores da Pátria Brasil há mais de 150 anos, na edificação deste belo País que é um verdadeiro mosaico cultural.
No meu caso, eu não traço uma história triste da imigração. Gosto sempre de escolher uma parte melhor daquelas que muitas vezes se ouve contar e não deixam de ser reais. Todas as histórias são verdadeiras. Eu sempre tenho o hábito de considerar que cada família de descendentes poloneses guarda em si a epopeia do povo polonês no Brasil, desde o século XIX. Na verdade, eu sou um polônico a quem sempre repassaram uma história que me constituiu muito envaidecido. A narrativa e os ensinamentos que me transmitiram e o contexto em que vivo, desde a infância, é que descendo do povo polonês de riquíssima história de bravura, de conquistas e de um temperamento caracterizado pela luta pela liberdade. Isso me emociona, além de me orgulhar, tanto pelo aspecto histórico quanto pela apaixonante cultura polonesa, da qual eu sou um amante e, consequentemente, um protagonista.
Guardamos em nós a razão de quem somos com profunda fidelidade à nossa cultura materna, que preservamos como verdadeiro patrimônio e que justifica o nosso sentimento de pertença à pátria-mãe Polônia. Assim, nós, de herança étnica polonesa, somos facilmente identificados não pelo nosso falar, com um possível sotaque regional ou advindo da própria fonética do idioma materno, mas, acima de tudo, pelo que constitui a nação polonesa ao longo de mais de mil anos de história. Isso é maravilhoso. Somos muitos descendentes que tiveram os seus ancestrais chegando ao Brasil com outras nacionalidades por força da circunstância, na época, de uma Polônia dominada. Mas, mesmo assim, com o peito inflado de saudade, os nossos avós e pais nos educaram e transmitiram o mais profundo respeito e fidelidade à cultura materna, que, honradamente, integramos à nossa cultura como brasileiros.
16:05
Prezados senhores, penso ser este o elemento mais comum que nos aproxima, poloneses e brasileiros, e nos torna, de certa forma, semelhantes nos ideais mais elevados: a liberdade. Convido a todos para uma reflexão. A imigração polonesa trouxe poloneses amantes da liberdade, poloneses que também não se deixaram dominar e entendiam que, mesmo deixando a sua pátria territorial, levavam consigo o valor patriótico, o que nos constituiu herdeiros de uma saudade e amantes da liberdade.
Do resgate da independência da Polônia, em 1918, que, neste corrente ano, comemoramos 107 anos, olhamos para os valores que constituíram e edificaram a nação polonesa dos nossos ancestrais. Captemos o testemunho de garra e coragem, de luta pela liberdade, de reconstrução após duas guerras, que certamente nos permite e nos faz verdadeiros cidadãos no chão que habitamos. Nesse episódio da história, um proeminente brasileiro desempenhou fundamental papel na defesa da independência da Polônia, Ruy Barbosa, e, através da sua atuação, o Brasil foi o primeiro país latino-americano a reconhecer, formalmente, a independência da Polônia, reconhecendo a Polônia livre.
Focando no centro da Europa, temos hoje uma Polônia que nos é motivo de maior orgulho de nossa descendência, pois se mostra, como Fênix que ressurge dos escombros de tantas batalhas e guerras, mesmo em meio aos rigores de tantas transformações, como um horizonte de prosperidade, de uma vibrante economia de mercado, um país de expressiva gente e riqueza cultural.
Sabedores da realidade da imigração polonesa no Brasil, em seus diferentes momentos, nós nos deparamos com um verdadeiro impacto cultural. A imigração polonesa foi, sem dúvida, um grande elemento que se soma e também identifica o Brasil como um belo cenário de uma diversidade cultural. Os poloneses descendentes contribuem com a sociedade brasileira com as suas tradições, costumes, língua e tantos outros valores no campo da ciência, das artes, da literatura e da música. Tudo isso faz do Brasil um palco de múltipla e rica expressão de várias gentes, destacando que esse verdadeiro fenômeno antropológico contribui para uma maior tolerância e respeito à diversidade, promovendo e praticando uma sociedade mais plural e multicultural.
No que se refere ao desenvolvimento econômico, os imigrantes poloneses, assim como os demais europeus, italianos, alemães, portugueses e outros, foram fundamentais para impulsionar a agricultura, a indústria e o comércio. Eles trouxeram conhecimentos e técnicas inovadoras para o cultivo do café, expandiram a produção de outros alimentos e contribuíram para o crescimento de empresas e indústrias. A ocupação de muitas regiões se transformou em belas cidades que hoje integram o patrimônio nacional brasileiro.
A contribuição da força de trabalho dos primeiros imigrantes poloneses representou grande alavancagem no desenvolvimento econômico de muitas regiões brasileiras. A construção da identidade cultural, por sua vez, é um processo dinâmico e multifacetado em que as pessoas, ao interagir com a cultura de um grupo, desenvolvem a compreensão e a identificação de seus valores, crenças e práticas. Esse processo envolve a construção de um sentimento de pertencimento, tanto individual quanto coletivo, com base em elementos culturais, como língua, história, costumes, religiões, tradições, etc. Assim, no âmbito da formação da cultura brasileira, a imigração polonesa trouxe consigo uma rica variedade de costumes, hábitos, tradições e crenças que se fundiram com a cultura local, formando a identidade brasileira. E, em se enveredando por muitas regiões deste continental Brasil, as marcas polonesas são múltiplas, tais como na culinária, na música, na literatura, na dança, nas festas populares e religiosas, nas artes em geral, e enriquecem o cenário brasileiro.
16:09
Como exemplos de resultados concretos da rica contribuição polonesa na formação da sociedade brasileira, eu gostaria de destacar a formação de várias cidades, cuja população, em muitos casos, chega a quase 90% de descendentes de poloneses. Falo de inúmeros Municípios e cidades constituídas muitas vezes de uma população predominantemente de descendentes, como Guarani das Missões, Erechim, Áurea, Dom Feliciano, cidades dos Estados do Espírito Santo, de Santa Catarina e do Paraná, que é o Estado que concentra a maior população de descendentes poloneses no Brasil. Há muitas cidades com predominância polônica. Falo das tantas expressões artísticas, como a música e a literatura, com uma grande variedade de nomes e personalidades, incluindo o contexto cultural brasileiro.
Essas populações e o seu trabalho, com características que lhes são peculiares, formam, até os dias de hoje, profissionais das mais diversas áreas de atuação, com muitos destaques até internacionais. Em cada um desses territórios, os habitantes são facilmente reconhecidos não somente pela grafia dos nossos sobrenomes, mas, acima de tudo, pela expressão na sociedade que construímos e incluímos, e muitos deles hoje existindo como referências nacionais de desenvolvimento.
O modus vivendi dos descendentes de poloneses, enquanto expressa quase que um estilo de ser, fundindo, no contexto brasileiro, os seus valores mais sublimes de respeito à família, à convivência social e ao seu patriotismo, que talvez seja a sua maior expressão de característica, faz-nos descendentes de poloneses verdadeiros cidadãos brasileiros. Isso se justifica com a existência do elevado número de organizações de cunho polonês por todo o Brasil.
Cabe aqui destacar que muitas dessas organizações, sociedades, comunidades religiosas e associações representam uma qualidade, enquanto estimulam uma cidadania de valores. Eu participo da Sociedade Polônia de Porto Alegre, que tem 128 anos de fundação, e da comunidade católica, que é a Capelania Nossa Senhora de Monte Claro, em Porto Alegre, da qual, inclusive, o capelão é o reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, o Padre Zdzislaw Malczewski. Assim como outras tantas famílias, nós nos reunimos, nos agrupamos e convivemos. É importante registrar aqui que essas famílias muitas vezes são brasileiras e simpatizantes da nossa cultura polonesa. Isso é mais do que um fenômeno. É um reconhecimento da nossa presença. Há uma infinidade de marcos históricos e monumentos edificados em muitos confins do território brasileiro, além de museus, organizações polônicas que buscam, através do seu trabalho, a preservação do espírito de polonidade que ainda é forte, passadas tantas gerações após os movimentos migratórios. Há mais um exemplo que eu gostaria de citar que, para mim, é muito emocional. Nós temos, no Rio Grande do Sul, uma localidade chamada Baixa Grande, que é um pequeno distrito da cidade de Riozinho. No século XIX, nós tivemos o início de um pequeno núcleo de descendentes de poloneses. Atualmente, eles se reúnem numa igreja, num salão paroquial. Eles construíram um pequeno museu de madeira, no qual eles guardam todo tipo de pertence que fala sobre a Polônia, não elementos poloneses, mas elementos que traduzem o sentimento deles, a emoção de sentir o orgulho étnico. É maravilhoso isso.
16:13
Neste ano, consegui realizar cinco cursos de língua polonesa on-line. Um deles funciona dentro do salão paroquial. Mais adiante, eu vou caracterizar melhor esse modelo.
Enfim, são muitos os testemunhos, são muitos os modelos em que a gente comprova o processo de aculturação dos imigrantes, de todas as suas gerações que vieram após os movimentos e que hoje constituem o cenário brasileiro de cultura.
Destaco aqui a atenção dispensada à América Latina por parte da Polônia nos últimos anos, com muita expressão no Brasil, no que se refere às oportunidades para o segmento jovem. São inúmeros os projetos promovidos pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Senado da Polônia no âmbito cultural, através de suas organizações que vêm oportunizando aos jovens descendentes de imigrantes poloneses uma intensa aproximação com a cultura polonesa sobre diferentes âmbitos, como história, arte, conhecimento científico, destacando o resgate e a manutenção da língua polonesa, que é o elemento mais importante, que é o instrumento que vai nos permitir preservar a nossa cultura materna.
Desde o ano de 2019, no Rio Grande do Sul, desenvolvemos diversos projetos de ensino da língua polonesa no sistema on-line, financiados pelo Ministério das Relações Exteriores da Polônia. No ano da pandemia, nós iniciamos os cursos no sistema on-line, que inclusive a digníssima esposa do Prof. Siewierski, Malgorzata Siewierski, foi a nossa professora que nos auxiliou muito. Ela ensinava língua polonesa de Brasília para todos os confins do Brasil, porque nós não tínhamos somente alunos gaúchos. Fechamos cinco cursos e hoje somamos cerca de setecentos alunos, que já passaram por pelo menos 4 meses de cursos de língua polonesa on-line.
Nós poloneses descendentes, que habitamos o Brasil desde o século XIX, nascidos ou aqui chegados, somos cidadãos de duas pátrias, o que se confirma no nosso jeito de encarar a própria realidade. Somos brasileiros, que também se sentem poloneses. Senhores, o enfoque por mim escolhido, como contribuição nesta Comissão, tem o intuito de poder justificar um elemento altamente relevante, de que a etnia polonesa e seus valores constituem um fator expressivo na edificação da sociedade brasileira desde o século XIX. E na manutenção dos nossos valores maternos preservamos nossas raízes, o que nos remete a uma cidadania de valores. Somos indivíduos brasileiros de sangue mesclado polonês. Constituídos, portanto, por duas sortes, cidadãos brasileiros de origem polonesa, expressamos a história que carregamos em nós mesmos, da nossa identidade de brasileiros polônicos, movidos pela esperança num convívio pacífico de tão longa data, desde quando o Brasil recebia nossos antepassados. Que a solidariedade entre todos os povos seja a mola propulsora do mundo, e permita Deus que perdure o nosso honroso sentimento patriótico, herdado dos nossos ancestrais, que nos fazem cidadãos patriotas brasileiros.
16:17
Neste contexto, eu enalteço a iniciativa do Deputado General Girão pela proposta de criação da data nacional em homenagem à comunidade polonesa e seu patrimônio histórico no Brasil, que, além de reconhecimento, é também fator propulsor das múltiplas relações que já existem e das que podem advir entre a Polônia e o Brasil.
Viva o Brasil, que acolheu nossos antepassados e sempre mostrou a sua amizade para com a Polônia!
Viva a República da Polônia, livre e soberana, cada vez mais próspera e amiga da República Federativa do Brasil!
Sr. Deputado, como gaúcho, eu queria só lhe contar que nós somos tão reconhecidos como descendentes de poloneses, gaúchos e brasileiros, que se o senhor for ao Sul, e eu lhe faço o convite, nós lhe ofereceremos a alternativa de o senhor escolher a caipirinha ou de cachaça ou de vodca.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - A provocação está aceita. Minha esposa está aqui e, com certeza, vai já me cobrar isso.
Eu quero lhe dizer que, quando moramos em Varsóvia, por 2 anos, ou por três invernos, como eu costumo dizer, nós fazíamos caipirinha de cachaça e também fazíamos de vodca. Eu sempre fui um apreciador da Wyborowa, a vodca Wyborowa, e, lá na Polônia, eu conheci a Dubrovka, que ontem foi servida na Embaixada. Eu tive que, com o Andrzej Cieszkowski, fazer um brinde. Eu estava proibido de beber, ontem, bebida quente, mas eu tive que fazer um brinde com ele, porque eu não podia perder essa oportunidade de maneira nenhuma — um pequeno brinde.
Dando prosseguimento às falas, eu gostaria de passar a palavra agora para o nosso, já posso dizer, como amigo, Andrzej Cieszkowski, que é o nosso embaixador, para que ele possa também fazer a sua fala nesse momento tão importante para os nossos países.
16:21
O SR. ANDRZEJ CIESZKOWSKI - Sr. Deputado General Girão, eu queria agradecer a sua iniciativa.
Agora, depois da audiência pública, eu não tenho de dizer nada sobre a Polônia e os poloneses que vivem no Brasil, porque as pessoas que apresentaram a riqueza da contribuição polonesa para o Brasil, que são brasileiros, que são cidadãos deste País, têm corações poloneses.
Eu queria dizer que temos agora mais um polonês de coração, que é o General Girão. Não podemos dizer que é descendente dos poloneses, mas, nesta sala, não há um polonês mais polonês do que o General Girão. (Palmas.)
Muito obrigado.
Eu queria agradecer a todos os ilustres representantes da comunidade polonesa no Brasil e todos que chegaram a acompanhar-nos neste evento.
Eu queria agradecer não só ao Sr. Deputado, mas, penso, a todos os Deputados que queriam apoiar a iniciativa. Como disseram antes de eu chegar aqui, há muitas pessoas no Parlamento brasileiro que apoiam fortemente construir laços muito fortes e fortalecer as nossas relações entre a Polônia e o Brasil.
Como representante da Polônia, estou muito feliz que pudemos discutir coisas tão importantes para a comunidade polonesa no Brasil, como o dia nacional em homenagem a essa comunidade.
Muito obrigado mais uma vez. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - A sessão da Câmara tem um ritual. E, nesse ritual, eu pergunto se alguma das personagens ou das autoridades que fizeram uso da palavra quer fazer alguma consideração final antes de nós partirmos para o encerramento desta Sessão Solene.
Então, considerando que todos já se expressaram, e dos presentes aqui também ninguém mais quer se expressar..
Por favor, a senhora. Pois não.
A SRA. TÂNIA ALEXANDRA MALINSKI ALBERTI - Muito obrigada.
Eu gostaria de agradecer ao Deputado General Girão pela oportunidade, saudando, na sua pessoa e também na pessoa do embaixador, as autoridades presentes.
16:25
Eu sou neta de potiguar. Meu avô era de Touros, e ele sempre dizia que a cidade era a esquina do Brasil, era a mais próxima tanto da África quanto da Europa. Eu sou filha de poloneses.
No caso, o que eu sinto de comunhão entre o que foi apresentado e o que eu posso falar da minha família é que a Polônia e o Nordeste têm esse mesmo sentimento de dignidade, de patriotismo.
Gostaria de acrescentar que eu acho que no caso artístico também existe uma sensibilidade particular da contribuição polonesa, um olhar não apenas político — o patriotismo é muito famoso —, mas um olhar humano, uma afetividade, um refinamento e, eu diria, uma nobreza de caráter. Eu acho que isso combina com o que o Brasil tem de melhor também no seu fundamento, em termos de Estado.
Eu estou falando aqui como cidadã brasileira e como descendente. Eu sou servidora pública brasileira.
Eu queria acrescentar algo em relação aos poloneses que também combina com o Brasil: a generosidade, a franqueza, sobretudo no nosso meio militar no Brasil.
A gente sente, talvez como descendente polonês, que, às vezes, a nossa cruz é mais pesada. Eu me identifiquei muito com o poema que fala do coração despedaçado e pisoteado, mesmo que eu não tenha vivido na Polônia e praticamente não tenha tido contato com a minha família, porque ela migrou para o Canadá. O sobrenome é Malinski, e eu seria Malinska, mas fui criada em Brasília, como uma candanga, e, realmente, a herança polonesa me veio literalmente pelo vento, pelo espírito. Não tenho como dizer que tenha sido nem pelo sangue nem pela vivência. Então, eu acredito que a raiz é muito forte.
Há esse aspecto do misticismo, da religiosidade, do nacionalismo como algo que é quase sagrado. A gente pôde conviver com isso na Sociedade Polônia de Florianópolis, que é uma Sociedade Polônia pequena, que está assim, como o último dos moicanos, tentando sobreviver. A gente percebia o carinho, o afeto, o profundo amor que aquelas poucas pessoas, meia dúzia de pessoas, têm por aquele espaço e por aquela memória. Realmente, isso é fascinante e impressionante.
Por fim, eu não quero me estender muito, mas gostaria só de lembrar que as duas padroeiras são negras: a Nossa Senhora de Czestochowa — não sei pronunciar corretamente —, padroeira da Polônia; e a Nossa Senhora Aparecida. Por que isso é importante? Também pelo aspecto multicultural, algo que eu agradeço a todos os palestrantes por terem trazido. O Brasil não é um país que tem uma homogeneidade étnica como a Polônia. Pra gente é importante essa abertura. E vocês tiveram a sensibilidade humana de perceber e de valorizar isso. Então, as duas padroeiras são negras. Eu acho que a devoção à Nossa Senhora é algo também muito profundo e que une os dois países.
Pelo lado da identidade e da complementariedade, nossas fronteiras são estáveis e foram negociadas pacificamente há mais de 100 anos, totalmente o contrário do que aconteceu na Polônia. Quando eu fui pesquisar aqueles vídeos na Internet, vi que a fronteira não parava nunca. Para mim, parecia um coração pulsando, a mancha vermelha das fronteiras polonesas. Então, eu percebi completamente o oposto do que eu aprendi como diplomata brasileira. Então, acho complementar esse aspecto.
Por um lado, também, a vocação para a paz é muito presente na Polônia, só que as circunstâncias geográficas são diferentes.
16:29
Por último, eu faço uma sugestão, pois me lembrei muito dos hinos militares, porque a Polônia tem hinos lindos, como o Hej Sokoly e vários outros. Eu aprendi a história da Polônia vendo os hinos, porque eu achava interessante e, em geral, os militares brasileiros têm admiração pela Polônia, por aquela região, pela força do povo eslavo.
Eu termino destacando Santa Faustina e a Festa da Divina Misericórdia. A misericórdia é um valor que há em todas as religiões, inclusive, na ortodoxa, entre os judeus, os árabes. Não vou dizer que esse é um legado exclusivo do catolicismo nem da Polônia, mas é claro que São João Paulo II difundiu a festa e ela está começando a ser mais conhecida no Brasil. As revelações da Santa Faustina foram muito importantes. Assim como, para mim, elas são muito importantes, pois é a forma como eu fui descobrindo minhas raízes polonesas.
Agradeço a espetacular oportunidade de estar aqui. Eu espero que a iniciativa vá em frente.
Eu termino com uma palavra, em italiano: auguri! Boa sorte! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Maravilhosa.
Permita-me cumprimentá-la. Qual é o seu nome?
A SRA. TÂNIA ALEXANDRA MALINSKI ALBERTI - Tânia Alexandra Malinski Alberti.
Alberti é do meu marido, que é de Santa Catarina.
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Parabéns, mais uma vez, por sua fala!
Eu gravei algo interessante: "Herança pelo vento!" Eu nunca tinha ouvido essa frase. Isso é muito importante, significa que nada acontece por acaso, o vento traz boas coisas. A gente tem sempre que está com a janela aberta para receber esses ventos. E também gravei: "Herdeiros de uma saudade e amantes da liberdade!" Isso é muito forte.
Agradeço à senhora. Não sei se o meu acento está bom: Mãe Negra de Czestochowa, que é Matka Boska Czestochowska. É isso? (Pausa.)
Czestochowska.
Essa é outra coincidência muito importante.
Eu vou fazer uma inversão. Finalizo dizendo que nós construímos o projeto de lei que pretendemos dar entrada, provavelmente amanhã, na Câmara dos Deputados, instituindo o Dia Nacional do Patrimônio Histórico e Cultural dos Poloneses no Brasil.
Está bom assim embaixador?
O SR. ANDRZEJ BUKOWINSKI - Sim.
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Ficaria assim:
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º. Esta Lei institui o Dia Nacional do Patrimônio Histórico e Cultural dos Poloneses no Brasil, a ser celebrado, anualmente, no dia 11 de novembro, em todo o território nacional.
Art. 2º. Fica instituído, no calendário das efemérides oficiais, o Dia Nacional do Patrimônio Histórico e Cultural dos Poloneses no Brasil, a ser celebrado, anualmente, no dia 11 de novembro, em todo o território nacional.
Art. 3º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala das Sessões, 6 de maio de 2025.
Nós vamos assinar esse projeto de lei, dar entrada na Câmara dos Deputados, e esperamos colocá-lo em pauta, o mais rápido possível, para que ele seja aprovado.
Eu gostaria de mostrar aos senhores, especialmente ao embaixador e entregar-lhe uma imagem que para mim é muito forte, pois diz respeito ao Santo Papa João Paulo II. Eu não pude conhecê-lo, pessoalmente. Deus não quis assim, e eu me satisfiz em ajudar a fazer uma caracterização da imagem do Santo Papa João Paulo II ainda em vida, quando em 2004 — e eu não sabia disso, fiquei sabendo ontem —, a Renata, que já trabalhava na Embaixada, recebeu uma amiga polonesa que disse que precisava tirar uma foto do Papa João Paulo II no Brasil para ser exposta no Museu de Arte Moderna no mês de novembro. Isso foi mais ou menos entre agosto e setembro.
16:33
De repente, recebi o pedido de uma audiência lá na Embaixada do Brasil na Polônia por parte dessa polonesa que esteve aqui na Embaixada com a Renata e foi indicada para falar com o adido militar lá na Polônia. Ela não me conhecia. Ninguém se conhecia. Passei a conhecê-la. Acho que o nome dela era Maria. Ela foi falar comigo e começou a dizer que precisava da ajuda do Brasil para tirar uma foto do Papa João Paulo II no País. Não entendi muito bem aonde ela queria chegar. Sou um combatente de infantaria. Normalmente, o nosso raciocínio fica nas pernas. Nos braços, está o músculo. Nós não temos cérebro. Dizem que os infantes não têm cérebro.
Demorei a entender aonde ela queria chegar. Ela começou a dizer assim: "O senhor precisa me ajudar porque a foto tem que ser feita no Brasil." Eu disse: "Mas aonde a senhora quer chegar?" Ela disse: "A uma foto viva." Eu parei, olhei e questionei: "Foto viva?" Ela respondeu: "Sim, uma foto viva, que represente o Papa João Paulo II." Eu disse: "Mas a senhora quer chegar aonde?" Ela respondeu: "É que, para essa foto viva, precisaremos de aproximadamente 3.500 pessoas ordeiramente num desenho feito no solo." Parei, olhei para ela e disse: "A senhora está querendo uma coisa bem diferente. Como essas pessoas estariam? Ela disse: "Seriam 2 mil pessoas com camiseta branca e 1.500 pessoas com camiseta preta." Depois ela disse: "Pode ser até sem camisa também." Aí eu disse: "Está bom, já entendi. A senhora quer que eu consiga militares, que são disciplinados?" Aí ela respondeu: "É exatamente isso." Perguntei: "Essa foto tem que ser tirada onde?" Ela respondeu: "No Rio de Janeiro." Eu disse: "Está certo. A senhora me dá algum tempo para raciocinar e tentar buscar essa solução?" Ela me concedeu 1 semana. Nesse período, consegui ligar para amigos no Brasil. Cito um especialmente, que trabalhava na 1ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro, onde aproximadamente 5 mil pessoas serviam e moravam.
Enfim, a foto acabou acontecendo. O fotógrafo dessa imagem maravilhosa se chama Piotr Uklanski. Eu não sei se o conhecem; é um fotógrafo polonês famoso. O desenho foi feito no solo. Nós colocamos 2 mil militares de camiseta branca e 1.500 militares de camiseta preta, mas depois tiraram a camisa porque realmente, pela foto, ficou um Papa muito escuro, muito negro. A foto ficou sendo chamada de Papa mulato. Essa foto foi feita no final de 2004. O Santo Papa estava vivo ainda. Ele faleceu somente em abril de 2005. A foto foi exposta no Brasil e depois correu o mundo, em homenagem ao Santo Papa, que, logo em seguida, faleceu.
Eu tenho aqui um exemplar da foto tirada e vou passá-lo à Embaixada para que essa história também lá fique registrada. Eu tenho muito orgulho — embora não tenha tido a oportunidade de conhecer o Santo Papa ao vivo — de ter participado dessa foto. Vou mostrá-la a vocês. Eu não sei se a imagem da sessão consegue mostrar a foto de um formato mais aproximado.
16:37
Consegue dar um zoom? Isso.
É plenamente possível ver as pessoas em volta da imagem traçada no solo.
Embaixador, eu passo esta foto para o senhor como sendo uma lembrança da nossa audiência pública e do nosso Santo Papa João Paulo II, do qual tenho muito orgulho por ser um de seus devotos.
O SR. ANDRZEJ CIESZKOWSKI - Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (General Girão. Bloco/PL - RN) - Interessante, ao final da foto mostrada, eu perguntei ao Piotr por que ele deixou algumas pessoas fora do desenho e ele disse: "Exatamente para demonstrar que era uma foto viva".
Então, há algumas pessoas circulando do lado de fora do desenho.
E o que eu achei mais bacana foi o Papa mulato, porque João Paulo II veio muitas vezes aqui ao Brasil e, claro, ele se sentia em casa e falava um português com um acento excelente também — português abrasileirado. Está certo?
Muito obrigado, mais uma vez.
Declaro encerrada a sessão com o objetivo finalmente conquistado de termos uma proposta de uma data nacional. (Palmas.)
Agradeço, mais uma vez, a participação ao Prof. Norton e ao Fabrício.
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