2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56 ª LEGISLATURA
Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar o Enfrentamento à Pandemia da Covid-19 no Brasil
(Imunidade de Rebanho na Pandemia de Covid-19)
Em 28 de Outubro de 2020 (Quarta-Feira)
às 9 horas e 30 minutos
Horário (Texto com redação final.)
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O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Bom dia a todos.
Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro, declaro aberta a 88ª Reunião da Comissão Externa de Enfrentamento à COVID-19 no Brasil.
Na Ordem do Dia está o debate sobre a imunidade de rebanho por transmissão na pandemia da COVID-19.
O requerimento é de autoria do ex-Ministro da Saúde, Líder do Governo, o Deputado Ricardo Barros.
Participarão conosco, no Plenário 3 da Câmara dos Deputados, o Deputado Ricardo Barros, que está ao meu lado; como convidado, o Dr. Anthony Wong, Diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP e Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Toxicológicos e Farmacológicos; a Dra. Nise Yamaguchi, imunologista e oncologista e Diretora da Sociedade Brasileira de Cancerologia e da Associação Brasileira de Mulheres Médicas, que faz parte da World Prevention Alliance; o Dr. Paolo Zanotto, virologista e professor do Departamento de Microbiologia da USP; e o Dr. Alexandre Chieppe, médico sanitarista da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
Eu quero iniciar dizendo da importância, neste momento da pandemia principalmente no nosso País, Ministro, da oportunidade de discutirmos a imunidade de rebanho, de que muito se fala e de que muitas pessoas não têm conhecimento. Vemos hoje os números de casos e os números de óbitos caindo no nosso País. Então nós já sabemos que isso vem acontecendo, e eu acho que é muito oportuna esta discussão aqui, e o autor do requerimento é o senhor.
Por isso, eu passo a palavra ao Ministro Ricardo Barros.
O SR. RICARDO BARROS (Bloco/PP - PR) - Bom dia a todos.
Primeiramente, saúdo o servidor público. Hoje é o Dia do Servidor Público. Eu sou servidor público. Fui Secretário de Indústria e Comércio, fui Prefeito, fui Ministro. Então nós dependemos da qualidade, do empenho, da garra e do conhecimento do servidor público para poder avançar na nossa tarefa de servir à comunidade e especialmente de atender aos que mais precisam do Governo, àqueles que sozinhos não podem resolver os seus próprios problemas e precisam que o Governo aja em favor de suas necessidades.
Eu fiz este requerimento, Deputado Dr. Luizinho, e agradeço aos que estão inscritos para debater.
Eu queria debater, em especial, a imunidade de rebanho por transmissão, volta à normalidade. Esse é o tema. Nós estamos vendo a segunda onda de infecção, transmissão do vírus na Europa. Todas as medidas de recuperação econômica tomadas vão por água abaixo, começa tudo de novo. É muito caro este modelo. Eu pessoalmente acredito que nós deveríamos retomar totalmente a normalidade da sociedade, fazer o isolamento vertical, ou seja, só idosos e imunodeprimidos terem cuidados especiais, e, desta forma, nós adquiriríamos a imunidade de rebanho, encerraríamos a epidemia e faríamos um plano de retomada econômica sustentável, no médio e longo prazos. Não correríamos o risco do voo de galinha, de voltarmos e termos que parar de novo. Eu penso dessa forma. Não sou um especialista na área, eu apenas estudei um pouco, li vários artigos, inclusive dos nossos palestrantes aqui, e gostaria que o debate fosse feito nessa linha, para concordar ou para discordar, sem nenhum constrangimento. Cada um tem a sua posição, tem o seu convencimento. E é dessas informações que nós devemos nos munir para a volta à normalidade. Alguns Estados já voltaram às aulas, outros Estados não voltaram. Há Secretário que diz que sem vacina não volta às aulas, então não sei como nós faríamos.
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Nós temos um problema de saúde pública. A COVID é uma crise de saúde pública. Mas ela também é, Deputado Dr. Luizinho, e pode ser, Deputada Carmen Zanotto, uma crise de saúde mental das pessoas que estão isoladas; uma crise de educação e comportamento das crianças que estão isoladas, que não têm a oportunidade do convívio com seus colegas — provavelmente, estão todas elas assistindo a filmes, desenhos, jogando videogame o dia todo. Então, isso tem uma consequência também, que precisa ser avaliada. O isolamento traz consequências à saúde das pessoas.
Há também o estresse. Imaginem o estresse de uma pessoa que todo dia tem que sair de casa e tem medo de pegar COVID! Fica preocupada, fica estressada. Eu, como já peguei há muitos meses, estou tranquilo. Talvez isso possa até interferir na minha visão, mas a literatura fala que a grande maioria vai ser assintomática, 80%, 90% vão pegar e vão ser assintomáticos.
Nós já estruturamos o sistema de saúde, já temos os antivirais que sabemos que têm algum efeito. Já estamos com campanha — até assisti ontem; parabéns ao Ministro Pazuello! — na televisão, mandando tratar os primeiros sintomas. Aquele "fique em casa até faltar ar" matou muita gente.
Nós já aprendemos a lidar também um pouco com a COVID. Temos o SUS, 50 mil postos de saúde para atendimento gratuito no Brasil todo, que nenhum outro país tem. Então o Brasil não precisa copiar a solução dos outros. Nós temos capacidade de ter a nossa própria solução; nós temos um sistema diferente; nós temos o nosso Programa Nacional de Imunizações, que é muito amplo. Muitos já receberam vacinas, a Pneumo, a BCG e outras vacinas que podem ajudar na questão da resistência ao vírus.
Então, parece-me que seria uma solução, e é isso que eu queria ouvir dos senhores. Seria viável a retomada da normalidade, o isolamento vertical, mantendo, com cuidados especiais, idosos e imunodeprimidos, e nós, com isso, adquirirmos imunidade de rebanho e encerrarmos a epidemia?
É possível isso, em função da estrutura que o País já tem hoje, de UTIs, respiradores, gente treinada, e um protocolo para tratar as pessoas com os primeiros sintomas para que eles não se agravem?
É este o debate que eu gostaria de fazer, Dr. Luizinho. Fica aqui a provocação.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Ministro Ricardo Barros.
Ministro, sabe que dentre essas 88 audiências públicas que nós realizamos aqui, uma das que mais nos marcaram foi aquela sobre a retomada das aulas? O Brasil é o campeão mundial sem aulas. E nós temos batido aqui, quase que diariamente, na necessidade da retomada das aulas. Houve posicionamento do UNICEF e da embaixada japonesa sobre a necessidade do retorno das aulas, até porque uma das questões que fazem a queda da imunidade é o abalo psicológico da criança, é a condição da falta de alimentação.
Por isso, nós, de pronto, atendemos a esse requerimento do senhor. Acho muito importante nós abrirmos esta discussão.
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Quero passar a palavra, neste Dia do Servidor Público, a uma pessoa que considero a nossa servidora pública nº 1 aqui da Casa e que tenho certeza absoluta de que está aqui nos acompanhando pelo nível de competência e de dedicação a tudo o que ela faz. Mesmo no meio de uma campanha eleitoral à Prefeitura de Lages, ela está aqui participando conosco. Sei de todo o esforço do mundo dela para participar de todas as atividades, porque ela é a servidora pública nº 1 deste País.
Passo a palavra à Deputada Carmen Zanotto.
A SRA. CARMEN ZANOTTO (CIDADANIA - SC) - Bom dia, Deputado Dr. Luizinho, nosso Presidente da Comissão Externa. Bom dia, colegas Deputados. Bom dia, sempre Ministro Ricardo Barros. Bom dia a cada uma e a cada um dos nossos convidados. Alguns estiveram conosco na segunda-feira — não é, Dra. Nise? — e estão hoje novamente. Obrigada por estarem aqui conosco.
Ministro Ricardo Barros, Deputado Dr. Luizinho, eu queria, inclusive, em cima desse tema, propor que façamos mais uma reunião com relação à retomada às aulas com segurança, porque o que temos visto no dia a dia é que realmente as estruturas municipais não estão se preparando para esse novo normal, para a nossa retomada das aulas, e isso é muito importante.
As nossas salas de aula, as nossas escolas precisam ser adaptadas. É preciso aumentar o número de pias para lavagem das mãos; prestar atenção às janelas que não abrem, para melhorar a ventilação. Esse tempo de distanciamento, de não termos as crianças, os alunos em sala de aula, já deveria ter sido tempo para a preparação das nossas estruturas. Recursos financeiros estão sendo enviados para o conjunto dos Municípios para isso.
A partir também desta reunião de hoje, do debate sobre imunidade de rebanho, sobre como precisamos da retomada com segurança dos serviços, tanto do setor produtivo quanto da área educacional, seria muito importante, Dr. Luizinho, nós retomarmos. Acho que nós já realizamos cinco audiências com esse tema da retomada das aulas. Deveríamos realizar mais uma para ouvirmos o Conselho Nacional de Educação; os conselhos estaduais, através da sua representação; os Secretários Municipais e os Secretários Estaduais de Educação; e os professores. Para muitos professores, a retomada não está acontecendo em função da não adaptação das escolas que precisam ser adaptadas para esse novo normal. E, a partir de mais essa audiência pública, de mais esse debate com relação ao tema de como estamos imunizados, como podemos fortalecer essa retomada, eu já queria deixar proposta essa reunião.
Agradeço as saudações pelo Dia do Servidor, mas todos nós que ocupamos um cargo público ou somos servidores de carreira precisamos ter sempre em mente que o nosso papel é servir, e o meu, como enfermeira, como profissional da área da saúde, é servir, é cuidar das pessoas.
Quando nós estamos falando da retomada, da imunidade de rebanho, nós estamos falando de cuidar das nossas crianças, cuidar dos nossos alunos, cuidar dos professores e daqueles também que atuam na educação. Cuidando dos alunos, dos professores, da retomada, nós também estaremos cuidando da família, dos pais, dos avós, dos tios, porque é com segurança que precisamos retomar e voltar ao nosso dia a dia, que agora é o nosso novo normal.
Sempre que estivermos na companhia de uma pessoa, o uso de máscara é obrigatório. Quando estamos sozinhos, podemos nos comunicar sem a máscara.
Obrigada por estarem conosco novamente neste dia de hoje. Tenho certeza de que esta será mais uma brilhante manhã de debates sobre esse tema de enfrentamento da COVID-19 no nosso País.
09:54
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O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Deputada Carmen Zanotto, pela sua participação.
Passo a palavra ao nosso primeiro convidado, o Dr. Anthony Wong.
O SR. ANTHONY WONG - Bom dia a todos.
Eu agradeço esta oportunidade de falar com tão ilustres Parlamentares. Minha admiração a todos vocês, ao sempre Ministro Ricardo Barros, médico que fez uma grande carreira no Ministério da Saúde; ao Dr. Luiz Antonio, que me convidou a falar na segunda-feira, à Deputada Carmen Zanotto e aos demais membros, meus colegas Paolo e Nise. Esta oportunidade é muito importante.
Eu apreciei muito as palavras iniciais do Ministro Ricardo sobre intervenção vertical. Aliás, em março eu comecei a dizer isso, e, por coincidência ou não, o Presidente Jair Bolsonaro falou no dia seguinte exatamente sobre intervenção vertical. Não é nada novo, os países asiáticos adotaram isso desde os primeiros momentos da pandemia lá na Ásia. Coreia, Japão, Taiwan e Cingapura adotaram isso desde o início, e vejam o que aconteceu: as escolas não fecharam, o comércio e a economia continuaram andando, um pouquinho mais lentamente. Eles adotaram as práticas de distanciamento e uso de máscaras, como sempre adotaram.
Desde o início eu disse que as escolas jamais deveriam ter fechado, isso porque desde o início nós sabíamos, segundo os relatos que vinham da China, que as crianças eram privilegiadas no sentido de que eram menos sensíveis, menos susceptíveis à infecção e, mais do que isso, conseguiam eliminar o vírus mais rapidamente. Eram pequenas bombas ambulantes.
Rapidamente falando sobre isso, é importante lembrar também que o isolamento horizontal proposto para o Brasil em março foi num momento totalmente errado. Sabemos que as doenças de vírus de transmissão respiratória têm preferência sazonal. Os trabalhos do MIT desde o início disseram que esse vírus, o coronavírus, era extremamente sensível ao calor, que não sobreviveria bem a temperaturas acima de 17 graus. Ora, em fevereiro, março e abril as temperaturas médias no Brasil são de 35 graus ou mais, certo? (Falha na transmissão) importante é a chamada imunidade de rebanho. O que o verão faz? (Falha na transmissão) social das pessoas (falha na transmissão).
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Wong, está travando a Internet. (Pausa.)
Não sei se agora retomou. Acho que sim, a sua imagem já está normal. Agora está normal, já voltou.
O SR. ANTHONY WONG - Foi interrompido onde?
É importante lembrar que o Brasil, em março, quando começaram esse lockdown insensato... Nós sabemos que o vírus está presente no verão, na primavera, no outono e no inverno, só que as condições climáticas e o próprio comportamento social das pessoas no verão diminuem a possibilidade de transmissão — maior distância e também o próprio vírus enfraquecido. Era esse o momento, Ministro Ricardo e Deputado Luizinho, que deveríamos ter aproveitado. Isto já era claro, conforme todos os estudos epidemiológicos feitos nos últimos 50 anos por epidemiologistas de renome. As pessoas se comunicariam, receberiam uma quantidade muito menor desse vírus e já então poderiam desenvolver a imunidade dessa maneira, sem desenvolver a doença. Nós vemos os números de março, abril e maio. Eram dezenas de mortes por dia no máximo, poucos doentes, e, evidentemente, com o distanciamento como era feito, esses números iriam continuar. Quando começassem os meses de maio, junho e julho, nós teríamos uma maior parcela das pessoas já com imunidade, se fosse feito dessa forma. Nós temos muito menos.
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O que é importante nessa discussão também é nós falarmos sobre o que é imunidade, na realidade. Nós temos dois tipos de imunidade, a imunidade humoral, que é IgG, IgM, IgA, e a imunidade celular. Hoje eu estava lendo nos jornais que os cientistas estão dizendo que os anticorpos estão diminuindo. Certamente, nós sabemos que os anticorpos humorais diminuem com o passar do tempo. Mas o que é mais importante é o desenvolvimento da imunidade celular. Essa é persistente e não detectável através de exames laboratoriais.
Então, se nós tivéssemos as pessoas contactantes, nós teríamos um maior número de pessoas já imunizadas; se tivéssemos adotado a intervenção vertical desde fevereiro e março.
Mas o que é muito importante... Quero compartilhar os eslaides. O que aconteceu aqui? Sorry!
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Podemos ajudar o senhor, Dr. Anthony.
O SR. ANTHONY WONG - Está aqui. Obrigado.
Então, como eu falei agora há pouco, nós temos dois tipos de imunidade.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Anthony, o eslaide não abriu, não.
(Não identificado) - Clique em share screen, selecione Power Point e clique em share novamente.
O SR. ANTHONY WONG - Eu sei, mas não está abrindo aqui o share screen, desculpem. O meu Zoom desapareceu.
(Não identificado) - Clique lá embaixo. Deve haver um ícone do Zoom. Pode acessar novamente.
O SR. ANTHONY WONG - Eu estou apertando isso, não quer entrar. Desculpem-me.
(Não identificado) - É Windows ou Mac?
O SR. ANTHONY WONG - Lamento.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - É Windows ou Mac, doutor?
O SR. ANTHONY WONG - É Windows.
(Não identificado) - Então, o senhor pode clicar na barra de ferramentas embaixo, pode clicar com o botão direito do mouse.
O SR. ANTHONY WONG - Eu vou falar sem eslaides. Lamento a não apresentação dos eslaides.
De qualquer forma, o importante é o seguinte. Nós temos dois tipos de imunidade. A imunidade celular é permanente. Mas o mais importante é que trabalhos de Karl Friston, lá de Londres, têm mostrado que, além da aquisição da imunidade celular, que é persistente... Como já foi dito, há muitas pessoas assintomáticas. Afirmam que as pessoas assintomáticas teriam menos imunidade. Isso não é verdade. Elas têm menos imunidade humoral, os níveis de anticorpos circulantes, chamados neutralizantes, são menores, mas a ativação da imunidade celular é igual. Então — infelizmente, não há como vocês verem — o trabalho de Karl Friston mostrou claramente isso. Ele pegou um grande número de pessoas que já tiveram anticorpos presentes e pegou número igual de pessoas que não apresentaram contato nem tinham anticorpos contra o vírus. O que ele descobriu? Que realmente, sim, eles têm IgG e IgA. Mas o mais importante é que, em relação à a imunidade celular através das células T, o CD4 e o CD8, das pessoas que tiveram a infecção, 100% tinham imunidade celular para CD4, e 70% tinham imunidade para CD8. Muito bem. Essa é a imunidade persistente. Mas o que mais importante é que ele foi (falha na transmissão) não expostos, e obviamente essas pessoas não tinham IgG nem IgA, ou seja, não tinham imunidade humoral. Ao estudar a imunidade celular, ele descobriu que 50% — vou repetir: 50% — das pessoas que não tiveram a doença tinham o CD4 reagente à COVID-19, e 20% tinham o CD8 reagente à COVID-19. Por que isso? Porque, como já foi dito pelo Ministro Ricardo, nós, ao longo de nossa vida, somos expostos a vacinas, a outros vírus, a todos os outros antígenos presentes no meio ambiente, mas especialmente também somos expostos a quatro cepas desse coronavírus, dois alfas e dois betas, que causam o resfriado comum. Isso dá a imunidade chamada "imunidade cruzada".
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Então, a partir desse trabalho, é sabido por todos os imunologistas — e eu acho até que o Dr. Paolo Zanotto vai completar isso — que 50% ou talvez até 60% das pessoas que não tiveram a doença já têm a imunidade cruzada. Não é passiva nem nada, mas é imunidade cruzada. Portanto, elas jamais vão desenvolver a doença.
Além disso, nós sabemos do grande número de pessoas assintomáticas. Se fossem feitos testes como os que foram feitos em outros países, nós verificaríamos talvez que o índice de imunidade da população em geral também é alta, especificamente para a COVID-19. Acresce-se a isso o fato de que, se nós somarmos os dois fatores, o número de (falha na transmissão) não expostos já cruzados é mais ou menos de 50%. Então, a população suscetível passa a ser de 50%. (Falha na transmissão) cai dramaticamente para 60% a 70% dos 50% que não (falha na transmissão) imunidade cruzada. Portanto, atingiríamos a imunidade de rebanho em torno de 25% a 30% (falha na transmissão).
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Wong? (Pausa.)
(Não identificado) - Saiu da reunião.
A SRA. CARMEN ZANOTTO (CIDADANIA - SC) - Deputado Dr. Luizinho, ele não voltou.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Porque caiu o sinal dele.
Depois eu concedo novamente a palavra para o Dr. Anthony Wong.
Eu queria passar a palavra agora para a Dra. Nise Yamaguchi.
A SRA. NISE HITOMI YAMAGUCHI - Bom dia a todos. Como vão?
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Bom dia, Dra. Nise. Tudo bem?
A senhora nos perdoe por isso. Como estamos sem o sinal de Internet do Dr. Wong, pedimos à senhora que inicie a apresentação. Depois nós concederemos a palavra novamente a ele.
A SRA. NISE HITOMI YAMAGUCHI - Está bem.
Eu vou depois mandar alguns eslaides, para acrescentar, somente para explicar melhor o que é o vírus e as diversas etapas.
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Eu acho bastante importante esta discussão. Nós temos tido uma série de diferenças, de acordo com o tempo, com relação às nossas compreensões. O que estamos discutindo atualmente é o quanto de segurança há com relação à entrada das pessoas numa vida mais normal. A segurança não existe nunca numa pandemia, em nenhum lugar. Foi o que nós observamos. Em Nova Iorque, 85% das pessoas que foram parar nos hospitais, já em torno do mês de abril, estavam dentro de casa, em completo lockdown, não utilizando métodos de transporte público. Isso demonstrou claramente, para o mundo inteiro, que o lockdown não prevenia a infecção. Alguns estudos mostraram que talvez prevenisse, mas o fato é que as pessoas foram aos poucos precisando também trabalhar.
Hoje nos postos de coleta de sangue para doação, por exemplo, no hemocentro do Rio de Janeiro, cerca de 48% das pessoas já têm imunidade. Essas pessoas já foram praticamente imunizadas espontaneamente, pelo fato de terem tido coronavírus. Há quem diga que as pessoas podem pegar novamente. Isso também é possível, principalmente quando a imunidade está baixa, mas, de maneira geral, a imunidade tem sido pelo menos duradoura para esta pandemia. Nós não sabemos como vai ser no futuro. Um trabalho mostrou que, 15 anos depois, havia imunidade para SARS-COV-1.
Temos a outra questão, que é o desenvolvimento acelerado de vacinas, como se fosse a única solução possível para essa saída de casa. Exatamente a população vulnerável não está sendo testada, que são os idosos doentes. Por isso, como o senhor muito bem colocou, a questão vertical, a de deixar as pessoas vulneráveis — as grávidas, as pessoas que estão doentes — ainda em situações de cuidado é muito importante, porém não é suficiente. O tratamento precoce (Falha na transmissão.).
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Acho que o problema hoje é nosso, tendo em vista a queda da conexão da Dra. Nise também.
Mário, caiu também a conexão da Dra. Nise. Veja se consegue fazer o sinal voltar, por favor.
Quem eu vi retornar foi o Dr. Anthony Wong.
A Dra. Nise já está novamente conectada aqui.
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O Dr. Paolo está conosco aqui.
Concedo a palavra à Dra. Nise Yamaguchi.
A SRA. NISE HITOMI YAMAGUCHI - (Inaudível) imunidade de rebanho quando determinado número de pessoas adquire imunidade. Nós não sabemos. Falava-se que era 70%, depois, 50%, em algumas cidades, 25%. O fato é que não existe um número exato, porque isso nunca aconteceu antes. Aconteceu com outras doenças. Há um pico, e depois aquilo diminui.
O que estamos enfrentando neste momento? Está diminuindo o número, a incidência de novos casos, tanto é que está havendo dificuldade, com as vacinas, para testar quantos pacientes vão verdadeiramente se infectar, porque está diminuindo a infecção. Por isso eles estão também com dificuldade de aprovação baseada em eficácia, porque a eficácia vai demorar mais tempo para ser demonstrada. Nós estamos, neste momento, discutindo a validade das vacinas, porque elas não têm segurança imediata, de médio e longo prazos, totalmente definida e elas não têm eficácia, que são os estudos de fase 3. Além da eficácia, temos que ver quais são as eficácias tardias, quanto tempo dura a imunidade que a pessoa vai adquirir. Se estão dizendo que a imunidade que a pessoa adquire com grandes quantidades de vírus pode não ser suficiente, que dirá com a vacina, que eventualmente precisa ser aplicada em três ou quatro doses. Mesmo assim, corre-se o risco de aplicar doses repetidas numa população que pode já ter tido o coronavírus e que pode, portanto, ter uma síndrome inflamatória quando isso ocorrer. Vacinar alguém que já teve coronavírus pode gerar risco de retorno daquela doença inflamatória que teve antes. Para as vacinas atuais, não estão testando pessoas que já tiveram coronavírus, não estão testando crianças nem adultos com mais de 60 anos de idade com doenças. Se há pacientes idosos, são considerados os mais saudáveis. Então, essa população que está esperando em casa para ser vacinada não poderia, teoricamente, mesmo com base numa excepcionalidade.
Nós estamos solicitando ao Supremo Tribunal Federal que ouça especialistas. Houve uma tentativa de formação de uma lista de experts que contemplasse todas as partes, inclusive sobre a vacina do Butantan, sobre a vacina de Oxford, vacinas internacionais, para ser justo. Isso acabou se misturando com um grupo que estava querendo dizer da importância de as vacinas não serem aprovadas neste momento.
Mas o importante é saber que existem hoje normas internacionais bastante rígidas com relação à aprovação de vacinas, e elas devem ser seguidas. A segurança não deve ser dada à excepcionalidade, em hipótese alguma, baseada em dados preliminares, nem a obrigatoriedade, muito menos passar para Estados e Prefeituras. Neste momento, nós precisamos trabalhar com uma estratégia nacional de vacinação, que é normalmente feita. Há estratégias de programas nacionais. Os Estados e as Prefeituras, dentro de uma complexidade tão grande, não podem ser os detentores da tecnologia nem mesmo da indicação de obrigatoriedade.
10:14
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Como o Dr. Ricardo Barros disse, nós precisamos, neste momento, ver o que acontece quando todo mundo que não está em risco volta a trabalhar. Isso já está ocorrendo. Estamos observando que continua diminuindo... Mesmo na segunda onda e na terceira onda, na Europa, a mortalidade é muito baixa até o momento. Eles estão proibindo o tratamento precoce, o que é uma falha. Israel, por exemplo, que foi muito bem na primeira fase, proibiu agora, por conta de forças, de ações de sociedades médicas envolvidas com vários interesses. Existem dificuldades para dar medicamentos que são neste momento indicados para doenças precoces.
O que eu quero dizer é que, neste momento, Dr. Ricardo, não vai existir ninguém no mundo que possa dar certeza de que podemos sair à rua sem pegar uma tuberculose, ou sem pegar uma infecção de vírus sincicial do adulto, ou sem pegar uma infecção de gripe e ter uma pneumonia secundária. Não existe ninguém que pode dizer que as pessoas não vão ter doenças cardíacas ou outras doenças se ficarem em casa. Há mais casos de depressão e de enfarte, porque as pessoas não estão procurando os serviços. Há mais suicídios, mais estupros e violência doméstica. Há mais pessoas ficando doentes por falta de comida. Então, hoje há mortalidade por outras causas. Pessoas com câncer não estão sendo atendidas. Tudo isso também tem que ser contextualizado dentro de uma doença que tem menos de 1% de mortalidade. Como o senhor bem falou, nós já temos mais UTIs, temos hospitais de campanha que foram desativados, temos pessoas treinadíssimas para lidar com situações mais graves. Então, não se justifica, por exemplo, a não volta às escolas. O que pode acontecer é isto: a criança volta à escola e pega uma infecção. Vão dizer que foi na escola. Não dá para dizer isso, porque hoje, quando não estão na escola, as crianças estão jogando videogame na casa das outras, estão indo para a praia, estão indo para os restaurantes com os pais. Então, não se pode dizer que é na escola que elas estão pegando o coronavírus. Se pegarem, a maioria não terá aquele quadro inflamatório, que raramente acontece. Quando se dá muito destaque às coisas mais raras, é porque se quer mostrar uma visão de mundo muito caótica.
Nós temos hoje, sim, tratamentos precoces. Devemos instituí-los. É poder do SUS e direito do cidadão ter acesso, assim como vai ser direito do cidadão não aceitar ser vacinado, se já teve coronavírus ou se entende que tem situações imunológicas deficitárias com vacinas de vírus vivos. Não se deve apressar o teor da segurança nem abrir mão da eficácia ao se vacinar, dentro de uma saúde pública, uma população tão grande quanto a brasileira e a do mundo. Tudo aquilo que nós fizermos aqui vai ser revisto no mundo.
Nós vamos entregar para o senhor um kit de eslaides sobre o que é o coronavírus, sobre o que é imunidade, sobre o que se fala de imunidade humoral, que é a de anticorpos, de imunidade celular.
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Por conta do tempo, vamos entregar também um documento sobre tratamentos precoces, para que o Dr. Luizinho tenha isso disponível e para que seja disponibilizado. Já há mais de cem trabalhos que mostram evidências científicas de que o tratamento precoce salva vidas. Também saiu ontem um artigo que fala dos casos brasileiros do Hapvida, do UNIMED do Pará etc., publicado pelo Dr. Harvey Risch, da Yale University, junto com um grupo de brasileiros. Então, temos evidências científicas robustas de que o tratamento precoce salva vidas e de que, portanto, não é necessário vacinar aleatoriamente uma população inteira, dizendo que é a única saída.
Outra coisa: dizer que uma pessoa que não se vacina estaria desprotegendo outras que se vacinam não é verdade. Se os que se vacinam teriam, teoricamente, 100% de imunidade, o fato de outra pessoa não estar vacinada não significa que ela vai pegar, que ela não pegaria. Então, nós temos aí um viés de comunicação. Nosso objetivo é iniciar esse debate — levar isso para o Supremo Tribunal Federal — com técnicos, com cientistas. O objetivo de fazer essa lista de notáveis é o de dar espaço a todos, inclusive aos que estão produzindo a vacina, que são pessoas cientificamente muito robustas, muito preparadas, com grandes publicações. Temos que dar espaço a todos, para que se manifestem neste momento das diversidades de opiniões.
Eu sinto que a humanidade vai ter que caminhar rapidamente para a diminuição das restrições. Por exemplo, a restrição entre Estados Unidos e Brasil. Eles têm muito mais casos de coronavírus que nós. Por que nós, para irmos para lá, temos que ficar 15 dias em quarentena? Não há sentido nisso. Acho que essas barreiras devem cair. Devemos solicitar essa quebra de barreiras sanitárias, porque não fazem sentido entre países que são, pelo menos, de zona vermelha. Agora com a segunda e a terceira ondas também. Eu vi que Portugal, Espanha e França estão proibindo o uso de tratamentos precoces. Então, estão lidando com a segunda e a terceira ondas de mãos vazias. A Itália está lutando para ter acesso aos tratamentos e também pela diminuição das restrições punitivas, que têm sido arbitrárias, que têm sido bastante agressivas. Isso também não protege as pessoas, como se pretende.
Então, vamos trabalhar pela consciência. Quem está com resfriado, com sintomas etc. fica em casa realmente. Quem está doente fica em casa ou sai com cuidados, porque só ficar em casa também não é suficiente.
Estarei, daqui, prestando atenção a todas as discussões e disponibilizarei para os senhores tanto o kit de eslaides quanto os dados científicos que estão sendo levantados, em mais de cem trabalhos, que mostram que o tratamento precoce funciona, sim.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Dra. Nise. Tivemos uma interrupção de ordem técnica e perdemos uma parte da sua fala.
Eu vou conceder a palavra novamente ao Dr. Anthony Wong.
(Não identificado) - Deputado, estamos sem o seu som.
A SRA. CARMEN ZANOTTO (CIDADANIA - SC) - Presidente...
Deputado Dr. Luizinho...
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Oi, Deputada Carmen.
(Não identificado) - É preciso ativar o som no plenário. Lá no Zoom. (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Foi ativado?
Deputada Carmen, só 1 minuto.
Hoje nós estamos tomando uma surra da tecnologia. Já caíram a apresentação da Dra. Nise e a apresentação do Dr. Wong. E estamos com o áudio fechado. Estamos tomando uma surra da tecnologia aqui, mas hoje eu vou me isentar de culpa, porque não sou eu.
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Vou retornar a palavra ao Dr. Wong para a continuidade da sua apresentação, pedindo desculpas à Dra. Nise e ao Dr. Wong por essas dificuldades técnicas.
Tem a palavra o Dr. Wong.
O SR. ANTHONY WONG - Obrigado, Deputado Luizinho, por essa nova oportunidade. Realmente, com a tecnologia, pode ou não dar certo. É a teoria da lei de Murphy.
De qualquer forma, como eu falei agora há pouco, nós já temos uma parte da população com imunidade cruzada, mais de 50% provavelmente. Então, para chegarmos à imunidade de rebanho, não teremos que almejar alcançar uma imunidade de 60% a 70%, apenas de 25% a 30% já é suficiente.
Devido às estações que virão a partir de agora, a tendência, como a Nise já falou, é realmente que os números caiam cada vez mais. Agora há em torno de 400 mortes por dia e um número reduzido de contaminações, tanto é que vários Estados abriram suas atividades. A tendência, até o mês que vem, é de que esses números venham a cair para as dezenas, talvez até para as unidades, quando chegar dezembro.
Ora, a segunda onda que assola atualmente a Europa tem grande repercussão por causa do inverno. Um artigo publicado anteontem diz quais são as razões de os números serem maiores do que os de fevereiro e março deste ano, no hemisfério norte. Isso lembra muito bem o que aconteceu com a gripe espanhola: a primeira onda foi muito grande, levada por soldados americanos para a Espanha; e a segunda onda pegou o resto do mundo, com números extremamente catastróficos. Isso se chama fadiga de quarentena.
Então, a primeira razão é a fadiga de quarentena, e é o que as pessoas não querem. Países, como a Itália, a França e a Alemanha — a Alemanha, um país extremamente civilizado e bastante disciplinado —, não aceitam as grandes repercussões de massa.
A segunda é a fadiga de raiva, ou seja, as pessoas fizeram a quarentena todo esse tempo, obedeceram às rígidas leis de separação, e o que aconteceu? Os números estão cada vez maiores. Então, há uma desilusão, uma descrença na política pública. E, evidentemente, é uma política pública insensata. Nós sabemos que o isolamento horizontal, como foi aplicado no Brasil por vários Governadores e também na Europa, no hemisfério norte, resultou em nada. Em vez de diminuir, muito pelo contrário, aumentou o número de contaminados.
A terceira, mas muito importante, é justamente a temperatura mais fria.
Oxalá que isso não possa acontecer aqui! Vamos ter uma segunda onda no Brasil? Não sabemos, mas, se vier, será em maio. Então nós temos 6 meses para nos preparar para isso, nós temos 6 meses para adquirir imunidade cruzada, imunidade de rebanho por contato. O uso de máscaras é um exemplo clássico, porque diminui a contagiosidade. Uma pessoa usando a máscara em contato com outra pessoa que a esteja usando menos, na realidade, faz com que a pessoa receba uma quantidade muito menor de vírus, e isso serve como se fosse uma vacina natural.
Aliás, isso está muito claro nas crianças, como todos os estudos mostram. Eu sou pediatra, aliás, essa é a minha especialidade principal. Não é que as crianças se contaminam menos, elas se infectam menos. Devido à expressão menor do ACE-2, é como se elas não permitissem ou dificultassem enormemente a entrada, a invasão do vírus SARS-COV-2 dentro do seu sistema.
Na realidade, quando a criança recebe, vamos supor, 10 mil partículas de vírus, ela só permite entrar 500. É uma condição que ela consegue facilmente debelar, porque a criança tem capacidade imunológica passada e antiviral presente. Vejam as vacinas que as crianças tomam. Aliás, são justamente essas vacinas que aumentam a capacidade imunológica das crianças. Com isso, elas cortam, matam o vírus rapidamente. É também por isso que desenvolvem anticorpos e se recuperam mais rápido. Esse é o motivo para que as crianças voltem às escolas, aliás, nunca deveriam ter deixado de frequentar as escolas. Nos países asiáticos, por exemplo, Coreia, Japão, Taiwan, Singapura e tantos outros, as escolas nunca pararam. Como a Deputada Carmen falou, houve investimento em certas condições estruturais das classes, mas também não eram tão rigorosas como as dos adultos.
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É perfeitamente viável, principalmente agora no Brasil, a volta às aulas. Em primeiro lugar, o distanciamento entre as crianças não precisa ser de 2 metros, mas de apenas 1 metro. O CDC dos Estados Unidos e a Academia de Ciências Médicas mostraram exatamente isto: o distanciamento entre as crianças não precisa ser de 2 metros, mas de 1 metro. Em segundo lugar, o maior número de aulas possível deve ser em ambiente externo, ao ar livre, porque, além de colaborar para a imunidade e dar melhores condições de saúde, também faz com que a disseminação do vírus seja menor. Em terceiro lugar, há o fato do convívio com as crianças. A atividade física aumenta a imunidade e a capacidade de defesa contra essa e outras doenças também. Por todos esses motivos, é mais do que urgente que as escolas recomecem suas atividades imediatamente.
Só para terminar, eu acho importantíssimo que nós reassumamos nossas atividades, que os lugares de convívio sejam ao máximo ao ar livre, que aumentemos a imunidade de outras maneiras, com a ingestão de zinco, de vitaminas, e, principalmente, que deixemos as pessoas trabalharem, é claro, com certos cuidados. A saúde mental é importantíssima para fortalecer a imunidade física e fisiológica. A atividade física também aumenta a capacidade imunológica, a partir da ativação da piridoxina nos músculos, e isso é um elemento antiviral. Portanto, isso faz com que a atividade física deva ter a maior prioridade possível.
Quanto às vacinas, estamos diante de uma incerteza, de uma promessa, de um sonho. Todos nós queremos vacinas — e eu, como pediatra, mais do que qualquer outro —, mas não as vacinas que estamos tendo agora. E digo isso porque, primeiramente, nenhuma delas cumpriu o rito necessário dos estudos pré-clínicos. O máximo que fizerem foi a aplicação, por 2 ou 3 semanas, em certos animais. Um laboratório teve até a pachorra, vamos dizer assim, a ousadia de dizer que a vacina foi experimentada em um único macaco-rhesus. Como o macaco não morreu, então a vacina era segura. Isso está publicado. Então, depois disso, as fases 1, 2 e 3 foram extremamente encurtadas. A fase 3, como a Dra. Nise disse, foi aplicada em apenas pacientes sadios, saudáveis, entre as idades de 18 a 65 anos. A vacina não foi injetada em nenhuma criança. Então, para que esperar por uma vacina que ainda não foi aplicada em crianças, para que elas voltem à escola. Elas não precisam. Os idosos precisam. Então, esse é um sonho distante ainda.
10:30
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Eu não vejo possibilidade de qualquer vacina estar no mercado, com segurança e com eficácia, antes do meio do ano que vem. A própria Organização Mundial de Saúde preconizou que a vacina eficaz talvez esteja presente no ano de 2022. Vocês podem confirmar isso, pois foi uma publicação de 2 meses atrás. Mas nós temos armas. Nós temos o tratamento precoce e nós temos o verão chegando. Ao melhorar as condições e, talvez, até o contágio das pessoas com menor quantidade de vírus, isso já traga a imunidade de uma forma natural.
É importante que a imunidade natural aconteça, porque nós sabemos que a imunidade dada pelas vacinas é inferior à imunidade natural da doença. Qualquer virologista diria isto: "Se você tiver sarampo, você tem imunidade para o resto da vida". É claro que não queremos que ninguém tenha sarampo. Mas se você tomar uma vacina contra o sarampo — e estou falando apenas em anticorpos e defesa celular humoral —, você tem de tomar uma dose hoje, tem de tomar outra dose depois de 1 ano e, provavelmente, depois de 20 ou 30 anos, terá que tomar um booster, para que haja um reforço da atividade de resistência ao sarampo.
Por último, novamente sobre as escolas, há algo importante. Desculpem-me o back and fro, ficar indo para frente e para trás, mas eu me lembrei de um fato de um muito importante. Como o Deputado Luizinho falou, nenhum outro país do mundo teve uma interrupção escolar tão prolongada como o Brasil, talvez a Argentina apenas. Na Europa, em média, a interrupção foi de 30 a 60 dias; 22 países abriram as escolas em maio, abrindo preferencialmente os berçários e as escolas para crianças do primeiro grau, porque justamente nesta faixa etária essa doença é mais leve, é menor a incidência. O que eles notaram depois de 3 meses — começaram o estudo em maio e publicaram em agosto? Eles notaram que não houve aumento de transmissão de criança para criança, não houve aumento de transmissão de crianças para os seus professores ou para adultos e tampouco as crianças levaram maior infecção para suas casas e para seus avós. Isso é evidência científica, e não achismo de associação de professores ou de algumas comissões de saúde — não sei de onde eles pegaram estatística, para negar o que já foi publicado em preto e branco, em diversas revistas.
Então, é urgente que as pessoas acordem. Não apenas lerem o que está escrito, mas têm que se convencer e tirar esse pensamento ideológico, vamos dizer assim, e que está prejudicando toda a população, toda a Nação brasileira.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Wong, muito obrigado pela sua participação. Eu acho que ela esclarece muito, principalmente o que temos defendido, que é o retorno às aulas. A sua participação é brilhante, principalmente pelo enfoque também nas questões relacionadas às crianças, porque nós vemos as crianças aí sofrendo, sem aulas.
Eu passo a palavra ao Dr. Paolo Zanotto.
O SR. PAOLO ZANOTTO - Eu queria agradecer o convite e cumprimentar os Deputados, o Dr. Wong, a Dra. Nise, a Deputada Zanotto, que está aí presente. Temos o mesmo sobrenome, que é um nome comum na região de Veneza, no Vêneto.
O que foi apresentado aqui é mais ou menos completo. Eu só queria tentar dar uma pincelada ou outra, mas, em princípio, eu acho que já está muito bom para formar a opinião de que vocês precisam. Eu acredito que a opinião de vocês já está bem formada, no sentido dessa convicção de que a política tem que ser baseada no que o Dr. Wong explicou e no que a Nise falou. E eu acho que está bem consolidado isso, há uma visão bem alinhada e há um bom embasamento científico, que é o mais importante, porque nós temos ouvido a palavra ''ciência'' ser usada de maneira completamente solta e quase sem sentido, quando a verdadeira ciência, na verdade, está sendo expressa aqui, agora, o que me deixa extremamente contente.
10:34
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Mas eu quero fazer alguns pequenos comentários. O primeiro comentário é o seguinte: o grande problema de qualquer surto, independente da forma dele — na verdade, não é o grande problema, mas o grande atributo —, é que se tem uma onda muito importante de casos. Como o número de mortes é muito menor do que o número de pessoas que foram infectadas, a única explicação para isso é que as pessoas que não morreram conseguiram controlar a infecção aguda, reduzir e eliminar o vírus. Essas pessoas têm alguma forma de resposta que consegue fazer com que o vírus seja eliminado.
Então, tentem imaginar uma onda de crescimento de casos. Vocês se lembram dos noticiários da televisão falando do número de casos de pessoas infectadas e do número de casos de pessoas mortas. O número de mortes é sempre pequeno em relação ao número de pessoas infectadas. É importante saber que essa onda de casos que a televisão fala deveria ser acompanhada depois de certo tempo, talvez 3 ou 4 semanas, de uma onda de convalescentes. Deveria ter uma onda de casos de pessoas que vão convalescer. Isso é óbvio. Para onde elas vão? Os mortos, nós sabemos para onde vão. E os não mortos que foram infectados estão indo para onde? Estão ficando em casa confinados.
Vejam o problema que temos aqui. Qual seria o problema real da sociedade entender que, da mesma forma que existe uma onda de pessoas infectadas, existe uma onda de pessoas que estão convalescentes e devem retornar às atividades sociais de uma maneira integrada, para que a economia não desmonte, para que as crianças não sejam lesionadas de forma existencial e cognitiva pelo resto da vida, numa situação dessas? Essa é a grande pergunta.
Vamos tentar entender um pouco onde está o pânico. É lógico que há uma quantidade enorme de desinformação. A desinformação tem sido extremamente prevalente nessa situação toda, mas vamos tentar entender alguma coisa.
Em março, nós estávamos conversando com vários pesquisadores da Itália, médicos colegas da Toscana, colegas nossos médicos que estavam em contato muito intenso com médicos na Itália, e a primeira coisa que nós colocamos para os italianos em março e abril foi: "Pelo amor de Deus, vocês nos informem se há pacientes que estão retornando para o hospital 1 mês, 2 meses, após a primeira infecção aguda". O grande problema que nós tínhamos é que os nossos colegas da Itália começaram no começo do ano a falar: "Poxa, eu não detecto IgM nas pessoas. Eu não estou detectando anticorpos nas pessoas". Veja, isso imediatamente assustou toda a comunidade, porque uma das coisas de que gostamos é monitorar, de certa forma, os casos e acompanhar se há ou não reinfecção.
O que aconteceu na Itália até agora? Eu não vi nenhum trabalho que deveria ser balançado assim, de forma gloriosa, como uma enorme bandeira, para certas pessoas, de que esse vírus estivesse causando reinfecção de forma maciça.
10:38
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Existe, no entanto, um relato que eu tenho aqui para mostrar para vocês — não sei se vou conseguir compartilhar a tela —, de um trabalho de 12 de outubro publicado na revista The Lancet a respeito de um caso confirmado nos Estados Unidos de reinfecção. A maneira como eles confirmaram esse caso é canônica, muito bem feita. Eles relataram que analisaram o vírus de um indivíduo que teve uma infecção aguda e depois convalesceu. Em seguida, ele teve outra infecção aguda, inclusive mais severa. Eles pegaram o vírus da segunda infecção, compararam-no com o da primeira e mostraram que os vírus eram diferentes.
Esse é um caso canônico de comprovação de reinfecção por vírus diferentes geneticamente, e eu estou satisfeito com o resultado.
Pessoal, vamos dar uma olhada no seguinte: nos Estados Unidos, quais são os números? São 8 milhões de pessoas infectadas e, provavelmente, um número próximo de 226 mil mortes. Vamos pensar um pouco: qual seria o problema sério de trazer de volta uma pessoa que já foi infectada para o convívio social? Ela ser reinfectada, não é verdade? Ela não vai mais infectar ninguém, porque já foi infectada.
Então, a grande realidade é que, provavelmente, reinfecção por COVID-19, do SARS-COV-2, deve ser um evento para lá de raro. Não temos relatos da China, não temos relatos da Europa e temos um relato dos Estados Unidos, que foi publicado na The Lancet agora em outubro. E não temos visto relatos convincentes aqui no Brasil.
Vou complicar essa narrativa com o seguinte: agora sabemos que existem pessoas que têm o que se chama de COVID prolongada. O indivíduo tem uma infecção aguda, vai ser tratado, pode até ser hospitalizado e depois convalesce. Vai para casa, mas fica com uma sintomatologia, com uma síndrome muito prolongada. Mas ainda não houve nenhuma confirmação de que essa prolongação dos sintomas se deve à reinfecção. Se esse for o caso — e é o que parece ser —, o nosso grande problema é saber quanto tempo duraria, digamos assim, essa imunidade, essa capacidade da pessoa de não ser reinfectada.
Bom, vamos pensar nos outros coronavírus. O Prof. Wong falou brilhantemente dos outros coronavírus que causam resfriados comuns nas pessoas, um grupo muito limitado de vírus. Os vírus que causam resfriados comuns, como os rinovírus, têm uma diversidade enorme. São vírus muito pequenos, muito mais rápidos, agem muito mais rapidamente do que o coronavírus, que é um vírus que evolui muito mais lentamente do que esses vírus pequenos RNA. Há pouco mais de 170 variantes de rinovírus. Nem é preciso fazer vacina para eles, porque a cada ano as pessoas são infectadas.
Qual é o problema dos coronavírus? Sabemos que os que causam o resfriado comum, que são muito poucos, podem reinfectar a mesma pessoa num prazo de alguns anos. Existe evidência disso. Então, esperaríamos, dada a biologia dos coronavírus, que muito provavelmente o SARS-COV-2 causasse, digamos assim, uma infecção na mesma pessoa, se for comparado com os outros coronavírus, num prazo de talvez 4 ou 5 anos.
Nesse sentido, vamos pensar numa coisa. Eu não sei o que vocês acham disso, talvez a Nise e o Wong vão concordar comigo, mas 4 ou 5 anos é um prazo curto para o desenvolvimento de uma vacina. A vacina que foi desenvolvida no prazo mais curto foi a contra caxumba, em 4 anos. Mas, dados o empenho e a quantidade de esforço, é muito possível que tenhamos uma boa vacina contra o SARS-COV-2 num prazo como esse.
10:42
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Se não está havendo reinfecção de forma tão sistemática, quer dizer, há um caso em 8 milhões nos Estados Unidos, ou um caso comprovado em 8 milhões — pode haver outros, mas é claro que não deve ser um número significativo —, portanto, reinfecção por SARS-COV-2, que causa a COVID-19, na situação em que nós vivemos hoje, não parece ser um problema.
Então, a grande barreira, que seria dizer "Ah, o cara já foi infectado, já resolveu a infecção, é um convalescente; mesmo assim ele tem que ficar isolado da sociedade", não parece ter embasamento científico.
O que aconteceria ao colocar as crianças eventualmente de volta à escola? Passem o vídeo, repitam o vídeo do que o Dr. Wong acabou de mostrar. É só repetir as palavras dele; eu não vou repeti-las aqui porque não é necessário. Nunca vou falar com o brilho com que ele fala. Obviamente nós não temos um grande problema neste momento para poder liberar uma atividade social compreensiva. Levando em consideração alguma forma vertical de isolamento, nós vamos repetir as nações que tiveram sucesso.
Segundo ponto. Independentemente da qualidade da resposta, nós sabemos que talvez há o decaimento dos anticorpos. O IgM decai mesmo depois de uma infecção aguda — deveria ser assim.
O que nós estamos querendo medir é a razão entre o IgG, que é um anticorpo que nós produzimos e que vai dar o long lasting, vai dar a resistência prolongada e duradoura. O que se quer saber é se o IgG tem um título mais alto que o IgM. Quando o IgM é mais alto, a pessoa está sob infecção aguda. Quando cai o IgM e sobe o IgG, o IgG entra num platô, esse nível alto de IgG em relação ao IgM indica convalescença. O IgG depois decai. O decaimento de IgG está sendo alardeado pela imprensa como evidência de que não há imunidade na população. A imprensa não tem condição de falar sobre o que ela não foi preparada para entender.
Então, o que eu acho mais importante nós entendermos é que o decaimento de IgG é normal. Você vai ter uma redução de título de IgG, mas a qualidade da resposta não necessariamente está caindo porque o IgG está caindo. Você tem células de memória que vão ser reativadas; no mesmo momento em que você for eventualmente exposto àquele vírus, o IgG rapidamente sobe novamente.
Nós não precisamos ficar presos a narrativas desinformativas que nos colocam numa situação de pânico e medo. Vamos tentar pensar um pouco no que acontece de fato. Nesse sentido, não tenho muito mais a acrescentar aos apontamentos do Dr. Wong e da Dra. Nise.
Temos que imaginar que a questão da imunidade de rebanho está sendo adquirida. Qual é complicador, para nós entendermos a dimensão da imunidade de rebanho aqui no Brasil? Neste momento, eu acredito que seja o verão. Essas partículas virais são extremamente susceptíveis à ozonização, à eliminação pela ultravioleta. Então, se uma pessoa está andando num parque ensolarado, ela está num ambiente mais limpo que num NB4! (Risos.) É mais limpo que um laboratório de biocontenção! O Sol é o nosso grande protetor!
Fico extremamente triste em ver pessoas debaixo do sol, às vezes andando sozinhas, e com uma máscara. É lógico que a máscara é importante, não vou tentar desfazer essa ideia, mas o bom senso rege, e nós sabemos que as máscaras são extremamente importantes no controle do SARS-1. O SARS-1, quando começou a causar aquele problema enorme em Hong Kong, e depois se espalhou rapidamente para o Canadá e para outros países...
10:46
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Eu fui trabalhar na Alemanha, com pacientes de Hamburgo, no P4 de (ininteligível), com SARS-CoV, o coronavírus, e o que vi, naquela época, foi que o principal fator para impedir a dizimação dos profissionais de saúde foram os EPIs, as máscaras, as barreiras protetivas. Portanto, isso, sem dúvida nenhuma, é importante, mas não em todos os contextos.
A máscara, usada de forma indiscriminada, sendo o seu uso aplicado ou não... No início, máscara não prestava; depois, prestava; depois, todo mundo tinha que usar máscara. Ou seja, as recomendações estavam sendo dadas de forma caótica, baseadas em informação inexistente, em suporte científico inexistente.
É importante o uso da máscara? Sim. Em quais contextos? Seria tão complicado definir os contextos, educar as pessoas para que o contexto adequado fosse aquele em que o uso da máscara fosse cumprido, que se preferiu forçar o uso da máscara de maneira compulsória e completa o tempo todo. Isso é vantajoso? Não. Mas a realidade é que não temos nem capacidade de informar, porque não existe consenso na informação. Dependendo do jornal, eu vou ver uma informação; vemos as instituições de saúde mudando as recomendações ao longo do tempo. Então, a população está completamente desinformada e em pânico. Esta é a grande realidade.
Eu acho que é muito importante estarmos aqui conversando com os cientistas, com os representantes do povo, tentando dar um curto-circuito nessa transmissão de informação que está sendo feita pela grande imprensa de forma irresponsável. Pessoas que não têm o menor treinamento para falar estão sendo ouvidas, e as informações dadas por elas estão sendo repetidamente alardeadas.
Portanto, eu acho que é importantíssimo o Governo brasileiro entender que a ciência tem que fazer parte deste debate. Ela tem que ser útil para dar evidência técnica, a fim de que as decisões de vocês, legisladores, administradores, políticos, sejam embasadas na melhor possível evidência científica de fato.
Eu agradeço a atenção de vocês e gostaria de passar a minha vez.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado pela participação, Dr. Paolo Zanotto. Eu acho que é sempre esclarecedor podermos ter a participação do senhor aqui conosco.
Neste momento, quero passar a palavra ao Dr. Alexandre Chieppe. (Pausa.)
O SR. ANTHONY WONG - Sr. Presidente, Deputado Dr. Luizinho, posso fazer uma pequena intervenção?
Posso, Dr. Alexandre, por favor?
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Claro, com certeza! Hoje nós estamos trabalhando com muito mais liberdade em relação ao tempo, Dr. Wong.
O SR. ANTHONY WONG - Eu queria complementar o que o Dr. Paolo Zanotto disse. Aliás, agradeço-lhe as palavras, mas ele é o mais brilhante virologista no Brasil, eu acredito.
Quanto à reabertura das escolas, tem-se dito que as escolas brasileiras não têm condições de ser reabertas porque não há saneamento básico. Este não é o motivo impeditivo da abertura das escolas. Se for esse o motivo, o que dizer do número de infecções por diarreia e por infecções respiratórias? Não haver água potável nas escolas é uma vergonha que nos assola há décadas. Não é por esse motivo que vai aumentar a disseminação do coronavírus ou que ela vai diminuir. As escolas devem ser reabertas de qualquer forma porque as crianças merecem um ambiente salutar. A falta de água sanitária, de água corrente nas escolas públicas não vai diminuir ou aumentar a porcentagem do contágio pelo coronavírus. Isso não é desculpa.
As escolas precisam ser abertas porque as crianças precisam se desenvolver intelectualmente, socialmente e, sobretudo, mentalmente, com a convivência com outras crianças, para que não haja perdas. A criança tem etapas de aprendizado que são essenciais. Se você pular uma etapa de aprendizado de uma criança de 3 anos, ela não vai recuperá-la aos 4 anos, e assim por diante. Então, este ano nós perdemos. "Ah, não; no ano que vem nós vamos dar aulas em dobro". Não é isso. Não é apenas o aprendizado intelectual, da ciência, da matemática. Pulou-se uma etapa importantíssima de desenvolvimento da própria idade na vida da criança que não pode ser omitida ou reposta nos anos subsequentes.
10:50
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Então, as escolas têm que ser reabertas imediatamente — evidentemente, se possível, com algumas medidas de correção que deveriam ocorrer de qualquer forma. Ensinar a criança a lavar as mãos é algo que teria que ser feito sempre, ad infinitum, e não porque agora nós estamos na epidemia.
Obrigado pela possibilidade de intervir.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Wong, novamente, eu não tenho como não concordar com o senhor e com o Dr. Paulo Zanotto porque, se nós temos escolas que têm algum tipo de problema com fornecimento de água é porque elas estão em comunidades onde certamente as residências, as moradias das crianças têm dificuldades ainda maiores do que as escolas. Então, eu não tenho dúvida de que essas escolas, mesmo com toda a dificuldade, ainda serão mais produtivas do que se as crianças ficarem na rua, sem alimentação e sem conhecimento, principalmente porque no País o que mais se valoriza é o exemplo, e é péssimo o exemplo de um País que sinaliza que educação não é importante quando mantém as escolas por tanto tempo fechadas.
Eu quero passar a palavra ao Dr. Alexandre Chieppe.
O SR. ALEXANDRE CHIEPPE - Bom dia, Deputado Dr. Luizinho.
Bom dia, Deputada Carla.
Bom dia, companheiros de debate.
A minha contribuição vai ser muito pontual. Eu acho que muito já foi dito sobre a imunidade, e falou-se um pouco de vacina, mas eu queria focar especificamente no tema que foi citado, que é a imunidade de rebanho, também conhecida como imunidade coletiva.
Preocupa-me muito, em princípio, a utilização desse termo, porque, na verdade, nós não debatemos imunidade de rebanho nem imunidade coletiva. Na verdade, o que nós debatemos neste momento todo, agora, foi flexibilização responsável, isolamento ou isolamento vertical.
O que seria a imunidade coletiva ou imunidade de rebanho para quem está nos acompanhando? Seria o percentual da população infectada que, de certa forma, protegeria o restante da população não infectada. Qual é a porcentagem da população que teria que ficar doente ou ter contato com o vírus e adquiri-lo, dando a ele uma resposta imunológica adequada, para proteger o restante da população, uma vez que não existe vacina?
Aí entram alguns problemas que, na verdade, são um debate em todo o mundo. Nós não temos, hoje, como mensurar o percentual da população que deveria ser infectada para que atingíssemos a imunidade coletiva. Os estudos variam; há opiniões no sentido e que esse percentual vai de 20% a 80%.
E nós temos alguns complicadores junto a isso. Como nós vamos mensurar a imunidade, seja essa imunidade humoral, seja essa imunidade celular? Nós fizemos alguns estudos no Rio de Janeiro, por exemplo, de soroprevalência de anticorpos em diversas populações, mas um estudo que chama muito a atenção, que nós começamos no início da epidemia, no mês de março, foi o da dosagem de anticorpos em pessoas doadoras de sangue, os hemodoadores.
10:54
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Para vocês terem uma ideia, a prevalência de anticorpos na população de hemodoadores no Rio de Janeiro, no mês de abril, foi de 4%; em maio, subiu para 11%; em junho, foi de 28%; e, a partir de julho, ele começa a cair: 23% em julho, 17% em agosto, 20% em setembro. Isso mostra claramente que há uma queda importante de anticorpos. Quer dizer, os testes não conseguem mais identificar os anticorpos depois de algum tempo de infecção, principalmente naqueles casos de pessoas assintomáticas.
Isso não quer dizer necessariamente que essas pessoas não estejam protegidas. Como foi muito bem colocado por diversos outros colegas, a imunidade não depende somente da resposta humoral.
Por outro lado, isso é um dificultador na hora em que nós vamos medir, porque grande parte dos estudos feitos para avaliar a imunidade coletiva, ou a imunidade de rebanho, levam em consideração a mensuração, o estudo de sentinelas, por exemplo, para mensurar anticorpos na população.
Isso talvez seja um dos grandes dificultadores. Nós não temos, hoje, mecanismos simples para detectar e avaliar, primeiro, o percentual da população já infectada; segundo, o percentual da população que não foi infectada, mas, por algum motivo, tem algum tipo de proteção, seja uma proteção cruzada ou algum outro tipo de proteção contra esse coronavírus, o que seriam fatores fundamentais para podermos calcular efetivamente quando chegaríamos à imunidade de rebanho.
Nesse sentido, eu acho que a discussão que deve ser feita é a da flexibilização responsável. Quando se fala de imunidade de rebanho, parece que nós vamos expor todas as pessoas para tentar chegar a um número em que poderíamos dizer (falha na transmissão) e aí vamos expor as pessoas de menor risco, caminhando para as pessoas de maior risco de complicação, até atingirmos esse percentual.
A discussão é outra. Nós temos que retomar a economia, temos que garantir uma volta responsável às aulas. Acho que é acerca disso o debate que tem que ser feito.
Acho que a volta às aulas, como foi colocada aqui, é algo que ainda não é um consenso nacional, mas está-se caminhando para isso.
Eu trabalho com epidemiologia. Os dados epidemiológicos mostram claramente que o risco de complicações por COVID-19 em crianças é muito baixo e não justificaria um não retorno às aulas, como é corroborado, inclusive, pela Sociedade Brasileira de Pediatria, considerando o risco de adoecimento e de complicações nessas crianças e todas as consequências que existem, como diversos aspectos emocionais, físicos e sociais pela não volta às aulas e as consequências que essas crianças estão sofrendo.
Então, eu volto a dizer que é muito pontual a minha colaboração. Volto a afirmar que acho muito perigoso nós partirmos dessa discussão sobre a flexibilização debatendo o tema imunidade coletiva, imunidade de rebanho, quando ainda não temos uma vacina disponível.
Acho que o debate que tem que ser feito e aprofundado, como já há algum consenso em relação às escolas, é sobre a proteção daquelas pessoas de maior risco de complicação por COVID-19 e, gradativamente, ir expondo as pessoas de menor risco, considerando a necessidade do retorno às aulas, considerando a necessidade de termos um retorno da economia, das atividades sociais, enfim, e não necessariamente tendo que atingir um percentual que não sabemos qual é para alcançarmos uma imunidade coletiva ou imunidade de rebanho.
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Seria isso Deputado. O tema já foi bastante discutido pelos outros participantes.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Obrigado, Dr. Alexandre Chieppe.
Eu queria tirar algumas dúvidas e vou começar pelo Dr. Anthony Wong.
O senhor pode falar um pouco sobre a imunidade celular, para entendermos um pouco mais? O senhor falou sobre uma imunidade celular relacionada a CD4, CD8. O senhor consegue fazer um panorama do que o Brasil tem, hoje, de imunidade celular?
O SR. ANTHONY WONG - Sim. Obrigado, Deputado. Vou tentar mostrar.
(Segue-se exibição de imagens.)
Nesse eslaide, Deputado Dr. Luizinho, nós vamos ver exatamente o que eu quis apresentar.
Naquela primeira situação, esse trabalho de Karl Friston, corroborado por outros autores, mostra claramente que, quando uma pessoa é infectada por SARS-CoV-2, seja através da própria doença, ou, eventualmente, quando houver uma vacina, por meio dela, nós temos dois tipos de imunidade.
Uma é a imunidade humoral, representada pelo IgA e IgG. Como o Dr. Paulo disse, o IgM desaparece porque ele só está presente nos primeiros 30 dias da infecção. O IgG é mais duradouro. O IgA se apresenta por um longo tempo.
Nós vimos, pela dosagem, que o IgG está presente em 100% das pessoas infectadas, mesmo que seja por um período não prolongado, e o IgA, em 80%.
Mas o que é mais importante é a imunidade celular. As células relacionadas a essa imunidade estão presentes e são o que chamamos de killer cells. Eu vou colocar outro eslaide que mostra exatamente o que quer dizer imunidade celular e imunidade humoral.
Nós vimos aqui que, quando somos infectados por qualquer agente externo, seja vírus, bactéria, fungo ou até alimento, nós desenvolvemos dois tipos de imunidade.
A primeira, que todo mundo conhece, são os anticorpos. Quando se fala de anticorpo, está-se falando da imunidade humoral, ou seja, a que é produzida pelo sistema linfocitário de células B. Essas substâncias entram na célula e causam uma reação. Então, a célula secreta principalmente os plasmócitos, células presentes no sistema (ininteligível), e produz anticorpos, como vemos no lado direito. Esses anticorpos prendem os vírus, ou outros agentes, tornando-os incapazes de se mexer. Então, eles são chamados anticorpos neutralizantes. Eles não matam o agente infeccioso ou o agente invasor; simplesmente o neutralizam. Com isso, os vírus ou bactérias são incapazes de entrar nas células, porque ficam de um tamanho grande e, com isso, são atacados por outras células brancas, os macrófagos e os neutrófilos, que vão lá e acabam comendo — vamos dizer assim —, digerindo esses vírus.
A outra parte da imunologia que é muito importante são as células T, também do sistema imunológico. Essas células T não produzem nada. Elas são sensibilizadas e tornam-se capazes de matar qualquer agente invasor. Essa são as T killers, células matadoras. Essas células matadoras são capazes de fazer isso de duas maneiras: englobando, fagocitando, comendo a célula invasora, o vírus, e destruindo esse vírus dentro da sua própria célula.
11:02
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Isso é muito importante, porque, primeiro, elas aumentam a capacidade de matar e transmitem informações a outras células para terem a mesma capacidade de matar esses agentes invasores. Mas a segunda coisa muito importante é que, além de matarem a célula invasora, elas também matam as células infectadas e, com isso, iniciam um processo inflamatório extremamente grande. Assim, a doença COVID-19, como outras, tem duas fases: a primeira fase, que são os primeiros 7 ou 8 dias, é quando os sintomas de febre, dor de cabeça, mal-estar e fraqueza são causados pela invasão do vírus. Essa invasão provoca esses sintomas. Depois, se não se tratar ou se o organismo não tiver condições de neutralizar essa fase invasora, entra-se na segunda fase, em que as células T começam a ser mais ativas. Essas células ativas, além de fagocitar, comer ou destruir esse agente infeccioso, também produzem ou induzem à formação de ações inflamatórias, que é justamente a tempestade de citoquina. Daí nós temos a IL-6, a TNF e outras oito ou nove cascatas inflamatórias.
São essas cascatas inflamatórias que causam a fase mais grave da doença, que é justamente quando ocorre a morte celular: quando as células endoteliais que formam os vasos sanguíneos são destruídas e se formam os famosos trombos, pois, como os senhores bem sabem, estamos falando sempre daqueles fatores de coagulação. Esses trombos bloqueiam o vaso celular, e todas as células a jusante desse bloqueio morrem.
Essa é uma outra situação extremamente grave, pois, além de haver a invasão do vírus, o corpo parte contra órgãos do próprio corpo.
Isto é que é importante e que a Dra. Nise e todos nós falamos acerca do tratamento precoce. Se nós tratamos precocemente, a carga viral é menor, e o corpo consegue lidar com uma tropa invasora menor. Se nós não tratarmos precocemente, esse inimigo vai crescer exponencialmente. Então, o que era 1 milhão, depois de 4 ou 5 dias, passa para 1 bilhão e, depois de mais 4 ou 5 dias, passa para 1 zilhão — vejam que nem é trilhão; passa para zilhão! Isso é demasiadamente grande para as células do corpo tentarem conter. E aí nós temos (ininteligível).
É importante salientar que, cada vez mais, se fala dos efeitos tardios da doença: pessoas perdem 10% da memória, ou 10 anos de memória; o coração tem miocardite, e 30% das pessoas têm infarto e lesão miocárdica; hepatite; insuficiência renal; mas, sobretudo, atinge o sistema neurológico. As pessoas ficam com Parkinson, com paralisia, demência e perda de memória ou retrocesso de 10 anos.
Anteontem foi publicado um artigo científico do Imperial College sobre essas lesões neurológicas.
Então, é extremamente importante que nós tenhamos duas maneiras de combater esse vírus. Inicialmente, com tratamento precoce. Nós temos vários remédios viricidas para tratar na primeira semana as pessoas; elas se recuperam, diminuindo a carga viral. A segunda é, de alguma forma, fazer com que as pessoas tenham uma exposição controlada ao vírus, principalmente os mais jovens, que têm capacidade imunológica reativa muito maior. Todo mundo fica dizendo: "Ah, está tendo a segunda onda lá na Europa". Os senhores viram os números? Realmente, o número de pessoas infectadas é extraordinário! Os senhores viram o número de mortes? Também aumentou, mas, proporcionalmente à primeira onda do começo do ano, o número de mortes é, percentualmente, muito menor do que o de infectados. O que isso significa? Os médicos estão aprendendo a lidar com a doença, as pessoas já sabem como identificar um pronto-socorro médico e muitas delas estão fazendo tratamento com hidroxicloroquina, apesar da proibição ou dos impedimentos dos governos quanto ao acesso ao medicamento pela população. As pessoas leem e sabem como funciona. E a hidroxicloroquina é vendida lá sem receita médica. Mas é importante lembrar que a hidroxicloroquina, tão demonizada pela mídia e outros veículos, é um medicamento essencial da Organização Mundial da Saúde há mais de 60 anos. É, repito, um medicamento da lista essencial de remédios da Organização Mundial da Saúde. Eu faço parte do grupo da OMS, sou colaborador da unidade de segurança de medicamentos e de vacinas há 35 anos. Então, nós sabemos que é importante a segurança de um medicamento e também sabemos da importância de haver vacinas seguras e eficazes, antes de sair dando injeção em todo mundo.
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Para encerrar esta exposição sobre a imunidade das células CD4 e CD8, foi constatado que 50% das pessoas que não foram expostas e não tiveram a doença têm imunidade celular e nunca tiveram imunidade humoral. Esses 50% ou até mais, como as CD8, uma média de 50% a 60% das pessoas, jamais irão adquirir a doença, justamente por conta da experiência anterior com outros vírus ou com outras vacinas. Aliás, sabemos que a BCG, de forma protetora, é um exemplo muito importante, porque não induz à imunidade humoral. Ela induz quase que praticamente a uma imunidade celular. E nós sabemos que isso protege. Então, esse fator de os não expostos já terem uma capacidade de imunidade celular é algo extremamente importante, pois mostra por que nós temos um índice tão baixo de infecção.
Como disse o Ministro Ricardo Barros, assim como outros expositores, por que nós temos um índice tão baixo? Se o Brasil tem 220 milhões de habitantes e há 5,5 milhões de infectados, supostamente subnotificados, foi atingida 3% da população! Talvez, mais 3% delas são pessoas com doença assintomática, como eu fui. Eu tenho o IgG, mas nunca tive nenhum sintoma da doença. Por que isso? Muito provavelmente porque as pessoas já têm algum tipo de imunidade e não tiveram a doença.
11:10
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Eu acho muito importante salientar que acabar com o País, fechar tudo, principalmente escolas, com uma doença que atinge de 3% a 5% da população, é um preço muito alto, e isso realmente não se justifica.
Como a Nise falou e há informação em trabalhos recentes, a letalidade desse vírus é de 2,3% e faz com que seja igual à da infecção por pneumonia, com uma abrangência ou uma contagiosidade R-0, que é um índice de contagiosidade, talvez em torno de 1,2%, e não 8% ou 10%. Lembro que sarampo tem um R-0, índice de contagiosidade, em torno de 20%, ou seja, 20 vezes maior. Mesmo na epidemia de sarampo do ano passado, ninguém fechou escolas, ninguém fechou indústrias, apesar do aumento do índice de casos da doença do ano passado. O vírus do sarampo tem um R-0 de 20%, comparado com o coronavírus, que é de apenas 1% ou 1,2%.
Não sei se respondi a sua pergunta, Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Wong, atendeu-me, sim. Eu acho que é muito importante termos um entendimento, claro que não com a profundidade com que o senhor aborda o tema, porque, para o conjunto de Deputados da Casa — e aqui todas as nossas audiências são transmitidas por meio remoto para o Brasil inteiro, através da TV Câmara e dos nossos canais no Youtube —, é fundamental irmos registrando as informações, a fim de podermos repassar à população brasileira o que nós estamos abordando nesse enfrentamento da COVID-19, principalmente no campo da desinformação que percorre o Brasil.
O País hoje vive uma discussão politizada, saindo completamente de qualquer grau de discussão científica de valor agregado. Ela se dá no campo político, se tem lockdown, se não tem lockdown, se fecha, se abre, posicionamentos contra o retorno das aulas, posicionamentos de obrigatoriedade de uma vacina que ninguém conhece. No mundo hoje não se discute obrigatoriedade de vacina. Somente no Brasil há hoje essa pauta. Nós não temos nenhuma vacina em circulação. Então, cada informação traz um agregado ao conjunto dos Deputados e principalmente para a população brasileira.
Convido para fazer uso da palavra a Deputada Dra. Carla Dickson.
A SRA. CARLA DICKSON (Bloco/PROS - RN) - Bom dia a todos. Bom dia, Deputado Luizinho.
Desde ontem, estamos discutindo um assunto extremamente sério e de interesse total da população. Por onde eu passo ou quando me solicitam uma entrevista, o assunto é um só: "Carla, quando teremos vacina? A vacina é obrigatória? O que você acha disso?" Dou minha resposta como médica: eu tenho de respeitar a ética médica e a vontade do meu paciente. O Código de Ética diz que eu tenho a obrigação de instruir o paciente, preciso informá-lo do que tem, dos tratamentos disponíveis, mas a decisão final é do paciente. Isso se chama relação médico-paciente. Eu Carla, como médica, creio que isso tem que acontecer também no País em relação à obrigatoriedade da vacina.
11:14
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Algo que está chamando a minha atenção desde ontem é o interesse em vacinas relacionadas ao aumento da imunidade celular. Eu acho que o caminho é esse. Escutei a palestra de ontem, quando foi abordado um estudo sobre uma vacina que aumente tanto a imunidade humoral como a celular. O mais interessante é a vacina não ser injetável, mas intranasal, como sugerido pelo Dr. Kalil. E eu fiquei muito feliz quando escutei isso.
Hoje, discutimos imunidade de rebanho. Eu tenho acompanhado as palestras do Dr. Wong e fico feliz em ver a Dra. Nise aqui. Esta Casa trata tranquilamente do assunto, como sempre fez, desde quando eu entrei na Comissão. O espaço é muito democrático e sempre foi aberto para escutar todas as possibilidades, haja vista que nós estamos crescendo juntos nesta pandemia. Mas o tratamento precoce hoje é uma realidade e é necessário.
Vemos nomes que eu respeito falando com muita propriedade, no sentido não só do conhecimento científico, que é muita coisa, mas já após um lastro de casos, uma casuística de Municípios que adotaram o tratamento precoce e conseguiram diminuir os seus números. “Ah, pode ter sido a história natural da doença, da virose.” Pode, mas, sinceramente, pelo desconhecimento que nós ainda temos desse vírus, para mim o tratamento precoce vai ser a grande arma. E não só o tratamento precoce, mas o uso da máscara, do álcool em gel, os cuidados que nós estamos tendo, assim como o distanciamento social no limite em que se consiga ir trabalhar, consiga ser produtivo, para evitarmos a tal pandemia da fome, do desemprego, que é algo com que poderíamos nos deparar se continuássemos com aquele discurso do “fique em casa”.
Eu estou muito feliz com o que escutei aqui hoje e ontem. Parabéns! Ontem, eu não tive a oportunidade de falar, porque estava em um evento, mas escutei muita coisa interessante.
Um dos assuntos que desejo abordar aqui é que a vacina é extremamente importante, mas nós não temos números reais, percentuais reais da eficácia e efetividade dela. As vacinas estão todas ainda, como nós observamos, em fase 3. Não há nada conclusivo. Sentimos uma pressão grande para que isso tudo seja resolvido, mas esquecemos que o tratamento precoce está mais estabelecido, até com trabalhos científicos comprovados, mostrando a eficácia de drogas que temos aqui, das quais nem falamos, porque não têm patente e não são interessantes para a indústria farmacêutica.
Saiu o estudo sobre o medicamento Annita, que o Governo publicou. Foi entregue um grande valor para estimular esse estudo. Foi necessário, claro, nós não o conhecíamos, mas tem patente. Ivermectina e hidroxicloroquina são drogas baratas, que atendem à população.
Eu creio, Dr. Luizinho, Deputada Carmen Zanotto, que não teremos de enfrentar a segunda onda. Na realidade, eu espero que isso não aconteça. Quando chegarmos na época do frio no Brasil, por volta de maio, talvez — é o que está acontecendo na Europa agora, e esses países já poderão estar estabelecidos com a vacina —, nós possamos passar por essa segunda onda sem senti-la, sem mais mortes no Brasil. Esse é o meu desejo. Mas, não tendo uma vacina com alta eficácia comprovada, em torno de 80%, 90%, algo que deixe a população mais segura, temos que começar a já nos organizar no sentido — e mais uma vez eu cito isso — do tratamento precoce, da profilaxia, sim. Já começam a sair estudos em relação à ivermectina como forma de profilaxia. Devemos ainda manter a população informada da necessidade dos cuidados pessoais, os quais, Dr. Luizinho, nós estudamos na faculdade. É a higiene básica, como, por exemplo, se alguém for ao banheiro, lavar as mãos com água e sabão. Isso nós aprendemos desde a época do colégio, mas, muitas vezes, esse hábito é esquecido.
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Esta pandemia veio para reescrevermos algumas atividades óbvias, para lembrarmos que o menos é mais. É possível resolver muita coisa com água e sabão, como a limpeza das mãos. Também é necessária a diminuição de muitos contatos, apesar de o brasileiro gostar de um abraço, ainda mais eu, como nordestina que sou, que amo um abraço, um beijo. Já chego dando três beijinhos. Não é um nem são dois, mas três beijinhos. Isso é algo que nós teremos que rever nesse novo normal.
Quanto às minhas perguntas, o Dr. Anthony tirou as minhas dúvidas. Hoje eu tive uma verdadeira aula de imunologia. Eu sabia que a BCG tinha algo no âmbito celular, mas não sabia que estava relacionada à imunidade celular, que para mim é a grande questão nesse controle do coronavírus via vacinal.
Eu só tenho que parabenizá-los e agradecer a oportunidade de fazer parte desta Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Deputada Carla Dickson.
Concedo a palavra à Deputada Paula Belmonte.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Bom dia a todos. Bom dia aos nossos palestrantes. Eu fico muito feliz de ver aqui o Dr. Anthony, com quem já fiz lives, apaziguando a nossa sociedade, para que ela possa ter boa informação. São pessoas que eu acompanho, assim como a Dra. Nise.
Presidente Dr. Luizinho, eu gostaria de estar aí presente com V.Exa. Estou com saudade de todos os Parlamentares e do nosso convívio. Desde cedo, hoje, eu participo de outras reuniões e, por isso, não pude estar pessoalmente nesta audiência.
É muito importante deixar claro que, quando se fala de vacina, temos que saber qual é a vacina. O fato é que nós ainda não temos uma vacina. Tenho visto alguns políticos dizerem que já existe uma vacina, mas ela não existe ainda comprovadamente.
Outro ponto importante é saber a eficiência dessa vacina, como foi falado nesta audiência pelo Dr. Wong e pela Dra. Nise. Quantas doses dessa vacina serão necessárias? É um ponto muito importante para deixar claro para a população, porque estão anunciando que quem quiser ficar vivo tem que tomar a vacina. E nós temos alternativas, talvez com menos efeitos colaterais, por meio das quais é possível ter vida. A Deputada Carla deu para mim ivermectina. A partir daquele momento, eu comecei a dar ivermectina para a minha família. Nós todos passamos pela COVID-19 de forma muito tranquila, não tivemos nem febre. As pessoas medirem febre em estabelecimento comercial é algo que não funciona, porque eu e minha família não tivemos nem febre e passamos pela COVID-19.
11:22
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Então, é muito importante que esta audiência pública no Parlamento faça alguns esclarecimentos para a sociedade.
Vejo, muitas vezes, matérias em jornal sobre a obrigatoriedade da vacina. Mas nós não temos ainda uma vacina segura. E já foi falado aqui, na Câmara Federal, muitas vezes, sobre os efeitos colaterais. E de quem será a responsabilidade pelos efeitos colaterais que possam vir a longo prazo? Ninguém quer assumi-los. Isso não ouço muito a mídia falar. Hoje se fala de segunda onda na Europa. Mas não podemos nos esquecer de que, na Europa, está frio. Muitas pessoas, como os palestrantes desta audiência pública, sabem que esse vírus tem uma repercussão maior no inverno. Então, é natural que possa haver mais casos neste momento do frio.
Eu tenho feito uma reflexão sobre o Brasil. Nós, aqui, fizemos o isolamento social, que, para mim, foi algo não planejado e de total irresponsabilidade quem defendesse o "fique em casa". Nós estamos vendo os aeroportos lotados, os voos lotados, a troca de passageiros de um Estado para outro e a diminuição dos casos de COVID-19. Por que não se fala sobre isso?
O Dr. Wong, que esteve comigo numa live, falou a respeito dessa imunização do uso da máscara, em que cada um que já teve vai também imunizar o outro. Então, é muito importante que mostremos para a sociedade que existe a vacina — se Deus quiser, chegará uma vacina com mais eficiência e com mais, vamos dizer assim, segurança para a população —, mas existem alternativas hoje que já são eficientes.
O tratamento precoce é uma delas. A Deputada Carla mencionou algo que sempre defendi: lavar as mãos. Falou-se muito do álcool em gel, mas o lavar as mãos é muito mais eficiente do que usar álcool em gel nas mãos. Existe uma indústria que quer lucrar com a população. Infelizmente, o Brasil entrou nessa politização e nessa ganância, muitas vezes, pelo lucro.
Manter as escolas fechadas é uma insanidade. O Brasil é o País que manteve as crianças por mais tempo fora da escola. Muitas vezes, a escola é, sim, a que traz educação para a criança, de modo que a criança irá auxiliar os pais a saber que o lavar as mãos é importante. Ela vai poder receber uma informação correta. Dizem que as escolas não têm estrutura. Tenho certeza de que muitas escolas, mesmo em áreas periféricas, têm mais estrutura do que a maioria das casas das crianças. Nós estamos falando de uma defasagem educacional que já foi mencionada aqui em audiências públicas. Nossos estudantes estão desestimulados, há evasão escolar, houve aumento de 64% de jovens grávidas na adolescência e está acontecendo algo de que há muito tempo eu venho falando: depressão e suicídio. Então, é algo importante o Brasil e este Parlamento — e fico muito feliz, Deputado Luizinho, pela sua condução dos trabalhos como Presidente — trazerem aqui pessoas que são comprometidas com a ciência e desde sempre vêm defendendo a realidade desse vírus. Nesses dias eu vi um pronunciamento de uma médica holandesa que faz parte de um grupo de médicos chamado Médicos pela Verdade — eu sabia que existia esse movimento na Alemanha e agora está na Holanda. Eles estão judicializando a questão de que a COVID-19 é uma grande farsa. Não estou dizendo aqui que seja uma farsa, porque eu, infelizmente, perdi pessoas próximas, mas nós não podemos deixar acontecerem duas coisas: o pânico social que foi instalado e a propaganda da vacina como salvação para os problemas. Nós temos outras alternativas mais seguras, inclusive, do que a vacina.
11:26
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Eu não tenho perguntas, assim como a Deputada Carla Dickson. Eu quero apenas dar os meus parabéns a todos e dizer que os senhores têm aqui no Parlamento pessoas que os apoiam e que querem cada vez mais divulgar a verdade pela responsabilidade com a população.
Muito grata mais uma vez por esta audiência pública tão importante e tão esclarecedora.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Deputada Paula Belmonte.
Eu vou passar a palavra novamente aos nossos convidados para as suas considerações finais. Não sei se o Deputado Dr. Zacharias Calil quer se manifestar.
Dra. Nise Yamaguchi, a senhora tem condições de voltar a falar? Eu sei que a senhora está se deslocando. Desculpe-me por ter recorrido à senhora nesse deslocamento. A senhora pode fazer as suas considerações finais?
A SRA. NISE HITOMI YAMAGUCHI - Eu quero dizer o seguinte: para mim é um privilégio estar com os senhores.
Eu acho que não existem certezas absolutas, existem decisões a serem tomadas. No momento de retomada das atividades normais, pode acontecer de mais pessoas se infectarem. Isso ia acontecer em algum momento. Nós precisamos cuidar dos nossos queridos mais vulneráveis, mas nós temos também que ter a consciência de que tratamento precoce cura, sim, salva as pessoas.
Eu irei disponibilizar depois os documentos com relação aos tratamentos precoces cientificamente comprovados, para que se pare de uma vez por todas de dizer que não existe comprovação científica. Existe muito mais comprovação científica nos tratamentos precoces do que em muitas das metodologias até avançadas que se pretende usar, e qualquer tecnologia de ponta precisa de tempo para ser testada.
As vacinas vão ter o seu tempo. Elas vão poder trazer os seus benefícios. Eu sou a favor delas. Inclusive, recentemente, em fevereiro, eu falei no Senado Federal a favor da vacina contra o HPV, a favor dos programas brasileiros de vacinação. Meus netos todos tomaram as vacinas. Portanto, sou a favor da ciência, sou a favor do discernimento e também sou a favor do debate amplo.
11:30
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Estamos solicitando uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal, com a presença de cientistas de todas as áreas: produtores das vacinas, cientistas do Butantan, cientistas de Oxford, cientistas internacionais. Isso tem que ser aberto. Nós não temos que adotar as vacinas que nós desenvolvemos. Nós temos que adotar a melhor vacina do mundo. E tudo isso tem que ser discutido amplamente. Mas pode ser que, em determinado momento, não precisemos de vacina, se a mortalidade estiver menor do que 1%.
Nós não vamos poder vacinar as pessoas que já tiveram a doença. Nós não vamos poder vacinar as crianças, porque não existe teste em crianças. E nós não vamos poder vacinar os adultos idosos com doença, porque esses podem ter imunidade baixa e não se dar bem com vacinas atenuadas, mesmo inativadas, porque a inativação completa pode não acontecer em algum momento, e não podemos correr o risco de vacinar com vírus pessoas que têm a imunidade baixa, como transplantados de medula, etc. Então, é preciso ter bom senso.
Outra coisa: não vamos quebrar o nosso Sistema Único de Saúde, fragmentar o sistema em cada Prefeitura e Estado. Isso já ocorreu lá atrás. O Brasil se uniu no Sistema Único de Saúde. O sistema deve continuar único, monitorado nas comissões tripartites. O legado do SUS para o mundo é a sua coerência. Portanto, que nós possamos participar dele com coerência, com afinidade, com amor pelo ser humano, com a percepção de que o outro importa mais do que nós mesmos. E que possamos construir o SUS com dignidade, com transparência e com governança.
Eu participo de um grupo de governança do Tribunal de Contas da União que está fazendo agora um trabalho internacional, estabelecendo pontes com vários governos internacionais sobre o que fizemos durante a pandemia, como podemos nos precaver contra todas essas atrocidades que aconteceram em nosso País, cujo dinheiro é escasso e foi tão mal utilizado. E que nós possamos ser, acima de tudo, sábios, humanamente conectados com o sofrimento de todos os que perderam pessoas queridas e dos que estão com sofrimentos desnecessários no pós-COVID. Muita gente está com sequelas graves por não ter recebido tratamento precoce. Tiveram que ir para a UTI, ficaram com problemas neurológicos, cardíacos, respiratórios, etc. A síndrome pós-COVID, que atinge mais de 40% das pessoas, até 60%, pode diminuir, se a pessoa resolve o problema mais precocemente.
Tudo isso significa que nós temos hoje, nas nossas mãos, no Legislativo, o poder de requisitar que a ANVISA, por exemplo, siga todos os passos. Não temos que colocar como excepcionalidade a autorização de vacina nenhuma no Brasil. Nós temos que seguir os ritos da ciência internacional, porque se trata de uma área desconhecida. E nós precisamos trabalhar com mais segurança com uma doença que é grave. É diferente de uma vacina contra a gripe. O vírus da gripe é uma coisa; o coronavírus é outra. O coronavírus causa imunodeficiência, causa doença autoimune, causa outras coisas. Os fragmentos da proteína Spike causam inflamações em órgãos importantes e podem induzir outras questões. Não sabemos o que acontece quando os ribossomos começam a produzir uma proteína anômala, como as células se desregulam. Vamos ter mais câncer? Não vamos ter mais câncer? Vamos ter doença autoimune? Tudo isso é algo que num estudo clínico é monitorado e é seguido, mas na população em geral não tem como ser feito. Então, vamos com calma.
11:34
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Percebam que nós somos a favor, sim, do desenvolvimento. Eu mesma sou especializada em oncologia, em medicina de precisão. A minha tese de doutorado foi em Houston, junto com a faculdade no HC. Eu mesma fiz os testes moleculares, análises das minhas células tumorais, que eu levei pessoalmente. Na época, fazia-se muito isso, há 25 anos. Trabalhei em conjunto com grupos do Memorial Sloan Kettering, na época da AIDS. Publiquei até um pequeno abstract de novos tratamentos com o Richard Gallo lá do NIH, sobre câncer e AIDS. Estive no ambulatório de imunologia de tumores no HC por 15 anos. Estive no gabinete de crise do H1N1 no Estado de São Paulo. Fui representante do Ministério da Saúde por 5 anos. Então, eu sei do que estou falando. E falo de gestão, de qualidade, de estruturação. Para isso, nós precisamos juntar forças.
Então, Deputado Luizinho, Deputado Ricardo Barros, agradeço-lhes mais uma vez a oportunidade de discutirmos este tema. As coisas não são estanques. E é mais do que hora de voltarmos a essa questão e impedirmos que haja mais lockdowns no Brasil ou mais atrocidades com controles inadequados da doença. Por exemplo, por que as coisas não podem funcionar até mais tarde? Por que as pessoas não podem ir à praia? Por que os parques estão fechados ainda, se são justamente os ambientes de maior potencial da saúde?
Deixo um abraço a todos. Que possamos trabalhar em conjunto.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Dra. Nise Yamaguchi, por sua participação.
Passo a palavra à nossa Relatora, a Deputada Carmen Zanotto, para as suas considerações finais.
A SRA. CARMEN ZANOTTO (CIDADANIA - SC) - Muito obrigada, Deputado Luizinho. Muito obrigada aos nossos convidados e convidada.
Quero aqui saudar a todos mais uma vez, na pessoa do Dr. Paolo Zanotto. Somos da mesma região da Itália, mas não nunca tivemos a oportunidade de estar juntos aqui no Brasil. Provavelmente, nossas famílias têm a mesma origem de berço.
Quero dizer, Deputada Paula Belmonte, Deputada Carla, Deputado Dr. Calil, Presidente Luizinho, que este é o nosso papel enquanto Comissão Externa: continuar sempre ouvindo os especialistas, ouvindo as mais variadas opiniões, para podermos sair o mais rápido possível dessa situação, restabelecendo em especial as aulas com segurança.
Repito que os gestores da educação precisam ter o apoio dos Prefeitos e dos Governadores na estruturação das escolas e na garantia das condições adequadas para o retorno das aulas com segurança, dentro daquilo que todos nós desejamos, a retomada da educação, que é a base da sociedade brasileira.
Em especial, Deputada Paula, para nós que defendemos a primeira infância, há a preocupação com as nossas crianças, que hoje não estão tendo toda a estimulação necessária numa fase importantíssima da vida. Então, que continuemos os debates.
Como Relatora, quero agradecer aqui a disponibilidade da grande maioria dos senhores e da senhora de estarem conosco nesta semana por duas vezes, durante todo o tempo de duração das reuniões, manifestando seu conhecimento, defendendo suas teses, para que possamos juntos enfrentar cada vez mais esta pandemia no País.
Deixo um forte abraço a todos. Parabéns, Deputado Dr. Luizinho, por presidir mais uma vez a nossa reunião. V.Exa., na bancada de homens e mulheres comprometidos com a saúde, é o nosso ícone à frente da Comissão Externa.
Obrigada a todos.
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O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Obrigado, Deputada Carmen Zanotto.
Temos um limite de horário. Por isso eu peço brevidade nas considerações finais.
Tem a palavra, para as suas considerações finais, o Dr. Anthony Wong.
O SR. ANTHONY WONG - Mais uma vez, eu quero agradecer a oportunidade de participar deste excelentíssimo painel.
Cumprimento a Deputada Paula Belmonte, com quem estarei amanhã numa live. Aliás, agradeço-lhe as gentis palavras. Tento sempre fazer o melhor possível.
Eu só queria dizer uma coisa: ao contrário da posição da Dra. Nise sobre não termos certeza absoluta de nada, eu tenho algumas certezas absolutas e fundamentais.
Em primeiro lugar, o lockdown foi desastroso, foi danoso, foi terrível, não apenas para o mundo, mas, em especial, para o Brasil. Ele foi feito no momento errado e foi dada uma mensagem errada. Ficar em casa destruiu a fibra moral do nosso País de uma forma que eu espero que não seja irreparável.
Estudos recentes mostraram que os efeitos do lockdown, os danos do lockdown são dez vezes piores do que o efeito da própria pandemia. A recuperação disso não se dará em 2021 nem em 2022; talvez leve vários anos. Então, eu tenho certeza absoluta de que o lockdown decretado por alguns governantes, de forma irresponsável, baseados em dados espúrios, não naquela mensagem da própria Organização Mundial da Saúde, mas na daquele Diretor-Geral, foi realmente prejudicial ao País, principalmente às camadas menos afortunadas da nossa sociedade.
Outra certeza absoluta que eu tenho: o tratamento precoce é prioritário não apenas na COVID-19, mas também em qualquer doença. Se você tem tuberculose, trate o quanto antes. Se você tem câncer, trate o quanto antes. Se você tem meningite, trate o quanto antes. Se você tem doença mental, trate o quanto antes. Não se pode mandar o doente para casa até ele piorar para depois tratá-lo. Isso é assassinato, isso é genocídio.
Quem participou disso foram alguns dos nossos colegas, inclusive de algumas das sociedades brasileiras de medicina. Eles esqueceram o juramento hipocrático de que têm que aliviar o sofrimento e tratar o quanto possível de modo precoce. Disso eu tenho certeza. Tenho vergonha de algumas pessoas da classe médica que disseram à população para ficar em casa até piorar e que negaram a ela o tratamento precoce.
O tratamento precoce não precisa ser com hidroxicloroquina, não precisa ser com ivermectina. Pode ser qualquer tratamento que tenha tido alguma chance de sucesso, alguma evidência. O tratamento precoce com hidroxicloroquina tem classificação científica 1-A e 1-B, a mais alta evidência científica, por um instituto de Oxford, o Centro de Medicina Baseada em Evidências. Negam isso até hoje! O presidente de uma sociedade médica diz que não há essa evidência científica, enquanto propaga um tratamento de 4.500 dólares, que é mais duvidoso ainda. Isso é realmente um erro médico e deveria ser punido pela classe médica.
Outra certeza absoluta que eu tenho: as escolas jamais deveriam ter sido fechadas. As escolas deveriam ter permanecido abertas. Isso demonstraram todos os outros países, não só os 22 países da Europa que abriram as escolas em maio, mas também os países asiáticos, que jamais fecharam as escolas. Como a Deputada Paula disse, as escolas têm melhores condições do que as casas. A convivência das crianças na escola é melhor do que ficar em casa com um Ipad — quem o tem, porque a maioria não tem. A criança precisa da convivência, de uma experiência externa, e a escola fornece isso.
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A escola é uma proteção, um abrigo contra a violência doméstica, contra a violência dos adultos, contra a violência das ruas e contra a violência social do isolamento. Então, as escolas deveriam ter estado abertas sempre, desde o começo. E elas devem ser abertas imediatamente. Disso eu tenho certeza absoluta.
Eu tenho certeza absoluta de que ainda não há vacinas eficazes nem vacinas seguras. Isso não existe. Tenho certeza absoluta. Neste dia de hoje, 28 de outubro, não temos nenhuma vacina assim. Talvez, no dia 1º de janeiro, tenhamos alguma, mas será outra época.
O Brasil não tem pressa. Se nós tivermos uma segunda onda, ela só ocorrerá em maio de ano que vem. Então, teremos 6 meses para desenvolver a imunidade coletiva — ou imunidade de rebanho, como queiram —, tomando banhos de sol, que ajudam a diminuir a contaminação pelo vírus. Como o Paulo Zanotto disse, a radiação ultravioleta mata o vírus instantaneamente. Isso foi propagado pelo CDC dos Estados Unidos e pelo o MIT, uma das maiores instituições científicas do mundo. A radiação ultravioleta mata o vírus, assim como o calor. Então, deve-se tomar sol, que também nos fornece vitamina D, que é necessária. A luz solar também ajuda a preservar a saúde mental das pessoas.
Eu também tenho certeza absoluta de que a saúde mental e a saúde econômica são indissociáveis da saúde física. Quem disse "Vamos preservar a saúde e a vida das pessoas, porque a economia nós recuperamos depois" estava dizendo bobagem. São uma nulidade essas pessoas. A falta de saúde econômica acaba com a saúde mental das pessoas, o que diminui a imunidade e aumenta a possibilidade de essas pessoas pegarem uma doença. E o risco não é apenas de pegar uma doença, é também de ela ser muito mais grave, porque a imunidade celular depende do estado moral, do conjunto total do ser humano, o que inclui a saúde física, a saúde mental, a saúde econômica e a preservação da sua dignidade como pessoa.
Eu tenho certeza absoluta também de que devemos retomar as nossas atividades o mais rápido possível. Deveríamos retomar nossas atividades normais não hoje, mas ontem ou anteontem, porque não há nenhuma justificativa para ainda estarmos mantendo alguns lugares fechados, mantendo algumas atividades econômicas limitadas, quando estamos tendo temperaturas médias no País entre 25 graus e 35 graus — estou falando de média. Então, a retomada das nossas atividades normais tem que ser imediata, para o bem da nossa Nação, para o bem de cada um, individualmente, e para a preservação dos nossos mais necessários requisitos de ética, de bem-estar e de convivência. Disso eu tenho absoluta certeza.
Do que eu não tenho certeza é se o País pode ainda conviver com políticas que estão destruindo a alma e o próprio alicerce da Nação, em termos de ética e de valores básicos, que foram desmontados ou destruídos neste momento de pandemia ou de "panicodemia" fabricado. Demonizaram um vírus pequeno, que não é mais importante que o vírus da Influenza. Talvez a bactéria seja tão importante quanto o vírus, para a qual nunca fizeram o fechamento de uma ação, como foi feito até agora com um vírus que não merecia a atenção ou a credibilidade que deram a ele. Caros colegas, desculpem meu desabafo. Depois de 8 ou 9 meses — eu venho falando dessas coisas desde março —, este é um desabafo. Eu até fui vítima de ataques pessoais por uma entidade chamada Comprova, que nem sabe quem eu sou. Ela publicou uma série de inverdades sobre mim.
11:46
RF
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Dr. Anthony Wong, pela participação.
Passo a palavra ao Dr. Paolo Zanotto para suas considerações finais.
O SR. PAOLO ZANOTTO - Senhores, é muito bom falar ao Parlamento do Brasil. Eu acabei de ouvir meu colega, o Prof. Anthony Wong, uma pessoa ilibada, com um histórico incrível como cientista, que deslocou o eixo deste discurso para o eixo que não foi assumido até o momento pelos cientistas. Eu vou dar continuidade ao discurso dele.
Otto von Bismarck, grande estadista alemão, quando da modernização da Alemanha, percebeu que houve uma reação intensa ao programa de mudanças que ele estava tentando implementar. Ele notou que o grande problema não tinha a ver com a crítica aos seus métodos ou às suas técnicas, ao que deveria ser assumido ou desprezado com relação ao que tinha que ser modificado na Alemanha. O que se seguiu a este processo foi o que Otto chamou de Kulturkampf, ou seja, uma guerra cultural. Ele percebeu que a guerra cultural não é baseada em aspectos técnicos, metodológicos e conceituais, mas, sim, em conflitos de valores.
Caros senhores, o que nós estamos vivendo hoje é exatamente uma guerra cultural. A última vez que eu vi isso foi quando, provavelmente, os jacobinos o fizeram no ancien régime, na França. Os bolcheviques também fizeram isso, na Rússia czarista. Mao Tsé-Tung fez isso na China, com a guerra cultural. Hoje nós estamos vendo no mundo inteiro algo desse tipo.
O pequeno vírus, como Wong falou, virou a justificativa para se fazer, em última análise, o quê, senhores? Para se modificar, de forma imposta, o cotidiano das pessoas. Nós estamos vivendo uma enorme revolução. A sociedade está se organizando em confronto a isso, e a favor disso existe um interesse coletivo enorme — coletivo, não, que é meio difuso —, mas extremamente coordenado. V.Exas., como Parlamentares, têm que estar extremamente atentos a isso e acompanhar todo este processo.
Como V.Exas. podem ver, pessoas como eu e o Wong têm sido banidas das redes sociais, têm sido criticadas por pessoas que não têm currículo nenhum, pessoas às quais tem sido dado o mesmo valor na imprensa. Estou falando de pessoas cuja credibilidade tem sido destruída e cujas profissões estão sendo colocadas em risco, com processos movidos contra elas e contra as instituições onde trabalham. Por que isso está acontecendo? Porque essas pessoas estão defendendo a vida do povo. Mas não é só por isso: é porque nós estamos confrontando esta alteração imposta no cotidiano das pessoas, sem que este processo seja democrático ou natural da reorganização social.
11:50
RF
Portanto, Srs. Parlamentares, fiquem muito atentos, porque nós estamos numa frente de combate, mas estamos tendo destruídos nossos valores, não tanto pelo que colocamos, porque o que colocamos é inconteste, é ciência, mas pelos valores que estamos defendendo, que estão nos levando ao cadafalso. É obrigação dos senhores nos defender, como é obrigação dos senhores defender o art. 5º da Constituição brasileira. É impossível que os senhores deixem os "comerciantes" da informação da Internet dizer o que eu posso ou não falar. Isso tem que mudar! É preciso interromper isso.
É patético vermos a sociedade brasileira sujeita a mordaças, não só à máscara contra a COVID, mas também à mordaça da expressão. Existem duas mordaças ou duas máscaras colocadas no povo brasileiro: uma está colocada na boca das pessoas, para que o vírus não passe; a outra está colocada em cima da Constituição brasileira, para que o art. 5º seja violado todo dia, toda hora, por todos os provedores de redes sociais.
O que os senhores estão fazendo diante disso?
Este é o meu grande desafio aos senhores. Quando os senhores vão defender a população brasileira e a liberdade de expressão? Quando vão se levantar, de forma inequívoca, contra esse absurdo e essa forma de cerceamento e de censura que estão sendo postos em prática no Brasil?
Deixo para os senhores esta enorme provocação. Nós já tivemos grandes surtos na sociedade humana. Os senhores devem se lembrar da peste negra. Ela reorganizou a Europa, causando uma completa restruturação na Europa, fez surgir a modernidade, a Renascença, a reorganização social. O sistema feudal entrou em colapso, a Igreja perdeu a preponderância em função da peste negra, e a Nova Europa surgiu. No entanto, o que aconteceu decorreu dos interesses e das consequências de um processo natural. O que estamos vendo hoje é uma imposição da alteração do cotidiano por grupos de pessoas, por interesses particulares, não pelo interesse do povo.
Os senhores, como voz do povo, têm a obrigação jurada de defender o art. 5º da Constituição brasileira, a liberdade de expressão e a liberdade das pessoas.
Eu sei que estou sendo muito agressivo com os senhores. Espero que entendam isso como uma provocação positiva, não como uma crítica negativa. Espero que os senhores entendam que ovelhas não governam leões. Eu quero que os senhores assumam uma posição em defesa do povo brasileiro.
Quero deixar aqui meu até logo e meu agradecimento a todos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Dr. Paolo, muito obrigado pela participação.
Passo a palavra ao Dr. Alexandre Chieppe para suas considerações finais, de forma breve.
O SR. ALEXANDRE CHIEPPE - Deputado, eu queria apenas agradecer a participação. Acho que esta audiência é muito produtiva. Eu queria agradecer, mais uma vez, a oportunidade de estar aqui e de conversar com os senhores.
Parabenizo V.Exa., Sr. Presidente, e os demais Deputados desta Comissão pelo excelente trabalho e pela condução das respostas à pandemia, condução que vem se tornando um exemplo.
Agradeço, mais uma vez, a possibilidade de estar com os senhores.
Muito obrigado.
11:54
RF
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Muito obrigado, Alexandre Chieppe.
Quero deixar registrado nesta audiência pública, por solicitação do Deputado Ricardo Barros, e deixar considerado ao Dr. Wong, à Dra. Nise e, em especial, ao Dr. Paolo Zanotto que a característica da nossa Comissão é ouvir a todos os brasileiros, a todos os especialistas convidados e indicados pelos requerimentos dos Deputados, indicados para nós de maneira informal, para que possamos levar informações à população brasileira.
Nós, de forma alguma, cerceamos qualquer tipo de opinião, qualquer que seja a opinião. A opinião aqui está franqueada, porque esta é a Casa do Povo. Quando eu discordo de alguma opinião ou concordo, eu continuo com o microfone aberto para ouvir as pessoas, porque faz parte da nossa condução à frente da Comissão Externa dar acesso democrático às diversas partes e às diversas opiniões que se manifestam. Nós trabalhamos, acima de tudo, pela união da população brasileira, para vencermos este momento tão difícil de enfrentamento da COVID-19, tendo a democracia, a participação popular e a participação parlamentar como requisitos básicos para conduzirmos esta Comissão Externa ao longo dessas 88 sessões, como vimos conduzindo, com participação, sem briga e sem desunião.
Eu quero deixar registrado que acho que nossa Comissão Externa é um exemplo de condução para todo o Brasil. Ela é um espaço democrático e respeitoso com todos os Parlamentares. Apesar de todas as dificuldades e de todos os entraves que o trabalho remoto apresenta, nós trabalhamos todas as semanas de todos os meses durante esta pandemia dando a todos o acesso democrático à liberdade de expressão, para que todos possam apontar o melhor caminho e a melhor solução para esta pandemia que assola nosso País e o mundo.
Muito obrigado a todos os convidados.
Dou por encerrada esta reunião.
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