Horário | (Texto com redação final.) |
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Declaro aberta a presente reunião de audiência pública.
Esta reunião está sendo realizada em atendimento ao Requerimento nº 11, de 2022, de minha autoria, Deputado Luiz Lima, para debater a modalidade de vela no Brasil, planejamento e programas para este ciclo olímpico.
Nós convidamos aqui, através do Lindberg Aziz, Secretário Executivo da Comissão do Esporte, aquelas modalidades olímpicas que mais sucesso tiveram ao longo de mais de 100 anos de realização de Jogos Olímpicos, desde 1986. Tivemos algumas paradas na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial e, pela primeira vez, depois de muitos anos, o adiamento das Olimpíadas de Tóquio para o ano seguinte, em razão a pandemia.
Tenho a honra de anunciar que foram convidados para esta audiência pública os seguintes expositores: Marco Aurélio de Sá Ribeiro, que está aqui ao meu lado, na mesa, Presidente da Confederação Brasileira de Vela — CBVela; Bruno Souza, Secretário Nacional de Alto Rendimento, da Secretaria Especial de Esportes, que está presente em videoconferência; Isabel Swan — eu vou chamá-la apenas de Isabel, porque está muito jovem ainda —, representante dos atletas na Panam Sports (ODEPA), também presente através de videoconferência; Torben Grael, que também está muito jovem, Coordenador da Equipe Olímpica no COB; Samuel Gonçalves de Freitas, oriundo do Instituto Rumo Náutico, campeão mundial de vela e responsável pela Academia de Vela da CBVela, presente através de videoconferência. Obrigado, Samuel. Anuncio a presença de Claudio Biekarck, representante dos treinadores de vela. Obrigado, Claudio, pela sua presença. Finalmente, anuncio a presença do Lars Grael, medalhista olímpico, com uma história brilhante no esporte, tendo uma passagem brilhante no cargo de Secretário Nacional do Esporte aqui em Brasília e também em outras atividades ligadas à promoção da política pública esportiva; e do Nelson Horn Ilha, representante dos árbitros. Nelson, muito obrigado pela presença.
Antes de passar às exposições dos nossos convidados, esclareço os procedimentos que serão adotados na condução desta audiência pública.
Os convidados deverão limitar-se ao tema do debate e disporão de 10 minutos para suas apresentações, não podendo ser interrompidos.
Os Deputados interessados em fazer perguntas ou considerações sobre o tema deverão inscrever-se previamente por meio de assinatura em lista, aplicativo Infoleg ou plataforma virtual. A palavra será concedida, respeitada a ordem de inscrição, pelo prazo de 3 minutos.
Informo que a presença dos Parlamentares será garantida aos que fizerem uso da palavra de forma remota, sendo essa presença lançada pela Secretaria da Comissão.
Os palestrantes disporão de um tempo de aproximadamente 3 minutos para resposta. No final do debate, cada convidado terá até 3 minutos para as suas considerações finais.
Comunico que esta audiência pública está sendo transmitida pelo Portal da Câmara dos Deputados e que todos podem participar por meio de perguntas dirigidas a esta Mesa pelo portal e-Democracia.
Informo também que as apresentações em multimídia serão disponibilizadas para consulta na página eletrônica da Comissão após a reunião.
Gostaria que esta reunião da Comissão de Esportes fosse uma reunião bem real, bem solta, com palavras de fácil entendimento, porque elas serão registradas aqui na Comissão.
Elas serão gravadas, analisadas pela Secretaria Executiva e transmitidas ao Presidente da Comissão de Esportes, o Deputado Federal Delegado Pablo, que representa o Estado do Amazonas, e aos demais Deputados Federais que compõem esta Comissão, para que, através do entendimento desses Deputados, sejam transformadas em políticas públicas desta Casa, para que o esporte vela seja cada vez mais representado e também tenha ao seu alcance facilidade em relação a recursos e a convênios que possam vir a ser realizados.
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Peço desculpas se em algum momento eu fizer alguma pergunta para os participantes que possa ser ingênua, mas talvez ela seja extremamente necessária para o entendimento de todas as pessoas que vão assistir a esta reunião e também para o parecer desta Comissão, através da sua Secretaria Executiva.
Vou começar com o Sr. Marco Aurélio de Sá Ribeiro, Presidente da Confederação Brasileira de Vela. Antes de iniciarmos a reunião, eu pedi para o Presidente Marco Aurélio — e fiquem todos à vontade também —, para passar um pouco da história da vela, como ela evoluiu, o que ela precisa para melhorar, do que ela precisa para ser mais difundida, tanto em lagos, em lagunas, no mar. É com vocês. Contem um pouco da história da vela aqui e como foram esses últimos anos.
O SR. MARCO AURÉLIO DE SÁ RIBEIRO - Boa tarde a todos. Em primeiro lugar, eu queria agradecer ao meu amigo Deputado Luiz Lima por ter dado esta oportunidade ao nosso esporte, e ao esporte em geral, de poder se manifestar e apresentar a sua situação e desafios para a comunidade. Então, muito obrigado pelo trabalho que sempre desempenhou, dentro e fora desta Casa, pelo esporte.
Agradeço aos demais membros da Comissão por estarem dedicando o seu tempo e a sua atenção ao esporte, elemento fundamental de cidadania e desenvolvimento de qualquer país.
Agradeço também ao Lindberg, que organizou a reunião e sempre tem atuado como defensor do esporte dentro desta Casa.
Quero agradecer também a presença de todos os meus colegas que estão on-line conosco: Torben, Lars, Isabel, Claudio, Nelson, Samuel. Eu estou me esquecendo de alguém? Acho que não. Isabel, Samuel, Claudio, Lars, Nelson e Bruno Souza, do Ministério. Eu já vou falar daqui a pouco também sobre a atuação do Ministério. Então, quero agradecer a todos, também aos que vieram aqui hoje. Temos presenças ilustres aqui na Câmara, como as do Comodoro do Iate Clube Brasília, Flávio Pimentel, está aqui conosco; Marcello Katalinic, o Ziguinha, Presidente da Federação Náutica de Brasília; David Baker, que é o Vice-Presidente da Federação Náutica de Brasília; Hugo Mósca, nosso Diretor Administrativo e o Gustavo, nosso Diretor de Vela do Iate Clube de Brasília; que vieram à Casa participar desta reunião.
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Nós temos pessoas nesta reunião de hoje que estão muito mais gabaritadas e capacitadas do que eu para explicar a história da vela, até porque são pessoas que fazem diariamente esta história, mas o que nós podemos dizer é que a vela é um caso de sucesso, em termos de esporte. Por quê? Porque ela vem, desde 1996, e mesmo antes disso, a partir de 1972, obtendo resultados olímpicos expressivos de maneira sistemática. Nas edições dos Jogos Olímpicos, apenas em 1992 a vela não conseguiu obter uma medalha. Então, isso por si só mostra que alguma coisa a vela deve estar fazendo certo, porque ela está conseguindo sempre obter resultados expressivos. Isso sem contar os numerosos títulos mundiais e os numerosos títulos pan-americanos que a vela obteve ao longo desse período.
Então, a vela brasileira é hoje considerada na vela mundial um colosso em termos de resultados, é uma potência. O Brasil tem camisa na vela, e isso é fruto de um trabalho de formigas e de gigantes. As formigas são os vários professores de vela, são os clubes de vela, são as várias associações que fazem a vela acontecer, e os gigantes são aqueles atletas que vão passando de geração para geração a sua capacidade. Então, você tem desde Erik e Axel Schmidt, passando para o Torben e para o Lars, de Torben e Lars, para Martine e Nick, então você começa a ver que a vela consegue transmitir o segredo, por assim dizer, do sucesso. É um case bastante interessante, e o esporte tem muito sempre que aprender com isso e nós na CBVela também.
Como é a situação, hoje, da vela? A vela hoje, no Brasil, tem um sistema que funciona muito bem. Ele começa na base e — é muito importante, Deputado Luiz, que nós possamos falar isso aqui nesta reunião — a vela não é um esporte elitista. A vela hoje possui mais de 150 projetos sociais pelo Brasil, sendo que um dos pioneiros — mais uma vez, a Família Grael — é o Projeto Grael. É um dos pioneiros, um dos projetos mais longevos, acredito eu, na área de projeto social ligado ao esporte. Nesta nossa reunião, inclusive, nós temos como convidado o Samuel Gonçalves, que é egresso do Projeto Grael.
A vela hoje tem um sistema de inclusão bom e, do ponto de vista esportivo, nós temos uma boa notícia, ouviu Deputado Luiz? Na categoria mirim, em que o Brasil nunca havia ganhado um título mundial, o País ganhou pela primeira vez, no ano passado, com o Alex Kuhl, um aluno oriundo de projeto social. Um velejador oriundo de um projeto social ganhou um título mundial que o Brasil nunca havia obtido, e esse garoto agora vai disputar, daqui a duas semanas, o mundial juvenil. Então, a vela está conseguindo entregar um ciclo completo de preparação para aquele aluno que vem de projeto social.
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Em termos de capilaridade, a vela tem aumentado muito. Hoje são mais de 18 federações estaduais. Ainda não temos regata no Amazonas. Temos que fazer uma em homenagem ao Presidente da Comissão, não é? Vamos chegar ao Amazonas. Temos regata desde o Pará até o Rio Grande do Sul. Também temos um sistema de clubes bastante avançado, um centro de excelência, como o Sailing, o clube a que Torben e Lars pertencem. Também há vários outros clubes, como o Iate Clube de Brasília, o Yacht Club Santo Amaro, o Veleiros do Sul, o Clube dos Jangadeiros e o Iate Clube do Rio de Janeiro. Há vários centros. A vela também é um polo gerador de emprego, porque está muito ligada a outras atividades, como o turismo náutico. Ela está muito ligada a ESG como um todo, à sustentabilidade. Então, a vela tem muitas vertentes diferentes e tem progredido cada vez mais nessas vertentes.
Em termos de governança, a vela tem se esforçado para ser um modelo e um exemplo de governança. Todos os principais prêmios de governança nós já ganhamos ou estamos sempre bem cotados. Hoje temos a participação direta dos nossos atletas em vários conselhos. Temos a participação direta da comunidade em várias situações. E vamos trazer — isso é uma novidade aqui, Deputado Luiz Lima — a sede da Confederação para Brasília, porque a Capital do Brasil é Brasília, e a confederação é a Confederação Brasileira de Vela, por mais que sejamos do Rio de Janeiro. Acho isso importante. É uma questão de governança se aproximar do poder público.
A CBVela também tem parceiros muito importantes. Não são só os parceiros dentro da comunidade que nos ajudam muito, mas também há parceiros fundamentais, a começar pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Então, o Comitê Olímpico Brasileiro é uma entidade que trabalha passo a passo com a CBVela, possibilitando que desenvolvamos programas, principalmente, durante o período dos anos negros. Devido à dívida de uma antiga confederação, nós estávamos alijados, viramos párias. Nesse período, o COB foi fundamental para nos ajudar a sobreviver.
Também é importantíssima a parceria que estamos desenvolvendo com o Ministério do Esporte. Neste ano, o Ministério do Esporte estabeleceu — e aí já entro um pouquinho no tema Paris 2024 também — dois programas fundamentais. O primeiro é um programa de base de treinamento, de centro de treinamento. Foi um convênio que fechamos no início do ano. O segundo é um convênio que estamos para fechar. Está na fase de impugnação, como chamamos. Esse segundo convênio é para a nossa equipe de alto rendimento. Vai ser fundamental para a nossa equipe de alto rendimento ter os recursos próprios. Por quê? Porque, se queremos continuar obtendo esses resultados, tem que haver investimento. Não é que a vela seja um esporte caro. Há esportes bem mais caros do que a vela, mas, positivamente, não é um esporte barato. E não é nem isso, os nossos concorrentes investem muito.
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Se houvesse um fair play financeiro, não haveria problema. O problema é uma verdadeira corrida armamentista. Para termos ideia, o orçamento da equipe olímpica inglesa é de 32 milhões de libras. O nosso orçamento anual da CBVela, para tudo, não só para a equipe olímpica, é de 1 milhão de libras. Então, eles têm uma quantidade de recursos. E nossa equipe é heroica, porque nós brigamos de igual para igual com a Inglaterra em todos os certames. Então, a vinda do Ministério para esse sistema de apoio vai funcionar bastante.
Qual é o nosso ponto? É sempre bom nós deixarmos isso claro aqui no Congresso. O que nós precisamos? O que nos falta é o apoio de uma estatal. Isso é o que nos falta para a nossa capacidade de investimento em termos de apoio do poder público, o apoio de uma estatal, porque esses recursos seriam decisivos para completarmos o ciclo. O ciclo do esporte na vela tem quatro degraus. O primeiro é a iniciação, quando a pessoa toma o gosto e vai competir na classe júnior. Aí já estamos falando de barcos que custam 200 mil reais. É muito difícil o garoto seguir, a pessoa seguir, sem isso.
Melhoramos bastante a vela jovem recentemente graças a outro ator, que eu me esqueci de falar, mas não é menos importante: o CBC, que tem sido muito importante na aquisição de barcos, na aquisição de material. Então, com a ajuda de patrocínios, principalmente, do setor estatal ajudando, isso pode facilitar bastante esse avanço, e nós não temos isso.
Outro programa que estamos fazendo daqui para frente é sobre a fabricação de barcos no Brasil. Nós precisamos criar uma indústria náutica no Brasil. Então, nós atuamos em duas linhas. Uma linha, na qual o Congresso sempre nos tem ajudado, é a de desoneração da importação de equipamento olímpico. Não faz o menor sentido para o erário tributar um barco olímpico. Não vai trazer nada para o cofre do Governo. E, pior, aumenta demais o gasto que nós temos. E muitas vezes é dinheiro público que está sendo usado para comprar. Quer dizer, é uma coisa louca. Faz-se menos com mais, em vez de se fazer mais com menos.
No Congresso, vários Parlamentares têm ajudado demais na questão de tentarmos desonerar a importação de equipamento olímpico. Ao mesmo tempo, a CBVela está empenhada em gerar emprego, em gerar mercado, fomentando uma indústria nacional. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A indústria nacional tem que existir para o barco de lazer, para o turismo náutico, para alimentar o turismo náutico. E a CBVela está realmente comprometida, quer envolver o Parlamento cada vez mais em iniciativas para gerar polos industriais, para que criemos marinas e uma indústria de vela forte.
Essa são umas das prioridades da CBVela e um dos motivos pelos quais estamos vindo para Brasília buscar essa geração de emprego. É fundamental que nós desoneremos a importação de material olímpico. O valor residual desse equipamento é muito pequeno. Quer dizer, ninguém vai ficar rico com isso. Não haverá um mercado de segunda mão disso. Esses equipamentos são utilizados na formação dos atletas.
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Outro ponto bastante importante, e eu tenho que agradecer a este Congresso, foi a aprovação de uma lei no fim do ano passado, da renegociação das dívidas das confederações. Essa foi uma vitória do Parlamento. Muita gente acha que o Parlamento não é tão decisivo, quando, na verdade, ele é. Então, a maior vitória obtida pela CBVela, eu diria, desde que ela existe, foi se livrar do fantasma da antiga confederação. Isso só foi possível com a ajuda do Comitê Olímpico Brasileiro, mas, sobretudo, porque o Congresso Nacional teve a sensibilidade de entender que o caminho para várias confederações era a utilização dos recursos da lei das loterias, para poder amenizar as questões financeiras.
Então, eu considero o maior trunfo organizacional nós nos livrarmos dessa situação que nos transformava em pária dentro da sociedade, e hoje não. Agradeço muito ao Congresso Nacional, porque eu sei que foi uma luta. Acompanhei de perto essa luta. Acho que até tivemos reuniões na época. Foi uma vitória realmente bastante relevante. O desafio para Paris é o desafio de sempre. Nós precisamos ter um ciclo olímpico muito curto, extremamente curto. Apesar de todos os esforços do COB e nossos de manter os nossos atletas internacionais, eles ficaram no Brasil, em lockdown. Então, nós precisamos rapidamente colocar esse atleta em competições internacionais, praticamente, morando no exterior no ano que vem. Ano que vem é decisivo para a Olimpíada. Todas as vagas da Olimpíada vão ser decididas ano que vem.
Então, nós temos muita urgência de recursos. A intensidade de recursos é muito grande. O ano que vem também é bastante importante por causa dos Jogos Pan-Americanos. Na última participação, e aí vem uma responsabilidade muito grande, a CBVela bateu o recorde de medalhas, com 11 medalhas na última edição do Pan-Americano. Um dos participantes da reunião, o Cláudio Bica, simplesmente tem 10 medalhas de Pan-Americanos, em 10 Pan-Americanos. Ao contrário da natação, só se ganha uma medalha por edição na vela. Ele tem 10 medalhas pan-americanas. Se depender da nossa torcida, ele estará disputando a 11ª medalha. Ele diz que parou, mas nós nunca sabemos.
Há desafios enormes. Ao mesmo tempo, nós queremos produzir também ano que vem, e vamos precisar mais uma vez da ajuda do poder público, do Parlamento, o maior campeonato de vela que existe, o Mundial da Juventude, que vai acontecer ano que vem em Búzios. Esse campeonato tem boas memórias para mim, para o Torben, e acho que para todo mundo, porque a Martine Grael ganhou o Mundial da Juventude em 2009, em Búzios. Então, nós queremos reeditar esse evento, que é o evento mais importante: são mais de 140 países participando, mais de 500 atletas. E há uma preocupação minha, de todo mundo, que é a questão da renovação.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Presidente Marco Aurélio, é muito pertinente a sua observação. São 150 projetos sociais, o que mostra um norte em relação ao pedido que o senhor fez: uma empresa estatal para estabelecer um programa, como o Banco do Brasil desenvolveu com o vôlei, como antigamente os Correios desenvolveram com a natação. A atuação do Banco do Brasil, principalmente, com o vôlei foi muito feliz. Essa restruturação que a Confederação Brasileira de Vôlei — CBV teve, a partir dos anos 90, em 1991, quando houve o mundial de vôlei no Maracanãzinho foi o primeiro movimento para o ouro olímpico, em Barcelona, em 1992.
A vela tem um histórico de medalhas, desde o México em 1968, passando com a estreia do Torben em 1984. Em 1988, foram o Torben e o Lars. Aí, vieram as medalhas. Veio Robert Scheidt com sucesso em Atlanta, em 1996. A Martine e a Kahena também tiveram um sucesso a partir de Rio 2016. Foi linda aquela conquista.
Foram muito pertinentes as suas observações. Fico feliz. É inteligente politicamente trazer a CBVela para Brasília. Eu costumo falar aqui que as pessoas mais presentes e aqueles mais "chatos", entre aspas, são os que conquistam mais coisas aqui em Brasília, porque estão presentes. Normalmente, quem está presente conquista aquilo que almeja.
Eu gostaria de agradecer a presença do Presidente Marco Aurélio e convidar Bruno Souza, Secretário Nacional de Alto Rendimento da Secretaria Especial do Esporte.
Mais uma vez, muito obrigado por abrir a Casa para uma audiência pública falando de esportes. Você que é um defensor nato. Para nós, é um orgulho termos um representante e ex-atleta do seu nível também no Poder Legislativo.
Mais uma vez, represento aqui o Ministro Ronaldo Bento, o Secretário Especial Marcelo Magalhães. Eu, como Secretário Nacional de Alto Rendimento, fico muito à vontade e muito orgulhoso de falar da vela. Saúdo o Presidente Marco Aurélio, meus amigos e conterrâneos Torben e Lars Grael. Isso vai um pouco além de atleta olímpico e Secretário Nacional. A cidade e os nativos de Niterói têm muito orgulho do esporte de vela. Muitas e muitas medalhas da história do Brasil perpassam não só pela família Grael, mas pelos iate clubes da cidade. Tivemos um impacto gigante durante a Olimpíada de 2016. Quando eu ainda era Secretário da cidade, acabamos recebendo 17 países para fazerem aclimatização da vela aqui na cidade de Niterói.
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Historicamente a vela é uma modalidade campeã em medalhas de ouro no Brasil. Portanto, isso mostra um importante índice de constância na dedicação e trabalho desenvolvido pelos atletas, pelas equipes e dirigentes, dando continuidade a um grande legado desse esporte. Como citou o Presidente, houve participações olímpicas expressivas desde a década de 70.
Desde a criação do Programa Bolsa Atleta, de 2005 a 2022, 774 atletas já foram contemplados por esse programa. Obviamente, é um programa de meritocracia. Então, a vela tem muitos resultados, e resultados positivos, tem bastante atletas participando desse programa. Então, de 2005 a 2022, já foram investidos pelo Governo Federal R$56,359 milhões nos atletas, diretamente.
AO ciclo olímpico de Tóquio, Deputado Luiz, foram 155 atletas. Esse foi o maior alcance de participação na história da vela dentro desse programa. Apenas nesse ciclo para Tóquio, que foi um ciclo um pouco estendido, nós temos atletas que participam da categoria mais alta do programa, que é o Bolsa Pódio. Esse valor de investimento, só no ciclo de Tóquio, foi de 6,936 milhões.
No edital de 2022, ainda nesse ciclo, a vela está em 21º lugar em valor investido, levando-se em consideração todas as modalidades, totalizando o montante de 1,9 milhão somente neste último edital. Nós falamos de várias modalidades, e sempre tentamos chegar a uma equidade. Talvez pelos resultados femininos dos últimos ciclos, a vela teve na sua participação, pelo menos do Bolsa Atleta, 56,8% de mulheres. Isso vai orgulhar muito a nossa representante que está aí hoje na mesa, a Isabel Swan, mais uma oriunda da cidade de Niterói, também medalhista olímpica, e que luta muito pela equidade no esporte, representa também essa força da mulher. Então, 43% foram homens e 57% mulheres.
Nos Jogos de Tóquio, todas as modalidades conquistadas possuem a marca do Governo Federal através desse patrocínio individual, consolidando o programa Bolsa Atleta como um fator primordial no desenvolvimento de atletas e da modalidade num cenário mundial.
Algo já citado pelo Presidente, em 2022, a confederação apresentou um programa de preparação à equipe olímpica principal, principalmente, para participação em campeonatos internacionais. Esse processo está em formalização. Provavelmente, a vigência vá até 2023, ajudando a confederação e a equipe principal.
Em 2021, através da implementação do Núcleo de Base de Alto Rendimento, nós conseguimos fazer essa parceria e fazer essa implementação para a equipe de vela e atletas entre 12 e 17 anos, na utilização também do legado olímpico, lá na Marina da Glória.
Há 2 semanas nós fizemos a inauguração desse núcleo. O Governo Federal faz o aporte ao RH para o treinamento desses jovens atletas. Então, tem um custo de 582 mil reais esse núcleo de vela de alto rendimento.
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O Governo Federal também tem uma parceria com o Ministério da Defesa para a preparação de atletas de alto rendimento da delegação brasileira militar para os Jogos Olímpicos de 2016. Então, a vela está presente em inúmeras atividades, em programas incentivados pelo Governo Federal. Essa é mais uma ferramenta. O Presidente citou que em alguns casos estava sendo mais difícil a implementação por conta do produto, do barco. Alguns programas incentivados também compõem essa cartilha ou ferramenta que a vela utiliza juntamente com o Governo Federal.
Eu fico aqui muito tranquilo e muito feliz de ver também a participação de ex-atletas, o Torben, o Lars, a Isabel, o Samuca, pessoas que participam diretamente do dia a dia da vela nacional, da composição desse esporte tão complexo e tão vitorioso para o Brasil.
Nós tivemos também um orgulho grande com a participação da Martine Grael no nosso primeiro Papo com Atleta, no dia 19 de abril. Nós contamos com a participação da Martine na primeira edição do Papo com Atleta, onde ela pôde falar um pouco sobre a sua carreira, modalidade e falar um pouquinho também do Programa Bolsa Atleta, que ajudou a construir conhecimento e a motivar as novas gerações de praticantes de vela.
Então, mais uma vez estou representando aqui o Secretário Especial Marcelo Magalhães. A Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento tem uma relação muito próxima com a Confederação Brasileira de Vela, com a vela nacional, o que muito nos orgulha.
Eu tenho certeza de que a implementação desses núcleos de base, com a participação em campeonatos internacionais, vai continuar fazendo a vela nos dar muito orgulho, Luiz, com toda essa história bonita que ela constrói.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Bruno, eu é que agradeço. Muito obrigado por fornecer todas as ações da Secretaria Especial e da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento, que está no Ministério da Cidadania. Agradeço ao Ministro Ronaldo, ao Secretário Marcelo Magalhães. Muito obrigado pelos dados que acabou de passar para esta Comissão.
Gostaria de agradecer a presença do Hugo Mósca, Diretor Financeiro e Administrativo da CBVela. Obrigado, Hugo, por sua presença. Agradeço ao Flávio Martins Pimentel. Muito obrigado por sua presença. Flávio é Comodoro do Iate Clube de Brasília, que é um clube lindíssimo, muito bom mesmo, que não só tem a parte do iatismo, mas também uma natação muito bacana, da qual sou fã. Agradeço ao Gustavo Raulino, Diretor de Esportes Náuticos do Iate Clube de Brasília. Obrigado, Gustavo. Agradeço também ao Marcelo Dutra, Presidente, e ao David Baker, Vice-Presidente da Federação Náutica de Brasília.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Medalha de bronze.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Muito bom.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Ao lado da Fernanda, na classe 470.
Isabel, fique à vontade, peço que explique o que é Panam Sports, ODEPA, qual a ligação com o esporte náutico, no continente americano, e com o iatismo brasileiro, qual a sua visão, no esporte, com olhos de atleta e de esportista, e, hoje, nesse outro lado que está vivendo, que deve até ser um pouco mais ampla do que a do atleta em atividade.
A SRA. ISABEL SWAN - Deputado Luiz Lima, é um prazer estar aqui compartilhando um pouco desse esporte que é tão querido e conquistou tantas medalhas para o Brasil: 19. É um esporte muito familiar no Brasil, embora haja 8 mil quilômetros de costa, 150 projetos sociais, com pessoas aprendendo. O Brasil tem uma história riquíssima de embarcações, de construção náutica. Realmente, é uma potência, inclusive pela condição climática do nosso País, por, efetivamente, podermos velejar todos os dias do ano. O nosso mar, a Amazônia Azul do Brasil, pode ser muito explorada. O acesso a mais marinas públicas e principalmente a equipamento de qualidade é um caminho fundamental para crescer com a vela no nosso País.
Vou falar um pouquinho mais da parte feminina. A primeira mulher medalhista, na história mundial, em 1900, é Hélène de Pourtalès, uma velejadora que velejou ao lado do marido. Ela é a primeira medalhista da história, levando essa força feminina também no mar. Essa história vem sendo galgada aos poucos, porque ainda assim a vela é um esporte que está cada vez mais feminino, mais igualitário. Estamos levando a equidade para a vela aos poucos, mas ainda assim é um caminho que precisa crescer em todas as esferas do esporte. Tanto na parte de atletas, na Olimpíada de Paris — a primeira Olimpíada da equidade —, vai haver um número igual de atletas homens e mulheres. Será a primeira vez na história. Em Londres, já houve o mesmo número de modalidades e agora, finalmente, o mesmo número de atletas homens e mulheres, mas ainda assim precisamos de mais espaços para atuar em outras esferas, em conselhos de tomada de decisão.
Eu vejo a CBVela com o esforço contínuo de levar mais mulheres para essa parte, na qual estou trabalhando, agora, da gestão, representando a área Mulher no Esporte no Comitê Olímpico Brasileiro. Vejo a importância de haver a diversidade no esporte, porque assim vamos fazer um esporte melhor, para todos, para que todos tenham a sua voz.
Com essa preocupação, eu entrei para a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil. Fui eleita, depois reeleita e acabei me candidatando para me tornar representante internacional da Panam Sports.
No Pan-americano de Lima eu fui eleita para representar também o País junto à comissão de atletas da Panam, composta por sete pessoas. Da Guiana, nós temos a Aliann Pompey, representando, como Presidente, a nossa comissão, uma mulher negra que também tem uma força muito grande no atletismo. Nós vimos implementando políticas para trazer mais comissões de atletas, entendendo que a voz do atleta é primordial, muito importante.
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Voltando para a esfera brasileira, eu vejo que a caminhada da mulher no esporte é uma caminhada de muita inspiração, de se encontrar em outra mulher uma fonte e dizer: "Poxa, ela chegou lá, é possível eu chegar também". Então, eu tive a sorte, dentro da minha família, de ter a minha madrinha, a Claudia Swan, que foi à Olimpíada de 92. Antes, tivemos a Cinthia e a Márcia Pelicano representando as primeiras mulheres brasileiras a irem, em 1988, aos Jogos Olímpicos de Seul. Isso é uma história muito recente. Se fizermos as contas, cerca de 35 anos atrás. Então, esse espaço para a mulher velejar é um espaço que nós temos que garantir e promover cada vez mais, porque é uma fonte de aprendizado, de troca social, de despertar o empoderamento por meio do esporte, por meio do aprendizado no esporte, o aprendizado junto à natureza. Então, a partir disso, dentro da minha casa, a partir da minha família eu tive essa oportunidade de acompanhar a minha madrinha e isso tudo me inspirou a seguir uma carreira no esporte.
Um ponto relevante que eu acho bem importante ressaltar é que, no começo, as crianças devem ter uma atividade lúdica, uma atividade com diversos esportes, para que possam desenvolver capacidades cognitivas, capacidades de interação social. Eu acho que a vela, o Optimist, principalmente, é uma classe que promove muito isso. A criança aprende a tomar a sua decisão sozinha, a montar o seu barco, a desmontá-lo. Os valores intrínsecos ao esporte realmente fazem a diferença quando se tem que cuidar do equipamento e aprender a lidar com ele.
Então, essa foi a minha escola, às vezes, escutando alguns comentários: "Poxa, você vai fazer campanha olímpica mesmo? Vai seguir essa carreira no esporte?" Eu acho que é preciso ter coragem ainda para seguir essa carreira, embora, segundo pesquisa realizada com as atletas que foram para Tóquio, o principal motivo de as atletas seguirem uma carreira no esporte é, primeiro, ter um treinador de qualidade, uma relação boa com o seu treinador e ter confiança nesse processo, e, segundo, justamente enxergar no esporte uma possibilidade de carreira.
Nós precisamos pensar numa carreira para a mulher no esporte, principalmente trazendo para a minha percepção, e para os homens, mas uma carreira possível. Como é possível criar uma carreira no esporte? Através de acesso a equipamento de qualidade, a um programa de longo prazo, onde exista apoio: "Poxa, eu vou ter apoio nessa evolução da minha carreira, eu posso contar com isso, eu tenho um plano". Eu acho que o Bolsa Atleta fez muita diferença. Eu tive a oportunidade de passar pelo programa Bolsa Atleta e, para mim, fez muita diferença, e, com certeza, para a Martine também, porque eu peguei a transição da Martine do juvenil pós-campeonato mundial em que ela esteve, em 2009. Nós trabalhamos pelo Ciclo de Londres, e foi um ciclo muito bonito, quando conseguimos, através de ajudas alternativas, chegar ao alto rendimento, ficar entre as cinco do mundo, até o último mundial, e conquistar a vaga do Brasil.
Eu acredito que é possível fazer isso através de programas mais estruturados e desse acesso, principalmente das classes juvenis, para que elas façam a transição para o profissional, que é onde temos a maior perda de mulheres, que é seis vezes maior do que a dos homens. Estamos falando da mulher que passa por situação de gravidez; da mulher que, pelo estereótipo de gênero, acaba seguindo outro caminho, da mulher que nem sempre vai ter apoio ou que passa, talvez, por situação de assédio e abuso — isso acontece, e não podemos fechar os olhos para isso, temos que garantir um espaço seguro dentro do esporte.
Entendemos o quanto é importante a palavra "sororidade", que está em voga. Acho que, para as mulheres, é uma inspirando a outra e vendo que é possível chegar lá.
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Eu acredito que na vela esse caminho foi muito por aí. A Martine já veio de casa, tem no berço o DNA olímpico, o DNA do Torben, com essa vivência toda muito forte. Ela tem personalidade muito forte. Mas eu tive a oportunidade de trabalhar com ela nessa transição do juvenil para o profissional.
Eu acho que nessa parte temos que ter um cuidado grande para realmente fazer do nosso País uma potência olímpica. Temos toda a condição, mas é preciso planejar. Eu acredito que a CBVela está evoluindo muito nas questões de governança, com a participação feminina em conselhos de administração, cartilhas de melhores práticas e código de conduta. Precisamos disso para ter um esporte mais forte, um esporte mais sustentável, um esporte mais inclusivo.
A academia, a CBVela também conta com o trabalho excepcional do Samuel Gonçalves, que traz mais gente. Ele tem um histórico, ele vem do Projeto Grael, campeão mundial, e traz muita inspiração e também tem uma representatividade muito forte.
Acho que é por aí. Temos que valorizar muito o nosso esporte, porque podemos crescer muito mais e trazer mais medalhas, mas precisamos de programas estruturados, de acesso a embarcações, de acesso a rampas públicas para a prática de esporte, de uma indústria nacional que vai promover o maior acesso também, porque não vamos precisar fazer importação de barcos, vamos deixar isso para o alto rendimento, que necessita de equipamentos e não tem como fugir disso.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Isabel, muito obrigado pelo seu depoimento, pela sua participação.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Foi isso o que eu imaginei. A disputa somente feminina teve o início em qual Olimpíada? Você tem essa informação, Isabel?
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Em 1988, em Seul.
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Isabel, muito obrigado pelo seu apontamento em relação à possibilidade de carreira. Eu acho que isso vai ao encontro do pedido do Marco Aurélio, de haver um patrocínio, com um programa de pelo menos 8 anos, 12 anos, para que a confederação consiga desenvolver os jovens atletas para que eles passem pela fase infantil, por toda a juventude, até chegar à fase adulta. Acredito que isso vai possibilitar que haja uma eficiência na condução esportiva da confederação.
Eu fico imaginando a sua alegria de ter uma filha campeã olímpica também. É muito raro acontecer. O único esportista que eu me lembro de ter acontecido isso foi o Gary Hall Junior, que foi um nadador, se eu não me engano, campeão olímpico em Atlanta, nos 50 metros livre ou no 4x100 metros livre, e o pai dele foi medalhista olímpico nos anos 70. É muito raro isso acontecer. Eu não sei qual momento foi mais forte. Eu imagino que ver uma filha seja até mais forte do que nós mesmos conquistando uma medalha.
Torben, muito obrigado por participar desta reunião. E gostaria de fazer outro pedido: além de citar a alegria de ser pai de uma campeã olímpica, a Martine, que diga quantas provas olímpicas hoje há na vela, no programa olímpico, quantas provas há em campeonato mundial, se essas provas são disputadas no campeonato nacional, o porquê de uma prova se tornar olímpica ou não. Eu gostaria de tirar essa dúvida.
Muito obrigado pela oportunidade de estar aqui falando do nosso esporte, a vela. Respondendo à sua pergunta, realmente, é muito mais prazeroso ser pai e ver os filhos serem campeões olímpicos, ainda mais numa atmosfera como foi aquela decisão, em 2016, do que nós mesmos sermos campeões. A emoção aflora muito mais, com certeza, quando se está assistindo aos filhos indo bem naquele esporte que amamos tanto.
No programa olímpico, as classes têm, ao longo dos anos, uma variação. Os primeiros barcos olímpicos eram grandes, pesados, com muitos tripulantes, e hoje, após muitas mudanças de classe, como há sempre um avanço tecnológico, há novas classes, novos barcos, mais velozes, mais espetaculares, mais adaptados à juventude de hoje. Há sempre essa mudança grande, por exemplo, nas classes, desde Tóquio, e para a próxima Olimpíada de Paris. Vai haver a entrada do kitesurf, que é um tipo de vela que está crescendo muito no mundo todo, assim como no Brasil. É muito popular no Nordeste do Brasil.
E a prancha a vela também mudou, é muito mais dinâmica, com foils, como o aerobarco que atravessava a Baía de Guanabara. São dez classes no programa.
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16:59
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Houve, na Olimpíada de Tóquio, pela primeira vez, o mesmo número de atletas homens e mulheres, mas houve uma classe a mais de homens. No programa de Paris, há um total espelhamento, em termos de medalhas, homens e mulheres. Eu acho isso supersaudável se pensarmos que em 1988 houve a primeira Olimpíada com a participação feminina, com classes específicas para as mulheres, e já em Paris, em 2024, haverá total equiparação em números de atletas e de medalhas. Para o esporte eu acho muito saudável.
Eu gostaria de fazer um paralelo da evolução que houve do período em que eu, o Lars e outros atletas competíamos até os dias de hoje. Não que seja uma maravilha hoje. Como o Marco Aurélio disse, há uma deficiência grande ainda de recursos em relação às grandes potências da vela, mas há uma diferença muito grande para o período em que nós competíamos, quando praticamente tudo era organizado por nós, tudo era através de patrocínios ou "paitrocínios" que conseguíamos, e o apoio das entidades era ínfimo. Hoje, foi falado bastante, temos diversos programas partindo da força no esporte, que são apoios importantes, como o Bolsa Atleta, o Bolsa Pódio, que ajudam muito, principalmente num período difícil para os atletas, que é a passagem da vela jovem para o alto rendimento. Eu acho que a criação do alto rendimento no Comitê Olímpico Brasileiro foi superimportante, levando muito mais recursos para aqueles atletas que estão disputando medalhas.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Torben, muito obrigado pela sua participação.
O SR. TORBEN SCHMIDT GRAEL - Bom, eu acho que a confederação ficou sem as certidões e teve que ser operada pelo Comitê Olímpico Brasileiro durante um período. Obviamente, isso desestruturou a confederação. Nós estamos agora numa fase de reestruturação da confederação. Acho que isso vai acontecer de maneira bastante rápida. Mas eu acho que a confederação tem feito um esforço muito grande de investir na vela jovem, o que eu acho muito acertado. A vela de base é muito sustentada pelos clubes aqui no nosso País, e os clubes, no nosso País, têm uma estrutura excelente. Nós, além dos clubes hoje, temos vários projetos sociais. Temos o Projeto Grael, que faz 25 anos ano que vem, e temos outros 150 projetos sociais pelo Brasil. Isso é muito, porque abre as portas para pessoas que estão fora do ambiente dos clubes. Mas os clubes são um dos motivos do sucesso da vela no Brasil. Com certeza, essa transmissão de conhecimento que se dá dentro dos clubes, através do convívio, é muito importante para o resultado do nosso esporte. Eu acho que realmente a vela jovem é um ponto difícil, porque é quando eles saem da vela de base e ainda não têm resultados, e, para estarem no alto rendimento, eles precisam de apoio.
A CBVela tem feito bastante investimento na vela jovem, e a Confederação Brasileira de Clubes também tem ajudado bastante no investimento no equipamento, o que também é um dos pontos difíceis. Então, isso tem ajudado bastante. Mas nem todo clube tem acesso aos recursos da Confederação Brasileira de Clubes. Clubes pequenos têm dificuldade de ter acesso a esses recursos. Isso, acho, deveria ser uma coisa estudada, para que fosse um pouco mais democrática, ou seja, não houvesse só o apoio a grandes clubes, mas a pequenos clubes, como o nosso, que são pequenos em número de sócios e em estrutura, mas que têm um potencial, um resultado extraordinário. Então, a grande diferença que nós podemos ter é conseguir mais recursos, porque a falta de recursos é a grande deficiência que nós temos em relação aos nossos principais adversários.
O resto, eu acho que material humano, nós temos de melhor qualidade possível. Temos condições ideais para a prática do esporte da vela no Brasil. Eu acho que recurso é o "x" da questão no momento.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Torben, muito obrigado.
A sua fala converge com a fala do Presidente Marco Aurélio em relação à necessidade de recursos, à diferença de recursos hoje que temos com a vela da Inglaterra, com quem o Brasil disputa. O número de medalhas do Brasil é impressionante, desde 1968.
O SR. FELÍCIO LATERÇA (PP - RJ) - Meu amigo Deputado Luiz Lima, também do Rio de Janeiro, é uma grande alegria estar aqui.
Quero parabenizá-lo por esse requerimento e por discutir a vela do Brasil, que é algo que tem feitos extraordinários, você já ressaltou, da Família Grael. Eu estou intercalado entre dois craques da Família Grael. Hoje, nós temos na cidade de Niterói — eu sou natural de Campos, radicado em Niterói — nosso Prefeito Axel Grael, que também fez fama na vela.
É com muita alegria que nós estamos aqui para dizer que a vela tem o nosso apoio. Em Niterói, nós temos o Praia Clube São Francisco, de onde eu sou sócio desde a década de 1990. É um clube que se dedica só a barcos a vela, onde meu filho também já fez escolinha de vela. Nós temos escolinha de vela no Praia Clube. Niterói é um grande celeiro. Não em vão, a família Grael é oriunda de Niterói e tem a sua vocação. Nós estamos aqui com o pessoal da vela logo atrás de nós. Eu estive com o nosso campeão Samuel Gonçalves, em Arraial do Cabo.
Samuel, estamos aqui, meu irmão. Ganhei o bonezinho e agora estou fazendo o registro. Fiquei devendo. Era para trazer o boné para estar aqui hoje com o boné e o botton, que eu ganhei muito carinhosamente.
O Prefeito Marcelo Magno, de Arraial do Cabo, vai investir na vela naquele belíssimo Município. Os amigos estavam falando, você sabe que nós temos uma grande força política, Luiz Lima. No nosso litoral fluminense, na Região dos Lagos, vai haver um circuito magnífico, em Búzios, em Barra de São João, que é Casimiro de Abreu, em Araruama, na lagoa. Então, nós vamos ter vários eventos, aos quais eu faço questão de dar o apoio. Eu ouvi o Torben falando da necessidade de se apoiar. E você bem sabe que eu também sou um grande incentivador do esporte. Nós destinamos uma grande quantidade de recurso para esse esporte, por meio de política pública, porque acreditamos que o esporte tem o poder de transformação. Nós temos como fazer. Nós não podemos dizer que esse esporte é um esporte elitista, como muita gente coloca o tênis como um esporte elitista.
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17:11
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Este é o nosso registro, nosso apoio. Quero aproveitar para parabenizar, mais uma vez, nosso Praia Clube São Francisco por incentivar a vela, e nosso Presidente do Praia Clube, o Paulo Henrique, que também é um apaixonado. Nós passamos a admirar a vela brasileira e a ter um carinho especial por ela, sempre acompanhando todas as competições.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Obrigado, Deputado Felício Laterça. Foram ótimas as suas observações. V.Exa. é mais um Deputado a colaborar, para que nós possamos ajudar e facilitar mais, se Deus quiser, a vida do atleta da vela. Como a Isabel lembrou, o atleta é o ponto de atendimento de tudo isso que nós estamos falando aqui.
Inicialmente, respondendo à sua pergunta, eu gostaria de dizer que a vela tem esta questão do biotipo. Nós velejamos em uma classe, a classe Snipe Pan-Americana, uma classe internacional, em que o biotipo dos velejadores pode ser semelhante. Nesta classe, nós fomos bicampeões brasileiros e campeões mundiais em 1983, mas, quando nós chegamos para o desafio olímpico, o Torben seguiu o caminho na classe Soling, e eu segui o caminho em outro tipo de barco, que era a classe Tornado, um catamarã.
Na classe Star, na qual o Torben representou o Brasil nos Jogos de Seul, pela configuração do barco, o timoneiro precisa ter bom porte, mas o proeiro tem que ser pesado. Ele velejou com Nelson Falcão, que também foi campeão mundial e medalhista bronze. Eu velejei, inicialmente, com meu primo Glenn Heinz; depois, com Clínio Freitas, com quem eu fui medalhista bronze em Seul, e com Kiko Pellicano.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Muito bem, Lars!
O SR. LARS GRAEL - Tentando ser breve, Deputado, eu quero agradecer o convite da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados.
Quero saudar o colega em Niterói Bruno Souza, Secretário Nacional do Esporte de Alto Rendimento; o Lindberg — é bom vê-lo com saúde e cheio de disposição; ele passou pelo "cabo das tormentas" na saúde. Saúdo nossos amigos de Brasília, o Comodoro, do Iate Clube de Brasília; o Flávio Pimentel; o Marcello Katalinic Dutra, o Ziguinha; o Gustavo Raulino, Diretor do clube; o David Baker; o Marco Aurélio Sá Ribeiro, Presidente da Confederação Brasileira de Vela, por quem nós todos temos muito respeito; o Torben, expoente máximo do esporte olímpico brasileiro, não só da vela, ele e o Robert Scheidt, entre outros; o Samuel Gonçalves, fruto de um projeto social, hoje um campeão mundial de vela muito respeitado pelo seu trabalho.
Saúdo também Isabel Swan, medalhista olímpica, que faz um trabalho bonito na Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil.
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A vela é um esporte que surpreende, porque há muito poucos praticantes no Brasil, se comparada com outras modalidades. Foi um esporte intensamente rotulado como esporte de elite, o que pouco favoreceu nossa modalidade ao longo do tempo. Na verdade, no Brasil, nosso problema maior é a ausência de cultura náutica, de mentalidade marítima. A vela, no entanto, deu ao Brasil 19 medalhas olímpicas, das quais 8 foram de ouro, o que dá à vela nacional, no quadro de medalhas, posição de destaque maior no universo das modalidades olímpicas no Brasil.
Esta modalidade estreou oficialmente nos jogos de Paris, em 1900, e teve a primeira participação brasileira apenas nos Jogos de Londres, no pós-guerra, em 1948. O Brasil conquistou a primeira medalha olímpica nos jogos do México, em 1968, na classe Flying Dutchman, com Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes. Mais tarde, a vela do Brasil surpreenderia a vela internacional ao conquistar, no quadro de medalhas, o primeiro lugar nos Jogos de Moscou, em 1980. Digamos que ali havia um reflexo do boicote de muitos países do Ocidente. Mas, depois, a vela do Brasil se confirmou ao vencer no quadro de medalhas dos Jogos de Atlanta, em 1996. Enfim, foram 19 medalhas.
O esporte da vela não teve só conquistas e glórias. Como Torben bem explicou, nós vivemos um período difícil, fruto de um problema anterior de outra entidade, oriundo da questão dos bingos. A Confederação Brasileira de Vela, na época, ficou definitivamente contaminada, em prejuízo à modalidade que tanto orgulho trouxe ao esporte nacional. Foi um período difícil de compreensão do Comitê Olímpico do Brasil, que foi um parceiro em todos os momentos.
Criou-se outra entidade, com novos ideais, com novo modelo de governança, dirigida pelo nosso Presidente Marco Aurélio de Sá Ribeiro. Ele mostrou credibilidade na gestão para, hoje, construir uma solução com o Comitê Olímpico do Brasil, os órgãos de controle, o Governo Federal, por meio do Ministério e da Secretaria Especial do Esporte. Isso está ajudando a dar uma solução definitiva para a vela, que, desde então, na gestão de Marco Aurélio, mostrou ser uma entidade adimplente, correta, pautada por uma vanguarda do processo de governança, tendo sido premiado, por exemplo, pelo Rating Integra, do Pacto pelo Esporte, e pelo prêmio Sou do Esporte. Esta foi uma nova história escrita pela vela nacional na gestão do Presidente Marco Aurélio.
Quanto ao planejamento para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, e os de 2028, não sabemos ainda que classes serão. A vela tem uma volatilidade, o que acho muito difícil, mas a condução técnica da confederação é muito positiva. Eu, por exemplo, tenho hoje um olhar maior para a difusão da vela. Há um trabalho feito pela própria confederação, que criou uma academia da CBVela, conduzida por um ex-aluno de um projeto social que se tornou um excelente velejador, campeão mundial, o Samuel Gonçalves, presente na reunião de hoje. O trabalho de difusão que ele faz conquista novos mercados e é muito importante.
A novos lugares onde existe alguma prática de vela, ainda que acanhada, ele leva a capacitação de velejadores, de árbitros, de treinadores e de organização de regatas. Assim, a vela brasileira vem ampliando horizontes.
O papel dos clubes é muito importante. Basta ver o Iate Clube de Brasília, um dos clubes com tradição, um clube formador de atletas de altíssimo rendimento. A estrutura dos clubes, alicerce da vela brasileira, tem recebido um apoio importante nos últimos anos do Comitê Brasileiro de Clubes. Vários clubes de vela ingressaram neste comitê e receberam apoio significativo para a compra de equipamentos, de material esportivo, para a participação em campeonatos, para a contratação de recursos humanos e equipe técnica e para a organização de campeonatos brasileiros interclubes em comum acordo com a CBVela.
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17:19
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Eu me refiro a clubes importantes como o Veleiros do Sul e o Clube dos Jangadeiros, do Rio Grande do Sul; o Yacht Clube Santo Amaro, clube de Claudio Biekarck, aí presente; o Clube Internacional de Regatas de Santos e do Guarujá; o Iate Clube do Rio de Janeiro e associados; o Yacht Clube da Bahia, que levou a vela para um eixo Região Nordeste — o Yacht Clube da Bahia ganhou duas vezes a competição nacional de vela jovem em função deste incremento. Há, também, o Iate Clube de Brasília e o Cabanga Iate Clube, de Recife. Sim, nós gostaríamos que também clubes pequenos tivessem um mecanismo que os apoiasse.
Dentro desta difusão da vela, nós temos que mostrar um trabalho de suporte permanente da Marinha do Brasil, parceira de primeira hora da vela do Brasil, desde a fundação da entidade até os dias atuais. Nós chegamos hoje à fase em que os projetos sociais também ajudam muito. Nós tivemos o Projeto Grael em 1996 — idealizado por mim, pelo Torben e pelo Marcelo Ferreira — e sua implantação em 1998. Lá se vão, portanto, quase 24 anos. Mais de 19 mil jovens passaram pelo projeto, que virou o Instituto Rumo Náutico. Este projeto ensina o jovem a nadar, a remar e a velejar. Lá se pratica também a canoagem, que recentemente recebeu medalhas em competição no Estado do Rio de Janeiro. O projeto conta, ainda, com ensino técnico profissionalizante e com educação ambiental.
É bacana ver que do Projeto Grael, do Instituto Rumo Náutico, passou-se a irradiar conhecimento para toda uma rede náutica educativa, como foi citada aí, com cerca de 150 iniciativas no Brasil hoje de democratização ou difusão da vela.
Bacana também é a governança. Hoje o Instituto Rumo Náutico tem como Vice-Presidente Isabel Swan, que faz um trabalho muito bom lá, e tem como Presidente um ex-aluno, irmão do Samuel, o Jônatas. Vejam que coisa bacana da governança: um ex-aluno da entidade é hoje o Presidente dela!
Fruto da iniciativa do Projeto Grael foi o Projeto Navegar, que, no âmbito do Governo Federal, da antiga Secretaria Nacional de Esporte, trabalhava não apenas com a vela, mas também com o remo e a canoagem. Foram implantados 32 núcleos em 15 Estados do Brasil, mas, infelizmente, como quase toda ação governamental, Deputado, quando muda o Governo, a ação é descontinuada.
Houve, também, o Projeto Navega São Paulo, implantado no Estado de São Paulo. Muitos desses núcleos, infelizmente, sucumbiram e pararam. Outros continuaram, com iniciativas locais, com ONGs locais, com a apoio de Prefeitura, com o apoio do Programa Forças no Esporte, do Ministério da Defesa, no caso, da Marinha do Brasil.
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O jovem que o Marco Aurélio citou é o primeiro campeão mundial da classe Optimist, classe Sub-15 internacional. Alex Kuhl veio de um núcleo do Projeto Navegar, que depois virou Navega São Paulo, que é a Escola Municipal de Vela do Município de Ilhabela, no Estado de São Paulo.
Hoje é interessante ver como iniciativas como esta têm levado muita gente boa para o esporte da vela, mudando a cor e o eixo do esporte, que se dava apenas no eixo Rio-São Paulo. Outros vários centros estão presentes e participam das competições. A vela também tem na Lei de Incentivo ao Esporte um dos seus alicerces, uma forma de apoio muito importante, como o Bolsa Atleta, desde que seu mecanismo foi criado, assim como o apoio da Marinha do Brasil, por meio do Programa Atletas de Alto Rendimento.
Uma coisa importante no esporte brasileiro que foi descontinuada e precisa ser debatida é a Lei de Importação de Material Olímpico e Paralímpico, sem similar técnico nacional. Foi uma luta que eu tive quando fui Secretário Nacional dos Esportes, 20 anos atrás. Isso foi aprovado em 2001, e, em 2015, por um descuido, a lei não foi renovada. Nós perdemos este incentivo. Muitas vezes, o apoio que um clube ou uma confederação recebe vem de recursos públicos. O mesmo Estado que dá o dinheiro tira-o através do imposto de importação.
Este mecanismo precisa ser resgatado. Reconheço que, neste Governo, o segmento náutico recebeu um apoio importante, com a desburocratização para a implantação de marinas, que foi uma ação do Ministério do Turismo integrada a várias outras áreas do Governo: a importação de barcos usados, a permissão de importação de barcos sem o imposto de importação. Portanto, foram mecanismos que ajudaram o segmento náutico em passado recente.
Há muito a avançar. No entanto, esta iniciativa de V.Exa. de criar esta audiência pública, com nomes representativos do esporte brasileiro, enche-nos de orgulho e nos mostra um panorama de otimismo com relação a esta situação.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Obrigado, Lars. É uma honra escutá-lo! Eu não fui um brilhante esportista como o Lars, o seu irmão, como a Martine, mas eu estava ali no momento certo, na hora certa, quando apareceu na minha vida a oportunidade de me candidatar a Deputado Federal. Eu fui um atleta, durante a campanha de 2018, muito disciplinado, como todos nós somos, e aí aconteceu.
Lars, nós temos um projeto de lei que estávamos pesquisando — é muito importante a participação dos atletas, neste momento —, um projeto do Deputado João Derly, de 24 de março de 2015, que dispõe sobre a isenção do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados para equipamentos e materiais esportivos. Não há algo semelhante no mercado nacional.
Aí se incluem os materiais esportivos da vela, materiais essenciais, para que não haja a cobrança deste imposto.
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17:27
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Este projeto está parado na CFT — Comissão de Finanças e Tributação. O Relator é o Deputado Alexis Fonteyne, do Partido Novo de São Paulo. Ele foi designado Relator no dia 27 de abril de 2021.
Uma forma, Lars, de pressionar o Deputado Alexis Fonteyne, que é do Partido Novo — eu posso estar equivocado, mas o NOVO tem a tendência de ser contrário a tudo o que é isenção, o partido é bem radical neste ponto —, é encher a caixa postal desse Deputado, que é muito chato quando se trata deste tema, mas é um Deputado superbacana. Quanto mais atletas o pressionarem, ainda mais atletas do Estado de São Paulo, mais ele vai se sentir, talvez, motivado a mudar de opinião.
Eu concordo com você, Lars, quando diz que isto não faz sentido nenhum, puxando também o que o Torben e o Marco Aurélio citaram. Muitas vezes, trata-se de investimento público, portanto não faz sentido algum nós não incentivarmos a importação destes produtos. Refiro-me ao Projeto de Lei nº 879, de 2015, do Deputado João Derly.
Lars, é isso que nós conseguimos pesquisar rapidamente. O Lindbergh vai passar esta informação para você. É neste campo político que nós podemos atuar.
Agradeço muito sua contribuição, Lars. Você é um atleta que viveu muitas emoções e alguns obstáculos ao longo de sua vida. Trabalhou, se não me engano, como Secretário de Esporte de São Paulo e Secretário Nacional de Esportes. Se não me engano, trabalhou também na Light, na época do Sr. José Luiz Alquéres, pai de Pedro Alquéres, que hoje trabalha comigo aqui em Brasília.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - O Sr. José Luiz Alquéres é só elogios a você, Lars, até hoje. Muito bom! Gosta muito de você.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Sim, por favor.
O SR. LARS GRAEL - Quanto à lei de importação de material olímpico e paraolímpico sem similar técnico nacional, eu me lembro de que, quando nós fomos aprová-la, naturalmente a área tributária e a área da Fazenda do Governo eram contra, conceitualmente, tudo o que diminuísse a arrecadação.
Eu me lembro da época do difícil convencimento do então Secretário da Receita Federal, que era o Everardo Maciel, do Governo Fernando Henrique, para que ele entendesse a importância disso para o esporte olímpico e o quanto isso era ínfimo, irrelevante, com relação à balança comercial do País. Foi aprovada, dentro de um relatório do então Deputado Federal Rodrigo Maia, que mais tarde foi Presidente da Câmara.
Quando esta lei foi aprovada, ela foi coberta de muitos cuidados, porque nós tínhamos o medo de que fosse usada de forma equivocada, como a importação de armamentos ou a munição com outro destino que não o tiro esportivo. Tínhamos o medo, igualmente, de que houvesse algum tipo de evasão ou elisão fiscal. Esta lei, que foi muito bem elaborada, atravessou vários governos. Nunca houve um escândalo, nunca houve uma denúncia substancial, mas, quando estávamos às portas da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, por um descuido burocrático, a lei caducou. Bastaria uma simples renovação. Renovação se fazia a cada 2 anos. Perderam o prazo, e ela caducou.
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17:31
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Diante disso, hoje o João Derly está tentando resgatar uma lei que traz benefícios. O próprio Governo tira, pelo imposto, o dinheiro público que chega em favor do esporte através da Lei de Incentivo ao Esporte, pela transferência dos recursos da Lei Agnelo Piva, o repasse do CBC. Isso não é bom para o Governo, muito menos para o esporte. O João Derly, seu colega que foi Deputado Federal em outro mandato, é autor deste projeto.
Sim, o Partido Novo precisa compreender que esta não é uma questão de ideologia. Eles têm assunto, digamos, decidido, fechado, contra qualquer tipo de isenção fiscal ou tributária. Este caso é diferente. Vale falar com o Presidente do partido, Eduardo Ribeiro, em cujo Estado, Santa Catarina, há muito fomento do esporte, inclusive o esporte da vela, para tentar reverter a situação e isso entre em pauta, seja votado e aprovado. Assim esperamos!
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Perfeito, Lars!
É este o caminho que nós atletas temos que entender. Marco Aurélio já entendeu isso, está trazendo a CBVela para Brasília, o que vai ser muito positivo para a modalidade vela, assim como a facilidade de comunicação com os Deputados aqui eleitos pelos 27 Estados do nosso País, que dão direção à política pública, revogando, alterando e criando leis para o benefício de toda a sociedade.
Meu muito obrigado especial aos Deputados Luiz Lima e Felício Laterça, bem como ao Sr. Lindbergh Farias e ao Secretário Bruno Souza.
Eu sou o Samuel Gonçalves, oriundo do Projeto Grael, que já vai completar 25 anos. Mais de 17 mil jovens, crianças e adolescentes, passaram por lá. Trata-se de um projeto muito relevante não apenas para a cidade, mas também para o País como um todo. Eu fui campeão mundial em 2015, ao lado de Lars Grael. Tenho vários títulos sul-americanos e internacionais junto com ele.
Hoje também sou atleta ativo do PROLIM — Programa Olímpico da Marinha do Brasil. Tenho muito orgulho de ser militar da ativa. Se eu não fizer nada de errado e continuar competindo, serei militar da ativa por mais 4 anos. Sou gerente da Academia Brasileira de Vela, que vocês citaram e está responsável por toda a área de educação da vela brasileira.
E fui eleito este ano também para participar do Comitê de Desenvolvimento na modalidade vela da Federação Internacional de Vela, a World Sailing. Sou formado em desenho industrial pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, estou cursando educação física na Estácio de Sá, e é uma honra muito grande estar aqui com os senhores.
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17:35
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Em 2019, assim que começou a pandemia, eu fiz um curso na Inglaterra de 2 meses a convite da Confederação Brasileira de Vela e, ao retornar ao Brasil, tivemos a ideia da criação da Academia Brasileira de Vela, cujos objetivos principais eram a disseminação de conhecimento e a união da comunidade náutica do Brasil. Começamos a fazer um cadastro nacional das mulheres que velejam — e a Isabel tem acompanhado e feito um excelente trabalho junto a elas — das instituições que ensinam a modalidade de vela no Brasil. Conseguimos chegar de forma presencial e on-line a mais de 22 Estados do País. Vimos escolas de vela e projetos sociais firmando parcerias com Prefeituras Municipais, com atenção especial a seis Prefeituras: de Fortaleza, no Ceará, de Ilha Bela e Caraguatatuba, em São Paulo, de Casimiro de Abreu, Araruama e Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, onde vamos fazer eventos de vela este ano, já em parceria com o poder público. Isso é muito importante, pois eles têm reconhecido o trabalho que a CBVela tem feito. E tudo isso através de escolas de vela e projetos sociais nessas cidades.
Hoje, na Confederação, eu estou na parte de desenvolvimento. Já fizemos mais de 25 clínicas de capacitação on-line e presencial, atingindo 703 pessoas de 21 Estados diferentes. Então, é um trabalho bacana, conseguimos reunir todas as pessoas que, porventura, no passado, não viam significado na Confederação e achavam que ela estava focada só em atletas de alto rendimento. E estamos conseguindo juntar, lincar os projetos sociais e as escolas de vela, muitas das quais têm sua base fora de clubes e marinas. Em todo o Brasil, temos em torno de 200 escolas de vela, sendo que quase 80% delas estão fora de clubes e marinas oficiais. Esse é um número muito grande.
Nós fizemos um levantamento que mostrava que, na época da pandemia, mais de 15 mil pessoas aprenderam a velejar em 182 escolas de vela cadastradas na Confederação. Esse é um trabalho muito bacana onde falamos da carreira do atleta olímpico, mas a modalidade de vela tem toda uma cadeia de profissionais que fazem acompanhamento, com treinador, preparador físico, técnico, gestor da modalidade, instrutor, além de lojas que vendem e oferecem produtos, como os coletes salva-vidas e partes do velame, das velas e dos barcos. Então, existe toda uma cadeia de produção e de trabalho que acompanha o esporte da vela.
Infelizmente, é um esporte que tem o rótulo de elitista. Mas os senhores podem ver que não só eu, que sou oriundo do projeto Grael, tive a oportunidade de ser campeão mundial e estou agora também na parte administrativa, como também muitos outros alunos participaram e participam dessas escolas de vela e conseguem ter destaque na sociedade.
Em muitos países, quando uma pessoa coloca no seu currículo que sabe velejar, o chefe já percebe a vocação náutica dela e todas as suas características inerentes ao esporte, como responsabilidade, determinação, previsibilidade, comunicação, entre outras coisas que são muito importantes para a sociedade como um todo.
Nós temos feito um trabalho muito bacana de chegar a todos os lugares do Brasil que têm feito algum tipo de atividade náutica tentando resgatar alguns dos pontos do Projeto Navegar, que o Lars citou do Projeto Navega São Paulo, onde há barcos parados há mais de 10 anos. Então, é até uma questão de tentar facilitar o acesso a esse material que está sendo degradado com o tempo, onde há muitas escolas de vela e projetos sociais que funcionam ao lado de onde funcionava o Projeto Navegar e o Navega São Paulo e que não têm acesso a esse equipamento. Temos criado ainda mecanismos, junto com o Lars, para fazer a ponte entre as pessoas responsáveis pela guarda desse equipamento, mas boa parte dele é de posse de Prefeituras e de Municípios, o que dificulta o acesso aos equipamentos que já existem.
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17:39
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O SR. FELÍCIO LATERÇA (PP - RJ) - Nós que agradecemos a você, Samuel Gonçalves.
Sou o Deputado Felício Laterça e pedi ao colega para estar aqui neste momento para fazer uma pergunta. Gostei dessa informação que você nos transmitiu sobre os alunos que foram formados em tempo de pandemia, para termos ideia do potencial da vela, nosso esporte que amamos tanto. Nós vimos trabalhando com políticas públicas de transformação. Você é o resultado disso, você é a prova viva disso.
A pergunta é a seguinte. Nós estivemos juntos em Arraial do Cabo, com o Prefeito Marcelo Magno, conhecendo o projeto, e ele disse que vai investir na vela e oportunizar inúmeros investimentos em campeonatos no Município. Você falou também de Barra de São João, de Casimiro de Abreu e de Araruama, e queria que você falasse mais um pouquinho sobre a importância de as Prefeituras Municipais também abraçarem a vela.
O SR. SAMUEL GONÇALVES - É fundamental que a Prefeitura, com sua capilaridade, atinja a população face a face. Então, a Secretaria de Turismo e Esporte das Prefeituras tem que estar atenta a essa modalidade, sabendo que não é um esporte elitista, e reconhecer muitas escolas de vela, às vezes, liberando a utilização da praia. Muitas escolas têm dificuldade de deixar o barco ali. Hoje, vemos a canoa havaiana proliferando o esporte de forma muito bacana. Mas, se eu deixar um barco a vela, há entraves, e as pessoas já pensam nesse segmento. Então, o apoio das Prefeituras é fundamental, porque existem recursos. Mas agora precisamos disseminar o conhecimento sobre a modalidade.
E é isso que o Presidente Marco Aurélio e eu, na Academia Brasileira de Vela, temos feito, pois entramos em contato com quase todas as Secretarias de Turismo e Esporte das Prefeituras dos Estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Nordeste. Já fomos a Barcarena, em Belém do Pará, fazer competição e ajudar num projeto social em que a Prefeitura apoiou uma competição com mais de 30 barcos da categoria laser velejando com o boto-cor-de-rosa no Rio Amazonas.
O interior do Brasil tem muitos rios e mares a serem navegados. As Prefeituras precisam estar atentas a isso, mas precisam também conhecer a modalidade. É nosso papel — e é fundamental — ajudar a explicar o que é a modalidade.
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O SR. FELÍCIO LATERÇA (PP - RJ) - Agradeço a resposta, Samuel.
Quero dizer que esse é o trabalho da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, que é presidida por um amazonense. Você acabou de falar do Amazonas, aquele mundo de água. Nós precisamos levar também para o Estado a modalidade. E tê-los aqui conosco vai ajudar a difundir isso.
Você fez uma colocação muito importante. Nós Deputados temos o dever de alertar os Prefeitos do nosso Estado — no meu caso, o Rio de Janeiro. Nós temos ali um extenso litoral — já fiz menção a isso —, além de lagoas, rios e corredeiras. Podemos levar para lá a vela. Fazendo um parênteses, queria dizer que até isso é mal explorado no nosso Estado do Rio de Janeiro. Estamos trabalhando muito para mudar essa questão. E hoje estamos dando mais um passo rumo a içar velas no nosso Rio de Janeiro.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Eu é que agradeço, Deputado Felício.
Samuel, muito obrigado pela participação. A sua colocação, bem como a do Deputado Felício, foi muito feliz. E tem uma compatibilidade com o que o Lars falou sobre mentalidade marítima. Principalmente as Prefeituras da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, devem incentivar a vela e o iatismo, porque assim, certamente, vamos melhorar e aprimorar a nossa mentalidade marítima. E a maior bacia hidrográfica do mundo — o Rio Negro, que cruza a cidade de Manaus e tem em suas margens a Praia da Ponta Negra, o Rio Solimões — também poderia ser um grande polo da vela brasileira.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Claudio, muito obrigado. Eu gostaria que você ficasse à vontade e que explanasse a parte técnica dos treinadores de vela. Como é ser um treinador de vela hoje no Brasil? Como é esse campo profissional? Quais as habilidades que você desenvolveu ao longo da sua carreira de professor, de técnico?
O SR. CLAUDIO BIEKARCK - Na realidade, a vela é um esporte de longa maturação, influenciado por diversos fatores. Eu diria que a nossa maior dificuldade hoje é material humano. A Academia Brasileira de Vela tem ajudado muito nesse sentido, mas eu acho que os frutos vamos colher daqui a pouco, com os diversos treinamentos que estão sendo dados.
Tomando como base o clube que eu frequento, o Yacht Club Santo Amaro, o que temos feito é trazer treinadores ou instrutores de projetos sociais, o que tem funcionado bastante bem. Temos utilizado o projeto Navega São Paulo, na Praia Grande. Hoje temos três ou quatro instrutores oriundos desse projeto. Também temos feito alguns convênios com faculdades.
Contamos com três treinadores provenientes desses convênios, isso para a escola de vela, em que, vamos dizer assim, o conhecimento não precisa ser tão alto. Quando se trata do esporte de alto rendimento, quando eu falo em longa maturação... Eu velejo há 60 anos e hoje estou me dedicando a transferir meus conhecimentos para a juventude, principalmente no sub-19, no sub-23. Eu diria que em todo treinamento eu aprendo alguma coisa. É uma evolução constante. E, quando se trata do alto rendimento, o conhecimento técnico tem que ser maior e, eventualmente, até incluir o tipo de barco com que se treina.
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Hoje nós temos no programa olímpico dez classes, mas que representam seis tipos de barcos diferentes — há o masculino e o feminino com o mesmo barco. Então, os técnicos têm que ter um conhecimento global de vela e um conhecimento específico da classe de que estão cuidando.
Minha carreira como técnico começou com o Robert Scheidt. Eu o acompanhei por três ciclos olímpicos. Eu acho que cuidei muito mais da parte psicológica do que da parte técnica, porque, mesmo naquela época, já era bastante difícil ter algo a ensinar para o Robert. O ponto era mais ter uma pessoa de confiança do lado dele, que pudesse observar os adversários, passar a ele esse conhecimento e discutir com ele as situações, uma vez que o Laser se veleja sozinho.
Eu acho que o grande desafio — e nós vemos hoje dentro da CBVela alguns técnicos estrangeiros trabalhando nas classes — está no fato de o desenvolvimento da vela se dar principalmente na Europa. Lá ocorrem diversos campeonatos, o que para nós aqui é bastante difícil, principalmente com o câmbio que temos hoje de euro e de dólar. Fica bastante complicado. Eu acho que o desafio maior é esse.
A academia da CBVela vai começar a trazer mais gente para a vela. Os projetos sociais, então, nem se fala. Alguém da faculdade não sabe nada de vela, porque não existe um curso específico dentro das faculdades de educação física voltado para a modalidade. Mas as pessoas dos projetos sociais já vêm com uma bagagem de vela. Isso é importantíssimo, principalmente para os instrutores da escola de vela. Eu acho que, na parte técnica, esse é o maior problema que temos hoje.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Excelente, Claudio! É muito interessante, Prof. Claudio, essa sua observação em relação às faculdades de educação física. Eu imagino que possa haver um conflito entre a educação física e os professores, os treinadores de vela. Mas a sua observação é bem oportuna. Não existe o conhecimento transferido entre as instituições de ensino — pode haver, mas deve ser muito raro.
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O SR. CLAUDIO BIEKARCK - Sim, existe, mas hoje em dia cada vez menos, porque, principalmente no alto rendimento, falando em esporte olímpico, eles velejam bastante juntos, em diversas condições, e o atleta hoje tem que ser completo. Sempre vai haver o que gosta de velejar com o vento mais forte ou com o vento mais fraco, com mais mar ou menos mar. Mas, digamos, o caminho é eles estarem aptos a velejar em qualquer condição. Essa preferência não vai trazer o resultado.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Excelente.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Muito obrigado, Prof. Claudio.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Sr. Nelson, muito obrigado pela sua participação.
O SR. NELSON HORN ILHA - Depois de todos esses depoimentos tão qualificados, sobra muito pouco para eu agregar.
Eu queria, primeiro, me apresentar. Eu sou e fui velejador a minha vida inteira. Meu pai já era velejador, minha família velejava. Então, eu entrei na vela naturalmente. A minha participação como juiz começou em um evento que existia nos anos 80 no Brasil, que era o Festival Hollywood de Vela, um festival bastante popular em que todas as modalidades eram de praia. Ele começava em Fortaleza e vinha descendo nas principais Capitais e principais praias brasileiras. Ele tinha oito ou dez etapas. Muitos velejadores participaram desse festival, o Torben, o Lars, a maioria dos velejadores da época. O Claudio Biekarck, com certeza, também participou. Eu participei de algumas etapas como velejador, mas fui convidado para ser o juiz desse evento. Depois da terceira ou quarta edição, eu fazia praticamente tudo como juiz.
Então, esse tipo de evento — abrindo um parêntese — faz falta ainda no Brasil. Isso, sim, populariza a vela, mostra o esporte. É uma vitrine enorme fazer um festival de vela em várias praias, com barcos adequados para esse tipo de modalidade. Então, falta hoje um apoiador, vamos dizer assim, um master, que dê condições de se fazer novamente um circo, como faz a Fórmula 1, de vela, que existiu na década de 80 e que foi um sucesso em todo o Brasil. Então, eu comecei nessa época.
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Em 1990, sempre velejando, me candidatei como juiz internacional da Confederação Brasileira e Federação Internacional de Vela. No Brasil, nós tínhamos muito poucos juízes internacionais e, a partir de 1990, eu comecei a ser chamado para eventos internacionais. A minha ligação com a Federação sempre foi bastante estreita, trazendo seminários internacionais para a formação de oficiais brasileiros. Nós organizamos vários seminários no Brasil inteiro para a formação de juízes e de oficiais de regata, porque não tínhamos nenhum juiz oficial internacional na época, culminando com a Olimpíada de 2016, quando foram formados no Brasil mais de 20 oficiais internacionais, reconhecidos pela Federação Internacional de Vela.
A minha ligação com as Olimpíadas começou em 1992, porque eu tinha uma revista à época, e fui fazer a cobertura das Olimpíadas, e trazia para o Brasil as notícias específicas da vela, que não tínhamos na época. Estava lá o Lars, o Torben, então, em 1992 foi a primeira vez que eu fui a num evento olímpico e aí, a partir de 1996, eu fui a todas as Olimpíadas como juiz. Tive a oportunidade de ir em 1996, a Savannah, que era ligada à Olimpíada de Atlanta, fui a Savannah, na competição de vela, depois fui à Austrália, a Sidney, depois à Grécia, a Atenas, depois fomos para a China, em 2008 e, depois, em 2012, para Paris.
E tive a felicidade — eu representava a Federação Internacional de Vela — de ver os brasileiros ganhando medalhas, de acompanhar toda a trajetória dessa nova leva de velejadores olímpicos. E, em 2021, eu fui convidado para fazer parte da equipe brasileira como assessor de regras e estrategista nessa parte exatamente de dar o suporte para que os velejadores tivessem esse tipo de assessoria, de regras. O principal foco desse trabalho era a análise de riscos, para evitar que o velejador se envolvesse em protesto, se envolvesse em algumas outras situações, enfim, analisávamos durante toda a regata o seu rendimento em relação às regras para evitar estresse depois, de termos que gastar energia num protesto, tendo que defender situações, o que sempre é um momento desagradável, porque os navegadores estão lá, os atletas estão lá para simplesmente velejar.
Queria também comentar que essas novas alterações das modalidades olímpicas que aconteceram agora para Paris abriram uma nova oportunidade que o Brasil está aproveitando, vai ter a agilidade para aproveitar essas alterações. E acredito que o Brasil vai ter excelente chance de medalha, em face justamente dessas alterações, que deram uma embaralhada no quadro olímpico internacional.
Como o Torben comentou há pouco, nas modalidades de kite e de prancha à vela masculina nós temos um excelente potencial, e são modalidades novas que não foram apresentadas ainda nas Olimpíadas, mas nelas temos atletas bem preparados, assim como na classe 470, que é misto e que também mudou agora. Antes, era masculino e feminino, agora virou misto, e o Brasil está com várias equipes se preparando para essa modalidade.
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Eu também concordo com o Marco Aurélio que a parceria com uma empresa estatal vai alavancar a vela para outro patamar o esporte e é superimportante. Queria também comentar o que disse o Claudio Biekarck a respeito dos convênios da vela com as universidades. Isso não é novo em Porto Alegre. Nós temos um convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já tínhamos um convênio antes com o LAPEX, que é o Laboratório de Pesquisa do Exercício, e esse convênio funciona muito bem, inclusive na Escola de Vela do Clube Veleiros do Sul nós temos professores oriundos da UFRGS. Esse convênio continua funcionando muito bem e pode servir de exemplo aí para outros Estados e outros clubes fazerem a mesma coisa.
A Confederação Brasileira de Vela tem um programa de formação e capacitação de novos juízes funcionando. Durante a pandemia, nós fizemos vários seminários on-line, e isso continua ainda este ano, já foi feito um em Recife, e existe pedido agora de São Paulo. Então, esse é um trabalho que continua firme e tem dado condições para que os eventos realizados no Brasil possam ser feitos com recursos formados aqui no país mesmo, com brasileiros capacitados em nível internacional.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Muito obrigado, Nelson. Vejo que o senhor é um apaixonado pela vela. A sua história demonstra muita paixão, e toda pessoa apaixonada se torna um estudioso do esporte.
O senhor participa da vela desde 1992, assistindo e, depois, como árbitro, desde 1996, passando por grandes conquistas aí da vela brasileira.
Anotamos aqui já o convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul — UFRGS. Vamos buscar informações sobre isso, até para disseminá-las em outras universidades, são mais de 60 universidades federais no nosso País, e aquelas que estejam envolvidas no esporte, principalmente as localizadas perto do litoral ou que tenham envolvimento mesmo dos seus alunos, que busquem compartilhar essas informações e adquirir conhecimento para que colaborem também com a evolução do esporte no nosso País.
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O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Por favor, Nelson.
O SR. NELSON HORN ILHA - Recentemente fizemos uma reunião com o atual reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no sentido de pedir atenção especial para os atletas de alto rendimento. Falamos em nome da vela, mas estendendo a todos os atletas de alto rendimento, para que a universidade tivesse um olhar diferenciado a fim de facilitar aos atletas uma forma de recuperar provas e presença quando estejam representando o Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Excelente. Muito obrigado, Nelson.
Lembro que o Rio Grande do Sul teve em Pelotas o primeiro reitor de uma universidade federal chamado Pedro Hallal, que era professor de educação física. Ele tinha uma vontade muito grande de reservar algumas vagas para atletas olímpicos do Rio Grande do Sul para que ingressassem na universidade e nós pudéssemos ter olímpicos formados também na universidade. Eu acredito que isso é muito importante para o desenvolvimento em todos os aspectos do esporte brasileiro.
Presidente Marco Aurélio, gostaria muito de agradecer a sua presença. Já são 6h05min, deve ter iniciado a Ordem do Dia, todos os Deputados vão ter que se encaminhar para o plenário.
Eu gostaria de agradecer a todos que participaram: Bruno, Secretário Nacional de Alto Rendimento da Secretaria Especial; Marco Aurélio, Presidente da Confederação Brasileira de Vela; Isabel Swan — muito obrigado, Isabel, pela sua participação —, representando os atletas e também membro da Pan Am Sports, ODEPA; Torben Grael, cinco vezes medalhista olímpico, bicampeão olímpico, coordenador da equipe olímpica. Muito obrigado, Torben. Muito obrigado, Samuel Gonçalves de Freitas, oriundo do Instituto Rumo Náutico, campeão mundial de vela e responsável pela Academia de Vela (capacitação) da CBVela; muito obrigado, Claudio Biekarck, representante dos treinadores de Vela; muito obrigado, Lars Grael, medalhista olímpico, Secretário Nacional de Esporte de São Paulo, nosso palestrante, uma magnífica pessoa que luta muito pela política pública desportiva no nosso País; e muito obrigado, Nelson Horn, que acabou de nos dar aqui informações excelentes a respeito do nível educacional dos profissionais de educação física nas universidades, falando da capacitação do juiz. É um ponto muito positivo da CBV formar juiz, contar um pouco da sua história e da sua paixão pela vela.
O SR. BRUNO SOUZA - Deputado Luiz, na verdade, quero agradecer ao senhor essa série de audiências que fizemos. Passamos pelo vôlei, pelo judô, pelos mais representativos em termos de resultados olímpicos, chegando hoje à vela. Nós vimos uma audiência pública de muita qualidade. Nós nos encontramos pelos corredores e falamos tanto da participação de ex-atletas em posições. Então, temos você como Deputado, a Isabel envolvida na participação dos atletas na equidade, o Lars preocupado com as questões das leis, uma gestão da confederação elogiada por todos.
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O Lars preocupado com a questão das leis. É uma gestão da Confederação elogiada por todos. Acho que o Samuel sintetiza o que pensamos sobre esporte como mudança de sociedade. Ele é hoje também um campeão e diretamente oriundo de um projeto social, que ele inclusive prega como mudança de sociedade. Acho que todo mundo tem uma participação e uma capacitação, mas existe também a importância de participar, de se capacitar, de trazer essa informação a todos os cantos do Brasil.
Aproveito ainda a oportunidade para trazer mais uma informação: o projeto da vela foi empenhado hoje, segue agora os ritos não mais da formalização, mas já do empenho e, nos próximos dias, o Governo Federal continuará ajudando uma das modalidades mais exemplares deste País. E é com muita satisfação, como disse antes, não mais como Secretário, mas como cidadão de Niterói, que vejo tanta gente representando um esporte tão impregnado na nossa sociedade e com grandes campeões.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Eu que agradeço, Bruno. E mais uma vez parabéns pelo excelente trabalho que vem realizando.
O SR. MARCO AURÉLIO DE SÁ RIBEIRO - É só para reparar uma injustiça que cometi porque me esqueci de falar de um ator muito importante para o esporte: a Marinha do Brasil. Inclusive, o Samuel é um dos contemplados pelo programa da Marinha do Brasil. Só queria retificar isso porque a Marinha é um parceiro fantástico. Sem o envolvimento das Forças Armadas, acredito que a nossa modalidade estaria seriamente comprometida. Seria só isso. Aproveito para agradecer a V.Exa. o trabalho que estão fazendo e o convite para participar desta audiência hoje.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Muito obrigado, Presidente Marco Aurélio.
Gostaria de encerrar esta nossa audiência pública prestando uma homenagem ao Iate Clube de Brasília, ao Comodoro Flávio Martins Pimentel, que representa todos os Clubes de Vela do Brasil, solicitando que ele dê a última palavra. O Presidente Marco Aurélio disse que o Torben aprendeu a velejar no Iate Clube de Brasília. Aproveito ainda para dizer meu muito obrigado ao Iate Clube de Brasília por investir no esporte. Obrigado por serem tão organizados, por serem um clube tão agradável, inclusive porque os clubes ainda são as células formadoras do esporte no nosso País. Muito obrigado, Presidente Flávio. Pediria ao senhor que encerrasse esta audiência pública.
O SR. FLÁVIO MARTINS PIMENTEL - Boa noite a todos. É muita honra, Deputado, ter, neste momento, a palavra para encerrar o evento.
Gostaria só de complementar uma fala de todos. Eu acho que a vela adaptada foi esquecida nesse momento. O que quero dizer com isso? Que, de 150 projetos sociais, nós vamos ter 151, porque o Iate Clube de Brasília candidatou-se a receber os barcos da CBVela adaptados — não sei se o senhor conhece como funciona —, para implantar um projeto no Lago Paranoá, no nosso clube. Receberemos seis velejadores já bem treinados nas áreas de PNEs e vamos também ensinar a vela para os PNEs associados do clube.
Inclusive, aqui em Brasília, temos uma campeã mundial de vela adaptada da Classe Hansa e espero que ela esteja conosco nesse projeto.
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Acho que a vela adaptada, para mim, é algo fantástico que vai ser feito aqui no Iate Clube. Nós não temos uma modalidade voltada para PNEs. Então, essa será a primeira que teremos no Iate Clube.
Aproveito ainda para convidá-lo, Deputado, para conhecer o Iate Clube e conhecer os nossos projetos atuais. Nós estamos hoje com três modalidades bem competitivas: a vela, o tênis e a natação. Também há outras oito escolas esportivas. Estamos formandos equipes para competição no basquete, vôlei de quadra, vôlei de areia, tênis de mesa e judô. Já estamos participando de competições aqui em Brasília. Futuramente, quem sabe, participaremos em nível nacional também nessas modalidades esportivas. Não sei se seremos algum dia um Pinheiros da vida ou um Flamengo. Não sei se o senhor é flamenguista...
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Sou do fluminense.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Lima. PL - RJ) - Muito obrigado, Presidente Flávio. Mas fique certo que a maior honra, para mim, é ver o Iate Clube vivendo do esporte. Isso é o que vale. Parabéns!
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