3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56 ª LEGISLATURA
Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar o Enfrentamento à Pandemia da Covid-19 no Brasil
(Audiência Pública Extraordinária (semipresencial))
Em 17 de Junho de 2021 (Quinta-Feira)
às 10 horas
Horário (Texto com redação final.)
10:00
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O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Bom dia a todos. É um prazer enorme estar com convidados tão ilustres.
Vamos dar início à 26ª Reunião Extraordinária de Audiência Pública da Comissão Externa de Enfrentamento da COVID-19.
Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro, declaro aberta a presente reunião de audiência pública, convocada após a aprovação dos Requerimentos nºs 51 e 62, de 2021, de autoria do Deputado Dr. Zacharias Calil, sobre o tema A pandemia e a síndrome da gaiola, sobre o medo de sair de casa, de ir à escola.
Nós vamos fazer esta reunião através do Sistema de Deliberação Remota das Comissões.
Vou dar alguns avisos importantes.
Tendo em vista as alterações promovidas pela Resolução nº 19, de 2021, e pelos Atos da Mesa nºs 161 e 179, de 2021, que tratam do trabalho das Comissões por meio do Sistema de Deliberação Remota — SDR, solicito atenção quanto às orientações que se seguem.
Os Deputados deverão ingressar na reunião pelo aplicativo Infoleg Parlamentar.
Conforme o Ato da Mesa nº 179, de 2021, "as sessões da Câmara dos Deputados e as reuniões das Comissões realizar-se-ão com a presença física exclusivamente dos respectivos Presidentes, Líderes e servidores em serviço".
O uso de máscaras no plenário é obrigatório durante toda a reunião, inclusive aos Parlamentares, bem como a manutenção do distanciamento de 1 metro e meio entre as pessoas, de acordo com o art. 2º do Ato da Mesa nº 163, de 2021.
Ata.
Encontra-se à disposição na página da Comissão na Internet a ata da 25ª Reunião, realizada no dia 16 de junho de 2021.
Fica dispensada a sua leitura, nos termos do parágrafo único do art. 5º do Ato da Mesa nº 123, de 2020.
Não havendo quem queira retificá-la, coloco em votação a ata.
As Deputadas e os Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovada.
Procedimentos.
Nos termos do Regimento Interno da Casa, os procedimentos serão os seguintes: será concedida a palavra aos expositores convidados pelo prazo de 10 minutos, prorrogável a juízo da Comissão; após, será concedida a palavra, por 10 minutos, ao autor do requerimento, o Deputado Dr. Zacharias Calil; por fim, os Deputados inscritos poderão falar por até 3 minutos. Oportunamente, será concedida a palavra aos expositores para as respostas e considerações finais.
Eu gostaria de apresentar agora os expositores, aos quais, em nome do colegiado da Comissão, agradeço a participação nesta audiência: Dr. Wimer Bottura, Presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática — ABMP; Dr. Guilherme Polanczyk, psiquiatra da infância e adolescência da Universidade de São Paulo — USP; Dr. Welington Matos de Lima, Secretário de Desenvolvimento Social de Goiás; Dra. Ângela Mathylde Soares, professora, psicopedagoga, psicanalista, neurocientista, escritora e empresária; Dra. Maria do Carmo Ribeiro Abreu, Presidente da Seção de Goiás da Associação Brasileira de Psicopedagogia; Dra. Gabriela Judith Crenzel, médica, especialista em psiquiatria infantojuvenil, coordenadora do Grupo de Trabalho de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria; e Dra. Bianca Teixeira Rocha Gama Granado, psicopedagoga, mestre em Educação e fonoaudióloga.
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Eu achei por bem convocar esta audiência porque sou médico-cirurgião, atuo na área de cirurgia pediátrica e tenho convívio com muitas crianças. Recentemente, em abril, li um artigo do jornal Estadão sobre esse tema que me chamou muito a atenção. No dia a dia, temos vivido esse tipo de problema que crianças e adolescentes têm enfrentado. É por isso que nós optamos por convidar os senhores e as senhoras para participarem desta audiência. Eu acho que isso é muito importante. Esta audiência está sendo transmitida ao vivo para todo o Brasil. Os pais têm dúvidas, hoje, que precisam ser respondidas. Este é o momento.
Concedo a palavra ao Sr. Wimer Bottura, pelo prazo de 10 minutos, que poderá ser prorrogado, se houver interesse.
A participação do senhor já nos alegra bastante.
O SR. WIMER BOTTURA - Bom dia, Deputado. Bom dia, demais participantes. Bom dia a quem está nos assistindo. É com satisfação que eu trago a minha contribuição e as minhas informações para este debate.
O conceito de síndrome da gaiola já existia anteriormente para outros transtornos. É feita essa metáfora em relação ao pássaro que não quer sair da gaiola quando é aberta. O que caracteriza essa síndrome é realmente o medo da pessoa de sair, enfrentar o que está fora da gaiola.
Nós precisamos entender a origem do medo e a maneira como ele atua dentro das pessoas. É natural que todos nós tenhamos medo de ficar expostos a um vírus que não conhecemos, não sabemos de onde vem e, obviamente, não enxergamos. Poucas pessoas até hoje, mesmo os especialistas, sabem exatamente o que é esse vírus. Aliás, muitos especialistas erraram. Essa não é uma crítica a ninguém. Realmente é algo difícil! Quase todas as pessoas erraram quanto a esse aspecto, porque é difícil mesmo, é uma coisa nova. A experiência anterior não se aplica à experiência atual. Então, isso nos torna confusos, isso nos dá medo.
Se o medo é identificável, como, por exemplo, o medo que temos de um leão, é mais fácil lidar com o tema. No entanto, quando o objeto do medo não é identificado, o medo se torna amplo, impreciso, algo de difícil solução. E o que acontece? É confusa a maneira como está sendo abordado esse problema, a forma grandiosa como foram dadas inicialmente e como são dadas ainda as informações por parte da mídia, porque existe um fenômeno chamado grandiosidade. Lembrem-se daquelas campanhas que havia contra as drogas. "Não peguem drogas! Drogas matam!" Aquilo era chocante. Pessoas acreditavam que chocar ajudaria a diminuir o consumo de drogas, e aconteceu exatamente o contrário. Por isso, essas campanhas foram substituídas por outras.
10:08
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É muito importante entender o fenômeno da grandiosidade. "Sempre", "nunca", "toda vez", "extraordinário", "maravilhoso", "terrível" são termos que caracterizam a grandiosidade. Quando os pais são pais grandiosos — para um dos pais, tudo é um grande problema, e, para o outro, nada é problema —, a criança tende a crescer confusa e vai fazer piores escolhas na sua vida, porque o seu quadro de referência é impreciso. Isso está acontecendo com todos nós neste momento, em que as instituições que representam a figura paterna, que são mídia, Estado, governo, autoridades, estão confusas. Então, as informações são dadas de forma imprecisa, gerando mais medo ainda.
O que acontece com o medo da grandiosidade? Existem três tipos de medo: o medo que protege, que é o que deveríamos ter, mas que raramente acontece quando há grandiosidade nas informações; o medo que paralisa, que vemos que atinge muita gente e vai gerar, de alguma forma, a síndrome da gaiola; e o medo que causa um tipo de negação, que é a confrontação, ou seja, a pessoa compensa o medo com descuido, com excessos. Esse medo é mais prejudicial ainda, porque a pessoa se expõe mais aos riscos. Então, quando se dizia "não pegue drogas", estava sendo estimulado este medo, o medo que leva a pessoa a buscar o problema ao invés de afastá-lo.
Vemos que isso está acontecendo maciçamente. Pais confusos e inseguros estão levando crianças a terem mais medo ainda. Se os pais estão inseguros, eles passam essa insegurança para as crianças.
Outros problemas acontecem também quando a criança se comunica on-line com outras. As crianças estão tendo informações também, informações que, muitas vezes, ampliam a descrença. Isso gera mais medo.
Ora, como não ter medo de sair de casa? Neste momento, ninguém está sem medo de sair de casa. As crianças, muitas delas, estão com medo, por vários fatores, inclusive pela reação dos pais. O que é mais importante neste momento? Qual o conselho que se pode dar para as pessoas neste momento? Nós precisamos tranquilizar principalmente os pais e fazer com aumente o diálogo na família. Há possibilidade de o pai mudar de ideia dialogando com o filho e há possibilidade de o filho mudar de ideia dialogando com o pai. Para muitas pessoas, diálogo significa fazer o outro mudar de ideia. Não é verdade. Diálogo significa possibilidade de ambos mudarem de ideia.
O que estamos vendo acontecer — este também é um sério problema — é que muitas pessoas, inclusive da ciência, que deveriam buscar compreender o mecanismo, compreender o transtorno e encontrar maneira de solucioná-lo, estão mais preocupadas em eleger culpados. Ora, a sociedade já elegeu culpados dos mais diversos tipos ao longo da história, e, depois de se eliminar o culpado, surge outro, porque o mecanismo do problema não é identificado. Então, quando eu falo aqui sobre o medo, quero falar de um mecanismo de relacionamento que faz com que se gere esse transtorno da gaiola. Se identificarmos o mecanismo e o corrigirmos, teremos resultados positivos em todas as áreas em que esse mecanismo é repetido. Precisamos discutir muito esta questão: queremos eleger culpados ou queremos encontrar soluções? As instituições deveriam fazer essa reflexão. Como eu disse antes, já culpamos muitos, e não adiantou nada. Isso é fundamental, até porque, se há dedicação para encontrar soluções e conhecer mecanismos, aumenta a credibilidade de quem informa. Credibilidade protege contra o medo. Pode favorecer o medo que cuida, o medo que protege, mas diminui o medo que paralisa ou o medo que gera uma ousadia, uma provocação. Precisamos, portanto, entender esse processo.
10:12
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Na minha concepção, nosso olhar deve ser o de tranquilizar os pais, pedir que as instituições que representam a figura paterna na sociedade procurem dar informações específicas, precisas, voltadas a encontrar soluções para o problema e não a eleger culpados. Quando se elege um culpado, ele naturalmente se defende. E se defende como? Contra-atacando. Fica então ocorrendo uma troca de agressões, e o problema que tinha de ser solucionado acaba sendo esquecido.
Paulinho da Viola canta uma música que sintetiza o que estou dizendo. Eu gosto muito dos filósofos da arte, e Paulinho da Viola é um grande filósofo, ele, Elton Medeiros e outros.
Este é um trecho da música Coisas do mundo, minha nega:
(...)
Por fim eu achei um corpo, nega
Iluminado ao redor
Disseram que foi bobagem
Um queria ser melhor
Não foi amor nem dinheiro
A causa da discussão
Foi apenas um pandeiro
Que depois ficou no chão.
Isso sintetiza o que está acontecendo no momento. As pessoas discutem para ter razão, não discutem para encontrar a solução. Depois, o pandeiro fica no chão. Eu digo que precisamos trabalhar com informações precisas e específicas, porque isso cria proteção. É inevitável o medo, mas ele pode ser de um tamanho que não gere paralisia ou reação de ousadia e provocação.
Em síntese, é isso. Espero que tenha sido útil a minha contribuição.
Obrigado pela atenção de todos vocês.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Muito obrigado, Dr. Wimer Bottura.
Passo a palavra ao Dr. Guilherme Polanczyk, pelo prazo de 10 minutos.
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O SR. GUILHERME POLANCZYK - Bom dia, senhoras e senhores. Muito obrigado pela oportunidade de falar nesta Comissão.
Deputado Dr. Zacharias Calil, muito obrigado pelo convite e pela escolha do tema.
Vou compartilhar a minha tela.
(Segue-se exibição de imagens.)
Eu sou psiquiatra de crianças e adolescentes, sou um clínico, atendo dezenas de crianças e adolescentes doentes por semana. No Instituto de Psiquiatria, coordeno os serviços clínicos, inclusive a unidade de internação de crianças e adolescentes. Sou acadêmico, sou pesquisador e professor da faculdade onde formamos os futuros médicos e especialistas na área. É dessa perspectiva que vou falar a vocês sobre o tema.
Eu queria enfatizar que a saúde mental de crianças e adolescentes apresenta uma relevância enorme, em termos de saúde pública. Apesar dessa relevância, a saúde mental de crianças e adolescentes é altamente negligenciada. Os casos são silenciosos. Uma parcela ínfima deles está sendo acompanhada, tem acesso a serviços. Realmente são situações não vistas, não detectadas. Não há políticas públicas de detecção ativa dos casos. Existem alguns indicadores de que eventualmente haja presença de transtornos mentais. Suicídio é um indicador evidente, mais grave. Situações de violência também podem indicar a presença de transtornos mentais. Existem indicadores que a sociedade pode determinar ao longo do tempo, como nível educacional e econômico, uma série de questões. Na infância e na adolescência, a recusa e a evasão escolar também são indicadores que refletem transtornos mentais.
Eu gostaria de falar a vocês sobre a recusa escolar no contexto dos transtornos mentais. É importante ter em mente que eles surgem a partir de uma suscetibilidade genética. Eventos ao longo do desenvolvimento contribuem. Situações de estresse também contribuem de forma importante para que eles surjam. Em contraposição a essas situações de risco, existem situações de proteção. Relação familiar saudável, suporte social e escolar saudável protegem contra o desenvolvimento dos transtornos mentais.
Nós temos bons estudos e dados muito sólidos que mostram que uma em cada seis crianças e adolescentes em todo o mundo é afetada por algum transtorno mental. Eles são responsáveis por cerca de 16% da carga total de doenças e acidentes em indivíduos entre 10 e 19 anos de idade.
Vocês sabem que, em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de incapacidade entre adolescentes. O suicídio, um reflexo direto da presença de transtornos mentais, é, em alguns países, a segunda e, em outros, a terceira causa de morte entre adolescentes entre 15 a 19 anos. Os números são crescentes ao longo do tempo.
10:20
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Os transtornos mentais devem ser devidamente considerados durante a infância e a adolescência não só porque eles causam prejuízo nesse período do desenvolvimento, mas também porque, quanto aos adultos com transtornos mentais, a estimativa é de que, em cerca de 50% dos casos, o transtorno teve início até os 18 anos de idade. Estamos falando, portanto, não só de crianças afetadas, estamos falando também do futuro da nossa Nação. Desse modo, os sistemas de saúde relacionados a prevenção e detecção precoce de transtornos mentais devem estar organizados e voltados para indivíduos nessa faixa etária, da infância até os 18 anos de idade.
Qual é o cenário da saúde mental no nosso País? Nós temos em torno de 69 milhões de crianças e adolescentes. A estimativa é de que existam no Brasil cerca de 10 milhões de casos de crianças e adolescentes. Em 2019, um estudo feito pelo nosso grupo mostrou que há 468 especialistas em psiquiatria da infância e da adolescência registrados. A maior parte está no Sul e no Sudeste. O número de CAPS, em 2014, era de 201, e 93% estão localizados no Sul e no Sudeste. Estudo de 2014 mostrava que, nos CAPS de todo o País, eram atendidos 32.240 crianças por mês. Isso representaria de 0,72% a 1,32% da demanda total existente no Brasil. Um estudo do nosso grupo mostrou que, em Porto Alegre e em São Paulo, 80% dos que apresentavam algum transtorno mental, conforme o que identificamos, não recebiam qualquer tipo de tratamento.
Nesse contexto, veio a pandemia. Pandemia gera situação de estresse, gera sofrimento emocional, pode causar transtornos mentais em indivíduos mais suscetíveis. Com o acúmulo de eventos graves associados à pandemia, o potencial de gerar transtornos em um número crescente de indivíduos aumenta ao longo do tempo. Obviamente, sentem maiores efeitos as crianças mais vulneráveis. Há tanto vulnerabilidade individual como vulnerabilidade social e econômica.
O nosso grupo realizou um estudo que teve início em junho do ano passado. Procurou-se monitorar a saúde mental de crianças e adolescentes. O estudo alcançou cerca de 7 mil crianças de todo o País, cujas famílias responderam. Houve representatividade de todos os Estados e de todas as regiões do País. Pouco mais de 50% eram meninos. A idade média era de 10 anos.
Nesta escala que considera sintomas de ansiedade e de depressão, os senhores podem ver que estão representados em vermelho aqueles que apresentaram níveis clínicos, ou seja, aqueles que exigiam pelo menos uma avaliação e sugeriam, possivelmente, transtorno de ansiedade ou de depressão. Se juntarmos os níveis clínicos de ansiedade e de depressão, perceberemos que cerca de 26% das crianças e dos adolescentes em todo o País apresentam níveis clínicos. Estamos falando disto então: uma em cada quatro crianças apresenta níveis clínicos de ansiedade ou de depressão.
Esta imagem se refere a prejuízo ou sofrimento. Reflete sintomas de ansiedade ou de depressão, mas vai muito além. No caso de 55% das crianças, os pais diziam que havia prejuízo alto ou muito alto naquele momento. Esse é um cenário bastante preocupante.
O que o sistema de saúde deve fazer neste momento? Nós precisamos de um fortalecimento do sistema de saúde mental no País. A integração entre saúde mental e escola é fundamental. Através da escola, cabe a implementação de programas de promoção, prevenção e intervenção precoce. É a forma mais eficiente de alcançar essas crianças e esses adolescentes.
Muito obrigado pela atenção de vocês.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Obrigado, Dr. Guilherme. Foi muito esclarecedora a sua exposição.
Aqui na Câmara temos discutido o tema suicídio. No Setembro Amarelo, chamamos bastante a atenção para esse tema. Temos percebido que realmente está aumentando muito o número de casos, principalmente no período da pandemia. Mas vamos deixar para falar mais sobre isso na fase de discussão.
Concedo a palavra ao Sr. Welington Matos de Lima, que dispõe do prazo de 10 minutos.
10:24
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O SR. WELINGTON MATOS DE LIMA - Bom dia, Deputado Zacharias. Bom dia a todos.
O Deputado atua na área da saúde e também atua fortemente na área social. É o nosso parceiro aqui em diversas ações do Governo de Goiás.
A minha fala, com certeza, será a menos técnica. Vou falar como Secretário de Desenvolvimento Social, na área da assistência social. Vou passar um pouco para vocês o que temos sentido como consequência desta pandemia, que vem nos afetando fortemente, não só nas questões sociais, é claro, mas também nas econômicas. Ocorre aumento da violência, principalmente doméstica, aumento do feminicídio, da violência contra idosos e também contra crianças. Acho que isso acontece em todo o Brasil. Há também consequências, impactos na saúde física e mental da população e, infelizmente, em muitas das nossas crianças. Eu, que tenho filhos, consigo perceber isso no meu dia a dia. Isso tem afetado a mente da minha filha, que tem 14, 15 anos. Eu me refiro à síndrome da gaiola e a outras síndromes também.
Eu acho que, nesse curto espaço de tempo, mudanças muito representativas foram adotadas. Nós sabemos que o isolamento social é fundamental, é necessário, mas, infelizmente, ele traz consigo as suas consequências.
Guilherme roubou um pedacinho da minha fala, porque eu também consultei esses dados da USP, dessa pesquisa a respeito desses 7 mil jovens, com idade entre 5 e 17 anos. Ela aponta que 26% apresentam esses sintomas clássicos. Esse é um número muito emblemático para o nosso País.
Além da síndrome da gaiola, temos presenciado aqui outras questões muito importantes, como, por exemplo, o luto dessas crianças em decorrência do falecimento dos seus pais ou de algum dos seus familiares. A orfandade está se tornando algo muito expressivo em nossa sociedade. Há também a questão da vulnerabilidade financeira das famílias. Isso tem afetado mentalmente as pessoas, inclusive as crianças. Esses problemas têm que ser tratados de forma coletiva, mas também de maneira individual.
Especialmente em relação à síndrome da gaiola, o Governo de Goiás já vem conversando também com a Secretaria de Saúde, com a Secretaria de Educação, para ver como podemos enfrentar esse problema. No nosso caso, já estamos finalizando um estudo, um projeto, na verdade, de capacitação dos profissionais que estão na ponta, nos CRAS, nos Conselhos Tutelares, em todos os Municípios goianos. Trata-se de um treinamento específico para que eles possam acolher essas crianças, em conjunto com outros profissionais, é claro, orientar as suas famílias, oferecer orientação também junto aos profissionais da educação, oferecer suporte psicológico, com os nossos assistentes sociais, para tentar levar um pouco de conforto a essas famílias, a essas crianças. Objetiva-se levar informação principalmente sobre a pandemia, informação sobre a vacina, sobre a segurança que isso trará para sociedade, informação sobre a necessidade ainda de certo isolamento e do uso de equipamentos, de EPI, para que isso possa oferecer segurança a essas crianças.
10:28
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Não vou dizer que o nosso papel seja secundário, mas vamos atuar como suporte à área da educação e à área da saúde, para que possamos, em conjunto, levar um pouco de tranquilidade a essas crianças, mostrar a elas que existe, sim, uma perspectiva de futuro melhor, que isso é passageiro e que, já, já, haverá certa normalidade. Pode ser que não seja a mesma normalidade de antes, mas haverá certa normalidade para que consigamos enfrentar isso e prosseguir.
Minha fala é muito curta. Eu gostaria realmente de escutar mais os especialistas no assunto.
Obrigado, Deputado.
Obrigado a todos.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Nós que agradecemos a sua presença aqui, que é muito importante.
Passo a palavra à Dra. Ângela Mathylde Soares, que também dispõe de 10 minutos.
A SRA. ÂNGELA MATHYLDE SOARES - Bom dia. Muito obrigada pelo convite.
A minha fala diz respeito à área educacional. Eu também sou acadêmica. Sou pesquisadora da União Europeia.
O que é essa síndrome da gaiola? É uma questão existente há muito tempo já, como foi dito pelo Guilherme, e é uma situação gritante. Outra situação que temos de trazer é a síndrome da gaiola da educação. Pela primeira vez na vida, a educação foi vista como saúde mental e não como questão corriqueira e social, em que a criança vai lá trabalhar conteúdo, etc. e tal.
Eu sou pós-doutora. Nós estamos pesquisando a situação da inclusão. O que é essa inclusão? Para saber o que tem que ser incluído, o professor precisa saber como incluir. Essa falta de informação da pedagogia e da educação traz muitas dificuldades. Antes dessa síndrome da gaiola das crianças, dos jovens, existe uma síndrome da gaiola do professor, que tem pouco recurso, pouco conhecimento.
O que fazer com essas crianças? Antes da pandemia, a saúde mental já estava gritando. O número de suicídios é enorme. Cada vez mais o suicídio tem chegado a crianças mais tênues, com menos idade. As famílias não estão sabendo trabalhar com as frustrações e, com isso, criam as gerações mi-mi-mis, gerações de crianças que não aguentam frustração e n outras coisas, e também uma outra geração, mais preocupante, que é a geração nem-nem, que não dá conta de se estabilizar. Como a escola não está pronta para recebê-las e o professor não tem condição de saber a diferença de sintomas, de estados, de síndromes, então a situação fica perdida. Muitos sintomas pontuais que temos de saber, dentro dessa vastidão da pedagogia, são considerados como descaso, preguiça, falta de compromisso, n coisas. Esses são sintomas e têm que ser pontuados. Mas, se o meu professor, se a minha escola, se a gestão da sala de aula não tem esse conhecimento, vamos cada vez mais colocar a doença para o social, a doença para fora, e a família ficará sem condição de lidar com isso.
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Quando surgiu a pandemia, surgiram também todas as mazelas. Por quê? Famílias não estruturadas estão dentro de casa. Dentro dessa desestruturação, aumenta a violência, aumenta o desdém, aumenta a situação de se saber se a família tem rotina ou não tem. Então, tem costumes, costume de ir para a escola, costume de sair, costume de almoçar, e não tem rotina. São desconhecidos sociais dentro do mesmo espaço. A pandemia trouxe o cair das máscaras, muitas mortes, muito despreparo. Estamos vendo isso, e a escola continua sendo a mais cobrada. Por quê? Porque, depois do ambiente familiar, esse é o espaço em que a criança fica por mais tempo, em que o adolescente fica por mais tempo. Mas a escola continua despreparada, despreparada para fazer essa junção. Há muito que nós pesquisadores estamos batendo de frente para que haja um alinhamento entre a educação e a saúde, em que, verdadeiramente, a escola seja um espaço de saúde mental, e não só para diagnosticar TDAH, dislexia, depressão, ansiedade. Não é essa a questão do contexto. É importante que o professor saiba orientar essa família, saiba como levar isso a esse ambiente.
A pior resposta é a não parceria das famílias dentro da escola. Isso não funciona. As escolas chamam os pais quando as crianças têm problemas, chamam as famílias quando não há essa resposta. Esse não é um ambiente de saúde mental, é um ambiente de cobrança. A inclusão não passa por essa questão. Nós temos lutado pela inclusão em todos os aspectos. O mundo todo tem pesquisado a inclusão como um ambiente alfabetizador. Alfabetizador de quê? De vida e não só de conteúdo. Então, não são considerados só aqueles que têm dificuldades, são considerados todos que estão no ambiente escolar.
Saúde mental é equilíbrio. Saúde mental é algo social, afetivo, biológico, alcança todas essas questões. Que bom que, apesar de tudo isso que temos vivido, tem havido discussões como esta! Parabéns a vocês por trazerem ao debate esse tema tão pertinente! Parabéns mesmo!
As famílias precisam acordar, a educação precisa acordar. Como a educação tem que acordar? Tem que acordar com tudo que já estava acontecendo antes da pandemia: problemas de saúde mental, crianças com depressão, com ansiedade, famílias desestruturadas, tudo isso. Eu pergunto então a vocês nesta discussão: que gaiola é essa? É a gaiola da desinformação? Depois que a pandemia acabar, isso vai mudar? É nisso que estamos pensando.
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Hoje, estamos vivendo um estado de pandemia, mas a síndrome sempre aconteceu, os transtornos sempre aconteceram. Nós pesquisadores trazemos métricas e realidades, e muitas vezes não somos ouvidos. Estamos vivendo momentos de pandemia social, de pandemia histórica, de pandemia humana. Isso é muito sério.
Qual é o espaço para se discutir isso? O da educação. A educação tem chamado estas parcerias, jurídica, política, de saúde. Mas, para que os professores deem conta de entender o que são essas parcerias, primeiro eles precisam ser capacitados. O que eles têm dentro de sala de aula? Há depressivos fora da escola, mas eles passaram pela escola. Existem borderlines fora da escola, mas eles passaram pela escola. Muitos que têm patologias passaram pela escola, e os professores nem sabiam que patologia tinham. Nós sabemos que, quanto mais cedo interviermos — chamamos isso de janela de oportunidade —, mais rápido teremos um respaldo. Hoje há diagnóstico precoce de autismo, com 1 ano e 8 meses. Pessoas acham que o autismo só vai ser diagnosticado mais tarde. Nesse caso, perdemos janela de oportunidade, a criança perde janela interventiva e assim por diante. Há crianças com TDAH e muitos outros estão por aí.
Será que o medo de sair de casa é só medo da pandemia ou é ansiedade extrema da pessoa, por ver a casa degringolada e a escola sem estrutura para recebê-la? Está na hora de haver o retorno sim, com álcool em gel, com afastamento, com tudo isso. O registro afetivo que eu tenho na minha cabeça é o registro social. Quantas crianças têm vida social só dentro da escola? Será que a escola híbrida está preparada para essa educação do século XXI? Essa escola híbrida já está na BNCC há muito tempo, antes da pandemia, e até hoje os professores e a educação não estão preparados. Ainda é uma novidade.
Os alertas que eu trago aqui como acadêmica são estes. Vamos repensar esse professor, esse chão de sala de aula, essa pedagogia do século XXI, essa associação entre educação e saúde. Vamos ouvir esses pesquisadores da saúde, não transformando a escola em ambiente hospitalar, e sim levando saúde preventiva para dentro da escola, para que possamos saber o que fazer. Vamos trazer essa família para um ambiente de escola de paz, para que eles ensinem — trabalhamos com eles — que esse ambiente é para discussão e não para bullying; não é para tachar síndromes ou patologias, é para favorecer a saúde mental.
Muito obrigada pela oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Nós que lhe agradecemos, Dra. Ângela. Foi muito boa a explanação.
Concedo a palavra à Sra. Maria do Carmo Ribeiro Abreu, que também dispõe de 10 minutos.
10:40
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A SRA. MARIA DO CARMO RIBEIRO ABREU - Primeiro, quero agradecer o convite. Muito me honra, Dr. Zacharias Calil, ver uma pessoa de Goiás trabalhando nacionalmente um tema tão importante e ver neste encontro outras pessoas goianas. Isso nos honra muito, assim como a presença aqui de outros brasileiros e brasileiras.
Resolvi iniciar esta exposição com a citação de um poema de um aluno.
(Segue-se exibição de imagens.)
O poema chama-se O espetáculo da vida, escrito no ano passado, no mês de outubro. Eu o trouxe para representar essa síndrome. Uma pessoa conseguiu pôr para fora o que sentia.
O espetáculo da vida
eis pois a odisseia,
entre vãos e becos
escuros,
chora o palhaço e a
plateia,
de um circo que não
termina,
recomeça, no meio do
início,
sem saída
volta ao seu princípio
peste, praga, a doença se
alastra
em meio a tanto borbulho
permanece em pé, grande
pilastra
no meio da jornada se joga
a pedra,
entra a vida ou a morte
sem sorte, acerta
perdeste a esperança,
num mundo ignorante
do que é feito a ignorância
de medos guardados, embaixo da cama,
sem ideias, e criatividade,
tudo lhe arranca
te desprende de seu bem
de seu amor
seu quem
eis pois
o início do fim,
um grande recomeço,
de uma vida, simples assim.
Foi escrito por Felipe de Paiva Ries, aluno de um colégio de Brasília, no ano passado. Ele tem 13 anos.
Este contexto, então, vai nos mostrar, vai nos dizer que temos diferentes formas de olhar as questões.
10:44
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Quando eu olho...
Gente, eu estou apanhando aqui. Desculpem-me.
Acho que é o nervosismo, Dr. Zacharias. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Fique à vontade. Não tenha pressa.
A SRA. MARIA DO CARMO RIBEIRO ABREU - A emoção de estar neste lugar tão significativo vai tomando conta.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Obrigado. Fique à vontade. Não se preocupe, não.
A SRA. MARIA DO CARMO RIBEIRO ABREU - Está bem.
É porque deu esse branco, e eu não contava com ele.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Clique no eslaide abaixo.
A SRA. MARIA DO CARMO RIBEIRO ABREU - Vou abri-lo por inteiro. Agora vai engatar.
Eu sempre falo que sou da roça. Sempre passo por situações assim, mais intranquilas.
O que eu dizia é que, diante da pandemia ou de qualquer situação, quando olhamos para um objeto, para uma pessoa, para um acontecimento, segundo essa pesquisadora, a Kastrup, que é uma estudiosa de Deleuze, nós temos formas diferentes de enxergar. Na minha leitura, foi um texto que passou pelo meu corpo. Os senhores perceberam aqui agora: eu estou olhando uma situação nova. O que aconteceu? Eu me perdi, porque corporificadamente estou nervosa. Esse objeto é muito natural para mim, que é o falar — e tenho 55 anos de trabalho em educação —, é muito natural, mas a situação é nova. Então, a corporificação faz com que eu veja de forma diferente. Nesse sentido, nós vemos paralelamente: um olha para um lado, o outro olha para o outro lado, ou então fazemos um cruzamento transversal, que seria o melhor a fazer.
Para qual situação nós estamos olhando? Para a síndrome da gaiola. Nessa síndrome, como já foi dito, a porta está aberta, mas o adolescente não quer sair — e nós estamos tratando aqui especificamente dele —, ele quer ficar. Por quê? Porque, emocionalmente, o cérebro desse adolescente está contaminado, está doente, está travando o corpo. Ele sabe que pode ir, mas se mantém preso, e se mantém preso por uma série de questões.
Eu trago outra vez o pensamento de Deleuze: "O que nos faz pensar hoje nessa situação?". A Ângela Mathylde diz: "Ela já existe há mais tempo". Mas o que está nos forçando a pensar sobre a questão da síndrome da gaiola? Quando me coloco a fazer esse pensamento, não sei muito bem aonde isso vai dar, porque eu não tenho certezas para colocar aqui. Daí vem a pergunta: esse tópico, a pandemia e os jovens com síndrome da gaiola, esse medo de ir para a escola, o que ele nos força a pensar? Porque nós estamos forçados a pensar, forçados a agir neste momento. É forçado mesmo. Nós temos que fazer alguma coisa.
10:48
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Eu separei aqui três pistas, pensando nesse espaço da minha experiência e da minha vivência.
Da primeira pista as pessoas já falaram: houve uma mudança radical nos modos de vida com a pandemia. Vejam que foi uma bomba. Ela estourou assim. Vieram as perguntas: "Cadê meus pares? Cadê meus pais? Cadê meus encontros? Onde está essa vida do bem viver? Onde está, como falam os filósofos, a vida boa?". Eu fui arrancada, como adolescente, como adulto, como mãe, como pessoa, do lugar que eu ocupava e fui chamada a fazer um outro lugar. O caso é que essa mudança que nós estamos vivendo foi muito radical e é muito incerta: nós não sabemos o que vai ocorrer, porque é tudo muito novo. Isso cria uma angústia.
Daí vem para mim a segunda pista: o modelo de educação que nós temos está fadado ao fracasso. Até então nós tivemos um modelo de educação que primava pela cabeça, que primava pelo cognitivo, um modelo de educação que separa o afeto. Esse afeto precisa ser incluído, o que repercute também na questão da saúde. Eu não sou médica, eu não sou da área da saúde, mas sou uma pessoa, uma cidadã que utiliza a saúde. A saúde tem cuidado mais do corpo, do orgânico, do que da saúde mental. A saúde mental é cuidada pelas pessoas que têm condições econômicas para manter o trabalho por conta dela. Então, essa separação, que é o resultado da modernidade, tanto para a saúde quanto para a educação, ela nos cinde. Nós somos pessoas que parecem ter uma caixa de cognição. Aí o sentimento fica meio jogado, e é exatamente o que é importante.
Possíveis saídas: nós temos que ter o diálogo, um diálogo no sentido de ser capaz de ouvir o que o outro diz — não é falar da minha ideia; a escuta, esse sentimento de valorizar o que a pessoa fala, que é fundamental; precisamos dar tempo, precisamos de tempo, que não temos, porque somos acostumados a correr; precisamos ter um espaço para a solitude — não estamos acostumados também a nos envolver conosco mesmos, a silenciar, a fazer uma meditação, o que é fundamental, porque isso acalma, isso nos faz pensar pela intuição; e precisamos também nos esclarecer.
Para terminar, eu trago versos de Carlos Drummond, de quem gosto tanto: "O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas". Neste caso, as mãos dadas são no sentido do encontro, são no sentido do que nós vamos fazer concretamente, além de falar.
Anísio Teixeira, lá na década de 40, já dizia: "Cansa-me ouvir a fala, ler o texto. Eu preciso de ação". Então, é esse o dado.
10:52
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A Associação Brasileira de Psicopedagogia de Goiás está lançando um projeto, que se chama Reencontrar a Aprendizagem, com o qual vamos procurar trabalhar com esse lugar em que os alunos de baixo poder aquisitivo vão ter mais possibilidade de aprender.
Eu agradeço e peço desculpas pelo transtorno inicial. Ocorreu, passou, não tem jeito.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Nós é que agradecemos. É normal. Quando cheguei à Câmara, no primeiro mandato, vi aquele tanto de Deputados, quinhentos e tantos Deputados. Foi igual ao primeiro dia de aula. Eu me perguntei: "Vou me sentar onde? Do lado de quem?". Passamos por situações assim. (Risos.)
Muito obrigado.
Tem a palavra agora a Sra. Gabriela Judith Crenzel, também pelo prazo de 10 minutos.
A SRA. GABRIELA JUDITH CRENZEL - Olá! Bom dia a todos.
Dr. Zacharias Calil, é um enorme prazer estar aqui. Parabéns pela iniciativa! Eu estou maravilhada com a fala dos meus colegas de Mesa. Além de agradecer muito o convite, eu queria dizer a vocês que acho que este é um dos tantos passos para que juntos trabalhemos pelas nossas crianças e pelos nossos adolescentes.
Estou extremamente motivada, aqui no Rio de Janeiro, a dar continuidade a este trabalho. E vocês — tanto da Câmara dos Deputados quanto os demais colegas — fiquem totalmente à vontade para fazerem contato, para trabalharmos sempre em parceria, de mãos dadas, como disse agora a colega.
Faço um pequeno esclarecimento: eu sou Presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro. Na Sociedade Brasileira de Pediatria, eu sou membro do Grupo de Trabalho de Saúde Mental, mas no momento não sou eu a coordenadora.
Bom, muitas das falas que os colegas trouxeram de alguma maneira vêm ao encontro do que eu trouxe. Então, eu acho que, para otimizar o tempo em que nós estamos juntos e para colaborar mais com o debate, vou pontuar algumas questões que não foram ainda trazidas.
Em primeiríssimo lugar — e estamos todos de acordo —, estas são circunstâncias extraordinárias. Nós não estamos vivendo nada que se assemelhe ao que vínhamos vivendo nas últimas décadas, por mais que tenhamos passado, e passamos, por muitíssimas dificuldades. Para as nossas crianças e os nossos adolescentes, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social, financeira e familiar, essas questões gravíssimas só fizeram se aprofundar agora.
Eu vou trazer Freud e seu texto sobre a guerra e a morte, aquele pequeno texto que se chama Reflexões para os tempos de guerra e morte: "Esse sentimento que nós estamos vivendo quanto a esses males imediatos pode até ser desproporcionalmente forte, mas nós não temos o direito de compará-lo com males de outros tempos que ainda não experimentamos". Nós estamos diante do novo.
Eu me preparei para trazer para vocês nestes minutos que tenho a minha colaboração da melhor forma. O que é chamado aqui de "síndrome da gaiola" é conhecido em espanhol e em inglês como "síndrome da caverna". A caverna me dá muito mais esse sentido de estar num lugar escuro, profundo, com difícil contato com a exterioridade.
10:56
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Sair do isolamento é difícil. Cheguei a pensar — e inclusive li em um dos textos que encontrei — que até para quem está encarcerado e sai do presídio, muitas vezes, essa saída, esse regresso, mesmo que seja um status social de liberdade, de coisas desejadas, pode ser extremamente difícil, por causa da incerteza do que está por vir. Toda transição é muito complexa. Estamos falando desta transição: depois que fomos arrancados da nossa vida como era antes, precisamos voltar para a vida de que precisamos agora. Aos poucos e cada vez mais devíamos estar preparados para isso.
Há muito tempo para as escolas públicas faltam recursos — há muito tempo. O que foi sendo preparado para receber as crianças? Quantas escolas ainda não estão recebendo as suas crianças e os seus adolescentes? Estamos falando de um desgarramento ainda maior do ponto de vista social. Entre as escolas particulares, não conheço uma que não tenha voltado, mas muitas escolas da rede pública ainda não recebem crianças e adolescentes. Vamos ter que fazer um trabalho proativo, o de ir até os adolescentes, para eles voltarem para a escola. A evasão escolar vai ser muito maior. Não conseguimos imaginar, não conseguimos mensurar quantas crianças e quantos jovens são, que na verdade não estão em isolamento, até porque muitas vezes não têm nem onde ficar isolados direito, porque a situação domiciliar é precaríssima ou violenta. Essas crianças estão na rua, não estão na escola. Lembro que crianças e adolescentes vão à escola para ter seu espaço de ser, seu espaço de socialização, seu espaço de liberdade, muitas vezes, seu espaço de comer, de garantir a sua nutrição, de garantir o seu espaço de estar com seus pares de uma maneira muito mais enriquecedora.
Enfim, volto à nossa atual situação e a essa questão da síndrome da gaiola ou da síndrome da caverna. Vamos pensar o seguinte: quando falamos disso, estamos falando de um medo desproporcional. Haveria um medo irracional, um medo desproporcional. Gente, o medo está hoje muito relacionado a um fato real e concreto. Nós, Brasil, até o momento — e eu peguei os dados de ontem —, somente vacinamos o equivalente a 11,4% da população com as duas doses, e 27,5% da população com a primeira dose. Ainda estamos muito, mas muito longe de pensar que há uma irracionalidade nesse medo. Estamos num país em que muitas vezes vemos situações terríveis de superexposição ao risco.
O que temos que fazer hoje? É claro que precisamos levar as crianças e os adolescentes de volta para a escola, mas temos que encarar que o principal medo, o principal motivo dessa angústia é real. Não há uma superestimação do risco. O que sabemos e aprendemos muito mais é que este é um vírus extremamente contagioso, e não tão regularmente letal, mas que traz muitíssimos problemas e comorbidades de longuíssimo prazo.
11:00
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É importantíssimo saber que estamos diante de uma absurda quantidade, que um quarto dos nossos adolescentes tem ansiedade, tem depressão. Estamos diante de uma situação dramática em termos de saúde mental e emocional, mas não especificamente e somente a partir de medos irracionais, como poderíamos encontrar na categoria da síndrome da gaiola. Estamos diante de uma grande tragédia ainda, em função do atual e real risco e das preocupações que temos e que precisamos enfrentar, diante das dificuldades de uma pandemia que ainda está em curso. Precisamos, sim, ajudar hoje as crianças a saírem cada vez mais do isolamento. As escolas precisam, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista da capacitação, ajudar seus profissionais.
Quero saudar, aqui no Rio de Janeiro, todos os profissionais do ambiente escolar, todos os profissionais ligados à educação, que tiveram o seu dia de vacinação na semana passada.
Estamos cada vez mais próximos da volta das crianças e vamos recebê-las para acolhimento, vamos recebê-las para que elas se sintam pertencendo e para que elas se sintam cada vez mais tranquilas no meio desta "incertidão", principalmente em função das dificuldades, que são muito calcadas em coisas relacionadas à enorme vulnerabilidade e ao pouco espaço de cuidado que se vinha tendo com eles.
Ao longo desse tempo, tivemos muitas oportunidades para aprender a fazer diferente, a fazer melhor, como disse a colega, para termos cada vez mais a escola como um espaço de saúde mental, como um espaço de saúde emocional. Muito mais do que um espaço de transmissão de conteúdo, a escola é um espaço de cidadania, é um espaço de pertencimento, é um espaço de acolhimento em que as crianças e os jovens podem cada vez mais enfrentar o seu medo, a sua desesperança e perceber que não estão sós.
O que eu queria trazer a mais para vocês, quanto à questão específica das nossas crianças e dos nossos adolescentes é que, para eles, para todos nós, está sendo difícil, apesar dos enormes ganhos. Vejam vocês: aqui estão reunidos, através do aplicativo Zoom, pessoas que estão em diferentes espaços do nosso enorme Brasil, do nosso queridíssimo Brasil. Estamos aqui nos unindo e estamos, através da tecnologia, podendo fazer este trabalho conjunto. Mas, para eles, não é natural ter que evitar se tocar, ter que evitar o contato físico entre eles e aprender a respeitar este distanciamento.
Eu brinco com os meus pacientes. Muitas vezes, até para entender se estão conseguindo — eu tenho muitos pacientes que já estão frequentando a escola —, eu pergunto: “Quando você estica bem o seu braço, você consegue encostar na carteira do seu colega? Não? Então está ótimo”.
Esse olhar, essa tridimensionalidade — mesmo com a máscara, mesmo com o distanciamento físico — já está trazendo para eles um grande ganho de compartilhamento. Devemos entender que, se para nós adultos está sendo difícil, para eles é algo inimaginável não poder fazer contato físico. Devemos trazer para eles a dimensão de que isto é passageiro, de que isto é temporário, de que estamos todos juntos neste barco e que, uns apoiando os outros, mesmo não podendo dar um abraço físico, estamos caminhando juntos em direção a esta nova normalidade em que podemos nos apoiar, e nos acolher, e nos acompanhar, e nos compreender e caminhar para, futuramente, estarmos mais fortalecidos.
11:04
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Eu vou parando aqui. Depois nós fazemos a discussão.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Muito obrigado. Parabéns pela sua apresentação!
Passo a palavra agora para a Sra. Bianca Teixeira Rocha Gama Granado, pelo prazo de 10 minutos.
A SRA. BIANCA TEIXEIRA ROCHA GAMA GRANADO - Olá! Bom dia.
Queria começar agradecendo a todos pela presença. Eu me emocionei muitas vezes e me sinto honrada de estar aqui com vocês, de ouvir pessoas que admiro tanto e com as quais aprendo todos os dias.
Durante a fala de vocês, eu fui escaneando novamente o meu roteiro. Arrumei um novo começo e vou iniciar com a fala da Gabriela, que me emocionou muito, muito mesmo, quando disse que as circunstâncias são extraordinárias.
Eu considero que toda ação, toda atitude relacionada à educação é para o bem da educação, do professor, dos pais, dos alunos. É esse lugar em que estou hoje. Então, eu considero que essa atitude de proporcionar contato, de levar a educação para onde as crianças e os adolescentes estão, é muito positiva, é muito digna e nobre. Eu queria começar falando isso.
Inicio a minha fala com a seguinte pergunta: como as crianças e os jovens aprendem? Nós todos somos seres sociais, e as relações sociais são fundamentais para nos constituirmos enquanto sujeitos. Perdemos drasticamente essa socialização, porque o isolamento é necessário. Como as crianças aprendem? As crianças aprendem brincando, aprendem correndo, aprendem pela ação e pela construção de memória, pela vivência, pelas experiências no meio, com o outro. E os jovens? Os jovens são emoção pura, são intensos e precisam estar com o outro, precisam trocar. Isso hoje é o que está gerando maior insegurança nos jovens. Eles perderam esse espaço onde diluíam a insegurança, as incertezas. Eles perderam isso drasticamente.
Então, a escola tem que estar atenta aos jovens nesse movimento de buscar contato com eles e tem que estar atenta à escuta ativa. Eu falo muito sobre a escuta ativa, sobre o olhar atento, para saber como os jovens e as crianças estão lidando com a falta daquilo com que construíam os conceitos, as aprendizagens, as vivências e as experiências. Nessa escuta e nesse olhar atento, os professores, a educação precisa fazer o que a Dra. Ângela falou, eu acho: parcerias. Como são importantes as parcerias, como é importante ampliar esse espaço da escola, esse espaço em que se vai olhar para o aluno e se vai escutar o aluno. Esse não é mais só um espaço de aprender na pedagogia, é um espaço de cuidar do indivíduo como um todo. Então, entra muito a questão da saúde mental. Nesse momento, isso se ampliou muito nas instituições de ensino.
11:08
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Essa escola e esses professores têm que estar atentos a isso e ter essa parceria com as famílias, para também chamar atenção dos pais. São os pais que, abrindo um parêntese para falar deles, conhecem muito bem os seus filhos, sabem como eles são. Se os filhos estão o dia inteiro de pijama, caladinhos, com medo, às vezes, com uma dor no peito — não vou falar muito aqui dessas questões de manifestação —, alguma coisa está errada. Por quê? Porque a criança pula, brinca, mexe, coloca uma coisa dentro da outra, experimenta. O jovem quer sair, quer abraçar o colega, ou ele chora muito, ou fica muito alegre. Se isso muda, alguma coisa não está bem.
Acho que, em primeiro lugar, às vezes, o que os pais fazem é procurar a escola: "Vocês estão percebendo algo?" Ou é a escola que deve dizer: "Olhe, eu estou percebendo que seu filho não está abrindo a câmera. Quando abre, está sempre deitado. Não está entregando seus materiais, não está conversando, não tem mais aquele humor que ele tinha. Vocês estão percebendo isso também?" Tem que começar por aí.
As famílias, às vezes, são um pouco resistentes a procurar profissionais. Então, esse diálogo, acredito, tem que ser fortalecido. Tem, sim, que haver uma formação. Tem que haver políticas públicas. Tem que haver iniciativas privadas e públicas para desenvolver a capacidade das instituições e dos professores, para que saibam detectar, orientar essas famílias, inclusive, a buscar terapeutas ou a buscar criar dentro da sua própria casa momentos para conversar.
Um de vocês falou da importância do diálogo. Vamos conversar sobre outras coisas. Por quê? Porque as crianças e os adolescentes hoje têm na sua mãozinha os dispositivos e veem tudo o que precisa e o que não precisa, informações tristes, informações de amigos que, às vezes, perderam os pais ou amigos importantes da família. Mesmo que a família filtre, há essa tecnologia toda na mão. Então, a família e até a escola devem criar um espaço para conversar e ouvir, que eu chamo da escuta atenta, para poder levar outras questões para esse adolescente, para essa criança, que gerem outros tipos de emoções, proporcionando um espaço para diluir.
Antes o que existia era ir para a escola, encontrar, ir ao cinema, ir à festa. Agora isso não pode ser feito, e é necessário mesmo que não seja feito. Contudo, o que eu posso fazer dentro da minha casa? O que a escola pode fazer para o acolhimento dessas crianças?
O Conselho Nacional de Educação estabelece, nas suas políticas, que as escolas têm que se preocupar com isso, tanto com os pais quanto com as crianças e adolescentes. Isso está dito.
Alguém aqui falou também que as escolas privadas estão com as portas abertas e estão lutando. Eu reconheço qualquer atitude, qualquer ação, qualquer tentativa nobre. E, se, às vezes, o público ainda está fechado...
Fiquei muito feliz com o que Welington disse: que em Goiás se está estruturando esse programa. Eu fiquei muito feliz com isso. É um programa para formar pessoas que vão até as escolas dar esse suporte de formação para as instituições e para os professores. Consequentemente, estes vão dar suporte para as crianças e para as famílias. Eu vejo que tem de ser criado um pacto entre a instituição, os pais, as políticas públicas e os próprios alunos com o mesmo objetivo, que é cuidar dessa comunidade, cuidar dessas crianças, porque aqui nós estamos falando da síndrome da gaiola, que as crianças têm esse medo.
11:12
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Como uma profissional que está sempre dentro da escola... (Pausa.)
Alguém está falando comigo ou quer fazer alguma pergunta?
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Alguém deve estar com o som ligado.
A SRA. BIANCA TEIXEIRA ROCHA GAMA GRANADO - Desculpem-me, então vou prosseguir.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Pode prosseguir.
A SRA. BIANCA TEIXEIRA ROCHA GAMA GRANADO - O.k. Eu me perdi um pouco e vou retomar com o meu roteiro. Talvez eu retome de um outro lugar, mas com os mesmos objetivos, para fazer o fechamento.
O que eu quero dizer é que o pacto são todos cuidando para manter o isolamento, sim, com toda a segurança, mas cuidando da saúde mental de todos, de todas as pessoas que estão envolvidas, criando esses espaços para dar segurança e também acolhimento.
Retomo depois, ao final, pois nós temos um horário.
Com essa interferência, eu me perdi um pouco no meu roteiro, mas espero ter deixado minha mensagem, que é: reconhecer toda ação que eu vejo que é nobre da educação. É isso que eles têm feito às vezes sem saber tudo, mas tentando o melhor de si para ajudar as crianças, as famílias e os adolescentes. É isso que eu faço hoje ao ir até as escolas e vejo que é real. Muitas crianças estão sofrendo, estão com medo, estão tendo crise de ansiedade muito grande por medo de estarem em contato com seus colegas e levarem a doença para casa ou até mesmo de se contaminarem.
Então, essa ação conjunta é extremamente importante para esse retorno, para se restabelecer a educação.
É isso.
Obrigada pela oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Nós que lhe agradecemos.
Como começou a Ordem do Dia, teoricamente teríamos que encerrar, mas vamos dar prosseguimento.
Agora eu tenho 10 minutos para fazer comentários, para falar.
Realmente, o que nos fez abrir esta audiência pública foi o que eu tenho vivido no dia a dia. No meu consultório, eu observo as crianças, os pais e aprendi muito em relação a isso.
Eu vejo crianças que moram em apartamento. Desde o ano passado, quando começou essa pandemia, elas não podiam descer para a área de lazer, usar a piscina, usar o campinho e ficavam na Internet. E elas ouviam só notícias ruins, porque os telejornais só abrem com notícias da pandemia. Então, eu vejo isso aí com uma grande preocupação.
11:16
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Eu tenho cinco netos, dois adolescentes, pré-adolescentes, eles estavam desesperados. A pandemia modificou até o setor imobiliário do Brasil. Morar em casa passou a ser um diferencial, porque você tem contato com outras crianças, contato com outras pessoas, em um ambiente mais aberto. Então, houve uma valorização do mercado imobiliário. Os apartamentos entraram em queda e as casas aumentaram de valor –– e quando acha alguma, porque não se estava achando.
De repente, vem esse lockdown. Hoje mesmo, eu estava ouvindo no rádio que Araraquara, uma cidade que foi um exemplo no Brasil, fez o lockdown, fechou tudo, ficou tudo de boa, mas agora se tornou uma das cidades de maior preocupação devido à reagudização, por assim dizer, da pandemia.
Hoje mesmo, nós estávamos fazendo um procedimento cirúrgico, conversando com um colega, falando desta audiência, e ele me disse: "Rapaz, eu não sei mais, porque saímos cedo de casa, somos cirurgiões, e só voltamos à noite... Meu filho fica das 7 da manhã às 7 da noite, sentado lá em frente ao computador. Eu não sei se ele está assistindo filme, eu não sei se ele está conversando com os amigos, se ele está em aula".
Há uma série de fatores com as crianças. Esta semana mesmo, um pai me relatou que seu filho foi para a aula, em uma escola particular, e teve que buscá-lo, a criança estava com síndrome do pânico. "Com 11 anos de idade, meu filho está passando mal." "O que houve?" Ele é médico. "É o de sempre, ele chega lá, começa a ter sudorese, taquicardia, palidez, náusea, vômito, e eu tenho que buscá-lo e levá-lo para casa." Eles estão com medo, medo de sair de casa.
Esta semana, anteontem, eu estive aqui em Goiânia com o nosso Governador, o Ministro da Saúde, o Prefeito de Goiânia e o Secretário de Saúde do Estado e do Município. Eu disse: "Ministro, nós não temos mais condições de manter essas escolas fechadas. Além do fator emocional, nós temos também o fator nutricional e a saúde mental dessas crianças. Há essas famílias mais humildes, esses meninos estão aí, os pais têm que trabalhar, não têm onde deixar essas crianças". Há a questão da alimentação nutricional balanceada. Eu disse: "Governador, nós temos que tomar uma providência e abrir essas escolas agora no segundo semestre".
A saúde e a economia são gêmeas siamesas inseparáveis. Disso eu entendo muito bem, de gêmeas siamesas. Quem me conhece sabe disso. É muito preocupante a situação. Inclusive, eu ouvi dizer que, na minha cidade, a incidência de suicídios entre adolescentes está muito alta. Nós temos discutido isso na Câmara, no Setembro Amarelo. Como disse no início, é uma coisa muito preocupante. Eu tenho aqui casos recentes, de pessoas ligadas à nossa família, de um menino de 11 anos que pulou do prédio.
Eles têm uma visão totalmente diferente da nossa. A mente deles ainda é imatura, um pequeno problema vira uma situação catastrófica para eles. "Será que eu perdi agora toda a minha motivação? E tudo isso que vemos, que mostram esses telejornais infelizmente?" A grande maioria mostra só a quantidade de mortes no País. E vemos os casos de pessoas próximas a nós ou próximas a todos que perderam entes queridos. Vem a síndrome do luto aí. Os pacientes ou as crianças não entendem, mas eles ficam em depressão. E há os sinais de alerta que nós temos que sempre perceber.
11:20
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As escolas não estão preparadas para esse tipo de patologia que a criança, às vezes, apresenta ali, naquele momento. E eu digo o seguinte: no Brasil, infelizmente, as escolas precisam se preparar mais para o aluno. Isso porque a grande maioria fala que o aluno tem que se adaptar à escola. Mas nem sempre isso é verdade, não é, Dra. Ângela?
A escola também tem que ter a sua missão de diagnosticar, por exemplo, o autismo — como ela bem disse — na sua fase inicial, na sua fase precoce, porque às vezes os pais em casa não têm condição de ficar ali o dia inteiro...
E, conforme o Dr. Guilherme também falou, nós precisamos de políticas públicas de saúde nas escolas, porque a pandemia nos ensinou algo novo. Houve uma mudança de comportamento geral, em todos os sentidos. Ela mudou totalmente a nossa vida. Hoje, por exemplo, eu deveria estar aí na Câmara, e estou em Goiânia participando de uma reunião tão importante quanto esta.
Quem vive o problema sabe realmente a necessidade que têm esses adolescentes de ter um acompanhamento, de ter uma condição de saber que aquilo ali é uma coisa que não é real. E há os casos de criança com essa síndrome da gaiola, que eu relaciono diretamente com a síndrome do pânico: se alguma já tem um estado de ansiedade maior, ela vai piorar.
Muitos procuram também tratamentos. Eu conheço pessoas próximas a nós também, como uma criança de 11 anos, que está fazendo o uso de medicamentos, porque não consegue controlar sua ansiedade.
Então, eu vejo que isso tem uma importância muito grande.
Eu vi uma reportagem do Estadão, de abril, da jornalista Renata Cafardo. Eu até gostaria de parabenizá-la e de parabenizar o próprio jornal O Estado de S.Paulo, porque ele tem feito um trabalho muito importante na sociedade. Eu leio esse jornal praticamente todos os dias. Muitas coisas nos inspiram a trabalhar em cima dos temas que são apresentados, a seriedade, a comprovação científica, pessoas como vocês, que nós convidamos para participar desse debate. Eu acho isto muito importante: trazer pessoas com conhecimento.
Existem muitas fake news e uma série de coisas, mas é um jornal com o qual eu não tenho conflito de interesse nenhum. Não conheço quase ninguém lá, mas eu o leio exatamente por isso. Eu até convidei a Renata, que também não conheço. Pedi à minha Assessoria que entrasse em contato com ela, porque, se ela pudesse assistir a esta audiência, seria muito importante. Inclusive, ela citou o estudo de um grupo de pesquisadores de 20 universidades americanas que analisou estudantes dos Estados Unidos, Peru e Holanda. O estudo mostrou que os sintomas de depressão aumentaram 28% em 6 meses de pandemia. Foram acompanhados 1.339 estudantes, de 9 a 18 anos, antes e depois da COVID.
11:24
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Então, eu acho importante nós considerarmos, sim, a saúde mental dos adolescentes também como um incentivo para a volta das aulas presenciais, principalmente nas escolas públicas.
Eu ouço muita gente dizer: "Doutor, mas você votou contra, acha que professor não é atividade essencial, portanto não deve ser incluído no grupo para vacinação". Respondi: "Não, eu não votei contra". Essa atividade essencial já existe e ela é constitucional. Não adianta você fazer uma nova lei.
Agora, houve um atraso na vacinação, e o Governo está correndo atrás. Por quê? A vacinação realmente é o melhor meio, hoje, para que nós nos sintamos mais protegidos e para que diminua também o índice de transmissão.
Então, era isso que eu gostaria de dizer. Queria deixar esse recado para vocês.
Agora vamos dar prosseguimento aqui. Deixem-me ver aqui, senão eu também me perco.
Eu não sei se há algum Deputado inscrito. Acho que não há.
Eu gostaria de passar agora às considerações finais.
Concedo a palavra ao Sr. Wimer Bottura, pelo prazo de 5 minutos, para as suas considerações finais.
O SR. WIMER BOTTURA - Quero, primeiro, parabenizar todos os demais companheiros da Mesa. Aprendi bastante os ouvindo.
Quero parabenizar o senhor, Deputado, por ter organizado e nos dado essa oportunidade para discutirmos esse tema. Eu entendo que esse tema é uma porta de entrada. Embora o tema seja síndrome da gaiola, medo de sair, esse tema, na verdade, é uma porta de entrada para reflexões mais profundas sobre as questões de família, as questões de educação e as questões de comunicação, que eu entendo como fundamentais.
É importante entender que nós estamos falando aqui de crianças, mas existem crianças em situações de muitos tipos. Por exemplo, existem famílias que são privilegiadas no aspecto de diálogo, e essas crianças vão ter menos problemas. As pesquisas mostram que nas famílias em que há diálogo verdadeiro, quando os pais ouvem os filhos, escutam e pensam sobre o que os filhos dizem, os filhos se desenvolvem com mais habilidade, com mais repertório, para resolver problema, têm mais autoconfiança.
Infelizmente o que acontece? O isolamento proporciona o quê? O filho que é privilegiado, de uma família privilegiada nesse aspecto de comunicação... E não falo no aspecto financeiro de escola, porque muitas vezes isso que se chama de elite não é elite, no sentido de elite de essência, então, muitas vezes, na família de muita posse não existe escuta.
Então, nós temos o seguinte: a criança colocada num ambiente favorável, muitas delas, e outra, num ambiente que já é ruim, em que não há a escuta, em que os pais não se dão, ou em que há violência, há desrespeito. Eu digo que nós só estamos falando de duas situações.
11:28
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Infelizmente, as coisas mais graves vão acontecer exatamente onde nós precisamos entrar para ajudar, e, muitas vezes, não conseguimos. Muitos pais que tratam o pânico, a depressão como frescura, como uma fragilidade, às vezes, omitem e escondem. Então, nós precisamos chegar a essas pessoas. Essas pessoas precisam se fazer ouvir. O isolamento gera uma escalada de problemas. Então, nós temos que intervir mais nessa situação.
Eu gostei muito da fala da Dra. Ângela. Ela falou da queda, caída das máscaras. Muitas máscaras estão caindo, máscaras da família, máscaras da sociedade, máscaras da ciência, porque hoje a ciência está vulgarizada –– fala-se em ciência de uma forma dogmática. Então, muitas máscaras estão caindo. Hoje, quase todo mundo sabe um pouco o que é vacina, sabe um pouco o que é isso e aquilo, mas sabe um pouco. Precisamos saber mais, aprofundar mais.
Por isso eu digo e com isto encerro a minha fala: o mais importante em um projeto desses, em uma situação tão caótica que a sociedade vive, um fato novo, desagradável, perigoso, é que nós nos dediquemos a procurar compreender as causas, o mecanismo que gera tudo isso, ao invés de eleger culpados.
Em síntese, é isso.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Obrigado pelas suas explanações.
Concedo a palavra ao Dr. Guilherme Polanczyk, pelo prazo de 5 minutos, também para as suas considerações finais.
O SR. GUILHERME POLANCZYK - Mais uma vez, Deputado, eu gostaria de agradecer o convite e parabenizá-lo pela sua sensibilidade em perceber as necessidades da população, estar sintonizado com elas, ao propor esse tema que é bastante relevante do ponto de vista social.
A saúde mental, como eu explanei, é um problema muito frequente. Os problemas de saúde mental são muito, muito frequentes. Na maior parte das vezes, eles se iniciam na infância, na adolescência, perduram ao longo da vida e têm um impacto muito grande em termos da sociedade, de uma forma geral.
Quando nós falamos da saúde mental das crianças e dos adolescentes — e aqui eu não estou falando só do extremo da curva, das crianças com doenças, com transtornos mentais, mas também daqueles com problemas, com sofrimento, com conflitos —, quando estamos falando disso, nós estamos falando do futuro do nosso País. Quando nós falamos da educação, do cuidado com a criança, nós estamos falando do cuidado e do investimento que nós estamos tendo no futuro do nosso País.
Realmente, os transtornos mentais refletem inúmeros problemas em diferentes camadas, sociais, econômicas, na configuração das famílias, uma série de questões. Agora, com a pandemia, como os colegas mencionaram, uma série de estressores, de fatores, intensificaram essas situações já presentes antes. Agora, realmente, todos estamos vendo isso de uma forma muito evidente, todos em casa. E há outro indicador, a recusa a voltar à escola. Todos realmente estão vendo esses problemas crescerem.
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O senhor mencionou o suicídio, que é uma questão dramática e o reflexo mais forte que nós podemos ter sobre o problema da saúde mental. E realmente é um problema crescente. Nós estamos falando de pessoas que se matam ou de pessoas que permanecem vivas, mas com vidas muito difíceis ao longo de todo o tempo e transmitindo esses problemas para as próximas gerações.
Então, esse realmente é um tema de altíssima relevância, ao qual nós na saúde não vemos toda a atenção devida. Existem serviços muito, muito escassos. Se nós formos pensar nos hospitais para crianças e adolescentes gravemente afetados, veremos que eles são absolutamente escassos. Na nossa unidade de internação psiquiátrica, nós recebemos diariamente medidas compulsórias da Justiça para internação de casos sociais, econômicos, situações de violência gravíssimas, restringindo ainda mais a disponibilidade de cuidados para outras crianças, outros adolescentes. Esse é um problema muito, muito grave, e nós temos pouquíssima possibilidade de mudá-lo, porque envolve questões mais amplas, sociais, econômicas e políticas.
De novo, eu parabenizo o senhor por sua sensibilidade, por realmente identificar e perceber o tamanho desse problema e a importância que tem para esta geração e para o futuro da nossa Nação.
Eu queria encerrar enfatizando um aspecto que todos os colegas mencionaram, que é a união e a articulação entre a saúde, a escola, o poder público, a Justiça.
Nós estamos frente a um problema complexo, uma criança que tira a própria vida. Por trás disso, há questões complexas em diferentes domínios, desde culturais mais amplos até a da relação familiar e violência mais próxima. E para problemas complexos nós não temos soluções simples. Nós precisamos de soluções complexas. Nós precisamos da articulação de todos os setores da sociedade envolvidos no cuidado da criança e do adolescente.
Nós da área de saúde vemos que nos é muito pouco possível mudar alguma coisa quando damos alta para uma situação como essa. Nós precisamos de fato articular um serviço social com a escola. E um trabalho conjunto e continuado é o que de fato possibilitará um atendimento adequado às crianças hoje doentes. E que nós possamos promover a saúde mental e prevenir que novas adoeçam no futuro.
Mais uma vez, muito obrigado pela oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Muito obrigado. Parabéns por sua apresentação! Espero que mais à frente nós possamos contar com suas orientações, que são muito importantes e pertinentes. Vamos ver se em setembro fazemos nova audiência com relação ao Setembro Amarelo, que é o alerta à sociedade, para que possamos discutir esse assunto também com mais profundidade.
Agora, eu concedo a palavra ao Sr. Welington Marques de Lima, pelo prazo de 5 minutos. Ele está presente? (Pausa.)
Então, vamos passar a palavra agora para a Sra. Ângela Mathylde, para suas considerações finais.
Dra. Ângela, a senhora tem 5 minutos. Seja bem objetiva.
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A SRA. ÂNGELA MATHYLDE SOARES - Um dos sintomas dessa síndrome é a questão do voltar a ser como era: "Queria que tudo voltasse ao normal". Não existirá mais esse normal que nós temos de registro afetivo em nossas vidas, isso não vai acontecer mais. Então, o que nós precisamos fazer? Nós precisamos reorganizar, e a reorganização precisa de comprometimento.
Então, é como o senhor tem feito: chamado as pessoas às responsabilidades do local de que está falando. De qual lugar eu estou falando? Eu estou falando da educação, o senhor está falando das políticas públicas, o nosso amigo está falando da medicina, cada um aqui está falando de um lugar de muita importância. Esse normal não existirá. Mas uma questão bem planejada da saúde, da educação e de todas as áreas que competem deve ser necessária e imediata.
O fato de estarmos aqui hoje discutindo essa temática me dá muita alegria, porque esse é o início. É preciso começar de algum lugar. E ouvir todos esses colegas falando nesse potencial é algo muito grande. Então, nós temos que falar para a saúde que ela tem portas abertas, que ela não está engaiolada; para a ciência, a mesma coisa; para a educação, a mesma coisa. Nós não estamos engaiolados. Não, nós estamos silenciados. Isso é o pior.
Eu estou neste momento podendo colocar o que eu quero dizer, que o nosso cérebro é histórico e é social. E o histórico e o social o deixam afetivo, cognitivo, responsivo. O que nós precisamos, então? Precisamos dar a esse ambiente histórico história estruturada, vivência significativa, educação de qualidade, acolhimento. Aí sim nós teremos o que o senhor começou a estartar hoje, um diálogo assertivo.
Eu fico muito feliz.
Muito obrigada pela oportunidade. Espero ter contribuído.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Nós que lhe agradecemos.
Agora, eu gostaria de passar a palavra à Sra. Maria do Carmo, para suas considerações finais, por 5 minutos.
A SRA. MARIA DO CARMO RIBEIRO ABREU - Agora eu não tenho eslaides, por isso não vou me atrapalhar.
Novamente, eu gostaria de parabenizar o senhor pela iniciativa. Deixa uma esperança muito forte saber que pessoas que têm poder de decisão estão envolvidas para fazer, abrir janelas, abrir espaços para o pensar. E eu volto àquela pergunta que eu fiz lá nos eslaides: o que essa síndrome da gaiola nos força a pensar? E eu acrescentaria: o que essa síndrome nos força a sentir? Como ela nos força a agir?
Nesse sentido, Dr. Zacharias Calil, eu vejo esta audiência como uma possibilidade de força conjunta. O coletivo que aqui se pôs, de diferentes lugares e áreas do conhecimento, há de se integrar, porque nós não podemos mais continuar vivendo, nesse período de tecnologias que nos unem na distância, isoladamente nos nossos trabalhos de estudo, de pesquisa, de atividade. A minha grande esperança, a minha grande fé na humanidade, neste período de pandemia, é o encontro, a capacidade de se engajarem movimentos que sejam capazes de resolver, em parte, a questão educacional. Venho falando desse lugar, que é o meu, que há muito vem capengando.
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Nós precisamos de uma educação com justiça, de uma educação que ensine as pessoas a conviverem. O conhecimento está distribuído pela Internet, mas as relações humanas, a convivência não está dada. É preciso que ela seja experienciada. Eu preciso me deixar afetar e fazer afetar o outro pelas minhas relações afetivas. Sem essa possibilidade, nós vamos continuar separados. Há quanto tempo estudiosos, pesquisadores têm dito: "Nós precisamos trabalhar com a transdisciplinaridade, esse lugar de produzir um conhecimento diferenciado do que está posto, para o bem dos nossos adolescentes, para o nosso bem".
Nesse sentido, eu só tenho a agradecer. Fico muito, muito feliz, Dr. Zacharias Calil, pela iniciativa do senhor, ainda mais sabendo que o senhor é da minha terra. A atuação do senhor é daqui. Isso nos orgulha. Dá prazer saber que essa iniciativa tão profícua parte de uma cabeça que foi forçada a pensar. O senhor disse que ela se originou da reportagem, porque já estava com ela antes, mas o senhor agiu. E parabéns por isso!
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Eu que lhe agradeço.
Passo a palavra agora à Dra. Gabriela, para suas considerações finais.
A SRA. GABRIELA JUDITH CRENZEL - Assim como meus colegas, não posso deixar de parabenizá-lo, Deputado Dr. Zacharias, pela sua sensibilidade, pela sua iniciativa, pela oportunidade que está nos dando e a quem irá nos ouvir ou que já nos ouve.
Que isso seja mais um passo nesse caminho de ampliação da rede de cuidados, como o Guilherme falou. Temos que estruturar e ampliar. Somos muito poucos os especialistas em saúde mental da criança e do adolescente. Os espaços de atendimento, os espaços terapêuticos estão muito aquém das necessidades da nossa população. Se já estavam antes, quanto mais agora! Mas há oportunidade de que as escolas hoje sejam cada vez mais valorizadas como espaço de cuidado, como espaço de acolhimento. E vamos acolher os profissionais que trabalham na escola, não só os professores mas também toda a equipe, desde a pessoa que faz a faxina até o inspetor. Todas essas pessoas, muitas vezes, funcionam como âncora, como possibilidade de muitas crianças se sentirem acolhidas, vistas e olhadas.
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Mais uma vez, trazendo a fala do Guilherme, é claro que não existe solução simples para problemas complexos. Estamos diante de um problema mais do que complexo, mas não somos poucos os que estamos pensando nele, não somos poucos e não são poucas as áreas que estão se juntando e buscando ir ao encontro uma das outras para que façamos o melhor pelas nossas crianças e adolescentes.
Pensando um pouco mais no tema-chave deste nosso encontro, da síndrome da gaiola, veio-me à cabeça Charles Dickens, romancista inglês, que dizia que o homem é um animal de hábitos. Então, depois de tanto tempo habituadas a não se encontrarem, habituadas a não irem para a escola, habituadas a não descerem para o play, habituadas a não se encontrarem com outras crianças e adolescentes, faz todo sentido as crianças estarem se sentindo ambivalentes, ansiosas e angustiadas. Alguém falou do medo de encontrar finalmente o seu amigo, do enorme medo de levar o vírus para dentro de casa, infectar e matar o vovô! Então, há essa ambivalência.
De alguma maneira, as crianças e os adolescentes são acolhidos e compreendidos. Que eles saibam que isso que estão sentindo não é um problema exclusivo deles, que isso é normal, que é esperado, que, inclusive, a ambivalência é algo da nossa humanidade. Ajudemos as crianças a entenderem que, se por um lado, não aguentavam mais não se encontrar com seus amigos, é natural que também tenham medo do que esse encontro possa vir a significar. Na verdade, nesses medos todos — medo da solidão, medo da desconexão, medo do reencontro —, se estivermos juntos, tomando cuidados, sabendo que não se está fazendo algo precipitado, mas que há todo um planejamento, que os adultos estão trabalhando para isso, de alguma forma acolhendo, acompanhando e ajustando o curso à medida que vai acontecendo, teremos muita esperança.
Vamos ajudar as crianças a voltarem a ter esperança de encontrar. Não haverá o regresso ao status social anterior, porque não há mais — o anterior não está aí mais —, mas há possibilidades, há coisas boas a se viver, há maneiras boas de se relacionar neste novo momento, mesmo que não se tenha certeza absoluta, porque não teremos. Como disseram mais cedo, o nosso inimigo é invisível. Por isso, nós estamos usando álcool em gel, estamos evitando botar a mão no olho, estamos colocando máscara. Mesmo assim nos perguntamos: "Será que eu peguei o vírus?" Vamos tentar reduzir esse risco ao máximo. Certeza disso não teremos, mas estamos trabalhando todos para que o risco seja minimizado e possamos aproveitar da melhor maneira essa volta à convivência. Essa é uma necessidade mais do que imediata de que aconteça já.
Como dizíamos, se é síndrome da gaiola, se é estresse pós-traumático, se é ansiedade, se é depressão, seja qual for o nome técnico que dermos, as crianças e os adolescentes em profundo sofrimento estão precisando desse movimento. E eles dependem de nós adultos; dos senhores, a partir das ações políticas; de nós, da saúde; dos profissionais da educação; de todos unidos para o bem-estar e para reencontrar a esperança de dias melhores, que precisam vir.
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Era isso.
Obrigada, mais uma vez.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Eu agradeço muito a sua participação, que foi muito esclarecedora.
E agora concedo a palavra à Sra. Bianca Teixeira Rocha Gama Granado.
Acho que agora deu certo. A senhora gostaria de falar agora? Houve uma confusãozinha, mas chegou o momento.
A SRA. BIANCA TEIXEIRA ROCHA GAMA GRANADO - Eu quero começar agradecendo a sua iniciativa, o movimento, porque, às vezes, nós vemos uma situação, e não agimos. E aqui houve uma ação, uma movimentação, uma escolha de pessoas maravilhosas. Esse encontro foi muito potente, pelo menos para mim, muito mesmo.
Quero começar dizendo o quanto nós precisamos, repito o que todos têm dito aqui, ajudar o outro, o outro próximo, pelo menos, quem está do nosso lado –– se estamos na educação, o professor que está do nosso lado, a criança que está do nosso lado; e o quanto nós precisamos ajudar o maior número de pessoas possível com esse diálogo, com essa necessidade que nós estamos trazendo aqui, hoje, os nossos pontos de vista.
Sigo dizendo o seguinte: não há tempo de nos prepararmos de forma profissionalizante e depois atuarmos, mesmo porque não sabemos o que vai acontecer daqui a pouco, amanhã, depois. O que nós temos que fazer? Temos que atuar na urgência, preparando-nos o tempo todo, buscando o tempo todo essa troca. O que nós não podemos fazer é paralisar, paralisar dentro da "gaiola" do professor.
O que a Dra. Ângela falou eu achei maravilhoso. Depois, eu quero saber mais sobre isso. Conte-me onde eu leio sobre isso. Diga-me alguma coisa. Adorei! Sim, há muitos profissionais dentro da gaiola. Muitos professores também estão com medo, mas, mesmo com medo, a maioria foi, a maioria agiu, movimentou-se.
Infelizmente, não há tempo para ficar esperando a formação para agir com toda fundamentação. Que fundamentação é essa que não vai nos preparar para o que está por vir? Nós não sabemos. Não há mais como nos prepararmos para o que era, porque não é mais. Então, nós temos que agir, tomar consciência, escutar, ouvir, fundamentar, ir atrás de pares, de parcerias, agir sempre. O que nós não podemos é ficar parados. Por que digo isso, gente? Porque temos que agir urgentemente. Nós temos que nos preocupar com as crianças que estão vivendo em situação de vulnerabilidade por vários motivos: por estarem vendo agressões em casa, abandonos, máscaras caindo, algo que a Dra. Ângela também mencionou. E aqui estamos falando das máscaras domésticas, do relacionamento que eu pensava que era lindo, e estou vendo que não é, pois existe o alcoolismo, o uso de drogas, a briga, o abandono, um abandono sofisticado, articulado. Em todas as classes sociais existem os mesmos problemas: álcool, drogas. Antes, as crianças estavam na escola, e a escola podia perceber algo e dialogar com a família. Agora, não temos mais a escola. Por isso, precisamos agir urgentemente.
A síndrome da gaiola existe, sim. Não é preguiça, não é comodismo das crianças quererem ficar em casa, deitadinhas na cama. É medo, é ansiedade, às vezes é pânico. Deputado Dr. Zacharias Calil, como o seu amigo falou, a mãozinha gela, o coraçãozinho dispara, a respiração fica ofegante, e isso acontece porque eles não têm as ferramentas que nós temos. Quantas vezes nós, aqui também, passamos por uma situação dessas: "Nossa, eu tive contato com uma pessoa que estava com COVID, e agora eu tenho que ir para casa!" Isso também nós dá um gelo, mas nós temos estruturas internas que nos ajudam a lidar com isso, e a criança não tem. Portanto, é urgente, sim, ajudarmos os próximos e fazermos esse tipo de movimento.
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Eu estou muito honrada pelo convite e muito feliz de ter aprendido com os senhores e de estar aqui conversando sobre esse assunto.
Era o que eu tinha a dizer.
Muito obrigada! Expresso minha gratidão. Obrigada, Dra. Ângela.
O SR. WELINGTON MATOS DE LIMA - Deputado Dr. Zacharias Calil, o senhor me permite?
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Pois não, é claro!
O SR. WELINGTON MATOS DE LIMA - Eu estou me deslocando para uma das unidades socioeducativas aqui de Goiás, porque eu tive um problema com um menor que está cumprindo medida socioeducativa.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Sim, pois não.
O SR. WELINGTON MATOS DE LIMA - Mas eu gostaria de agradecer o convite e a oportunidade de participar do evento. Infelizmente, eu não consegui finalizar com os senhores.
Quero também pedir desculpas à nossa colega por ter atrapalhado a fala dela naquele momento. Ela acabou perdendo um pouco o raciocínio...
A SRA. BIANCA TEIXEIRA ROCHA GAMA GRANADO - Imagine, não por isso! Eu é que peço desculpas!
O SR. WELINGTON MATOS DE LIMA - Mas foi ótima a sua fala, Bianca, obrigado! Desculpe-me!
O meu compromisso aqui, Deputado Dr. Zacharias Calil, é levar este assunto, é levar este tema da síndrome da gaiola, mas também outras questões de saúde mental, de vícios contraídos durante a pandemia, a questão do luto, a questão da orfandade, da violência doméstica, da vulnerabilidade financeira das famílias neste momento, e compartilhar este tema com outros colegas de outras Pastas — educação, saúde, segurança pública —, para que nós possamos avançar também numa solução rápida ou numa solução. Uma solução é complexa, mas o nosso objetivo será este: fazer o compartilhamento e buscar ações efetivas realmente. Com certeza, o senhor também será convidado a participar desse debate.
Eu agradeço e peço desculpas, pois houve um problema sério, realmente, que eu preciso resolver agora.
Desejo um bom dia a todos!
O SR. PRESIDENTE (Dr. Zacharias Calil. DEM - GO) - Nós é que agradecemos! Entendemos perfeitamente a situação.
Nada mais havendo a tratar, nós vamos encerrar os trabalhos, antes convocando para quinta-feira, dia 22 de junho, às 14 horas, reunião deliberativa extraordinária de audiência pública, com tema a ser divulgado posteriormente.
Eu agradeço imensamente a todos os senhores a presença. A reunião foi muito produtiva, e tivemos uma grande audiência. Muito obrigado.
Está encerrada a reunião.
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