Horário | (Texto com redação final) |
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Exmos. Sras. e Srs. Deputados, é uma honra e um prazer estar aqui representando a Sociedade Brasileira de Cardiologia para falar sobre a insuficiência cardíaca.
Na insuficiência cardíaca, a informação salva vidas. A insuficiência cardíaca, que é a incapacidade do coração em empurrar o sangue de forma adequada, mata mais do que a maioria dos cânceres, e nós não temos essa percepção quando se fala em saúde pública. No Brasil, cerca de 4 milhões de pessoas têm insuficiência cardíaca; aqui, no Distrito Federal, cerca de 56 mil pessoas têm essa condição.
A insuficiência cardíaca, depois de diagnosticada, mata entre 30% a 50% das pessoas em 5 anos, ou seja, é uma doença que mata muito. E ela incapacita a pessoa, causando falta de ar, inchaço na barriga e nas pernas.
Muitas vezes, o diagnóstico não é feito. Quando isso ocorre, a doença evolui de forma grave. A insuficiência cardíaca é a oitava maior causa de internação de pessoas de todas as idades e a terceira maior causa de internação de pessoas maiores de 60 anos. Então, reconhecer a insuficiência cardíaca é essencial para um tratamento adequado.
Nós precisamos educar a população e educar os profissionais para reconhecer essa condição, porque o tratamento adequado reduz em 63% a mortalidade e a internação dos pacientes. A maioria das medicações está disponível no SUS. Nós conseguimos fazer um tratamento adequado, um acompanhamento com medicações relativamente baratas e disponíveis. Além disso, quando o paciente não é tratado de forma adequada e o quadro evolui para a necessidade de transplante cardíaco, o SUS é responsável por mais de 90% dos transplantes desse tipo realizados no Brasil.
Aqui em Brasília, nós temos o segundo maior centro transplantador pelo SUS do Brasil, por número de habitantes. Isso está disponível, mas a grande maioria das pessoas não conhece esse recurso, não conhece essa possibilidade de acesso. Então, esta ação de educação e de divulgação do Setembro Vermelho salva vidas. Conhecer os sintomas e tratar a doença de forma adequada salva vidas.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. Bloco/UNIÃO - GO) - Muito obrigado.
Eu estava dando uma olhada aqui no meu celular, e muita coisa tem me chamado a atenção em relação aos jovens. Há poucos dias, a morte de um jovem de Anápolis, aos 14 anos, causou uma comoção enorme na cidade.
Segundo o relato da reportagem, ele teve um aneurisma cardíaco. Foi à panificadora, ao lado de casa, voltou passando mal e chegou morto ao hospital. Houve também o caso de uma miss juvenil de uma cidade próxima a Goiânia, de 16 anos, que também teve o mesmo fim.
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Eu recentemente fiz um projeto de lei para que fosse instituído nos hospitais, principalmente nos da rede pública, o exame de ecocardiograma de rotina, mas a proposta não surtiu efeito, porque muitos falaram: "Não. Isso vai aumentar muito o custo. Há teste disso, teste daquilo. Só se tiver sintoma". Sabemos que a maioria não tem sintoma. É muito difícil perder um jovem de 14 anos, em quem poderia ter sido feito um exame anteriormente, logo após o nascimento. O projeto não deu certo, mas eu vou continuar insistindo.
É preciso prevenir, com diagnóstico precoce. "Ah, mas vai fazer ecocardiograma em toda criança que nasce?" Por que não? Dias atrás, com emenda parlamentar, eu doei para a Prefeitura de Goiânia um aparelho desses, que está sendo usado pela Dra. Mirna, por todo mundo. Por que não fazer um examezinho? Não sei, mas eu acho que a prevenção salva uma vida, e uma vida custa muito caro. Perder um filho com 14 anos, com 16 anos de idade? Pelo amor de Deus! Isso é muito sério.
Agora eu vou chamar meu amigo Dr. Maurício Prudente, que eu conheço desde quando ele era criança. Ele é nosso médico cardiologista intervencionista em Goiânia, tem uma atuação muito importante, principalmente no serviço público.
Eu já estou emocionado de falar no plenário da Câmara dos Deputados, e você ainda me sensibiliza com essas palavras. Mas eu vou aproveitar o gancho.
Meus nobres Deputados e Deputadas e demais cidadãos brasileiros que nos ouvem, em 1990, quando eu era estudante de medicina e estava perto de me formar, em escola pública, na Universidade Federal de Uberlândia, meu pai me chamou para acompanhá-lo em um serviço. Nesse dia, quem estava operando era o Dr. Zacharias Calil. Meu pai anestesiava uma criança, era uma urgência; eu, de férias, fui lá e ajudei. O Dr. Zacharias falou assim: "Entra em campo aí, vem me ajudar". Eu, extremamente feliz de participar, fui lá, e ele foi me ensinando o que eu deveria fazer ali naquele momento: segurar a pinça, afastar, cortar ponta, etc. Enfim, foi tudo um sucesso. Depois ele me falou assim: "Eu te deixo em casa". Pensei: "Ótimo! Obrigado. Já ganhei uma carona". Quando eu cheguei à minha casa, O Dr. Zacharias pagou o meu primeiro honorário como quase médico da vida.
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Eu não quero ser repetitivo. Eu havia preparado algumas palavras e, enquanto eu ouvia os colegas que me antecederam, já mudei muita coisa aqui. Mas eu quero tentar ilustrar um pouco do que foi dito.
Como foi dito aqui, em termos de números no Brasil, entre o começo e o fim desta sessão, o correspondente a aproximadamente um terço das pessoas neste plenário terá morrido de doença cardiovascular. Talvez, isto consiga nos impactar: olhar para estas cadeiras e imaginar que, no período entre 1 e 2 horas, um terço destas cadeiras estaria esvaziado por doenças cardiovasculares — refiro-me ao que ocorre no Brasil.
Há outra comparação que dá noção do tamanho da importância do tema. A pandemia da COVID-19 matou, no Brasil, nos 2 anos mais críticos, 2020 e 2021, aproximadamente 600 mil pessoas. E as doenças cardiovasculares, em 1 ano, matam 400 mil pessoas. Isso é muito impactante, acontece há muitos anos, continua acontecendo e deve continuar acontecendo. E por que isso não nos causa a comoção que causou a pandemia da COVID-19? Esta é uma pergunta a ser feita.
Eu queria trazer outro dado aqui. Muito foi dito sobre o infarto, mas existem outras condições que se enquadram nas cardiopatias estruturais. O Deputado Dr. Zacharias Calil as mencionou rapidamente. De uma maneira bem simples, falo daquelas condições patológicas cardíacas que não têm a ver com as coronárias, com o infarto ou com a angina, mas crescem numa velocidade brutal. E por que isso? Porque elas estão extremamente relacionadas ao envelhecimento da população.
Nós sabemos hoje que, nos próximos 25 ou 30 anos, o Brasil terá o mesmo número de idosos que tem hoje o Japão, um país conhecido e admirado pela longevidade e saúde dos seus habitantes. Aí, eu faço alguns questionamentos a esta Casa, aos brasileiros e a nós da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Nós estamos nos preparando para esse envelhecimento? Existem ações sendo desenvolvidas hoje que vão repercutir daqui a 25 anos, 30 anos?
Há mais um detalhe. Às vezes, nós ouvimos o que eu falei e pensamos que isso é um problema dos idosos. Eu diria, olhando para esta Mesa jovem que está aqui, na qual eu me incluo, que nós estamos falando de nós mesmos, já que, daqui a 25 anos, 30 anos, nós seremos esses idosos. Vejam a importância disso.
Ao tratar dessas cardiopatias estruturais, o Deputado Dr. Zacharias Calil citou a Dinamarca. Este país intervém, hoje, em estenose aórtica, talvez a principal delas, uma doença que incapacita e mata 5% da população acima dos 65 anos de idade. Na Dinamarca, 67% da população acima dessa idade tem acesso ao procedimento de TAVI, que é um tratamento da estenose aórtica por cateter. Este tratamento, em maio de 2024, foi incluído no Sistema Único de Saúde brasileiro, com, entretanto, a recomendação — e isso vale inclusive para a saúde suplementar — de que seja disponibilizado a pacientes acima dos 75 anos de idade.
Então, a Dinamarca trata 67% da população acima dos 65 anos de idade; os Estados Unidos, 88%; e o Brasil excluiu os idosos entre 65 e 75 anos. Por que isso? Não existe uma explicação.
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O Deputado Dr. Zacharias Calil também mencionou muito bem a questão econômica. Então, vamos falar um pouco de matemática. Por que nós brasileiros — dirigentes, gestores, políticos —, que somos conhecidos e admirados no mundo inteiro por fazer cálculos econômicos, herança do nosso tempo de inflação, não fazemos cálculo relativo à doença cardiovascular? Calculamos quanto custa o procedimento individual de uma pessoa em uma internação, mas, como foi dito pelo colega que iniciou a nossa sessão, quanto o João custou para o País, sem falar da sua morte precoce? Quanto custa para a Previdência você "encostar", usando um termo da nossa população, um paciente por falta de tratamento precoce?
Nesta Casa, quando o nobre Deputado Ulysses Guimarães, que dá nome a este plenário, em 1988, aprovou, juntamente com os colegas, a lei do Sistema Único de Saúde, existia uma ideia de que essa política deveria ser inclusiva — a ideia existe, isso está escrito. E por que nós estamos excluindo esses pacientes? Fica essa reflexão.
Eu acho que um papel importante do Setembro Vermelho é trazer essa conscientização e nos provocar à ação. Daqui a pouco é outubro, mudará o mês e a cor, e nós nos esqueceremos do coração até o ano que vem. O que nós vamos fazer?
Lembro ainda que o SUS foi inspirado no NHS, um sistema de saúde inglês, britânico, do Reino Unido. Hoje, o nosso SUS é considerado o melhor modelo de saúde do mundo, mas precisamos aperfeiçoá-lo e precisamos adequá-lo à mudança dos tempos, ao envelhecimento da população.
Devemos fazer conta que considere além do que se paga pelo procedimento em si. Como o Deputado Dr. Zacharias falou, a questão não é o custo de um ecocardiograma. Nós precisamos garantir à população acesso. Dos brasileiros, 75% dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde.
O Brasil arrecada percentualmente o mesmo que o Reino Unido. Entretanto, percentualmente, gasta menos da metade do que gasta o Reino Unido. Gastamos um pouco mais do que a Índia e precisamos escolher qual modelo queremos para nós mesmos, lembrando que, daqui a 20, 30 anos, nós seremos os idosos e vamos precisar de acesso a tratamentos na saúde suplementar e, principalmente, na saúde pública, no Sistema Único de Saúde.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. Bloco/UNIÃO - GO) - Muito obrigado, Dr. Maurício. É importante o que foi dito.
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