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O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Boa tarde a todos.
Declaro aberta a presente reunião de audiência pública, que está sendo realizada em atendimento aos Requerimentos de nºs 52 e 55, de 2021, ambos de minha autoria, o Deputado Julio Cesar Ribeiro, para debate dos benefícios da capoeira para a qualidade de vida e o bem-estar social no Brasil e no mundo.
Tenho a honra de anunciar que foram convidados para esta audiência pública e participarão por meio de plataforma virtual os seguintes expositores: a Sra. Fabíola Molina, Secretária Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social do Ministério da Cidadania; o Sr. Akadiry Emery Marçal, Diretor-Geral dos Desportos do Ministério da Juventude e do Desporto de São Tomé e Príncipe; o Sr. Maykel Ribeiro Furtado, atleta representante da capoeira de São Tomé e Príncipe; o Sr. Mestre Ralil Salomão, Presidente do Grupo Raízes do Brasil; o Sr. Rommel Jorge Marques Maia, Diretor da Escola Parque da 313/314 Sul; e o Sr. Carey Million, professor e mestre do Grupo Capoeira Brasil.
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É com grande alegria que realizamos esta audiência pública, a fim de discutirmos a respeito dos benefícios da capoeira para a qualidade de vida de todas as pessoas e sua importância como instrumento social.
Antes de falarmos a respeito dessa arte, é importante realizarmos uma retrospectiva histórica sobre a modalidade. A capoeira vem da experiência sociocultural de africanos e seus descendentes no Brasil, com trajetória marcada pela força e pela resistência à escravidão. Presente em praticamente todos os lugares do mundo, a capoeira é uma expressão da cultura afro-brasileira tanto no Brasil quanto no exterior. Prova disso foi o seu registro, no ano de 2008, como bem da cultura imaterial do Brasil, por indicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — IPHAN, órgão do Ministério do Turismo.
A capoeira vem conquistando importantes espaços na sociedade brasileira e também internacional ao longo dos anos e contribuindo para o desenvolvimento e a formação dos cidadãos brasileiros. A prática regular dessa atividade esportiva é fundamental, pois contribui positivamente para a saúde, para o bem-estar social, para a capacidade funcional e também para a qualidade de vida das pessoas. Considerando a sua dimensão desportiva, educativa e cultural, a capoeira apresenta a contribuição de uma prática positiva de saúde, com acessibilidade e aplicabilidade institucional.
É importante frisarmos que a Constituição Federal de 1988 trouxe como dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, ao definir como direito do cidadão o acesso ao esporte e ao lazer, prismas presentes na prática da capoeira. Desta forma, vemos a importância de discutir a capoeira como fenômeno mundial crescente relacionado aos aspectos físico, social e psicológico.
Vale destacar que o Mestre Ralil Salomão é um grande mestre e difusor da arte da capoeira. Exemplo disso é a dimensão do Grupo Raízes do Brasil em nosso País e nos Estados Unidos. Sendo assim, atendendo ao pedido do Mestre Ralil, meu amigo, e como apoiador da cultura e do esporte, promovemos hoje esta audiência para debater o tema.
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Informo também que foram convidados, mas não irão participar os Srs. José Maria Afonso Pereira, Presidente da Câmara Distrital de Lembá; Adilson Alves Vaz Pereira, Diretor de Infraestrutura Desportiva; Carlos Neves, Assessor do Ministro para a Área da Juventude; e Jaylson da Costa, Coordenador do Desporto Escolar.
Antes de passarmos para as exposições dos nossos convidados, esclareço os procedimentos a serem adotados na condução desta audiência pública.
Os convidados deverão limitar-se ao tema em debate e disporão de 10 minutos para as suas apresentações, não podendo ser interrompidos.
Após as exposições, serão abertos os debates. Os Deputados interessados em fazer perguntas ou considerações sobre o tema deverão inscrever-se previamente, por meio do aplicativo Infoleg ou pela plataforma virtual. A palavra lhes será concedida, respeitada a ordem de inscrição, pelo prazo de 3 minutos. Os palestrantes disporão do mesmo tempo, de até 3 minutos, para a resposta. No final do debate, cada convidado terá até 3 minutos para as suas considerações finais.
Comunico que esta audiência pública está sendo transmitida pelo portal da Câmara dos Deputados, e todos podem participar por meio de perguntas dirigidas a esta Mesa pelo portal e-Democracia.
Informo também que as apresentações de multimídia serão disponibilizadas para consulta na página eletrônica da Comissão após a reunião.
Boa tarde a todos os convidados que aqui estão, neste momento de debate importante, o Akadiry, o Maykel, o Ralil, o Rommel, o Carey.
Estamos dentro da Secretaria Especial do Esporte, e esta é a nossa Secretaria, a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social. Há seis secretarias nacionais dentro da Secretaria Especial do Esporte. Então, aqui hoje estamos também representando o Secretário Marcelo Magalhães, o nosso Secretário Especial dentro do Ministério da Cidadania, cujo Ministro é o João Roma, para debater algo que é tão importante, a capoeira, que é um pouquinho de tudo — de luta, de dança, de cultura, de esporte — e que tem tanto poder.
Eu até falei que eles têm muito mais capacidade e preparação para falar sobre capoeira do que nós aqui da secretaria, mas o nosso olhar é de quem acredita realmente que é um instrumento muito poderoso, principalmente de inclusão social. Daqui a pouco vou mostrar um vídeo que eu acho que fala muito sobre isso.
Nós vimos debatendo sobre os benefícios da capoeira.
Já foi inclusive comentado pelo Deputado Julio Cesar que temos benefícios físicos, como a psicomotricidade, o alongamento. Você consegue alongar todos os membros corporais, você melhora os reflexos. A capoeira ajuda na coordenação, fortalece a musculatura, melhora a postura.
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Quanto à postura, o nosso corpo, às vezes, reflete muito a nossa mente. Então, se andamos sempre curvados, a tendência é a de termos mais baixa autoestima. Se o seu corpo fala de um jeito, você consegue também afetar a sua mente.
Então, a capoeira ajuda na postura, ativa a circulação sanguínea. Quando ativamos a circulação sanguínea, há uma série de consequências biológicas e hormonais, que são liberadas e têm um efeito muito prolongado também. Então, ativar a circulação sanguínea é algo muito benéfico.
Aí vamos criando toda uma conexão também com o lado artístico, porque conseguimos mesclar todos os movimentos que fazemos com o corpo junto com a música, desenvolvendo a musicalidade, o que nos ajuda a ter um equilíbrio emocional maior. Isso tudo provoca, com certeza, um bem-estar muito grande, melhora o sono, melhora muito a questão da ansiedade, que é o mal do século, a ansiedade, as incertezas. Todo esse trabalho, através da capoeira, ajuda a combater esse mal do século. Quando mexemos com o corpo, diretamente também mexemos com a mente. Acreditamos muito nisso.
Aqui dentro da Secretaria Nacional, da nossa secretaria, oferecemos alguns programas que envolvem a capoeira. Antes o programa se chamava Programa Esporte e Lazer da Cidade, o PELC. Esse programa pode ser feito ou de forma discricionária, com recursos próprios, ou com emendas parlamentares. Para os Municípios que conseguem emendas parlamentares e querem implantar esse programa, a capoeira pode ser um dos esportes que pode ser adotado como modalidade.
Aí eu acho que vem outro grande benefício da capoeira, o de que ela é muito democrática. Numa roda você pode ver criança, você pode ver idoso, você pode ver adulto, você pode ver pessoas com deficiência, e está tudo certo.
Esse programa nosso, específico, está sendo mudado um pouquinho. Agora estamos lançando ele com algumas melhorias, principalmente de execução lá para a ponta, para as Prefeituras. Ele vai se chamar Programa Meu Melhor. As emendas parlamentares estão aí — este ano nós temos até o dia 16 de novembro para receber as emendas parlamentares. Na nossa cartilha, do Ministério da Cidadania, o programa que aparece já é esse, o programa novo, chamado Meu Melhor. Ele visa justamente à busca da nossa melhor versão através de atividades físicas, de atividades como a capoeira. Então, faço aqui a propaganda desses programas que conseguimos fazer, levando a capoeira para os Municípios brasileiros.
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(Exibição de vídeo.)
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O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Secretária. Sempre é um prazer tê-la aqui em nossas audiências. Você sempre contribui muito para o desenvolvimento do esporte. Além do mais, foi uma grande atleta e sempre nos deu muitas alegrias.
A SRA. FABÍOLA MOLINA - Eu é que agradeço, Deputado Julio Cesar. É um prazer. O seu trabalho é lindo.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Quem está falando é o Maykel?
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - O Akadiry está aqui. Nós estamos vendo ele aqui. A imagem dele está aparecendo, mas ele não está ouvindo.
É um prazer muito grande estar em contato direto convosco, compartilhando daqui a minha experiência na capoeira através do Projeto Capoeira São Tomé e Príncipe e Brasil, através da Embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe, ligado ao Grupo Raízes do Brasil, através do Mestre Ralil, que é o Presidente do grupo.
Foi uma formação que durou 8 anos. Hoje eu sou o fruto da semente plantada aqui em São Tomé e Príncipe. Represento muito bem a capoeira aqui em São Tomé e Príncipe, trabalho muito, sou ligado à capoeira, porque a capoeira é a minha vida. Eu, neste momento, sou o Presidente da Federação de Capoeira de São Tomé e Príncipe, sou o responsável pelo Grupo Nossas Raízes, afiliado ao Grupo Raízes do Brasil, aqui em São Tomé e Príncipe.
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Em São Tomé e Príncipe, neste momento, a capoeira conta aí com 3 mil atletas praticantes, de diversas idades, também em comunidades fora das cidades, em comunidades distantes.
A capoeira significa, para mim e para a sociedade, algo muito importante aqui em São Tomé e Príncipe. Nós, aqui em São Tomé e Príncipe, somos a segunda modalidade com mais atletas. Em primeiro está o futebol, em segundo está a capoeira.
Algumas comunidades onde eu administro aulas estão fora da cidade, bem distante da cidade, em (ininteligível). Lá temos um exemplo muito grande de um meu aluno que hoje segura a academia para mim. Quando cheguei àquela comunidade, o meu aluno era um dos jovens, naquela localidade... Ninguém gostava da presença dele. Ele era muito agressivo. Não se comportava bem na sociedade. Era um delinquente. Mas hoje, através da capoeira, ele é um querido na comunidade. Ele é um educador. Muitos agora o chamam para conviver, para dar aula para as suas crianças.
Quero dizer que a capoeira é muito importante na sociedade, na humanidade. A capoeira é uma modalidades que movimenta todo o corpo. A gente não pratica a capoeira só com o corpo, como também com a mente e com a alma.
Capoeira é uma família. Capoeira toca os nossos corações. Eu também sou faixa negra de tae-kwon-do. Já fiz caratê e outras artes marciais. Mas igual à capoeira não há. A capoeira é uma família. Na capoeira, quando a gente não vê o nosso companheiro, a gente vai até a sua residência, tentar saber o que se passa com ele. Abraçamos uns aos outros.
Eu tenho outro exemplo muito bonito da capoeira. Minha esposa também pratica capoeira. Ela teve um acidente quando faltava um mês para dar à luz. Estava na frente da nossa residência, sentada, veio um carro e a atropelou. A população teve que vir levantar o carro. E ela estava quase a dar à luz. Ela partiu a perna em dois pedaços. O osso estava exposto. Mas ela resistiu. Ela ficou aquele tempo no hospital, internada. Quem dava mais atenção para ela eram os capoeiristas. Todas as meninas e os rapazes da capoeira iam todos os dias lá, dormir com ela, como se fossem uma família. E é uma família a capoeira. Não há nada que me faça afastar dela. A capoeira é uma família para mim.
E também quero dizer que nós estamos a trabalhar agora diretamente nas escolas, através da capoeira. Aqui em São Tomé nós temos algumas escolas particulares onde administramos aulas de capoeira para as crianças e jovens: Escola Internacional, Escola Bambino, IDF...
Mas a escola pública ainda continua com esse problema, porque é pública. Mas estamos a lutar por isso.
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O Governo e a população em geral estão vendo o trabalho da capoeira. Mesmo com a pandemia, quando em São Tomé e Príncipe muitas modalidades pararam, nós trabalhamos, diferente. Através de vídeos, fizemos desafios de toque de berimbau. O Mestre Ralil nos deu essa ideia bonita. Agradeço muito ao senhor. Movimentos bonitos foram feitos, e, através de vídeo, criamos desafios uns para os outros.
Isso quer dizer que a capoeira não morreu, nem sequer dormiu, enquanto a pandemia estava completamente ativa em São Tomé e Príncipe. Hoje estamos a praticar, e sempre vamos praticar. Todos os meses, sempre aparece alguém a querer matricular-se nas academias de capoeira, a querer inscrever-se, os pais trazendo seus filhos, os jovens vindo com os seus pais para treinar.
A capoeira mudou muito a minha vida. Eu hoje sou bombeiro em São Tomé e Príncipe, sou sargento, mas tudo graças à capoeira. Minha comunidade, chamada Vila Maria, é uma comunidade muito manchada em termos de delinquência. Nós, quando viemos nos inscrever, pessoas da zona, viemos cerca de 50 jovens da mesma zona, que é a Vila Maria. Apenas eu fiquei. Então, de Vila Maria nós não vamos citar ninguém. São pessoas que fumam maconha, liamba, são criminosos, dão com o facão. Isso é verdade. Acontece, sim, na minha localidade. Mas muitos me conheceram como praticante de capoeira, e o comandante naquela altura, eu tive três dos seus filhos como meus alunos de capoeira. Todos falavam bem de mim: "Não, aquele jovem é professor de capoeira. É muito educado". E hoje estou cá, nos bombeiros, com a minha educação. Nos meus grupos, sou o segundo mais graduado, graças à capoeira. Administro aulas de capoeira aqui no meu trabalho, nos Bombeiros, e aulas de defesa pessoal. Administro aulas também nas Forças Armadas. E também faço trabalhos sociais com a capoeira, que nunca vou deixar.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Eu é que agradeço ao Maykel Ribeiro Furtado, atleta e representante da capoeira em São Tomé e Príncipe.
Quero convidar para falar neste momento o Sr. Rommel Jorge Marques Maia, Diretor da Escola Parque da 313/314 Sul. É uma honra receber nosso grande professor, que vem desempenhando um trabalho belíssimo nessa escola da Asa Sul. Sabemos que não é fácil, mas o seu trabalho tem reverberado em toda Brasília.
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Na nossa experiência, temos visto quanto a capoeira contribui para a formação das crianças, formação física, intelectual, comportamental... Nós temos muitos alunos que acabam se destacando na vida porque a capoeira lhes dá disciplina, junto com a malemolência da capoeira, fazendo com que eles consigam dobrar as dificuldades diárias. Além disso, a capoeira desenvolve neles qualidades em termos físicos, de condicionamento, de equilíbrio. Essas crianças têm uma grande diferença em relação às que não praticam. Isso é visível. Na fila de uma turma, conseguimos visualizar o aluno que foi iniciado na capoeira, o que já fez alguma atividade voltada para a capoeira, daquele que pode até ter tido a oportunidade, mas não a aproveitou.
Aqui na Escola Parque, nós temos alguns professores graduados em capoeira. Temos sempre o apoio do Grupo Raízes do Brasil, que sempre participa dos nossos eventos. Esse movimento envolve toda a comunidade. Nós vemos pai ir de terno fazer atividade junto com o filho, começar um jogo com o filho. A experiência é fantástica. Nós realmente temos um "antes da capoeira" e um pós capoeira", um "antes Raízes do Brasil" e um "pós Raízes do Brasil".
Temos muito a agradecer a esse grupo, que está sempre contribuindo para a qualidade de vida das nossas crianças, dos nossos alunos, dos nossos estudantes. Vemos que muitos alunos foram resgatados, alunos que tinham um milhão de problemas em casa, que tinham todos os motivos para se perder na vida, mas, pelo contrário, graças ao Raízes, ou à capoeira, foram levados de volta para o centro da vida deles e começaram a ter outra visão da vida.
A melhora na qualidade de vida é muito grande. Vemos que eles mudam até a postura. A Fabíola falou sobre a postura do aluno. O aluno que vem da capoeira anda com mais propriedade, com mais elasticidade. É outra conversa. Então, é fundamental a participação da capoeira no contexto escolar. Essa é uma opinião particular, minha, e eu vejo que a maior parte dos docentes concorda com isso.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Prof. Rommel, pela sua contribuição.
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O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Boa noite.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Vai que ele cai de novo.
(Risos.)
Vamos aproveitar antes que ele caia de novo, pelo amor de Deus!
Eu, antes de mais nada, quero agradecer a oportunidade de estar convosco, povo irmão! Meu coração está apertado por não estar perto de vocês, mas acredito que um dia seremos capazes, é possível, se calhar, de estar todos juntos.
Falar de capoeira para mim, embora não seja um praticante da modalidade, é falar de um esporte ao qual tenho muita admiração e muito carinho, seja pelos praticantes, seja pelos fazedores, seja pelos dedicados. Nós sabemos de onde veio a capoeira e o porquê do surgimento dela. Por isso, estar aqui neste momento é muito especial!
Quero aproveitar para dizer ao Mestre Ralil o meu muito obrigado por tudo o que fez e tem feito. Eu não sei o que anda fazendo, mas só sei lhe dizer, Ralil: obrigado. São Tomé e Príncipe agradece-lhe e o tem como um filho, filho de São Tomé e Príncipe.
Quero também aproveitar para agradecer ao Deputado Felipe, que não me conhecia, mas, através do Ralil, a calhar, veio a saber quem sou eu. Obrigado também pelo convite. Se venho aqui, venho com muita vontade para de fato dar a minha contribuição ao que tem sido, ao que é e ao que vem sendo a capoeira em São Tomé e Príncipe.
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Eu gostaria de vos dizer que em São Tomé, de fato, a capoeira não é muito o contrário da das outras terras, terras estas históricas, oriundas do processo, processo este que todos nós já conhecemos, que deu base para o surgimento da capoeira que está ali. Eu até não gosto de citar o nome dessa, que é a que está (ininteligível) e por aí afora, que veio como uma dança. Mas em São Tomé não foi diferente devido à troca, à venda e à comercialização de homens e mulheres naquela altura. Em São Tomé também tivemos a oportunidade de nós termos alguns que foram levados para outros territórios.
Depois, com o tempo, a capoeira ficou em São Tomé enquanto uma prática sem aquela base, sem aquela raiz necessária que era preciso para se fortalecer. E os nossos praticantes iam exercendo-a de uma forma com base naquilo que liam nas histórias, nos livros, que viam em alguma demonstração que os outros mais velhos faziam e que também de fato pesquisavam na Internet pelo amor à modalidade.
Tivemos a sorte e também a oportunidade do fortalecimento das relações e da cooperação entre São Tomé e Brasil. Daí que, no meio dessa cooperação, veio a capoeira, que nos permitiu fortalecer os laços, fortalecer a relação humana, fortalecer a mente desportiva e, consequentemente, o desporto como tal em São Tomé.
Enquanto Diretor-Geral do Desporto, que sou eu, o Akadiry Emery Marçal dos Ramos — agora estou a fazer a minha apresentação no meio —, digo que hoje a capoeira em São Tomé é a segunda maior modalidade. Quero aqui dar esta nota assim de uma forma direta: nós estamos com quase 3 mil atletas.
Com a pandemia, muitas modalidades foram forçadas a parar, a capoeira também, mas a sua forma peculiar de ser e a sua atuação nas comunidades permitiram a adesão de muitos atletas. Hoje, felizmente, temos à volta de cento e tantas escolas e quase 3 mil atletas. Para nós isso é um marco. Para nós isso é muito importante.
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Também quero fazer só uma pequena nota para informar que em São Tomé nós temos projetos que já foram realizados e estão por realizar com o grupo Raízes do Brasil, que aqui esteve. Se hoje a capoeira em São Tomé tem essa demonstração, essa presença no mundo desportivo, deve-se isso ao trabalho que o grupo Raízes do Brasil vem fazendo e tem feito em São Tomé e Príncipe. Existe um projeto de inclusão de capoeira nas escolas. Existe um projeto para continuarmos a fortalecer a capoeira nas comunidades.
Nesse pequeno trecho, não sei se terei mais oportunidades, fecho a minha fala dizendo-vos que a capoeira, sim, tem servido, serviu e servirá de unidade nacional do entendimento entre os desportistas, homens e mulheres. Para nós a capoeira é a oportunidade de mostrarmos as valências humanas. As capacidades dos são-tomenses têm servido, sim, aos praticantes e não só como terapia para as demais situações humanas, mas também, acima de tudo, como forma de devolver a alegria ao povo são-tomense, com a magia que só existe na capoeira. Mais do que uma arte, mais do que um desporto, a capoeira é vida.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Akadiry Emery Marçal, pela sua participação, pelo belíssimo depoimento, que mostra a importância da capoeira que vem sendo desenvolvida no seu país. Isso é muito legal! A capoeira também é um transformador de vidas. Eu acredito muito nisso. Obrigado pela sua participação vinda de tão longe. Fico feliz em saber que, agora com esse sistema, podemos chegar a tão longe com uma audiência pública como essa. Muitas vezes isso ficava aqui restrito a quatro paredes, mas agora o País está avançando. Obrigado, Akadiry.
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Sou Carey Million. Sou formado em antropologia. Tenho mestrado em antropologia da comunicação visual e doutorado em antropologia geral, que se divide em biologia revolucionária, linguística, arqueologia e cultural. Eu me formei na Temple University, na Filadélfia. Fui professor lá e também na The New School University and Parsons School of Design, em Nova York.
Eu fiz doutorado explorando o papel da prática de capoeira na formação do Estado, como identidade nacional brasileira.
Aqui, eu gostaria de destacar que foi o Mestre Ralil que me abriu as portas com um grupo no Brasil, na Venezuela, nos Estados Unidos, na Europa, onde o grupo atua. Os meus agradecimentos ao Mestre Ralil, que me ajudou.
Rodei com vários grupos por tempos variados. Eu me iniciei na capoeira em 1988, com o Grupo Omulu, em São Francisco, Califórnia. Rodei com vários mestres que já estavam nos Estados Unidos, como o Mestre João Grande, em Nova York, e com o grupo afiliado ao Mestre Cobra Mansa, na Filadélfia. Foram vários grupos.
Não vou contar tudo, porque o tempo é pouco. Como acadêmico, isso é difícil, porque eu quero ir ao fundo do baú. Primeiro, quero dizer que tanta dedicação pela capoeira é por ser prática social de dimensões enormes e fica difícil reduzir. Eu fiz um negócio um pouco mais objetivo. A minha dissertação era de 600 páginas. Então, para mim é muito fácil ultrapassar o tempo. Fiz uma lista das coisas principais que eu vi e gostaria de passar primeiro. Depois, vou elaborar um pouco dentro do tempo e ver como fazer.
Vou falar das habilidades educacionais desenvolvidas pela capoeira. Ela desenvolve competências nos seguintes campos: psicomotor, psicológico, emocional, musical, na educação formal, no campo criativo e na inserção social. E várias dessas áreas foram abordadas pelos excelentes convidados.
Peço desculpas, mas não sou muito bom no português. Eu não estudei, sou um mau aluno. Se vocês não estiverem me entendendo, podem me perguntar depois por e-mail, que ficarei feliz em explicar. Agradeço, desde já, a paciência com o meu português.
No campo psicomotor, já foi falado, a capoeira desenvolve força e flexibilidade. Acho importante entender que esse é um conjunto na capoeira, eles estão casados. Mas há o equilíbrio e a coordenação, tanto no eixo mental e físico quanto entre os membros do corpo. E há vários tipos de coordenação. Reação e velocidade no tempo de resposta a um estímulo é uma coisa fantástica que a capoeira desenvolve.
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Há um aspecto que nunca encontrei quando as pessoas falam das habilidades desenvolvidas no campo psicomotor em esportes. Eu não sei exatamente como encaixar bem em português, mas é a capacidade um pouco diferenciada na capoeira de perceber e se integrar com o ambiente em posições e em situações atípicas. Quero dizer, quando se está lá, na queda de rins, parado, com o corpo flutuando sobre o chão, suportado apenas pelas mãos, ele está olhando para o outro, que está pronto para atacar. E há um campo que sempre muda, um campo de interação com o outro e com a roda inteira que é fantástico, que desenvolve e abre a visão de reação incrivelmente.
Na área de psicologia e no campo emocional, a capoeira desenvolve outro tema, que é o sentido de segurança em si, o que é muito importante e que dá mais sentido para a pessoa se abrir para o mundo. Se eu me sinto seguro, eu posso me abrir para ter mais experiências, para ter mais contatos sociais. Então, isso é importante. Essa prática possibilita a pergunta de sempre: "Quem sou eu?" É um tipo de autorreconhecimento e realização. Outro aspecto nesse campo da psicologia é o acolhimento e a aceitação. Vou falar mais sobre o tema, se der tempo, quando tratar da família. Mas há a capacidade de recuperação e regeneração de si e de outros. Isso se observa na letra da música: "Na vida se cai, se leva rasteira, quem nunca caiu não é capoeira". E há, igualmente, o respeito.
Quanto ao aspecto musical, já sabemos muita coisa sobre a importância da música na aprendizagem. Por exemplo, na aprendizagem de matemática, isso foi muito estudado. Já se sabe que a música ajuda na matemática, no desenvolvimento de tempo e ritmo, e afina a apreciação do ambiente sônico. Quando se está na roda, ao mudar o ritmo, é preciso mudar o comportamento na roda. O jogo será outro, porque a música mudou. Então, fica mais afinado com o ambiente sonoro. E há a inserção musical no ambiente, na musicalidade dos outros, assunto no qual posso ir mais a fundo depois.
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Na educação formal, fiquei impressionado. No início da minha pesquisa, visitei um grupo filiado ao Raízes do Brasil, em Teresina, no Piauí. Lá alguém estava ensinando às crianças, em uma roda de capoeira, matemática e geometria. "Vamos fazer uma roda triangular, vamos fazer uma roda retangular." Foi bem interessante. Eu achei fantástico.
Eu dei aula aqui em Brasília, durante uns anos, em vários projetos. À época, no Projeto Segundo Tempo, na Candangolândia, eu introduzi o inglês. Meus alunos aprendiam inglês. Eu falava "hand", "head", para eles começarem a aprender o inglês informalmente na prática do ensino. Isso é muito importante, porque há muitos estudos mostrando que alunos aprendem até mais em situação informal do que na formal. Meu orientador de tese era iourubá, da Nigéria, e ele trabalhou muito isso na área de sociolinguística, ou seja, a aprendizagem do inglês em campos informais.
Outra coisa que eu gostaria de destacar rapidamente é a criatividade. A maioria das empresas hoje em dia está procurando pessoas que sejam criativas. E conseguimos ver na Internet os empreendedores, os criadores de conteúdo. Então, sei que pode ser frequentemente pensado o lado negativo, mas na capoeira nem tanto. A malandragem é uma característica não vista de forma negativa na capoeira, mas, em verdade, é uma expressão da criatividade. Se estou em uma situação apertada, como vou sair? E a malandragem também pode ser usada de forma positiva e proativa, no sentido de se prevenir. Alguém que seja malandro pode melhor se proteger de ataques e coisas assim.
Quanto à inserção social, acho que várias pessoas atacaram essa frente, que é um tópico gigante na capoeira. Eu já vi muitos deficientes praticando capoeira — mudos, pessoas em cadeiras de rodas, pessoas que tiveram poliomielite. Dentro da capoeira tudo é aceito. Todo mundo avança na capoeira, mesmo nessa condição. Nunca vi um grupo de capoeira que falasse: "Não pode entrar porque é aleijado, porque tem algum problema". Ou pela cor da pele, a idade, o gênero. Tudo isso é fantástico na capoeira.
O que eu gostaria de destacar, afora tudo isso, é que muitas vezes elementos — sejam pessoas, grupos sociais ou instituições sociais — interagem por meio da capoeira. Muitas vezes essas pessoas são classificadas por pesquisadores ou por estereótipos em uma hierarquia discriminatória. Essas pessoas conseguem uma inserção na capoeira. Acho que todo mundo já mostrou bastante a importância disso para a pessoa que fica excluída, que fica isolada.
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Mas eu quero destacar o outro lado, das pessoas que são consideradas normais. É muito importante que elas tenham esse contato, porque assim elas começam a entender o que é perseguição, exclusão ou discriminação dessas pessoas, quando elas têm o sentimento: "Poxa, agora eu conheço alguém que é assim". E, quando veem isso outra vez, elas não aceitam: "Oh, não pode excluir essa pessoa". Então, é importante não apenas para o excluído como também para as pessoas que são consideradas normais.
Eu sei que já extrapolei o tempo, mas eu gostaria de destacar uma coisa que várias pessoas falaram sobre a família. É importante comentar que o grupo de capoeira é muito parecido com uma família, pelo bem ou pelo mal. Existem brigas dentro da família e elas existem dentro do grupo de capoeira. Essa é a etiqueta no seu rótulo. Mas a capoeira oferece suporte nos momentos de crise até mesmo com a família biológica, ou com o namorado, ou com a namorada, ou com a escola, em várias situações, e dá estabilidade e apoio nesses momentos.
Também, dentro de um grupo de capoeira, é aberta uma rede gigante, porque cada pessoa, no grupo, tem o seu grupo social, o seu grupo profissional. Eu já vi muitas pessoas terem um mentor, por meio de um amigo ou de alguém que estava no grupo de capoeira, e conseguiu ficar numa cidade estrangeira. Eu até fiz isso no Brasil, por meio de um pessoal de um grupo de capoeira. É fantástica essa expansão social, que cria sociedades de capoeira dentro desse espaço.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Professor, peço ao senhor que conclua, para nós encerrarmos. Já se passaram 15 minutos.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Estão me ouvindo agora?
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Veja se agora voltou, mestre.
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O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Prof. Carey, o tempo do senhor já acabou. O tempo era de 10 minutos, e nós concedemos mais 5 minutos. Depois o senhor volta nas considerações finais, para poder fazer a sua conclusão. E ainda teremos as perguntas. Desde já agradeço tudo o que o senhor falou.
Antes de passar a palavra ao Mestre Ralil, nosso grande mestre e Presidente do Grupo Raízes do Brasil, gostaria de registrar que muitas pessoas estão fazendo perguntas pelo e-Democracia. Por exemplo, a Renata Martielo, do Grupo Senzala, do Rio de Janeiro, diz: "É urgente que a capoeira seja respeitada na sua africanidade. Capoeira foi criada no Brasil, mas tem pai e mãe africanos. Não dá mais para aceitar a capoeira sendo esvaziada de sua ancestralidade africana". Também mandaram perguntas Danilo Seithi Kato e Gleisson Marques Gonçalves Costa. Muitas pessoas estão participando.
O SR. RALIL NASSIF SALOMÃO - Boa tarde, Sras. Deputadas e Srs. Deputados. Boa tarde a todos os capoeiristas, às mestras, aos mestres, à Fabíola, ao Marçal, ao Vento, ao Rommel, ao Carey. É muito bacana escutar vocês, cada um dando uma parcela de conhecimento.
Agradeço à Comissão do Esporte e, em particular, ao Vice-Presidente, Deputado Julio Cesar Ribeiro, que foi Secretário de Esporte, em 2012, 2013 e começo de 2014. Realmente, o senhor veio agregar bastante ao esporte do Distrito Federal e das cidades próximas.
Eu pratico capoeira há 48 anos. Sou formado em administração pública, com pós-graduação em gestão empresarial.
Falar de capoeira para mim me encanta muito. Talvez eu fale mais do que o nosso antropólogo, professor e Guru Carey Million. E vou fazer uma correção, porque anunciaram o Carey como um dos mestres do Grupo Capoeira Brasil, e não é isso. Ele é antropólogo, doutor em antropologia. Como ele disse, a tese dele foi feita estudando a capoeira e a diversidade dela, em tudo a que se aplica. Ele é um dos nossos graduados, já é corda marrom e está mais perto de ser mestre do que ser professor. Muito obrigado pela participação, Guru.
Como eu disse, pratico capoeira desde menino. Comecei com 13 anos e estou com 60 anos. Comecei em Brasília com o Mestre Tabosa, que foi um dos precursores da capoeira.
Falar de capoeira realmente me deixa até muito emocionado, porque, hoje, a nossa arte está presente em mais de 170 países. O Grupo Raízes do Brasil, fundado por mim, em 1980, aqui em Brasília, está presente em mais de 16 Estados. Só na Califórnia, está em 8 cidades. Nós temos filiais no Brooklyn, em Nova York, na Ilha de Maui e em alguns países da Europa.
Esse trabalho, que é a menina dos meus olhos, foi um presente que ganhei de Deus, podendo voltar à mãe África e passar ali um pouquinho do nosso conhecimento. Mas aprendi muito mais quando eu estive lá durante 8 anos consecutivos. Praticamente, de 3 em 3 meses, eu ia à África e voltava, trocando professor ou mestre, que ficava ali, durante 3 meses, ensinando a capoeira e levando sempre um tema de cidadania.
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Talvez alguns que estejam presentes não saibam, mas a capoeira é hoje a maior difusora do nosso idioma, da língua portuguesa. Todas as aulas no exterior são dadas em português, as músicas são cantadas em nosso idioma, os golpes, as quedas, os movimentos em geral, os instrumentos. Isso faz com que o estrangeiro se aprofunde mais e conheça melhor o País, mesmo distante geograficamente.
Um de nossos fundamentos e filosofia do Grupo Raízes do Brasil é quando a pessoa chega a certa graduação. Para receber essa graduação ela precisa vir ao Brasil, para conhecer de perto o país. Isso promove mais ainda a nossa cultura, a capoeira como um todo. Existe algo entre os professores que vão para fora, que é a diplomacia. Considero os professores que hoje moram fora do Brasil como nossos embaixadores, pela riqueza da capoeira e pelo que ela representa para as pessoas, para os estrangeiros. Ela é bastante valorizada.
Eu não posso deixar de dizer — nós vivemos em um país com regime democrático — que eu não conheço uma democracia tão bem executada e exercida como dentro da capoeira. Na roda de capoeira não se julga raça, gênero, formação profissional, crença religiosa, nível educacional. Vou dar exemplos. Um promotor de justiça, um juiz federal interage, treinando e jogando na roda, com um catador de lixo, que, para mim, é tão importante como o juiz, como o promotor, porque imaginem a cidade sem esse profissionais. Um palestino joga capoeira com um israelense, como já há um projeto na Faixa de Gaza, que o mestre introduziu, com aulas para crianças e jovens, aproximando as raças, sem ter problema algum de crença religiosa. Uma pessoa que mora no Lago Sul joga capoeira com uma pessoa que anda de carroça até hoje. Enfim, a capoeira, realmente, é uma democracia na prática.
Para eu relacionar os benefícios que a capoeira proporciona em nossas vidas fica até difícil. Acho que eu extrapolaria o tempo, com certeza. Mas o mestre Carey, o nosso Dr. Carey, falou algumas coisas que chamam a atenção, como passar pela capoeira a educação formal e a informal. Ainda através da capoeira pode-se ensinar outras matérias, como matemática, história, geografia, o que aconteceu inclusive com um mestre nosso, o Nagi, que durante 3 meses, na África, conseguiu introduzir isso.
A capoeira beneficia a parte psicomotora, psicológica e emocional; a parte da musicalidade, de instrumentação, da criatividade, não só no que se faz na capoeira, mas na criação dos cantos, de músicas; a parte de saúde, que é importantíssima, em que você consegue fazer uma prevenção, principalmente em locais mais necessitados, porque a criança, o pré-adolescente ou o adolescente não se entregam para as drogas, para o traficante. Muito pelo contrário, você está evitando que se vá para o hospital, que se tome um tiro, a evasão escolar.
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A questão de respeito ao próximo, ao meio ambiente, à ecologia, tudo isso temos como fundamentos na capoeira — quando cortamos a madeira, a verga para fazer berimbau, fazemos um corte ecológico para a planta crescer novamente.
Quanto à valorização cultural do nosso esporte, lembro que a capoeira é a única arte genuinamente brasileira. Isso tem que ser dito e temos que aproveitar essa característica.
Há a inserção familiar, como o Guru falou também. Vários problemas a criança ou o jovem não consegue resolver, e, às vezes, o pai não tem tempo. O professor de capoeira, o mestre também tem esse papel de ajudar.
Oportunidades acontecem dentro da capoeira, principalmente para alunos que saíram de uma situação de risco. Muitos entraram na capoeira e conseguiram reverter isso com os ensinamentos, com a filosofia, com os fundamentos que nós apresentamos.
Há pessoas que tinham doenças emocionais e físicas antes de praticar a capoeira e viviam sob efeito de remédios. Hoje, muitas delas, que tinham síndrome de pânico, estresse — que, como a Fabíola colocou muito bem, é a doença atual — e depressão, conseguem se curar com a capoeira.
Um trabalho que nós fizemos durante 5 anos no Instituto Dom Orione, no Lago Sul, com pessoas com necessidades especiais levantou muitas dúvidas por parte de profissionais e terapeutas que trabalhavam ali. Eles disseram: "Vocês vão perder tempo". Nós começamos o trabalho em agosto, e, em dezembro, nós fizemos um Natal junto com aquelas pessoas com necessidades especiais. Na ocasião, nós fizemos um batizado, e pessoas que não conseguiam segurar uma colher estavam batendo palmas no ritmo da roda.
A capoeira também pode ser conduzida como defesa pessoal. Eu tive o privilégio de, durante 2 anos, dar aulas de defesa pessoal no Batalhão da Guarda Presidencial aqui em Brasília usando única e exclusivamente a capoeira.
Na inauguração da primeira universidade de artes marciais, na cidade Hamburgo, na Alemanha, em 1990, nós fomos em 5 ou 6 para demonstrar a capoeira, enquanto Alemanha, Canadá, Estados Unidos, China, Japão foram com 30, 40 atletas. E nós fomos os mais aplaudidos, demonstrando a beleza lúdica da capoeira, que é uma luta disfarçada de dança, com instrumentos e canto.
Eu fico muito feliz de poder estar nesta Comissão. Eu sei que a capoeira tem papel fundamental e uma riqueza enorme. Com muito pouco a capoeira pode fazer com que crianças e adolescentes se desviem de problemas futuros. O professor de capoeira, com seu conhecimento e com o seu berimbau, dá aula em chão de terra batido. O Governo já tem olhos para isso. E eu acho que cada vez mais nós temos que explorar isso.
Um abraço a todos. Deputado Julio, muito obrigado. Parabéns pela maneira como se coloca sempre, não só em época de eleição. Isso é o que falta a alguns Parlamentares! As eleições estão chegando e nós começamos a ser procurados por abrangermos várias comunidades. Temos uma força no falar, que já estamos trabalhando há muito tempo. E você, Deputado Julio, nunca deixou de atender ninguém, não só da capoeira, mas de todos os esportes.
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O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Mestre, obrigado pela sua participação.
O SR. RALIL NASSIF SALOMÃO - É muito importante que os professores fora do Brasil tentem se aproximar do consulado e da embaixada, se houver na cidade, e procurem a DODC, que é a Divisão de Operações de Difusão Cultural do Departamento Cultural e Educacional do Itamaraty. Mais importante ainda é já levar algum tipo de demonstração — em CD, em pen drive, no Google —, para mostrar a riqueza que a capoeira tem.
Eu me lembro de que, na gestão dos últimos quatro Presidentes da República, nós concorremos com grandes artistas, como o Arthur Moreira Lima, um grande pianista, para executar o Hino Nacional. Nós éramos 40 capoeiristas tocando o berimbau e cantando o Hino Nacional. Então, a capoeira tem uma riqueza muito vasta, mas as pessoas têm que apresentá-la de tal forma, não podem ficar no anonimato. Esse é um conselho que eu dou para essa rapaziada.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Há uma pergunta dirigida para a Secretária Fabíola Molina, de Luiz Otávio Bastos: "A capoeira vem de duas heranças culturais fortemente presentes na história do nosso país. Contudo, percebo poucos incentivos, benefícios legislativos e políticas públicas voltadas para nossa arte. Há alguma política de fomento realmente implantada?"
A SRA. FABÍOLA MOLINA - Luiz Otávio, obrigada pela pergunta. Como comentamos anteriormente, temos um programa, o antigo PELC — Programa Esporte e Lazer na Cidade, que envolve várias atividades físicas, esportivas e culturais. A capoeira é uma delas. Então, através desse tipo de programa, nós conseguimos incentivar a capoeira nos Municípios.
Esse é um trabalho conjunto, porque dependemos também do que os gestores acreditam que vai ser importante para os Municípios. Alguns acreditam que é importante desenvolver o futebol; outros, o vôlei; outros, a natação. Então, não conseguimos decidir pelas Prefeituras. Eles é que estão na ponta. Mas existe um trabalho, com certeza, de se deixar isso preparado para ser implementado dentro do Município.
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Isto é o que esses programas fazem: deixam um produto, um programa já com diretrizes de como contratar os profissionais, de como se consegue o RH, de como se conseguem os materiais, para que aquela Prefeitura possa aderir àquele programa e fazer com que a capoeira aconteça.
Não temos um programa específico para a capoeira, assim como não temos um programa específico para a natação ou para o vôlei. Então, isso é feito de maneira geral. E o que fazemos em termos de política de fomento são justamente esses programas que estimulam a prática da atividade física como um todo.
Estamos sempre abertos. Mas este foi um ano com muita dificuldade orçamentária. Então, não conseguimos, por exemplo, ter nenhum edital aberto para nenhum tipo de esporte ou de programa através de recursos próprios do Ministério ou da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, que é a nossa Secretaria. Hoje, realmente, não conseguimos isso em virtude de problemas orçamentários. Por isso, falamos um pouco das emendas, que é o caminho que vemos hoje para que políticas de fomento ao esporte e atividades como a capoeira possam acontecer. O panorama é esse.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Secretária.
Nós finalizamos as apresentações. Eu quero agora passar às considerações finais. Vou fazer uma rodada com todos, pedindo que se limitem ao prazo de 2 minutos, para que todos possam encerrar a participação.
A SRA. FABÍOLA MOLINA - Eu é que agradeço, Deputado. É sempre uma honra discutir o esporte e aprender tanto com ícones não só do Brasil, como de outros países, de outros continentes.
Ficamos muito felizes em trazer o lado da Secretaria Nacional de Esporte, que fica dentro do Ministério da Cidadania, e um pouco da nossa realidade e do que tentamos fazer. Isso é sempre engrandecedor.
Então, eu gostaria de agradecer a contribuição a todos e parabenizá-los pelo trabalho lindo. Realmente, a capoeira é transformadora, ela é vida, ela bate muito forte no coração de quem chega até ela. Culturalmente, para o País, isso é muito importante.
Então, ficamos à disposição, como eu disse, para o que pudermos contribuir. Todos podem nos acessar pelos canais do Governo, pelo site www.esporte.gov.br, pelo Ministério da Cidadania e pelas redes sociais. Nós ficamos disponíveis para continuar contribuindo com o debate.
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O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Secretária.
O SR. MAYKEL RIBEIRO FURTADO - Eu é que agradeço muito esta oportunidade de, pela primeira vez, estar em contato direto convosco. Já é a segunda vez que recebo convite para ir a Brasília, mas tempo é o que me falta. Espero na próxima vez estar presente aí para mostrar o fruto do Mestre Ralil através da semente plantada aqui na África.
Quero dizer que eu sempre irei trabalhar com a capoeira, e acredito muito que o nosso Diretor-Geral dos Desportos irá ajudar. Ele sempre interagiu com a capoeira, desde o início do seu mandato, e por ela tem uma paixão enorme. Estamos a lutar.
Quero dizer também que, além de trabalhar com jovens e crianças, nós trabalhamos com idosos. Essa foi uma experiência vinda do Raízes do Brasil para São Tomé e Príncipe, através das pessoas que vinham e ficavam aqui 3 meses. Elas nos deram essa experiência de trabalhar com idosos, através do lar dos idosos.
Acredito que, daqui a algum tempo, a capoeira em São Tomé e Príncipe estará no topo. Através do Raízes do Brasil — eu gosto de seguir os passos do meu mestre, o Mestre Ralil, também em São Tomé e Príncipe —, nós participamos, já por duas vezes, de evento entre Brasil e Gabão, na Noite de Artes Marciais do Gabão, representando a capoeira, e sempre no topo.
Eu acredito bastante que um dia o Brasil irá conhecer o potencial de São Tomé e Príncipe. Eu sei que o Mestre Ralil já conhece, mas a área do Deputado, a área da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social do Ministério da Cidadania precisa conhecer também. Poderei ainda ter oportunidade de estar perto do Prof. Carey Million, tirando proveito das suas palavras maravilhosas — pessoa que estudou tanto, fez mestrado, doutorado, e tem paixão enorme pela capoeira.
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Mestre Ralil, eu não tenho palavras para falar para o senhor. O senhor tem paixão pela capoeira, tem amor. Eu só sei que Deus soube fazer bem ao senhor, alguém que não só tem paixão pela capoeira. Há quem pratique a capoeira por necessidade, alguém que quer estar na capoeira por algum interesse, mas eu não. Eu que sou filho de São Tomé e Príncipe, e também acompanho o que o senhor faz lá fora, vi que o senhor tem uma paixão enorme pela capoeira. O senhor já ajudou muita gente através da capoeira.
Eu estou tentando seguir os seus passos também nessa vertente de trabalhar diretamente com pessoas vulneráveis e que não têm grande apoio. Nós, em São Tomé e Príncipe, damos aulas de capoeira para pessoas que não têm as mínimas condições. Às vezes, eu faço uniformes para atletas, organizo camisas, tiro dinheiro do meu salário, faço as camisetas...
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Peço para concluir, Maykel, por favor.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Maykel.
Como todos aqueles que me antecederam disseram, de fato, a capoeira tem sido, e continua a ser, uma modalidade, uma atividade física que vem permitindo a inclusão social, não só em São Tomé, mas em todos os lados do mundo, e permitindo ainda a todos os quadrantes sociais praticarem.
O que engrandece a capoeira é que ela não se preocupa com raça, cor, religião, deficiência motora ou psicológica. Muito pelo contrário, ela, sim, está estruturada, através dos seus, para ajudar a todos os outros que convivem e têm essas deficiências para se fortalecerem, em São Tomé em particular.
Após desenvolver esse projeto em 2011, fortalecido em 2014, com a dedicação de todos aqueles que, de fato, deram a sua colaboração, a capoeira hoje em São Tomé é uma modalidade presente — presente com vida. Ela está viva em São Tomé. Por isso, devo fazer as minhas vênias a todos aqueles que se dedicaram a ela e deram os seus esforços.
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Ao atleta Maykel eu é que agradeço, pelo fato de ele ter dado, de forma insistente, a sua colaboração, a sua dedicação a todos os meninos, miúdos e meninas, que precisam, sim, dessa sua disponibilidade.
Ao Mestre Ralil eu só posso dizer obrigado, pelo fato de ter permitido que os nossos mestres estivessem presentes em todos os distritos. Tivemos a oportunidade de estar em Uba-Budo, e por aí fora.
Obrigado ao Deputado, aos demais convidados e a todos os outros que estão cá nos ouvindo. Eu falo diretamente de São Tomé e Príncipe. Estamos na Linha do Equador. Estou a falar de duas ilhas muito pequenas, mas que vivem a capoeira de forma intensa, apesar das imensas dificuldades, que acreditamos que não há só em São Tomé, mas em todo lado.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Eu é que agradeço.
Demais convidados aqui presentes, eu faço das vossas palavras as minhas. E faço-vos um pedido. Os nossos antepassados protegeram, com todo o carinho e dedicação, a capoeira. Cabe a nós dar continuidade.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Akadiry.
Eu gostaria de oferecer qualquer apoio, qualquer incentivo, qualquer coisa extensiva ao meu campo educacional para apoiar trabalhos de fomento à capoeira. Eu acho fantástico.
Desculpe-me dizer isto, mas eu acho que o País deve apoiar bem mais a capoeira. Eu fico um pouco triste de ver a capoeira não ser tão incentivada pelo Estado. Há muitos projetos — de alguns eu participei — que começam bem, mas, com a falta de recursos, depois de 1 ano, depois de 2 anos, acabam. Eu acho isso muito triste. Então, qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar no fomento de mais políticas de Estado para apoiar a capoeira, fiquem à vontade.
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Agradeço por esta que é a primeira... Talvez tenha havido outras, mas acho fantástico que estejam dando esta atenção belíssima à capoeira, que está com falta de recurso.
Aproveito a oportunidade para agradecer a todos que participaram. Achei fantástica a participação de todo mundo e o apoio que foi dado para se fazer esta reunião. É triste que não haja uma reunião igual na área de cultura, porque a capoeira entra também como cultura.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado.
O SR. ROMMEL JORGE MARQUES MAIA - Eu quero agradecer a participação nesta discussão, superimportante.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, Rommel.
Recebi muitas mensagens de pessoas nos parabenizando e mandando seu abraço. Esse assunto realmente mexe com a vida de muitas pessoas.
Eu, particularmente, ando muito por Brasília, pelas 31 cidades-satélites. Em todas elas há vários grupos de capoeira, sempre em grande quantidade. Então, vemos que, sem dúvida alguma, é preciso aprovar políticas que fortaleçam mais e mais a capoeira, não só em Brasília, não só no Brasil, mas também no exterior.
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O SR. RALIL SALOMÃO - Deputado Julio, eu é que agradeço por mais esta ação que o senhor faz em prol não só da capoeira, mas da população. Quando fazemos algo pela capoeira, estamos fazendo indiretamente pela população. Obrigado por se colocar sempre com as portas abertas, fazendo acontecer não só em época de eleição, como eu disse anteriormente, quando alguns Parlamentares saem atrás de votos. O senhor, muito pelo contrário, porque o tempo passa e o senhor continua apoiando todos os esportes. A mudança de águas que nós tivemos na Secretaria de Esporte é devida ao seu empenho, ao seu comprometimento.
Estamos com força total. Mesmo na época da pandemia, conseguimos de alguma forma nos manter fisicamente e mentalmente em dia, com menos estresse, com menos terror de morrer, mas sem nos arriscar, graças à riqueza que a capoeira oferece.
Agradeço, de coração, aos mestres do Grupo Raízes do Brasil, da nossa instituição, que estão comigo há mais de 30 anos acreditando não só na minha técnica, no meu trabalho, mas, principalmente, em mim como pessoa.
Vamos continuar acreditando na força da capoeira, na luz, nessa energia tão especial, nessa arte que engloba várias outras, nessa simbiose de coisas boas em uma só.
O SR. PRESIDENTE (Julio Cesar Ribeiro. REPUBLICANOS - DF) - Obrigado, mestre. Obrigado a todos.
Nada mais havendo a tratar, lembro que está convocada reunião deliberativa extraordinária para amanhã, terça-feira, às 13 horas.
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