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O SR. PRESIDENTE (Francisco Jr. Bloco/PSD - GO) - Bom dia a todos e todas!
Cumprimento cada um dos senhores e, de forma especial, a Deputada Angela Amin, que muito tem contribuído com estes trabalhos, assim como todos os senhores. Penso que, nesses 2 anos, o que tem muito me animado no trabalho na Câmara é essa investigação, essa pesquisa que estamos fazendo com relação às cidades inteligentes, em que tanta coisa boa temos visto dar certo. Em meio a tanta notícia ruim e atrapalhada que temos no Brasil hoje, vemos iniciativas tão positivas, que têm dado certo e precisam ser apoiadas. Essa é a nossa intenção.
Hoje nós estamos em uma sala diferente. O formato não é de audiência pública, mas de reunião de mesmo. Aproveitando o formato, vamos chamar os Deputados à mesa. O Deputado Eduardo Braide ainda não chegou, mas é bom que todos possam participar, junto aos microfones. Vamos dar início aos trabalhos.
Aos nossos convidados, o Sr. Rafael Lucchesi Ramacciotti, a Sra. Cristiane Vianna Rauen, o Sr. Sergio Sgobbi e o Sr. Celson Pantoja Lima, já foi explicado o formato que temos adotado. Nós não estamos hoje dispostos em uma roda, mas é uma roda de conversa o que nós fazemos aqui. Lamentavelmente, as apresentações não podem ser demoradas. Cada um fará uma breve exposição. Ao final, abriremos a palavra e faremos um debate, com oportunidade a todos para falarem, complementarem ideias, questionarem. Portanto, faremos esse formato bem aberto, bem à vontade.
(Segue-se exibição de imagens.)
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O objetivo disso é fazer com que esse pacote de tecnologias possa tornar mais eficientes as decisões, sobretudo as relativas aos serviços de redes públicas e serviços públicos. O que nós temos hoje é uma enorme capacidade de processar informação. A partir dos anos 70 do século passado, a Terceira Revolução Industrial foi progressivamente tornando cada vez mais baratos os chips, os RFIDs, fora o pacote de tecnologias digitais. Tudo isso, integrado, faz com que essas ações de rede, de plataformas e aplicações inteligentes possam transformar profundamente o perfil de serviços das cidades.
E tudo isso está acoplado ao Desenvolvimento Sustentável, às Metas do Milênio. Tudo isso faz parte de uma agenda global de desenvolvimento.
As pessoas são o centro desse processo de transformação. O impacto nas organizações, seja nas organizações públicas, seja no Congresso, seja nas empresas, acontece tanto na liderança dessas organizações como também na base da pirâmide. É uma transformação cultural.
E o que nós temos? Pegando aqui emprestadas as informações — e já prestigiando o colega —, nós temos um pacote de investimentos grandes que vai impulsionar e transformar a economia. Nós temos, no Brasil — isto acontece de maneira até mais intensiva em outros países —, investimentos na área de nuvem, de robótica, de Internet das Coisas, de Big Data, de serviços de informação e de inteligência. É um pacote que vai somar ao redor de 350 bilhões de reais nos próximos anos. Já começou a acontecer em 2019, e essa é a perspectiva até 2022.
Da mesma maneira, há um forte impacto sobre a formação de pessoas, dando um cunho de como isso vai ter aderência na transformação na cultura das organizações, um impacto real na demanda por empregos qualificados. Isso exigirá um esforço grande das organizações, sobretudo das formadoras, como é o caso do SENAI. Estas têm que estar alinhadas a uma agenda de política pública que criem maiores oportunidades de aderência à geração de riqueza e, evidentemente, ao círculo virtuoso de desenvolvimento. A geração de riqueza e empregos é que vai retroalimentar as decisões de investimento, que, por sua vez, vão se traduzir em mais emprego e em mais riqueza, o que vai realimentando o ciclo econômico. É a dinâmica do ciclo econômico. Portanto, as cidades inteligentes têm que estar absolutamente comprometidas com o desenvolvimento sustentável e alinhadas à formação profissional pelas demandas dessa sociedade do futuro, dessa sociedade que se transforma rapidamente.
E não são só as tecnologias habilitadoras. O SENAI tem 28 observatórios — são formas de fazer foresights ou cenários com relação ao futuro — para cada um dos 28 setores em que nós atuamos, para formar para a indústria. Além disso, nós temos um observatório transversal que pega exatamente o impacto dessas novas tecnologias, que estão transformando todos os processos produtivos, como aconteceu, aliás, na Terceira Revolução Industrial.
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Podemos pegar um exemplo figurativo do que seria isso. Até os anos 70, você podia estabelecer uma correlação muito clara entre o valor do automóvel e a quantidade de aço que existia dentro do automóvel. E o que é o automóvel hoje, senão uma correlação direta da quantidade de chips, ou seja, de tecnologia de informação e comunicação, que vai estabelecer o preço do automóvel? Não é mais o aço. Portanto, poderíamos estabelecer um paradigma claramente fordista, que vai até os anos 70, para um paradigma de TIC, a partir daí, que vai correlacionar o preço do automóvel. E como será o automóvel do futuro, num contexto de servitização da indústria, ou seja, de transformação de uma indústria de produtos para uma indústria de serviços? Serão estas novas tecnologias: condução autônoma, um pacote de TI fortemente integrado e um conjunto de utilidades que vão estar associados à informação dentro do automóvel, que vai ser, como se diz, o superautomóvel. Será retirado o grande problema dos acidentes, que é a condução humana. Os veículos trafegarão de forma muito mais veloz e com acidente zero. É o que se pretende, acidente zero, com as formas de controle do veículo guiado autonomamente. Apenas citei este exemplo, mas poderia dar outros exemplos.
Há uma perspectiva de transformações muito grandes. Hoje há por biometria estatística, por padrão estatístico de molécula, a validade dos remédios. A tendência é que haverá um sensor que identificará exatamente o princípio ativo daquela molécula para determinar o prazo de validade, e não a previsão estatística; ou até mesmo a entrada de um agente externo que vai causar alguma degradação daquele medicamento, daquela molécula. Aquilo vai ter um sensor de luz ou de som, identificando que o medicamento perdeu a validade.
Há também o caso da geladeira, que vai mudar de maneira dramática a sua condição de ser um produto; será, na verdade, uma cadeia de produtos. A geladeira vai dominar todo o seu padrão de consumo. Todos produtos que entrarem na geladeira vão ter RFID. Assim, a geladeira vai saber o seu padrão de consumo. Certamente, quando você apertar com um clique o seu smartphone, a geladeira vai poder repor a sua feira. Vão mudar o comportamento doméstico produtos cada vez mais inteligentes, incorporando-se a capacidade de haver serviços associados à geladeira. Assim, no seu exame anual, no seu check-up anual, se você estiver acima do peso, poderá comprar uma nova dieta, que vai estar associada à sua geladeira, modificando inteiramente a sua dieta. Ao se pensar assim, podemos considerar que a geladeira vai se comportar muito, talvez, como são hoje as impressoras. É óbvio que, quanto às impressoras, o preço do produto é muito superior ao que seria o custo da impressora: na verdade, está-se comprando uma cadeia de valor, para depois se comprar o toner da impressora. Trata-se de uma forma de se dominar o mercado. Enfim, as geladeiras vão sofrer mudança expressiva.
Poderíamos dar outros exemplos, mas vamos acelerar, para entrarmos propriamente no tema, a nossa atuação do SESI/SENAI.
As competências que vão ser transformadoras não são só competências técnicas associadas a essa enorme capacidade e necessidade de analisar informações. O valor adicionado das principais cadeias e modelos de negócios vai estar associado à capacidade de se lidar com uma grande camada de informações, de processar e analisar informações em tempo real. Esse vai ser o grande segredo do jogo.
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Mas não só isso, a capacidade de análise crítica e a atuação cooperativa vão mudar também o que chamamos de soft skills, que envolve o comportamento e as questões socioemocionais, que vão redefinir também o perfil e requisitos técnico-profissionais da maior parte das carreiras. Competências como capacidade de resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, coordenação, etc., tudo vai mudar muito.
Às vezes, as pessoas até simplificam. Conversando com jornalistas, ouvi a pergunta: "Ah, então vai haver muito emprego para área de engenharia e de profissionais de TIC?" Não só isso. Se nós olharmos as grandes empresas globais, veremos que elas têm pessoas que atuam em áreas como sociologia, filosofia e comunicação. Na verdade, vai haver uma transformação do perfil das competências requeridas, de maneira horizontal. Não se vão redefinir, numa lógica de profissões do passado, sendo concentradas em determinadas áreas; vai haver, na verdade, uma transformação, como aconteceu com a Terceira Revolução Industrial, preconizada pelas TICs. Vão-se reconfigurar toda a estrutura produtiva e todos os aspectos do comportamento.
Se nós olharmos hoje como funciona um banco, veremos que é completamente diferente de como funcionava nos anos 60. As fintechs vêm aí para afirmar isso, de forma ainda mais abrangente, definindo um processo de transformação que não finalizado. Mas nós temos hoje um conjunto de ferramentas financeiras acessíveis. Hoje não se vai ao banco, o banco é o seu celular. Dou esse exemplo só para que se tenha uma ideia das mudanças. Eu tenho uma conta na XP e nunca estive lá, nem sei o que é. Converso com uma pessoa e não sei quem é.
Vamos entrar no SENAI. Nós temos uma agenda de educação profissional em sintonia com esse trabalho do futuro. Na verdade, eu poderia citar um pouco do SESI também nessa entrada.
A educação vai se transformar. Nós temos uma primeira edição da escola — falo sobre isso muito rapidamente —, a escola grega, que criou o termo "escola". Os gregos criaram aquela história do preceptor e tal, muito elitizada; temos a escola eclesiástica da Idade Média e temos a escola industrial, aquela escola que nós conhecemos, em que eu estudei e, acredito, todas as pessoas aqui estudaram. Tinha uma sirene que parecia uma sirene de fábrica. Você era adestrado a processos de memorizar e repetir, como eram as fábricas, como eram as repartições, como era a vida profissional. Havia um conjunto de competências, que eram exercidas. O que temos hoje é uma escola do século XXI, uma escola de resolução de problemas reais, uma escola inovativa, uma escola voltada para o steam, para o aprendizado de ciência, tecnologia, engenharia, arte, matemática, uma escola voltada para as competências de programação.
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A educação tem um aspecto importante, que nós precisamos revisitar. Por isso, é importante a presença do MEC aqui. Nós temos que participar deste debate nacional de restruturação dos processos educacionais. Não podemos mais pensar numa escola que esteja no século XX, diante das necessidades absolutamente transformadoras do século XXI. Os algoritmos e a inteligência artificial vão substituir em larga escala os trabalhos repetitivos.
E é um engano achar que isso vai impactar apenas nas profissões técnicas, e não nas profissões de ensino superior. Essa é uma visão alienada e preconceituosa. Se pararmos para pensar, hoje o melhor clínico médico do planeta é uma máquina digital, o Watson da IBM, que tem a capacidade de dominar as rotas médicas e prescrever soluções melhor do que qualquer clínico. O melhor programador financeiro hoje é uma máquina; o melhor contador é uma máquina; o melhor assistente jurídico é uma máquina. O impacto será muito forte sobre diversas profissões.
Eu tenho uma filha que está no terceiro ano de Medicina. Ela me disse: "Pai, eu conversei com os meus professores e eles disseram que não vai haver impacto nenhum na área da Medicina". Eu disse: "É o pessoal do passado, minha filha, que está dizendo isso para você. Tenha certeza de que haverá enorme impacto e transformação. Você terá que pensar numa medicina que terá que incorporar uma grande capacidade de análise de informação, e, tendo essa informação, você deveria já pensar no seu mapa de competências, porque isso será desafiador". Esse será o desafio do futuro e vai impactar todas as áreas.
Nós temos um grave problema no Brasil, a baixa produtividade no trabalho e uma indústria também baseada em baixa produtividade. Precisamos ter um pacote de soluções técnicas que vá ao encontro dessas necessidades, e é nisto que estamos trabalhando.
Temos aqui um quadro que mostra como seria o tempo de processo. Esse trabalho é feito pela Acatech, da Alemanha, que lidera o processo de vanguarda, a Indústria 4.0. Temos evento, insights, análises complexas, ação e aprovação, para então se começar a resolver os problemas, no velho paradigma. Como é isso agora? É tudo em tempo real, tudo integrado. Em todos esses processos, usa-se a Internet das Coisas, big data, inteligência artificial, sistemas cyber-físicos, integração de sistemas e robótica avançada, tudo integrado e ganhando soluções mais ágeis na estrutura industrial.
E é isto que nós estamos fazendo no SENAI: estamos apoiando a indústria brasileira nesse grande esforço, seja na área de serviço tecnológico e inovação, seja na área de formação profissional.
Esta é a carta onde nós colocamos tudo isso como valor. A Indústria 4.0 veio para ficar e vai transformar todos os processos fabris. Ela não é um pico, mas algo que transforma. A partir daí, transformará cada vez mais.
Portanto, nós precisamos ter uma indústria que deva enxugar processos produtivos, requalificar trabalhadores, iniciar por tecnologias disponíveis e avançar na agenda de inovação. Sendo o primeiro impacto uma agenda de digitalização, os impactos seguintes são de transformações, a partir da incorporação das novas tecnologias.
Avaliação da maturidade tecnológica. Nós fazemos um processo até de alta análise.
A indústria faz um processo de autoanálise, à semelhança da gestão pela qualidade. Há toda a parte de otimização, de sensorização e conectividade, que seria a digitalização; e da Indústria 4.0, visualização e transparência, conectividade preditiva, flexibilidade e adaptabilidade. Tudo isso vai estabelecer maior prontidão e maior disponibilidade do parque de equipamentos, além da sua racionalização. Além disso, há toda a parte de formação de pessoas.
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Vou dar um panorama, um highlight das coisas. Poderíamos aprofundar cada um desses pontos, mas não é o caso fazê-lo aqui. Como disse o Presidente, devemos fazer uma overview.
As qualificações profissionais vão ter transformações grandes. Falamos dos observatórios. Nas perguntas, poderemos falar mais um pouco. Os processos têm que ser mais eficientes, mais enxutos, mais otimizados. Para tanto, o que precisaremos fazer? Conhecer a capacidade produtiva, dados e fatos reais de produção, processos e atividades que agregam valor. Precisaremos identificar gargalos produtivos e atuar para reduzir desperdícios: transporte, superprodução, estoque, etc.
Cito, por exemplo, o Programa Brasil Mais Produtivo, que hoje é Brasil Mais. O SENAI foi o grande implementador dessa solução, com avaliação inclusive da CEPAL — Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, com ganho médio de produtividade de 52%, dessas 3 mil empresas. Isso é bastante impactante. E agora, no redesenho que nós fizemos para o Brasil Mais, que é um programa do Governo Federal, do Ministério da Economia, mas tecnicamente liderado pelo SENAI, nós temos um impacto médio de 64% de ganho de produtividade, só com manufatura enxuta, só racionalizando o chão de fábrica da indústria.
Há toda a parte de digitalização e conectividade. Nós temos um produto no SENAI para isso. Há ganho médio de 40% de produtividade das empresas que fazem esse produto. Faz-se toda uma análise da estrutura da indústria. Com isso, a indústria terá muito mais condições de acompanhar os processos inovativos. Há todo o conjunto de novos materiais, novos produtos, envolvendo grandes empresas startups, ou seja, o conceito de open innovation, hábitat de inovação e conectividade entre progresso técnico, inovação, grandes empresas e ambientes startups. Isso tudo está no que nós chamamos Indústria 4.0 do SENAI. Quem tiver interesse pode entrar nesse ambiente na nossa página, que terá muito mais informação do que eu estou apresentando aqui, com muito mais detalhe.
As tecnologias habilitadoras são a parte de robótica, integração de sistemas, Internet das Coisas, simulação, manufatura aditiva, computação em nuvem, realidade virtual, realidade aumentada. Em resumo, todo esse conjunto de atividades estão integradas no que nós chamamos de tecnologias habilitadores, que vão transformar as necessidades produtivas do chão de fábrica e de formação das pessoas.
Quanto a capacidades técnicas, hard skills, cada setor terá impacto, seja no usuário, no mantenedor, no integrador, no desenvolvedor, em cada um dos 28 setores da indústria, com gradações distintas, seja em setores mais science based, ou seja, mais intensivos em tecnologia, seja em setores que tenham menor densidade tecnológica inovativa. Isso se dá em função do ciclo tecnológico.
Nós estruturamos essa mandala com todos os setores onde o SENAI atua.
Nós já desenvolvemos competências para 90% do nosso portfólio; há ainda os 10%, que são competências da Indústria 4.0, para todas as formações e todas as necessidades de cada um desses setores. Refiro-me a desenvolvedor, mantenedor, usuário, integrador, nesse conjunto de competências para todos os setores industriais. Abrange desde formação técnica até técnica de cyber-sistemas de automação. Esses são exemplos.
Já no nosso portfólio, nós temos: Desvendando a Indústria 4.0; Conectando à Indústria 4.0; Curso de Robótica Colaborativa; Explorando o BigDATA; Programação Móvel para Internet das Coisas; Segurança Cibernética; Inteligência Artificial; Integração de Sistemas de Produção Inteligente — produção integrada e conectada; Manufatura Aditiva; Desenvolvimento de Aplicações em Realidade Virtual e Aumentada; toda parte de inspirar, transformar e aprender para a Indústria 4.0; Desvendando as Softskills; e Desvendando a Blockchain.
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O SR. PRESIDENTE (Francisco Jr. Bloco/PSD - GO) - É uma pena que o tempo tenha sido curto. Parabéns! Obrigado! No debate, nós vamos poder aprofundar.
Agradeço o convite para participar desta sessão, para debater este assunto tão pertinente, tão urgente para a sociedade brasileira e para os rumos da nossa política pública de atuação.
Trouxe alguns eslaides, com enfoque mais associado à educação e à transformação digital da economia brasileira. Haverá eslaides muito parecidos com os do Prof. Lucchesi. Aproveito para agradecer a produção de dados da BRASSCOM, que foi muito rica e que nos permitiu quantificar padrões de investimento, necessidades de competência e de capacitação dos profissionais para esse mundo da transformação digital.
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Eu acho que muitos de vocês devem conhecer essa roda, que ficou muito famosa na Internet meses atrás. Ela mostra um pouquinho de como a sociedade vem interagindo no mundo virtual, como a nossa realidade de produção do conhecimento e de interação social agora está cada vez mais sendo produzida e sendo reutilizada nas esferas de reprodução do capital e de conhecimento da Internet.
Do que se trata, o que é um mundo baseado em dados? É um mundo em que a criação, o uso e o reuso de dados ocorrem em escalas antes inexistentes, trazendo retornos crescentes do uso do capital na esfera da produção. Muito se fala sobre o mundo do óleo, agora nós falamos do mundo de dados. É disso que se trata, é onde o capital se reproduz, é onde as esferas de reprodução do conhecimento e da economia agora vão dar vazão à reprodução financeira, à reprodução do conhecimento. É um mundo de um crescimento exponencial da conectividade entre pessoas, dispositivos, sensores e máquinas, todos conectado à Internet. São dados que se reproduzem e que só são conectáveis porque nós passamos da Terceira Revolução Industrial, como disse o Prof. Lucchesi, para a Quarta Revolução Industrial. É um mundo em que cada vez mais os dispositivos das tecnologias de informação e comunicação foram se difundindo na esfera tanto de apropriação do capital quanto do conhecimento e da sociedade, e agora passaram a ser interconectados.
Nós estamos falando, portanto, de uma economia baseada em dados, que traz efeitos importantes, tendo como base o uso das tecnologias habilitadoras, conforme o Prof. Lucchesi falou, habilitadas por dados que permitem comunicação máquina a máquina, aprendizado de máquina, deep learning, análise de grandes volumes de dados, conhecida como big data analytics, Internet das Coisas, blockchain e tantas outras tecnologias que hoje são padrão de produção da indústria e da economia de maneira geral.
Quando nós falamos que houve uma alteração nos padrões de reprodução de capital e de conhecimento, estamos falando que as esferas de investimento ou o padrão de investimento mundial alterou suas perspectivas de reprodução e passou a estar muito mais baseado num padrão de investimento da transformação digital.
Os dados da BRASSCOM que foram apresentados pelo Prof. Lucchesi mostram que as perspectivas de investimento de 2019 a 2022, ou seja, nos próximos anos, são da ordem de 350 bilhões de reais. E no mundo da mobilidade, da conectividade, tão importante para a pauta das cidades inteligentes, sobre a qual os Srs. Deputados nos pediram para nos debruçarmos um pouco hoje na discussão, são da ordem de quase 400 bilhões de reais.
Nesse sentido, nós estamos falando de um novo rumo da produção econômica, uma Economia 4.0. É um conceito novo. É um conceito que muitos estão usando. Já virou um jargão no Governo, e acredito que também aqui nas esferas legislativas. Nós estamos passando a dizer o que é essa Economia 4.0. A economia 4.0 diz respeito a um novo padrão de produção baseado na difusão das tecnologias digitais e no uso intensivo de dados, que impacta os três setores da economia: Agro 4.0, Serviços 4.0 e Indústria 4.0.
Isso significa dizer, por exemplo, que formas de produção agrícolas que antes tinham sensoriamento analógico serão agora praticamente baseadas em tecnologias digitais.
Estamos falando em drones que fazem a projeção de grandes áreas com softwares embarcados. Estamos falando de indústrias altamente robotizadas e mecanizadas, praticamente autônomas, sem nenhuma intervenção humana. Trocam dados com sensores embarcados e fazem um sistema de investigação e de segurança preditiva das suas máquinas. E estamos falando de uma logística em Serviços 4.0, também baseada na comunicação praticamente autônoma.
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Outro exemplo em Serviços 4.0 são os prontuários eletrônicos na área da saúde, que eliminam postos de trabalho, mas também trazem a necessidade de um novo perfil, de uma nova mão de obra. Quem é o profissional que vai atuar na agricultura baseada na previsão de áreas por drones? Quem é o profissional que vai trabalhar com uma indústria altamente mecanizada? Quem é o profissional que vai trabalhar com Serviços 4.0, como a logística embarcada, que acabamos de mencionar. Essas demandas da Economia 4.0 trazem grandes desafios para a pauta de políticas públicas. É disto que se trata, portanto, das respostas que a educação brasileira tem que trazer a esse novo perfil de produção.
Acho que o Prof. Lucchesi também trouxe esses dados para a apresentação. Eles mostram um pouquinho a mudança do perfil da demanda dos profissionais. Esses aqui são os profissionais da área de dados e das áreas tecnológicas stricto sensu. O mercado brasileiro vai demandar 420 mil profissionais para essa área de dados nos anos de 2018 a 2024, ou seja, mais 70 mil profissionais a cada ano serão demandados para área de dados. Formamos hoje 45 mil pessoas com perfil tecnológico por ano. Se não houver mudanças, no curto espaço de tempo vamos ter um déficit de 240 mil profissionais para lidar com esse mundo, que não é o mundo do futuro, é o mundo de hoje, é o mundo dos dados, é mundo atual, é o da Economia 4.0.
Além de pensarmos que o profissional tem que ter a capacidade desse conteúdo de formação, de capacitação, o 4.0 também demanda um outro perfil de competência profissional, um perfil de demandas imediatas de desenvolvedores web e mobile, computação em nuvem, data analytics e ciência de dados, segurança cibernética, inteligência artificial e software skills, conforme o Lucchesi mencionou. Já que estamos falando de um mundo que vai ser cada vez mais automatizado e cada vez mais livre da necessidade de intervenção humana, o profissional que se diferencia no mundo baseado em dados e no mundo automatizado, recheado de máquinas, é o profissional que vai ter as habilidades que são as habilidades soft, socioemocionais. Esses profissionais não são profissionais que estão prontos para o mercado. Esses profissionais são profissionais vão ter que ser preparados para ingresso no mercado.
A educação profissional e tecnológica é, portanto, o ambiente foco para esse problema do descasamento entre a formação profissional e a necessidade atual e cada vez maior para o futuro próximo dos profissionais para o mundo de dados. A educação profissional e tecnológica no mundo tem um perfil de percentual de matrículas que é muito diferente do perfil brasileiro. O percentual de matrículas da educação profissional e tecnológica do Brasil é de 8%, enquanto a média nos países europeus é de mais de 50%. Esse é um problema de oferta, é um problema de demanda, é um problema de ambas as coisas.
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Além da baixa oferta de matrículas de educação profissional e tecnológica — estou falando de nível médio, que chega a ser, por exemplo, de apenas 3% em Estados como Minas Gerais —, há também baixa demanda dos jovens pela formação técnica, pela formação de nível médio, e um apreço muito grande pela formação propedêutica, pela formação científica, pela formação do diploma. Essa é uma das questões relevantes, quando temos que pensar que estamos querendo formar profissionais aptos a lidar com problemas de demandas muito práticas do dia a dia.
Há outra questão a se pensar, quando estamos falando de jovens que estão entendendo a realidade do mundo de maneira muito mais dinâmica e muito mais empreendedora. Os jovens estão começando a perceber que o fato de serem profissionais aptos a ter um registro em carteira não é mais um valor para si. Eles querem explorar a possibilidade de utilizar as plataformas que interconectam oferta e demanda e serem agentes empreendedores do mundo digital.
Como criar jovens que podem abastecer a indústria e as empresas que estão sedentas desse perfil profissional, e ao mesmo tempo preparar jovens empreendedores de forma suficiente para conseguirem desfrutar de seus próprios negócios no mundo virtual? Estamos falando de jovens que podem aproveitar plataformas como Airbnb, Uber, entre outras plataformas de interação e de conexão, que não estão colocadas aqui como uma questão da educação profissional e tecnológica e que precisam urgentemente começar a ser pauta dessa agenda.
Para conseguirmos dar um passo adiante nesse tipo de formação profissional, estamos começando a pensar que, para a Economia 4.0, é necessário estabelecer uma pauta de Educação 4.0. Essa seria a perspectiva mais importante, de imediato, da política educacional brasileira, um processo educacional que associa novas práticas de ensino e competências, ambas baseadas na assimilação das tecnologias digitais, alinhadas com as transformações originárias da Economia 4.0.
O pilar das práticas pedagógicas diz respeito a aprendizado baseado em projetos. Os alunos não querem mais ficar olhando para a lousa e se entenderem como seres a serem iluminados pelos professores. Eles querem receber demandas reais do setor produtivo, entender que demandas são essas e desenvolver projetos para solucionar esses problemas. Querem ser agentes transformadores do processo produtivo.
Eles querem aprender fazendo, e esse é outro conceito da prática pedagógica da Educação 4.0: aprender fazendo, aprender na prática. Eles não querem mais aprender cada um nas suas carteiras fazendo provas, sendo avaliados individualmente. É necessário promover o aprendizado em equipes, porque no mundo do trabalho eles vão ter que trabalhar em equipe. Portanto, nas soft skills, é necessário que eles tenham essa competência já na escola, na sua formação.
As metodologias ativas são outro pilar da Educação 4.0. Tem-se o professor não como um iluminador do aluno, não como um transmissor de conhecimento, mas como um facilitador do aprendizado. Ele vai ajudar o aluno a aprender, e não passar o seu conhecimento ao aluno. Algumas metodologias ativas dizem respeito à sala de aula invertida, à mediação assistida e ao amplo uso das tecnologias de informação e comunicação.
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O segundo pilar da Educação 4.0 diz respeito às competências, e sobre isso já falamos um pouco. O Prof. Lucchesi também falou na apresentação dele. É a associação das soft skills — criatividade, inovação, empreendedorismo, trabalho em grupo — com as hard skills, que dizem respeito às tão conhecidas STEM, que são as disciplinas de ciências, tecnologias, engenharia e matemática. E por que não acrescentar o "a" de artes, e esse STEM virar STEAM? A criatividade agora é um pilar também da Educação 4.0, é um pilar da sociedade da produção em dados, é um pilar do mundo digital. Muitos estudos colocam agora, como hard skill, as artes também; é uma competência a ser provocada no mundo educacional.
Por fim, o terceiro pilar da Educação 4.0 diz respeito à infraestrutura. As salas de aula, com os seus prédios e com as sirenes, que simulam as fábricas e que ditam o trabalho de produção cotidiano dos alunos, já são ambientes ultrapassados de aprendizado. A atualidade exige, demanda que a infraestrutura seja um ambiente de estímulo à criatividade, de estímulo ao processo inovativo, de estímulo ao empreender. E quais são esses ambientes? Vemos, nas experiências internacionais, muitos ambientes de cocriação, ambientes de coworking, fab labs, espaços maker e outros ambientes em que os alunos conseguem trocar ideias entre si. E essas ideias não são ditadas dentro da sala de aula, elas são ditadas entre os grupos de trabalho. É nesses espaços, em que se observa a ciência, em que se observam os relatos científicos, que ocorrem as melhores ideias, que ocorre o melhor aprender, que ocorrem os melhores resultados na perspectiva da capacitação do aluno.
É disso que trata a Educação 4.0, não é nada que esteja previsto ainda nos nossos regramentos, no Plano Nacional de Educação, nos catálogos de cursos que temos, nos modelos de escola. O que acontece na realidade brasileira que diz um pouquinho mais respeito à Educação 4.0 são as práticas experimentais, e já vemos essas práticas experimentais em algumas instituições de ensino brasileiras.
O MEC, na condição de agente da pauta da educação nacional, está preocupado em como promover a Educação 4.0 no Brasil, está ciente da necessidade de que nós temos que nos preparar e preparar a nossa geração de jovens para esse mundo, o mundo dos dispositivos conectados, o mundo de dados. Entende que Educação 4.0 é, sim, uma importante pauta educacional, e a SETEC é a ponta de lança da Educação 4.0, porque é lá que a educação profissional e tecnológica está sendo colocada, está sendo pensada, está sendo posta em prática.
Quais são os desafios que o MEC entende hoje para a educação profissional e tecnológica? Estes desafios passam, obviamente, por um alinhamento entre a oferta de cursos e as demandas do setor produtivo, conforme mencionado pelo Prof. Lucchesi, passam por fomento à formação tecnológica e ao empreendedorismo, passam por incentivos à implementação do itinerário da formação técnica e profissional no novo ensino médio. É de conhecimento de todos que o novo ensino médio vai contar com um quinto itinerário, e esse quinto itinerário vai dar aos estudantes do ensino médio regular a opção de escolherem disciplinas da educação profissional e tecnológica.
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A atualização do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos também é um ponto importante, porque é no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos que nós temos, efetivamente, a normatização de quais são os cursos relacionados à educação profissional e tecnológica. Estamos, neste momento, passando pela consulta pública a revisão do catálogo, cuja última versão é de 2014. Pretendemos lançar a versão atualizada do catálogo em abril deste ano. Para isso, a novidade é que agora passamos a contar com uma consulta aos empregadores, e não apenas aos ofertantes de ensino, como era feita a atualização nos moldes anteriores.
E agora, para falar um pouquinho mais sobre a Educação 4.0 e o que já estamos fazendo de fomento a esses casos escassos, mas existentes, no sistema de educação brasileiro, nós estamos neste momento fomentando experiências que chamamos de oficinas da Educação 4.0.
Então vou falar um pouquinho mais sobre o que são as oficinas da Educação 4.0. As oficinas da Educação 4.0 são uma experiência exitosa que nós identificamos no Instituto Federal do Espírito Santo. Trata-se de 2 professores da engenharia mecânica que identificaram que alunos muito prodigiosos de vários cursos ali daquela instituição tinham interesse em ter mais conteúdo digital, em ter mais conteúdo de robótica, mais conteúdo de pensamento computacional e mais conteúdo de big data, e pediam aos professores: "Professor, será que eu posso discutir esse projeto com você? Será que eu posso tratar desse problema aqui em que você está trabalhando junto com você?" E os professores respondiam: "Por que não? Por que não pegamos essas grandes mentes desses jovens do ensino médio e colocamos juntos para pensar solução de problemas que são trazidos a nós por empresas?"
E essas empresas chegavam ao Instituto Federal com a perspectiva de desenvolver PDI — Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, nos moldes da Lei de Inovação, uma parceria público-privada para desenvolver projetos de pesquisa. E os professores tinham o laboratório deles e desenvolviam esses projetos com os seus alunos de pós-graduação, graduação, e os alunos de nível técnico nunca participaram dessas atividades de pesquisa.
Essa foi a primeira vez que esses dois professores colocaram alunos de nível técnico trabalhando em projetos encomendados, com demandas de pesquisa reais do setor produtivo, dentro da sala de aula — alunos de nível médio, técnico, alunos de graduação, mestrado e doutorado —, trabalhando de forma multidisciplinar na solução de problemas reais trazidos por empresas, associando, então, a perspectiva da pesquisa e da inovação à capacidade inventiva, empreendedora e criadora dos jovens.
Nesse sentido, as oficinas de Educação 4.0 passaram a ser equipadas com tecnologias habilitadoras. Então eles começaram a receber fomento de empresas para criar laboratórios com câmeras sensíveis a movimento, óculos de realidade virtual, computadores de alta performance, para dar vazão a essas demandas por capacitação baseada em dados que as empresas requeriam para a condução das suas pesquisas. São projetos, então, como eu já disse, orientados por demandas reais do setor produtivo.
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A Vale do Rio Doce trouxe ao Instituto Federal do Espírito Santo a demanda de treinar os seus profissionais mecânicos de grandes vagões, motores de vagões de trem. O problema era o seguinte. A empresa não conseguia treinar os seus funcionários in loco porque os vagões, além de serem muito grandes, estavam numa linha férrea muito distante do centro corporativo da Vale do Rio Doce. "Haveria como treinarmos a distância esses profissionais?" Trouxeram essa demanda para os professores. "Vocês trabalham com realidade virtual. Será que conseguem criar um método?"
Então os alunos de nível médio, alunos que nem participavam do projeto de pesquisa, desenvolveram um jogo virtual. Eles foram até o vagão, destrincharam o vagão, categorizaram cada uma das peças daquele motor, colocaram jogos do tipo: "quebrou esta peça, como se conserta?" E esse foi o projeto entregue à Vale do Rio Doce por alunos de nível médio técnico do Instituto Federal do Espírito Santo, baseado nas oficinas da Educação 4.0.
Hoje, a Vale do Rio Doce pode treinar, simultaneamente, mais de 40 mecânicos de vagões da sua linha férrea. Tudo isso com base num project based learning, ou seja, num aprendizado baseado em projeto, numa capacitação baseada em dados, num ensino multidisciplinar e multietário, e com a supervisão de uma das nossas grandes instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.
Nós estamos falando, então, de um método novo de ensino, que está amplamente baseado na temática da Indústria 4.0, com forte estímulo à inovação e ao empreendedorismo.
Eu queria só mostrar aos senhores que o conteúdo que os professores colocam nas oficinas da Educação 4.0 não está na grade horária oficial do curso dos alunos. Então é um conteúdo totalmente experimental, ou seja, não é um conteúdo que está no catálogo, que está no currículo do Instituto Federal. É totalmente inédito. Eles estão fazendo as oficinas de programação intuitiva naquele projeto; pensamento computacional; robótica; visão computacional; imersão em óculos de realidade virtual. Todos esses temas não são disciplinas, são oficinas experimentais que podem, sim, virar disciplinas. E devem, na verdade, porque isso parte de uma demanda real do setor produtivo. Mas atualmente não são essas as disciplinas que constam do currículo pedagógico da instituição.
Somadas às hard skills que nós mencionamos aqui, eles também trabalham com oficinas de gestão de projetos e oficinas de empreendedorismo e inovação.
Habilidades comportamentais que eles também trabalham nas oficinas: curiosidade, imaginação, criatividade, ética, trabalho em equipe, comunicação eficaz, planejamento e gestão de projetos.
Vou finalizar, porque eu já me estendi muito. Eu queria só trazer algumas considerações finais para a pauta de Educação 4.0.
Nós não estamos prontos ainda. O Brasil ainda não está pronto para pensar numa pauta expandida de Educação 4.0. Nós ainda temos gaps de conhecimentos básicos muito importantes. Não são todos os alunos das escolas brasileiras que conseguem, de cara, participar de uma oficina de Educação 4.0, porque isso demanda alguns conhecimentos prévios, como o próprio STEM, os conhecimentos básicos de ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas; e o conhecimento de linguagem, que é uma grande falha do nosso PISA — os senhores bem sabem que nós fomos muito mal avaliados em português e em linguagens.
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Então, esse gap de conhecimentos básicos, que é uma realidade, nós reconhecemos isso, é algo que vai impedir, ou é algo que precisamos trabalhar para permitir ao Brasil a formação profissional necessária para esse mundo da Economia 4.0?
E a formação de professores? Será que nós temos professores capazes? Mesmo que queiramos oferecer aos alunos esse conteúdo, nós temos professores capazes de dar vazão a esses próprios conteúdos, tanto hard quanto soft skills, de cara? Então nós precisamos capacitar também os professores, para que eles possam ser inseridos na Educação 4.0. A capacitação do professor é tão importante quanto a própria formação do estudante.
Infraestrutura digital no ambiente escolar. Não são todas as escolas que têm acesso à Internet obviamente, mas ainda aquelas que têm conseguem ter uma infraestrutura em seu ambiente escolar para dar vazão a um projeto desse tipo? É preciso também investimento infraestrutural.
Há também a questão do custo médio da mão de obra brasileira. Estamos pensando em uma indústria capaz de dar vazão a serviços de muito conteúdo tecnológico, mas o custo do trabalhador é tão pequeno que é difícil pensar na adoção tecnológica em nível profissional que consiga cobrir, por exemplo, um carro autônomo do delivery do Domino's concorrendo com um salário de um motoboy. Então, o custo médio de mão de obra é algo importante a ser pensado em políticas educacionais.
E finalmente lifelong learning. O que fazemos, então? Estamos capacitando os alunos, os jovens. E os egressos, e aqueles que já não estão mais tendo a oportunidade de se capacitar? Eles vão fazer parte da sociedade altamente conectada e altamente capacitada? Como nós inserimos os mais velhos no processo de inserção da Educação 4.0?
O SR. PRESIDENTE (Francisco Jr. Bloco/PSD - GO) - Parabenizo a Sra. Cristiane por suas colocações. Realmente são questões que nós vamos ter que resolver de alguma forma na prática.
(Segue-se exibição de imagens.)
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Esta Casa e depois o Senado aprovaram, no ano passado, a atualização da Lei Geral das Telecomunicações. O que mudou basicamente? Nós tínhamos uma lei que era direcionada a voz, e agora nós temos um marco direcionado a dados. Isso muda completamente a concepção dessa nova lei, e isso vai trazer, nas nossas perspectivas até 2022, 400 bilhões de reais em investimentos.
Eu estava comentando com o Lucchesi há pouco — e digo isso só para ilustrar o nosso mindset — que recentemente fui consultado por um grande jornal para uma entrevista com relação à banda larga no campo. O foco era esse. A jornalista falou assim: "O campo não tem densidade, portanto as operadoras não têm interesse de investimento lá". Eu respondi: "Você está com razão, não há realmente densidade de pessoas. Mas você está olhando com um olhar do passado, porque hoje há densidade de dados".
Então nós somos 210 milhões de pessoas e mais 200 milhões de bois. Esses bois onde estão? Não estão na cidade, estão no campo, estão chipados, e o dado do boi vai para a nuvem, que precisa de conexão. As máquinas que estão no campo operando, todas, são habilitadas hoje com conectores ou com sensores que captam a questão da umidade, a questão de pragas, a questão de acidez de solo e a questão da própria produtividade. A máquina está no campo, não está na cidade, e ela precisa de conexão.
Então, esse mindset precisa ser mudado. Nós não estamos falando de voz, nós estamos falando de dados, que são um outro universo. Portanto, esse investimento de 400 bilhões vai para lá.
Com base nessa infraestrutura, essas tecnologias emergentes vão se desenvolver. Então, na nuvem, existem 78 bilhões de reais, e todas essas tecnologias vão se desenvolver com base nessa conectividade propiciada no campo. Eu dei o exemplo do campo, mas isso é melhor... Imaginem que, se eu vou levar a conexão ao campo, eu passo por uma escola, então automaticamente a escola está conectada.
Essas possibilidades gerarão, nas nossas previsões, essa curva representada em verde, do ponto de vista da remuneração paga aos trabalhadores de tecnologia, e eu vou recortar um pouco a minha apresentação para a tecnologia da informação e comunicação. Até 2019 é o real, é o que foi realizado pelo mercado, e até 2024 é o projetado.
O azul diz respeito à receita bruta das empresas. Nós vemos que existe uma escala potencial de ascensão, ou seja, a tecnologia é o poro de todas as atividades econômicas hoje. Não existe hoje empresa — pode até existir, mas não se perpetuará no mercado — que não seja intensiva em tecnologia. Todas serão intensivas em tecnologias, senão não se sustentarão.
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Nos nossos trabalhos, projetamos que, até 2024, 420 mil profissionais serão necessários. Para entendimento das pessoas, nós fizemos a média simples: 70 mil por ano. Porém, não é isso. Nós notamos que, em 2024, nós vamos precisar de 125 mil profissionais para a demanda interna nossa. Então, não é linear, ela é uma escala geométrica. Esse é o desafio.
Aqui vemos o diagnóstico do setor de tecnologia. Ao entrar nessa fase, vou chamar a atenção dos senhores.
Nós empregamos — esses dados são de 2018 — 845 mil trabalhadores só em TI. E, quanto mais verdinho no mapa, maior é a concentração. São Paulo, por exemplo, concentra 43% da força de trabalho de TI, só que forma 36%.
Primeiro, eu tenho uma desconexão quantitativa: onde eu necessito, eu não formo; onde eu formo, eu não contrato. É o exemplo dos Estados mais branquinhos. Neles, eu contrato 7% e formo 13%. O cara que está em Goiás não vem para São Paulo, porque é muito difícil essa mobilidade. Essa é uma questão quantitativa que está colocada aqui nesse diagnóstico. Esses dados são dados reais, não são dados projetados. Nós temos uma desconexão quantitativa: nós precisamos de 70, mas formamos 46. Também a conta não fecha. A terceira desconexão é a desconexão tecnológica. Eu uso a seguinte analogia: nós formamos, depois os outros gráficos vão mostrar isso, com as tecnologias olhando pelo retrovisor. Eu estou dirigindo o carro e olhando para as tecnologias que já passaram, quando eu deveria formar nas tecnologias pelo para-brisa. Então, vejam as tecnologias que eu estou colocando: gestão da tecnologia da informação, sistemas da informação.
Aqui já foi falado em IOT, inteligência artificial, computação em nuvem e assim por diante. Então essa desconexão tecnológica também acontece aqui. Aí vemos o cenário nessa capa da EXAME desta semana: "Corrida pelos devs", pelos desenvolvedores. E essas notícias se repetem. Se os senhores consultarem o Google, a qualquer momento, vão ver que falta profissional, há escassez de profissionais de TI, e não é mais para TI, mas para todas as atividades empresariais.
O Lucchesi falou assim "O meu banco está no celular". Hoje o banco não abre se TI não funcionar. Nada! O avião não decola se TI não funcionar. O Governo não faz o pagamento do Bolsa Família se TI não funcionar, e assim por diante. Quer dizer, todas as atividades da economia estão sendo permeadas e cada vez mais intensivamente por tecnologia da informação e comunicação.
E qual é o cenário que nós temos e algumas recomendações que fazemos? Para diagnosticar esse cenário, fizemos uma linha de produção de formação de pessoas com dados reais. A primeira questão aqui contextualizada, a saber: 88% da formação do setor de tecnologia da informação estão concentrados nas redes privadas, e apenas 12%, nas redes públicas.
A distribuição de vagas na rede pública está assim: 58% para grau de formação em bacharelado e 41% para grau de formação tecnológico. Na rede privada, isso se inverte: 42% para grau de formação em bacharelado e 58% para grau de formação tecnológico. Depois eu vou explorar um pouco isso com vocês. Aqui vemos dados sobre a formação nas várias vertentes tecnológicas.
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Qual era o cenário, a partir dos dados do INEP, em 2017? Estavam inscritos 785 mil candidatos, o que é pouco. Isso representa 2,1 candidatos por vaga. É pouco. Para os cursos de engenharia, medicina, direito e administração, o número é bem superior a esse.
Então, nós temos uma questão de estímulo aos jovens para a carreira de TI. Apesar de serem bons usuários, eles não se enxergam enquanto profissionais. Então, precisamos estimulá-los.
Para esses 785 mil candidatos inscritos, quantas eram as vagas disponibilizadas? Trezentos e oitenta e uma. Quantas matrículas foram concretizadas? Cento e vinte mil. Quantos foram os concluintes? Trinta e sete mil. Quantos foram empregados? Vinte mil. Olhem o funil. Eu chamo a atenção para isto: desde a oferta das vagas até a conclusão, houve 69% de desistência. É a ineficiência do sistema em que formamos hoje os profissionais. Isso no ensino superior, tanto no que se refere a bacharéis quanto a tecnólogos. No ensino técnico, do qual também temos dados aqui — não temos um censo do ensino técnico, pegamos só os dados finais; para fazer o mesmo funil com o ensino tecnológico, não temos dados confiáveis, mas temos o diagnóstico —, foram feitas 173 mil matrículas. Como elas estão distribuídas? Aqui se inverte a questão: 88% das matrículas estão concentradas na rede pública, e 12%, na rede privada. Falo do ensino técnico.
Entrando um pouco naquilo que podemos apresentar como recomendações, quero dizer que há algumas questões da era digital e de todo esse fenômeno da era digital que precisam ser informadas à sociedade e àqueles que estão interessados. Sobre a organização empresarial e de projetos, por exemplo, eu destacaria três itens, que particularmente o brasileiro tem como característica não respeitar. Seriam a gestão do tempo — nós somos muito ineficazes na gestão do tempo, e, para o setor empresarial, isso é extremamente importante; a gestão de recursos — também somos dispersos, não respeitamos, não valorizamos aquilo ou aquele recurso que temos, qualquer que seja ele; e a gestão de prioridades — temos que ter objetivo, e tem que estar claro aonde queremos chegar, o que temos que fazer, quais são os recursos que temos que utilizar. Isso precisa ser inserido na formação.
Esses dados são fruto de uma pesquisa realizada pela BRASSCOM em 2016, recortada no setor de tecnologia da informação, em todos os níveis de empresas — pequenas, médias e grandes.
Foram apontadas essas competências socioemocionais.
Vou fazer um parâmetro aqui. Quando nós reunimos os gestores de RH das empresas associadas à BRASSCOM, para saber porque demitem os trabalhadores, verificamos que 80% demitem por causa das questões socioemocionais. Quando contratam, é pela questão técnica. Então, contratam pela técnica, mas demitem pelo comportamento — o percentual é de 80%. Então, temos que trabalhar essas questões.
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Essa é uma proposição que estamos discutindo, para o ensino superior. Amanhã haverá uma reunião em São Paulo com o ecossistema de formação privado de São Paulo, para discutir esse conteúdo com eles, para fazer o ajuste. Esse conteúdo foi validado pelas empresas de tecnologia associadas à BRASSCOM. São propostas 1.476 horas, alinhadas com as demandas. Então, é só anotar os nomes: inteligência artificial, segurança da informação, computação na nuvem. Quer dizer, essas são todas as necessidades que se colocam no mercado hoje.
Eu fico feliz de fazer referência aqui ao SENAI, que está fazendo a lição de casa. Na semana que vem, no dia 10, o Felipe Morgado, que é diretor da área de educação nacional do SENAI, estará conosco em São Paulo para discutir o currículo que eles já refizeram, para validarmos e vermos se está de acordo com a nossa visão, para fazermos a interação com as empresas. Enfim, eles estão ajustando a demanda com a oferta.
Esses dados são de 2017, e esses dados são os projetados para 2024, se trabalharmos algumas questões, como a diminuição do percentual de desistência, o incentivo à permanência de mais inscritos, e a melhoria do aproveitamento das pessoas no nível desejado, para gerar empregos.
Eu não vou elencar tudo, mas aqui vemos o sumário de tudo o que apresentei, com as proposições que nós estamos fazendo.
Esses são dados de 2018, do mercado. Neste mês de março nós vamos atualizar os números de 2019. Eles servem só para dar uma referência sobre o que hoje já é grande. No setor de tecnologia de informação e comunicação, no Brasil, a produção em 2018 foi de 480 bilhões. Isso representa 7% do PIB. Nós estamos falando de algo grande, que emprega 1 milhão e 500 mil pessoas no Brasil e que está crescendo. Em 2018, foram criados 43 mil postos de trabalho a mais e, em 2019 — esse é o dado atual —, 42 mil postos de trabalho a mais, com carteira assinada.
Vou pedir que olhem os dados que estão na cor amarela, que se referem ao crescimento do número de empregos na área de software. A nossa vida hoje está pautada por softwares. Na hora em que quero comer, eu uso um software; quando quero me deslocar, eu uso um software; quando quero descontar um dinheiro, eu uso um software; quando quero pagar a alguém, eu uso um software. Então, a nossa vida está pautada por softwares. Isso está refletido no mercado de trabalho.
É o maior percentual. O percentual não está registrado ali, mas é o maior. Cresceu, de 2018 para 2019, em 9% o número de trabalhadores dedicados a software. Ou seja, nós temos que olhar isso com carinho.
Há mais dois eslaides somente, que mostram duas preocupações que nós temos. Uma das preocupações é com a inserção de mulheres no mercado de tecnologia. Esse é o perfil em 2018. Vemos que o protagonismo é masculino — 59%. O masculino predomina. Temos que atrair as mulheres e os negros para esse mercado. O gráfico de barras embaixo mostra a outra preocupação que temos, também referente à inserção das mulheres. Notem que a cor amarela representa as mulheres, e a cor verde representa os homens. As mulheres estão concentradas, no setor de tecnologia, nas carreiras administrativas, e os homens, nas carreiras técnicas. Porém, o dinheiro está na carreira técnica. Então, a mulher tem que ser estimulada a ir para a área de tecnologia, porque é bem aceita. O setor quer mulheres, quer diversidade e quer pagar a elas o que os homens recebem. As carreiras administrativas estão sendo automatizadas, até pelo uso da tecnologia. Nós temos que atrair as mulheres para cá.
Aqui vemos dados de salário, remuneração, perfil. Não vou me estender porque o meu tempo já está estourado.
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A SRA. PRESIDENTE (Angela Amin. Bloco/PP - SC) - Eu gostaria de agradecer ao Prof. Sergio. Entendo que a contribuição é bastante válida para o documento que se pretende editar a partir do resultado deste trabalho. Ter esse conhecimento socializado é o objetivo principal do nosso trabalho.
(Segue-se exibição de imagens.)
Vamos falar um pouquinho sobre educação para uma sociedade 4.0. O meu viés vai ser educação, com um recorte maior no ensino superior.
A minha participação se divide em cinco pontos. O primeiro ponto é o contexto, para guiar a minha fala; o segundo ponto é trabalho e profissões no contexto do 4.0 — no futuro, o que isso vai ser? —, ponto no qual já se tocou ligeiramente; o terceiro ponto é Brasil 4.0 — são algumas preocupações, alguns problemas reais, alguns ligeiramente apontados aqui pelos que me antecederam; o quarto ponto, que vai servir para uma reflexão, é a universidade 4.0. O que isso quer dizer? Tudo é 4.0 hoje, como a Cristiane falou. Há projetos internacionais que repensam o papel da universidade, na sua forma absoluta. Não falo da universidade pública nem da universidade privada, mas da universidade enquanto instituição que fornece educação para toda a sociedade, educação essa que é a base da ciência, que gera conhecimento e que, finalmente, toca na economia.
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Por último, eu vou enfatizar um exemplo de Santa Catarina, da FIESC, através do SENAI, para o ensino superior, voltado especificamente para a engenharia. A nossa crença e a nossa aposta é de que, através desse tipo de modelo, poderemos mudar alguns daqueles números que o Sergio mostrou há pouco, de evasões, de desconexão entre o que o aluno vê na sala de aula e o que ele vai ver quando chegar à indústria. Eventualmente, ele nem quer ir para a indústria, ele quer criar a própria empresa.
Sobre o contexto, eu vou começar citando uma frase de Saadia Zahidi, Diretora do Fórum Econômico Mundial. Estamos falando de educação, de economia e de conhecimento. Eu concordo com ela, absolutamente, quando diz que, nesse cenário, "as pessoas são um dos recursos mais valiosos de qualquer economia". Não estamos falando de educação, estamos falando de aspectos econômicos. Se as pessoas não estiverem felizes, nem saudáveis nem trabalhando no que realmente tem significado para elas, vão sofrer, e a economia do País sofre. A economia de uma nação sofre, é prejudicada por isso. Então, gente é o foco da quarta revolução industrial. O Prof. Klaus comenta que a revolução não está na máquina, ela está em gente. Ela vai nos tocar, ela vai nos transformar, para que estejamos bem inseridos nela.
Porque já foi comentado aqui en passant, eu ia fazer esta pergunta a vocês: se um grupo de adolescentes chegasse aqui agora e perguntasse para todos nós que carreira profissional deveriam escolher, depois de vermos um monte de problemas, dúvidas, incertezas, educação nova, economia nova, o que nós estaríamos confortáveis para dizer, depois das incertezas todas que a Cristine apresentou, por exemplo? Ficaria complicado? Talvez, depois de assistir ao que Sergio apresentou, eu dissesse: "Façam computação. Na computação existe um déficit gigantesco". Precisamos disso. Não é, Sergio? Queremos mulheres incluídas, queremos todo o mundo incluído. Paga-se bem. É um setor pervasivo.
Eu vou reforçar o que Sergio falou, não só da computação em si, mas também e sobretudo da aprendizagem de máquina, que a Cristiane comentou en passant. Assim como o software nas décadas de 70 e 80, sobretudo, isso vai estar em todas as áreas da vida, não só na indústria. Ela afeta a nossa vida diariamente.
Isso aqui é a intenção global de adoção de tecnologias para 2022. Sou professor de universidade federal também, lido com programas de computação. De nada disso nós tratamos com a profundidade apropriada para a indústria estar feliz, para os nossos egressos estarem felizes e dominarem o conhecimento necessário para ficarem confortáveis lá fora.
Eu vou mostrar para vocês o parâmetro de valorização de uma empresa. Essas eram as empresas mais valiosas do mundo em 1997: a General Electric, que fabrica motores, máquinas, um monte de coisas concretas e tangíveis; a Exxonmobil e a Royal Dutch Shell, que lidam com petróleo. Passamos para 2009: aparecem a Exxonmobil, a Petrochina — continuamos com coisas muito tangíveis. Em janeiro de 2015, qual era a primeira empresa? A Apple. A Apple não tem petróleo, não tem o que a GE tem.
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O SR. CELSON PANTOJA LIMA - Eu pergunto: o que o Facebook tem, comparado com a Exxonmobil? Faço isso para refletirmos. O que vale hoje?
Vou falar um pouquinho, então, sobre trabalho e profissões que esperamos que aconteçam. Algumas já estão acontecendo; outras nem sabemos se vão acontecer. Tudo vem do futuro. Eu vou citar uma frase de Yogi Berra: "Previsões são difíceis, especialmente sobre o futuro". Não é trivial prever o futuro. Mas a frase dele de que eu mais gosto é esta: "O futuro não é o que costumava ser". Por que não é? Porque nós vivemos este momento, como já foi mencionado antes, o momento da quarta revolução.
Essas são algumas das tecnologias habilitadoras, que também já foram apresentadas anteriormente. Elas estão num patamar de desenvolvimento científico e tecnológico que nunca existiu antes. Elas convergem, e a convergência é que faz essa transformação ser mais forte. Como o Sergio defendeu, o software está em tudo, o machine learning vai estar em tudo, a IA — Inteligência Artificial vai estar em tudo. O Lucchesi já falou sobre o poder do software médico que está por trás, por exemplo, do Watson. Há outros na mesma linha. Há muita gente estudando. Para não ser exaustivo, vou mostrar só uma equipe, mas há um grupo enorme fazendo isso.
(Exibição de vídeo.)
O SR. CELSON PANTOJA LIMA - Então, o que está claro é que não interessa a área profissional em que estamos, porque softwares, robôs e outras tecnologias vão ser parte, ou parcial ou totalmente, do que essa ocupação representa.
Eu aproveito a fala do David Lee para fazer uma ligação com o que a Cristiane e o Sergio falaram. Ela falou muito das formações, das pessoas que vão chegar, que vão se formar. O Fórum Econômico Mundial fala: "A transformação digital e os novos paradigmas socioeconômicos, tecnológicos e científicos provocam outra revolução, que é a revolução da reskilling". Eu não posso mandar as pessoas que estão nas linhas de produção das fábricas embora. O Brasil, por exemplo, tem uma massa de trabalhadores gigantesca. Essa massa toda tem que ser requalificada. Então, não é só a formação nova que vem por aí. O que já existe tem que ser olhado com outros olhos. Depois eu vou fazer um gancho com o que o Rafael falou antes sobre o papel que o SENAI pode desempenhar aqui. Então, não vamos desperdiçar essas pessoas.
A transformação digital está mudando o padrão de trabalho. Eu coloquei algumas linhas de atuação em que as máquinas vão ser mais ativas que as pessoas. Isso aqui é projetado pelo Fórum Econômico Mundial para 2022. É preciso que tratemos de reskilling. Segundo o Fórum Econômico Mundial, daqui a 2 anos, vamos precisar de 3 meses de aprendizagem, everyone, todo mundo, ninguém escapa disso.
Será que teremos 3 meses para nos requalificarmos, para nos aprimorarmos e nos mantermos atualizados com o que está acontecendo? A previsão é de que nós precisaremos disso.
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O terceiro ponto na minha agenda era esse, então: o tal do Brasil 4.0. Um relatório da CNI de 2017 tem alguns dados interessantes para nós pensarmos. O primeiro deles é que um dos grandes elementos de avanço ou de recuo do Brasil 4.0 é a educação. Se os senhores lerem aqui, mais da metade dos adultos brasileiros entre 25 e 64 anos não teve acesso ao ensino médio. Estou falando de reformação em termos de inteligência artificial, robótica, cloud computing e uma série de coisas que, para quem não tem ensino médio, não vão fazer sentido. Como preenchemos esse gap? O Lucchesi falou de produtividade. Como eu vou reinserir pessoas que não têm ensino médio para que elas sejam produtivas no cenário 4.0? São perguntas profundas que não têm resposta imediata, mas que, com certeza, devem ser colocadas na mesa e discutidas. Quem são os atores que podem nos ajudar a dar esse salto aqui?
Para complementar, ainda no mesmo relatório o Brasil industrial está dividido em quatro gerações, sendo que a primeira não tem nada conectado ainda, e a quarta tem até máquinas inteligentes. A nossa distribuição era a que vemos aqui: 37% na geração 1 e 39% na geração 2, a maior parte estava concentrada ali. Nós queríamos muito estar na geração 4. É para lá que nós temos que caminhar. No contraponto com a Alemanha dos 7 a 1, eles estão ali: 40% das indústrias na geração 4. É lá que é o nosso alvo, é lá que nós temos que chegar.
Uma coisa que já foi comentada antes é que nós temos neste cenário como ponto a trabalhar o fato de sermos desintegrados de modo geral. A secretaria municipal não fala com a secretaria estadual que não fala com a universidade. Ou fala, em pequenos projetos. Esse é exemplo de um deles. Existe Bolsa PIBIC para o ensino médio. O MEC vai até o ensino médio, mas são ações isoladas. Talvez para que isso realmente faça sentido e para nós darmos um salto tenha que haver integração. A educação é um ser único. Ela não é desmembrada em três fatias que eventualmente interagem, e, como ser único, ela deveria ser tratada de maneira integrada.
Outro ponto fundamental que vocês veem aqui: Finlândia, Coreia do Sul e Singapura e o papel que os professores lá têm, como eles são vistos nesses países. Eu coloquei dois estudos que vão aparecer ali em cima na imagem. Os professores são fundamentais. Há requalificação dos professores e condições para os professores trabalharem. A Ministra da Educação da Finlândia foi categórica ao responder à primeira pergunta durante uma entrevista na RTP, de Portugal, recentemente, sobre qual era o segredo. Ela nem hesitou ao dizer que os professores são o segredo do modelo de educação da Finlândia. Sem aquela pessoa que faz a ligação com os aprendizes estar capacitada e preparada, não existe sucesso para ninguém.
Ainda sobre o cenário Brasil, eu peguei o exemplo do SENAI, a Escola Móvel, para discutir a dimensão, mas não a dimensão continental do Brasil, e sim, a dimensão heterogênea do Brasil. O Brasil do Norte não é o Brasil do Sul, que não é o Brasil do Nordeste. Então, se nós pensarmos na Escola Móvel do SENAI, vamos naturalmente pensar nesta imagem, a da Escola Móvel que é atrelada a um caminhão e que eu levo a reboque, passando pelo Sul e pelo Sudeste numa boa. Aí eu digo para vocês: acontece que na região que vemos nesta imagem aqui ela não serve para nada. Ela vai afundar e acabou-se. Ela não sairá do lugar. A escola móvel desta região aqui é isso: é o barco Samaúma 1, é o barco Samaúma 2. Por quê? Porque a escola dessa região é isso, esse é o transporte. As escolas funcionam sazonalmente, porque elas são inundadas numa época do ano. Então, se nós queremos pensar num Brasil 4.0, o aspecto da heterogeneidade tem que ser colocado também na discussão profundamente.
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Agora, virou uma pergunta: eu vou estudar uma vida toda para eventualmente ter um trabalho? Eventualmente, com interrogação mesmo. No Fórum Econômico Mundial, a Suzanne Fortier diz: "Eu não preparo mais meus alunos para o trabalho. Eu preparo para o futuro". O que é muito mais sofisticado e muito mais complexo de fazer.
As perguntas que eu coloco, então, são: por que alguém faz um curso universitário hoje? O que o diploma ofereceu, oferece e ainda oferecerá? Qual é o papel da universidade nesse contexto de 4.0?
A minha cidade, eu sou de Santarém no Pará — posso falar bem e mal dela —, se consolida como polo universitário. Ela tem mais ou menos 20 universidades e 300 mil habitantes, no oeste do Pará. Cinco são físicas e as outras todas são virtuais. Só que ela não consegue absorver os profissionais formados. O que acontece com eles? Vão trabalhar em trabalhos que não justificam 4 ou 5 anos para se ter diploma. Para que serve um diploma? Quanto tempo eu levo para conseguir um diploma? O que eu vou ganhar com ele? E os famosos MOOCS — Massive Open Online Course que nós temos não só fora do Brasil, mas também no Brasil? Eles valem. Alguns certificados do MOOC valem muito mais do que o diploma de uma universidade.
O mercado quer o quê? O que Sergio colocou: o mercado quer big data, quer IT, quer cloud computing. Eu faço uma coisa especializada de 6 meses e vou para o mercado. Eu não preciso daquilo ali, daquele tempo. Então, temos que repensar.
Exemplo nacional, a UNIVESP tem 800 mil alunos, mais ou menos, em cursos de graduação, sendo bacharelados e licenciaturas. É uma possibilidade que muda o conceito, muda a entrega, mas ainda é muito longa.
O MIT tem o micromestrado, que é uma formação específica, e eu a apresento como uma ideia. O que é o micromestrado? É on-line, tem teste de validação, me dá uma credencial legal e permite que eu siga o mestrado, se eu quiser. O conceito é: tenho um sponsor, que é uma empresa, eu tenho uma instituição de renome, que nesse caso é o MIT com outros parceiros, e tenho o estudante ou o trabalhador. O trabalhador pode vir de uma empresa, o estudante pode entrar, seguir para a empresa se assim desejar, ou pode seguir carreira acadêmica. Este é o micromestrado focado, que custa em média mil dólares. Há 3 anos, eles começaram com um curso e agora têm 52, sendo três em espanhol e um em francês, e todos em inglês. Mais de 200 mil alunos se inscreveram nisso, e podem passar do micromestrado para o mestrado acadêmico. Entre 25% e 50% das disciplinas são creditadas no mestrado acadêmico.
O que caracteriza as melhores universidades do mundo? Este é o ranking da Times do ano passado. Das dez primeiras, sete são norte-americanas, três são inglesas, mas isso não é o que interessa. O que interessa são os parâmetros usados para esta avaliação, e o primeiro deles é teaching. É a qualidade da aula que está sendo executada em sala de aula. Este é um fator fundamental e se liga com o que eu disse antes: o professor é fundamental no processo, só que ele tem que dar a resposta dentro da qualificação e da qualidade que os alunos precisam.
O outro ranking é da Reuters, de 2018. Eu peguei as 100 primeiras universidades, das quais 46 melhores estão nos Estados Unidos e 27 estão na Europa. De novo, interessam-me os parâmetros, e eu vou pegar a patente, mas não a patente por si só. A patente pela patente não serve para nada. Ela serve para o meu currículo, porque a CAPES acha maravilhoso eu ter uma patente, só que, se ela não tiver impacto econômico, e isso quer dizer se ela não for efetivamente usada para elevar a qualidade socioeconômica da região onde a instituição está, ela não acrescentará valor. Este é um dos parâmetros que nós também podemos pensar para nossas instituições nesta perspectiva. Atenção, antes que digam: "Celson, tu adoras os Estados Unidos", não é bem assim. Essa dívida eu não quero para nós: 1,5 trilhão de dívidas dos estudantes! Quer dizer que é um sistema a respeito do qual nós temos que pensar muito. Nós não temos condições de arcar com isso. Ninguém tem.
Esta é a dívida atual dos estudantes, a dívida que surgiu com os empréstimos feitos pelos estudantes norte-americanos.
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E, para terminar, eu vou trazer a contribuição prática do SENAI da faculdade de Santa Catarina, da faculdade. O que nós estamos fazendo lá, especificamente nas engenharias? Nós queremos engenharia que gera impacto, aquele impacto de que eu falei há pouco, das patentes na nossa região. Esse impacto está escorado nos cursos de engenharia, especificamente em alguns valores. A engenharia é para a vida inteira, para qualquer tipo de vida, ela acontece em qualquer lugar, não só na indústria. Onde há problemas a engenharia se materializa. A aprendizagem é mãos na massa. Há 10 mantras, mas eu peguei só um, o Project Based Learning — PBL. Além de ser PBL, é projeto o tempo inteiro.
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O SR. CELSON PANTOJA LIMA - Este vídeo vocês viram em primeiríssima mão. É um trabalho forte para mostrarmos à sociedade o que queremos com os nossos engenheiros. E aqui digo uma coisa importante: eles não são engenheiros de final de curso, são engenheiros do primeiro semestre, do segundo semestre, do terceiro semestre e do quarto semestre de engenharia. Eles fazem esse tipo de trabalho. Muitos deles sugerem os projetos. No caso do projeto dos cadeirantes, os alunos fizeram o desenho técnico e disseram à professora: "A gente quer agora fazer o protótipo. A gente não quer ficar só no desenho. Vamos para a prática, vamos fazer isso!" Essa é a mensagem.
E, para terminar — são só quatro os eslaides sobre reflexões finais —, eu acredito na integração como uma solução para o nosso Brasil 4.0, para Santa Catarina e para todos os outros Estados, como um pacto que a Finlândia fez: coloca na mesa de negociação os atores que efetivamente têm que trabalhar para que a educação seja algo atemporal, um programa de Estado, e não de Governo, e tenha o valor que precisa ter, a fim de que as pessoas se sintam bem e a nossa economia melhore. Essa é uma reflexão.
A outra é sobre o reskilling. O SENAI tem uma proximidade grande com a indústria, é um dos primeiros atores a trabalhar. Além disso, o SENAI tem o reconhecimento da indústria pela qualidade dos profissionais que forma. E há outra coisa muito importante: a capilaridade. Em nível nacional e em nível regional precisamos de capilaridade. Não temos isso com as federais, elas não se integram facilmente. Não temos isso com as outras escolas. O SENAI pode ser um ator privilegiado aqui.
Sobre as universidades de hoje levarem ou conduzirem o aprendizado de amanhã, isso é possível. Temos que mudar o mindset, como bem disse o Sergio. Qual é o papel que eu quero para a minha instituição de ensino superior nos próximos tempos? Continuar com o modelito antigo, defasado, afastado, sem preocupação com a melhoria da qualidade de vida e o impacto socioeconômico? Se for esse o modelo, não vai funcionar. Isso tem que ser repensado. Temos muito a fazer.
Não posso me esquecer. Eu comecei com o ser humano e terminarei com o ser humano. Há 3 bilhões de pessoas na pobreza, vivendo com menos de 2,5 dólares por dia; uma em cada nove não tem comida suficiente para ter uma vida saudável; 2,4 bilhões de pessoas não têm água nem esgoto; 1,8 não têm energia elétrica; 4,1 não têm Internet; 600 milhões ainda estão na primeira revolução industrial. Nós temos as ondas de Alvin Toffler todinhas aqui, ainda sendo executadas diariamente. E Nicholas Davis disse que, quando nós temos uma revolução como esta que temos agora, a grande injustiça social vai para aqueles que são deixados fora da revolução. Então, temos que tentar incluir o máximo de pessoas possível, e a educação é um meio, é a base da ciência, que é a base do conhecimento, que é a base da tecnologia que se injeta na economia e que a devolve. Isso vira um ciclo. Eu tenho dispositivos que mexem no conhecimento e que podem voltar inclusive para a educação. O que queremos fazer com ela depende de nós.
A SRA. PRESIDENTE (Angela Amin. Bloco/PP - SC) - Gostaria de agradecer ao Prof. Celson a contribuição.
Entendo que o dia de hoje vem ao encontro daquilo que é defendido desde que foi instalado este grupo de estudos nesta Comissão de estudos avançados da Câmara dos Deputados. No início, percebemos que houve certa preocupação: "O que a Deputada Angela quer com isso?" Não adianta nós falarmos em cidades inteligentes se não tivermos pessoas preparadas para esse novo mundo das cidades, do trabalho, da indústria 4.0.
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O dia de hoje me deixa um pouquinho feliz, com a contribuição de cada um de vocês, que vêm ao encontro daquela minha preocupação inicial de preparar as pessoas para esse novo momento da história brasileira. Eu acho que as contribuições aqui trazidas, sem dúvida alguma, vão fazer com que a nossa reflexão venha a ser ainda mais aprofundada, com relação à importância do investimento nas pessoas. Desde já, eu gostaria de agradecer.
A SRA. PRESIDENTE (Angela Amin. Bloco/PP - SC) - Era essa a minha preocupação, porque o inglês é de fundamental importância para esse novo contexto do processo.
Eu fui Relatora da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, na década de 90, e eu tenho uma preocupação muito grande, porque a reação dos profissionais da área de educação com a inovação é muito grande. Naquela oportunidade, nós percebemos essa dificuldade do repensar a educação e a forma pela qual estamos levando conhecimento à nossa criança, ao nosso jovem. Então, essa lentidão do processo educacional é, sem dúvida, uma dificuldade que nós vimos neste novo momento da indústria.
Vou citar um pequeno exemplo da reação das pessoas com relação à mudança — o Prof. Celson deve lembrar bem. Quando Prefeita de Florianópolis, implantei o sistema integrado de transporte coletivo da cidade de Florianópolis, com todo um processo e uma plataforma digital, totalmente diferenciada, que faziam com que o cidadão, utilizando o transporte coletivo, não precisasse do cobrador, e o cartão do transporte coletivo podia ser utilizado em vários outros serviços prestados ao cidadão na cidade.
Nós não conseguimos tirar o cobrador, houve uma reação política muito forte, um envolvimento político contrário àquele processo, muito forte, além da reação das pessoas, que se perguntavam como iriam pagar o transporte coletivo sem o cobrador, quando o cartão era utilizado para isso. Por exemplo, num dos colégios, que foi parceiro nesse processo, o cartão do transporte coletivo fazia com que a criança pudesse entrar na escola usando esse cartão na roleta, para a presença e para a entrada. Mas tivemos dificuldade, tanto é que o retrocesso aconteceu, voltou praticamente essa área da tecnologia à estaca zero.
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Gostaria de agradecer, de coração, a cada um dos senhores que aqui vieram e trouxeram a sua contribuição. Tenho certeza de que podemos fazer um novo momento nesta Casa, a partir deste debate, com os vários atores que aqui já estiveram. Certamente, com a nossa assessoria técnica, faremos com que este Centro de Estudos possa levar um belo documento para a sociedade
O SR. GENERAL PETERNELLI (Bloco/PSL - SP) - Deputada Angela, nesse contexto da educação, eu já tive uma oportunidade de comentar aqui sobre o MEC, mas volto a insistir no foco do caderno apostilado no MEC.
O SENAC utiliza, nas escolas dele, o mesmo material que eu quero que o MEC disponibilize gratuitamente para as cidades. Hoje, o SENAC já tem acordo com algumas cidades do interior de São Paulo, que compram o material didático da primeira infância do SENAC, quer dizer, se esse material fosse disponibilizado na Internet — já expliquei isso algumas vezes —, nós poderíamos tê-lo gratuitamente. Então, o MEC tem um contexto muito grande nisso.
Gostaria também de aproveitar a oportunidade para falar sobre o tema do ônibus, conforme V.Exa. falou. Outro dia, pegando o ônibus em São Paulo, surpreendi-me com um rapazinho que pegou a carteira dele, com toda a documentação, e, com o cartão, passou na roleta, e fui perguntar sobre o cartão, porque já havia ouvido falar dele. Eu disse que queria comprar o cartão e perguntei o que deveria fazer para comprá-lo. Ele disse: "Não existe mais cartão. Agora, esse chip do banco já é o chip que eu coloco lá e com que eu passo. Se houver acordo, se você passa dentro de um tempo "x", ele não cobra duas vezes". Vejam que esse é o conceito da integração. Então, observa-se que isso é muito necessário, e, para nós, na cidade inteligente, fica o desafio de voltarmos a colocar alguns pontos.
Prestei bastante atenção em alguns aspectos — daqui a pouco vou tornar a repetir a pergunta para o Sergio —, mas observamos, por exemplo, que já houve a proposta do carro chipado. Nós não conseguimos prosperar com o carro chipado, que acabaria com o roubo, acabaria com a dúvida de trânsito, acabaria com as estruturas como um todo. E hoje, como foi comparado aqui, até o boi é chipado. Mas, a exemplo do cobrador, que nós não conseguimos colocar, se o carro fosse chipado, não haveria mais roubo de carro. Quer dizer, há toda uma evolução, porque você sabe onde ele está. Não seria preciso mais radar porque, se em qualquer percurso ele ultrapassar o limite de velocidade ou cometer alguma regularidade, se cruzar uma faixa dupla, isso estaria registrado. Portanto, volto a insistir que, nessa parte da cidade inteligente, voltemos a pensar exatamente no carro chipado.
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Eu perguntei ao Sergio sobre o fato de que havia muitos formados. E também vimos uma pirâmide em que poucos eram formados. Desses poucos formados, só 50% conseguiam emprego. Existe um contrassenso nesse aspecto de: falta gente no mercado com essas especialidades; consegue-se vários; só uma parte é formada; dessa parte formada só metade é absorvida pelo mercado.
O Sergio fez um comentário a respeito disso, mas eu gostaria que ele voltasse a repetir, porque considero isso muito importante nesse nosso contexto.
Todos falaram sobre o contexto de adaptabilidade das pessoas às novas tecnologias. Todas as vezes em que ao meu mecânico, fico abismado. Apesar de ser um mecânico antigo, ele vai lá, pluga o computador, fala sobre chip, enfim, muitas vezes com um conhecimento que extrapolou todo o contexto que nós tínhamos de mecânico de antigamente.
Eu apresentei o mapa da desconexão entre onde nós formamos e onde nós contratamos. Essa é uma das questões. Exemplifiquei que 43% da força de trabalho empregada está em São Paulo, e só formamos 36%. Ao passo que, na grande região central do Estado, formamos 13% e contratamos só 7%. Esse é um dos motivos da quantidade dos que eu formo, porque o dado é nacional, eu formo nacionalmente aquele número e contrato no local, mas ele não tem essa mobilidade física para estar onde eu tenho a necessidade. Então, esse encontro entre oferta e demanda não acontece.
Outra questão é aquilo o que exemplifiquei como formar pelo retrovisor. Nós estamos formando em tecnologias do passado enquanto eu necessito de tecnologias emergentes. Por isso valorizei a iniciativa do SENAI em atualizar os currículos e de debater com o setor produtivo os currículos, porque isso faz todo sentido. E isso é uma permanente.
O SR. GENERAL PETERNELLI (Bloco/PSL - SP) - Isso poderia ser disponibilizado pela Internet, como nós falamos? Eu até diria que não seria uma revisão de 2 em 2 anos. A revisão é permanente, ela é on-line. Eu gosto muito desse caderno apostilado da escola privada.
O PISA da escola privada no Brasil é superior ao do Reino Unido, que foi citado como um contexto.
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Aí, você pergunta: "Mas o que mudou?" No meu entender, foi esse caderno apostilado, que se pode colocar permanentemente na Internet. Eu já disse em outras oportunidades — aqui foi dito várias vezes, mas nem todo mundo se apercebe disso — que esse caderno apostilado da rede pública é importante não só por causa do caderno do aluno, mas, principalmente, falando de boca cheia, por causa do caderno do professor. É o caderno do professor que diz assim: "Professor, hoje na aula coloque a carteirinha 4 a 4, mande fazer tais exercícios e estimule os alunos". Aí, embaixo está escrito assim: "Tem por finalidade, desde a primeira infância, estimular o trabalho em equipe, buscar a solução; tem por finalidade cada vez escolher um para apresentar o trabalho, para melhorar a didática do ensino". Então, o professor é importante até como um gestor, e não como aquele que vai dizer tudo. Ele por si só é um indutor desse contexto. E isso poderia estar no portal do MEC na Internet gratuitamente para essas cidadezinhas do interior.
Eu tentei fazer com que a FIESP disponibilizasse o material do SESI gratuitamente na Internet. Depois eu percebi que isso não era possível, porque ele vende esse material para as escolas, então para ele virou um negócio. Mas o MEC não precisa ter isso aí. Eu diria que deveria haver 12 cadernos do professor, porque o aprendizado tem que começar aos 2 anos e meio, e deve haver um caderno do professor para orientar a condução de cada coisa.
A senhora falou de uma certa frustração com o avanço tecnológico e depois de uma disputa para se manterem empregos do passado e da dificuldade que nossa sociedade tem em perseguir empregos do futuro. Muito do que nós temos são aspectos regulatórios.
O Deputado, de forma muito pertinente, falou do automóvel com chip, mas, na verdade, as transformações tendem a ser muito mais profundas. Com a servitização na indústria automotiva, vai haver mobilidade, uma espécie de uberização da frota. Vai-se pagar pelo uso. Com isso, os especialistas dizem que a tendência é que a frota se reduza a um décimo da atual.
Se nós pegarmos uma fotografia aérea dos parques da Disney, veremos que um oitavo do espaço são parques; os outros sete oitavos são estacionamentos. Se nas cidades houvesse um encolhimento das vias, imaginem quantos parques, ciclovias, praças e áreas de atividades poliesportivas haveria no redesenho das cidades. As vias serão muito menores. Você não vai precisar ter garagem para o seu automóvel. A lógica das edificações vai se alterar.
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Então, haverá uma profunda transformação nesse conceito de cidades inteligentes em relação a ocupações. Só que, se o nosso mindset, como naquele exemplo do boi, ficar muito preso ao passado, nós estaremos defendendo empregos de copistas depois de Gutenberg ter inventado a imprensa. Nós temos que nos mover para frente.
Eu vou dar um exemplo de um problema aqui pontuado. Nós temos um grande desafio e uma grande oportunidade. Esta Casa aprovou a reforma do ensino médio para corrigir uma enorme distorção que há nesse ensino no Brasil. Nós temos 10 anos para implantá-la. O grande desafio é fazer aquela correção que a minha amiga Cristiane apresentou ali, em relação à distorção que existe na matriz educacional brasileira, de 8%. A média dos países desenvolvidos é acima de 50%. O itinerário 5 é esse grande desafio. Se nós não utilizarmos a implementação da Lei nº 13.415, de 2017, que foi aprovada neste Congresso, nós vamos perder uma grande oportunidade.
E nós temos que nos adaptar a esse novo tempo. Há desafios regulatórios. Nós temos que repensar o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, não como uma camisa de força que engesse o sistema, mas como algo mais pró-mercado, que seja regulado pelos projetos de vida das pessoas, pelo tempo de mercado, pelo desejo dos indivíduos e pela fiscalização das instituições. Então, é preciso sair do modelo em que o Estado determina quais são as profissões e deixar a velocidade da dinâmica tecnológica determinar isso, com uma regulação que esteja ajustada a esse novo mundo, ao mundo do Alvin Toffler, do aprendizado permanente ao longo da vida.
Não existem mais profissões nem formações. Então, por que estamos pensando no velho paradigma da segunda Revolução Industrial, de catálogos, quando nós temos que nos ajustar à quarta? O tempo tecnológico é muito mais rápido, o deslocamento da fronteira é muito mais célere, e as profissões são muito mais permeáveis.
Nós temos que fazer o que a Europa, o Velho Mundo, fez com o Protocolo de Bolonha, ou Pacto de Bolonha, em que redefiniu as formações universitárias nas áreas de engenharia. Ainda existem no Brasil 41 formações de engenheiros, enquanto a Europa aboliu isso: há uma formação geral de 3 anos e meio e, depois, apenas especializações, que vão, ao longo do tempo, mudando, se ajustando a ciclos tecnológicos. Nós temos que repensar. Existe muita resistência na área de educação.
O senhor falou dessa questão de material didático. Hoje, por meio de uma câmera e até da voz natural, os devices, ou seja, as máquinas que assistem ao processo educacional, sabem se o aluno está concentrado e está entendendo aquele objeto de aprendizagem. Existe hoje um conjunto de novas tecnologias que pode fazer avançar muito o processo educacional, e o mundo inteiro está usando isso à larga.
É claro que o centro da educação nunca deixará de ser o professor. Mas o professor bem assistido, com o uso de novas tecnologias, vai ter muito mais estratégias. Ele vai poder saber em tempo real quem está aprendendo e quem não está aprendendo e aplicar o estudo adaptativo. Não precisa mais haver uma prova, o reprovado e o aprovado; vai-se saber do aprendizado por lição.
E a capacidade de fazer uma progressão sem perda geracional, sem atraso educacional, vai ser decisiva para o ganho de produtividade. No Brasil de hoje precisamos de quatro trabalhadores para obter a mesma produtividade de um trabalhador norte-americano. Três brasileiros têm a produtividade de um alemão.
Nós podemos mudar isso, mas esta Casa tem que estar atenta. Como no exemplo que a Deputada deu, precisamos pensar nos empregos do futuro, e não brigar pelos empregos do passado.
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O SR. GENERAL PETERNELLI (Bloco/PSL - SP) - Há um detalhe que vai tornar isso difícil, Lucchesi. Eu não participei, mas li bastante sobre a BNCC. A quinta parte trata do ensino profissionalizante. Quando se pergunta qual é o contexto ideal, a resposta é: "Esta escolinha aqui se vincula a uma escola do SENAI". E isso fica resolvido, porque há uma programática.
Vamos ter dificuldades e desafios. Vocês podem dar sugestões. O ensino a distância é uma alternativa que pode ser seguida. Mas consideremos as cidades pequenas. Eu nasci em Pitangueiras, no interior de São Paulo. A escolinha vai ter capacidade de dar ensino profissionalizante naquele contexto? Dos 5.570 Municípios brasileiros, quantos têm um apoio profissionalizante num padrão SENAI? Muitas vezes não se vê isso.
Eu vi uma escola profissionalizante do SENAI na área da construção civil lá no Haiti e pensei: "Esse negócio é tão bacana; eles levantam paredes, desmontam paredes, põem a fiação, tiram a fiação, fazem prumo, fazem o quadro da casa, fazem o quadro de energia". Eu já fui a muitos locais, mas não se vê esse contexto mesmo aqui no País. Então, não será fácil para o MEC abordar cada um desses vínculos do ensino profissionalizante.
Eu acompanho e procuro ajudar uma escola de ciências aeronáuticas em Taubaté. A pessoa pergunta: "Que tranqueira é essa de escola de ciências aeronáuticas?" É muito simples: é uma escola que forma o mecânico de aviação. O mecânico de aviação tem que ter 2 anos pelo MEC e 2 anos pela ANAC, com determinada carga horária de matéria, para poder colocar a mão num helicóptero ou num avião. Quantas escolas dessas há no País? Muitos nunca nem ouviram falar que há uma escola de mecânico para aviação, mesmo entre nós. E esses profissionais ainda se dividem em especialidades: motores, turbinas e toda essa parte; célula; e eletrônicos. Tudo é um desafio bom, e a parte que está disponível na Internet é fundamental.
A SRA. PRESIDENTE (Angela Amin. Bloco/PP - SC) - Tem a palavra o Deputado Eduardo Braide.
O SR. EDUARDO BRAIDE (PODE - MA) - Eu serei breve. Quero, além de agradecer e dar parabéns a todos os palestrantes, dizer rapidamente da importância do que foi tratado aqui em relação às diferentes realidades que nós temos em nosso País. Nós temos aqui um Deputado de São Paulo, uma Deputada de Santa Catarina e eu, que venho lá do Maranhão.
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Há um tempo, eu estive com o Ministro da Ciência e Tecnologia lá no Município de Alcântara, que foi tão mencionado nos últimos dias, por conta do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que foi aprovado aqui. O Ministro Marcos Pontes fez a apresentação dele sobre o que seria o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, falando da importância de se lançarem microssatélites de lá, porque, se não fossem os satélites, não teríamos as comunicações, não teríamos o celular, a Internet, o computador. Ao final de tudo, uma professora pediu a palavra e disse o seguinte: Ministro, já que nós vamos proporcionar tudo isso ao mundo, eu vou pedir ao senhor que disponibilize Internet na nossa escola, que fica ao lado do centro de lançamento, porque ela não tem Internet".
Então, vejam a realidade com que nos deparamos nessa situação. Eu sou de São Luís, Capital do meu Estado, e grande parte das escolas da rede municipal de ensino de São Luís não tem acesso à Internet, por incrível que pareça. São Luís é a 15ª maior cidade do País, mas nem todas as escolas da sua rede municipal têm Internet.
Estou falando dessa situação porque duas coisas me chamaram muito a atenção na apresentação de hoje. A primeira é algo muito importante que o Celson falou: a questão da integração, da troca de informações. E uma coisa está muito clara diante de todo esse estudo que vimos fazendo desde do ano passado: se a academia, o poder público e a iniciativa privada dialogarem entre si, nós vamos avançar, e tenho certeza de que muita coisa boa vamos conseguir fazer nas cidades.
Por que eu digo isso? O Celson apresentou o exemplo de Santarém. Na formação universitária que se tem lá, a oferta é muito maior do que a demanda. No meu Estado, a situação é exatamente o contrário. Duas grandes empresas se implantaram lá ao longo dos anos: a Alumar e a Vale. Quando visitamos essas empresas — hoje em dia até que houve uma melhora —, só vemos gente de fora, porque os moradores de lá não tiveram a oportunidade de se capacitar.
Então, o que percebemos de forma muito clara é que, enquanto já estamos falando na revolução 4.0, muitos lugares ainda estão na primeira etapa da revolução, vão ter que passar pela segunda e pela terceira até chegarem à quarta.
Quero registrar a presença em nosso meio do Prefeito Ribamar Fonseca, da cidade de Humberto de Campos, do meu Estado, o Maranhão. Para quem não sabe, Humberto de Campos é o portal de entrada dos Lençóis Maranhenses. Então, todos que têm vontade de conhecer os Lençóis Maranhenses comecem por Humberto de Campos, porque tenho certeza de que serão bem recebidos lá para conhecer essa que é uma das nossas maravilhas. Ainda bem que o Maranhão foi abençoado com belezas naturais!
Mas a pergunta que eu quero fazer é a seguinte: em relação a essa situação que foi mostrada aqui de necessidade de integração entre academia, poder público e iniciativa privada, tratando diretamente do tema da educação, formação, curso técnico, está sendo feita alguma discussão com troca de ideias entre vocês para que seja apresentada ao poder público, aos Municípios, aos Estados, a quem quer que seja? Existe algum diálogo entre vocês em relação a tudo isso que foi exposto aqui para que, ao final, possamos apresentar, talvez até neste grupo de estudos, uma espécie de catálogo de boas ideias, de boas práticas, nessa área de formação profissional e educacional?
O SR. SERGIO SGOBBI - Excelente pergunta, Deputado. Não adianta nada fazermos um diagnóstico. Nós empenhamos esforços e recursos para entender um pouco, porque essa não é a nossa especialidade.
Nós trabalhamos nesta Casa, no Senado e no Executivo com as políticas para o setor de tecnologia, mas, dado o cenário de dificuldade de contratação das empresas, nós tentamos entender e fizemos esse diagnóstico. Aí, casaram algumas oportunidades.
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Eu estava comentando com o Rafael que, em 2018, o Conselho Nacional de Educação fez um trabalho para a construção da BNCC para o ensino médio. Nós fizemos primeiro uma carta de princípios, junto com a Sociedade Brasileira de Computação e as nossas coirmãs, ABRES e ASSESPRO, que representam também um contingente importante no setor de tecnologia, e participamos das cinco audiências públicas que aconteceram, uma em cada região do País — a de São Paulo não aconteceu, porque o lugar foi invadido. Eu, pessoalmente, fui a todas que aconteceram. Nós tínhamos 3 minutos exatamente, porque o microfone era cortado. À audiência pública de Manaus eu demorei muito para chegar, mas, para ler, tinha 3 minutos, porque, se eu demorasse um pouco mais, o microfone era cortado. Esse era o processo utilizado para que se pudesse ouvir mais gente. Tínhamos 3 minutos para colocar a necessidade de incluir o ensino de computação no ensino médio. E conseguimos isso. Ao final de 2008, o Conselho Nacional de Educação — o Rafael é um dos membros e foi o Relator — aprovou o ensino de computação, assim como outros ensinos, na BNCC.
Por que eu estou contando essa história? Porque, neste momento, em 2020, as redes estaduais estão debatendo como remanejar, refazer ou adaptar a grade curricular para a nova BNCC, que deverá ser implementada a partir do ano que vem. Então, o que que nós fizemos enquanto setor produtivo? Nós mapeamos — isto está claro naquele mapa — quais são os Estados com maior concentração e maior demanda de profissionais e estamos discutindo com esses Estados como inserir o ensino de computação naquela grade curricular que nós mostramos aqui.
O SR. EDUARDO BRAIDE (PODE - MA) - Eu vi que o Maranhão está completamente branco lá no mapa.
(Risos.)
O SR. SERGIO SGOBBI - Nós seguimos a lógica dos locais com maior concentração, mas, como eu disse na minha apresentação, a tecnologia permeia todas as atividades, quer sejam produtivas, quer sejam administrativas. Então, estamos abertos a fazer a discussão com o Estado do Maranhão também.
Já empreendemos discussão com São Paulo, é óbvio, com o Paraná — estamos assinando um acordo com o Governador do Paraná —, com o Distrito Federal e com Minas Gerais. Nós abrimos discussão com o setor público desses locais. Com o setor privado, como eu falei na minha apresentação, amanhã iniciaremos essas discussões. Faremos também essas regionais com o setor privado de ensino.
Enfim, é dessa forma que estamos disponibilizando recursos, disponibilizando uma inteligência que foi capturada com esse diagnóstico, para que auxiliemos esses Estados, porque, às vezes, falta informação, falta alguém que dê o caminho para que eles possam trilhar. Vontade há, e eles têm a obrigação.
Eles saíram de 1.800 horas, em 3 anos, no ensino médio, para 3 mil horas. Essas 1.200 são de ensino — posso usar esta palavra? — profissionalizante ou quase profissionalizante, mas é algo que tem relação com o mundo do trabalho, onde ele vai ter conhecimento de várias áreas do conhecimento, para que ele opte pela melhor opção e por aquilo que se adeque também às suas condições, à sua vocação. Os Estados estão com essa obrigação neste momento. Este é o ano da discussão, e estamos aproveitando isso para fazer esse debate.
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O SR. GENERAL PETERNELLI (Bloco/PSL - SP) - Dinheiro tem. Há algo interessante nisso. Falou-se da Internet. Por exemplo, existe uma anteninha que se chama GESAC (Governo Eletrônico — Serviço de Atendimento ao Cidadão), do Governo. Ela custa 1.500 reais por mês. Então, para o Prefeito que não tiver a possibilidade de fazer direto ponto a ponto, gastar 1.500 reais em uma escola é muito pouco. E, no MEC, o que se gasta de material e o que o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) paga de material didático para o aluno do ensino médio é mais do que um computador. Se ele disponibilizar um computador que o permita, inclusive, escrever, vai estar inserido no computador, a matéria está na Internet, e o custo vai ser menor.
O Sergio deu um exemplo concreto. Eu tenho uma associação que está preocupada em fazer um nível de integração. Quando eu mostrei aquela figura da integração, a minha visão era mais holística e muito mais abrangente. Ótimo que já temos pequenos passos nesse sentido. Só que eu acho que temos talvez que pensar em um passo muito maior. Estamos falando em formar, eu enfatizei, o papel dos docentes, a responsabilidade que o docente tem em se qualificar; eventualmente, em usar instrumentos tecnológicos, que é uma opção. Não defendo a tecnologia só "porque sim". Tem que fazer sentido.
Conseguimos fazer muita coisa com o manual em termos de processo de aprendizagem. Isso está mais do que provado. Mas há algo tão relevante quanto: a nossa universidade forma o nosso futuro docente. Essa formação tinha que ser de primeiríssima linha. Esse cara vai depois atuar nos outros níveis de ensino e vai permitir que essa integração que eu mencionei no âmbito de conhecimento aconteça em um outro nível.
Mais outro ponto. Essa integração vai se dar, e a universidade tem um papel muito preponderante e deve ser cobrada por isso. Nós temos obrigação, enquanto universidade, de nos aproximarmos dos ensinos médio e fundamental com ações concretas, com projetos concretos, que vão além do exemplo que a Cristiane deu e que vão além do PIBIC-EM (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio). Tem que ser um programa permanente de ligação entre o fundamental e a universidade.
Eu não quero que todo mundo do fundamental seja doutor, não é esse o ponto, mas eu quero que todo mundo do fundamental tenha acesso a conhecimento, que vai despertar o interesse para que aquela criança depois escolha para onde ela quer ir.
Foi muito bem falado sobre o papel de artes. Grandes empresas estão contratando artistas na área de inovação. Por quê? Porque artista trabalha o problema de uma outra forma. E mais: o cérebro, no momento da criatividade, as áreas cerebrais ativadas são as mesmas, seja fazendo uma criação musical, no caso de músico instrumentista, seja fazendo um projeto de engenharia. Existe possibilidade científica muito concreta de que, se ativarmos essas áreas nas crianças — só porque sim — pela arte, pela brincadeira, na verdade estaremos ativando o processo criativo que vai sustentar depois o nosso cientista e o nosso engenheiro.
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A SRA. PRESIDENTE (Angela Amin. Bloco/PP - SC) - Gostaria de passar a palavra ao Sr. Leandro Alves Carneiro, da Consultoria do CEDES, que pediu para falar.
O SR. LEANDRO ALVES CARNEIRO - Tenho só uma pergunta rápida a fazer. Este mundo vai exigir uma série de novas competências, além das competências que hoje já são necessárias. Nesse sentido, vocês veem que isso pode ser alcançado só com novas abordagens ou isso vai ensejar necessidade também de um aumento da carga horária escolar? Como vocês veem essa questão?
O SR. GENERAL PETERNELLI (Bloco/PSL - SP) - Ele já até comentou sobre isso. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) praticamente dobrou ali...
O SR. RAFAEL LUCCHESI RAMACCIOTTI - Esse é um assunto controverso. Nós temos, no Brasil, um problema: metade da carga horária é efetivamente dada, fora a questão da qualidade. Se nós pegarmos dados sobre o tempo escolaridade e cruzarmos com o tempo efetivo de escolaridade, junto com os resultados dos rankings internacionais, o problema do Brasil talvez seja de gestão do sistema.
Aumentar pura e simplesmente a carga horária aparece, muitas vezes, como uma panaceia de resolução de todos os problemas. Porém, se continuarmos tendo os problemas de gestão que temos hoje, em que metade da carga horária não é dada e a que é dada não é o suficiente, como demonstram os resultados da Prova Brasil — ao final do 3º ano do ensino médio, 93% dos seus concluintes não têm o resultado adequado em matemática e só 28% têm o adequado resultado em linguagem —, teremos graves problemas.
Nenhuma atividade humana avança sem gestão. Nós precisamos ter gestão na escola brasileira. Isso é algo importante. Além disso, é claro, se nós pegarmos a experiência mundial, só aumentar a carga horária, com uma escola que começa pela manhã e vai até o meio da tarde, teríamos um resultado melhor.
Essa é uma discussão que a Finlândia está fazendo. Eles estão reduzindo a carga horária lá. Acreditam que é importante a criança se socializar, brincar, subir em árvore, ver insetos, trazer esses problemas do mundo real. Já no modelo de escola do tipo da Coreia do Sul, faz-se um teste aos 17 anos. Só se faz uma vez algo do tipo ENEM. Não pode fazer outro dia. Se o jovem passar mal e tiver uma diarreia, está lascado, numa sociedade com o maior índice de suicídios. Essa prova vai definir se ele vai ser o lixeiro ou o CEO da Samsung. Ele tem uma chance só. E aí o que as famílias fazem? Enchem o menino de aula. Ele vai tendo aula de manhã, de tarde e de noite. Ele não tem infância, não tem vida, não tem nada. São sociedades que têm graves problemas de criatividade, além dos aspectos da cultura oriental. Esse modelo, de certa forma, está sendo revisto e discutido.
Nós temos no Brasil ainda uma agenda do que nós não fizemos no século XX. Esta geração de Parlamentares, de educadores e de pessoas da sociedade vai ter que cumprir a tarefa de carregar essas duas agendas: aquilo que nós não fizemos no século XX e o que temos que fazer na agenda do século XXI.
O Deputado Eduardo Braide fez uma abordagem muito pertinente. Vamos ter que conviver com um país que é continental, com realidades muito diversas e um conjunto de agendas que nós sociedade não fomos capazes de fazer; e vamos ter que caminhar paralelamente, sempre numa perspectiva, como a Deputada Ângela mencionou, de pensar no futuro sem apego ao passado, senão vamos ter o retrocesso de resgatar profissões do passado em vez de nos preparar para o futuro.
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A SRA. CRISTIANE VIANNA RAUEN - Se eu puder complementar a fala do Lucchesi, respondendo à sua pergunta, Leandro, a questão talvez não seja pensar a carga horária, mas o que está sendo colocado como carga horária para o aluno, qual é o perfil do que está sendo colocado na sala de aula. Às vezes, o tempo de ócio, como o Lucchesi mencionou, também é importante para a formação do cidadão.
Além disso, temos que pensar, na perspectiva da profissionalização, no que diz respeito ao ensino técnico profissional, se existem opções de flexibilização da legislação trabalhista atual; e também pensar na perspectiva do ensino dual, se parte do ensino pode ser contado como uma participação de produção dentro da empresa. Essa é uma outra discussão que estamos avaliando como parte da educação profissional e tecnológica, até mesmo na perspectiva do novo ensino médio. Na BNCC isso já ocorre.
O SR. RAFAEL LUCCHESI RAMACCIOTTI - Eu gostaria de frisar algo, embora já tenha acabado o meu tempo, desculpem-me, só para não perder uma questão, e isso está com vocês aqui. Nós gastamos 6 bilhões de reais por ano em aprendizagem; 50% dos contratos de aprendizagem não chegam ao final; e temos 9% de empregabilidade.
Quando surgiu o SENAI no Brasil, em 1942, criamos leis de aprendizagem. Nos anos 90, o que aconteceu? A educação técnica saiu do Ministério do Trabalho e foi para o Ministério da Educação, mas a regulação sobre aprendizagem continua no Ministério do Trabalho, uma situação absolutamente esquizofrênica. A partir daí, criou-se um conceito de Bolsa Aprendiz sem nenhum conteúdo de educação, nem de empregabilidade, um conceito artificial de aprendizagem social que não gera efetivamente um efeito transformador.
É claro que o indivíduo de baixa renda, que vai ficar no supermercado empacotando mercadorias ou trabalhando numa empresa como office boy, ganhando 500 ou 600 reais, vai gerar um efeito renda, mas, no período de 2 anos, poder-se-ia formar um cidadão profissional, um profissional técnico com um salário médio, de início de carreira, de 2 mil reais na área industrial, que, com 5 anos de profissão, receberia em torno de 4 a 5 mil reais e, com mais de 10 anos de profissão, 8 a 12 mil reais. Mas hoje ele vai ser o quê? Vai ter um efeito renda sem nenhum vínculo com o trabalho. Nós temos um grave problema na agenda de aprendizagem no Brasil exatamente por esse perfil.
Como ocorre na Alemanha? Eles têm 90% de empregabilidade. Isso não é obrigatório. Não precisamos criar algo punitivo como cota impositiva às empresas, basta fazer algo que seja bom para a família, bom para o jovem, bom para a empresa. Na Alemanha é assim: 90% de empregabilidade. Essa é educação dual de verdade, porque é uma educação antenada para a formação profissional e para o mundo do trabalho. Isso funciona. Nós temos no Brasil de 28% a 30% de jovens que não conseguem o primeiro emprego. Como é na Alemanha? Esse percentual é 4%, porque lá eles fazem um sistema de educação dual de verdade.
No Brasil, autorizam um monte de instituição que não tem professor, não tem sala de aula, nem laboratório, e diz que faz educação profissional. Eu não consigo entender isso. Não quero reserva de mercado para o SENAI ou alguma dessas instituições, mas instituições que fazem formação profissional têm que ter sala de aula, professor e laboratório. É assim que funciona em qualquer lugar do mundo. Porém, no Brasil, se criou uma abstração, que é a aprendizagem social, que não forma nada. Nós precisamos discutir isso.
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A SRA. CRISTIANE VIANNA RAUEN - Essa é uma pauta conjunta: educação e trabalho. A legislação, inclusive, está lá com o Ministério da Economia, não está com o MEC. Então, precisamos revisitar esses regramentos e ver como flexibilizamos isso, até para abarcá-lo dentro da BNCC de fato.
Quero apenas falar a respeito do comentário do Deputado General Peternelli sobre o ensino à distância e a possibilidade de darmos essa escalabilidade do quinto itinerário formativo com educação à distância. O que o Lucchesi acabou de mencionar efetivamente é inclusive um gargalo até para a educação à distância, porque mesmo a legislação de educação à distância prevê 20% de prática. Não há como dar todo o conteúdo da educação profissional e tecnológica à distância, porque 20% têm que ser no laboratório ou no escritório, na vida prática mesmo do profissional.
O SR. GENERAL PETERNELLI (Bloco/PSL - SP) - Eu me referi à parte de computador. Como cada aluno teria um computador, o laboratório para a computação seria o próprio computador do dito cujo. Isso não é válido para a robótica e outras áreas, mas, no que se refere à essa parte, seria assim.
Muitas vezes nós ainda nos prendemos à determinada matéria com o professor na sala. Não é preciso. Eu tenho quatro filhos e vou observando. Há 2 anos, uma delas estudou para entrar na residência médica, em um tal de Medcurso. O estúdio era no Rio de Janeiro, e a aula era para o Brasil. E se pagava lá por cada aula um absurdo.
Se o MEC, o FNDE, em vez de dar o material didático, tivesse o material didático padrão dos colégios Bandeirantes, Objetivo, Etapa, Progressão digitalmente, quer dizer, não iria imprimi-lo, e houvesse um computador por aluno, solucionaria o problema. Eu ainda sugeri que, para esse "digitalmente", quem tivesse lá a própria... Há escolas do Sistema S que são para o fundamental. Desse contexto, o que ocorreria? Eu propus que, estando lá, ainda na capa, houvesse um quadrado de 12 por 12 para propaganda, porque aí poderíamos dizer assim: "Mercado, você não quer fazer uma propaganda e imprimir a apostila do primeiro ano?" Quer dizer, o material didático poderia sair a custo zero, porque, quando se fala de educação, todo mundo quer ajudar. Quando se fala de propaganda, sempre a pessoa quer colocar um contexto. Então, o material didático dos ensinos fundamental e médio seria todo gratuito, porque haveria patrocinador. E, para o ensino médio, além do patrocinador, poderia haver um computador em que a pessoa faria conta, faria tudo lá e com o que se gasta.
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O FNDE, por exemplo — estou atento à hora ali e eu não quero me alongar nisso —, dá um livro para um aluno que é para ser utilizado por três alunos. Aquele aluno do ensino médio que recebeu o livro, se foi o primeiro a pegá-lo, tem que devolvê-lo. Depois, no terceiro ano, dizem assim: "Agora você vai fazer o ENEM". E ele pergunta: "Eu vou estudar onde, se eu devolvi o livro que o FNDE me deu?" Se temos o exemplo dessas escolas que são treinadas, há muitos professores que são da rede pública e do ETAPA. Aí perguntam: "O que mudou?" O professor é o mesmo, a universidade que o formou é a mesma, mas o material didático, que é o livro do professor e o orienta como conduzir cada uma das aulas, muda.
Esse contexto de que falou da brincadeira, da inserção, entra no período integral. No contraturno, é necessário colocar uma série de atividades, inclusive artes cênicas, o dramático, aquele contexto como um todo, que vai fazer com que determinado indivíduo tenha a facilidade de falar, de se expressar, de conversar, de vencer a timidez; colocar atividades de criança; futebol, robótica... Muitas vezes, montar robótica para ele é uma distração: "Fiz um carrinho!" Porém vão dizer assim: "Mas isso é ensino ou brincadeira?" Conseguir misturar essas duas coisas no computador, se é um joguinho ou se ele que o programou estava aprendendo, é o ideal.
Então, o MEC, nesse caso, tem ferramentas. Por isso, digo que não depende de recursos, mas de bastante discussão para adequar esse contexto como um todo, no sentido de integrar. Eu brinco sempre e penso assim: "Será que eles estão dizendo para os empresários que há mão de obra barata em Santarém?" Se a empresa for para lá, é muito melhor.
A SRA. PRESIDENTE (Angela Amin. Bloco/PP - SC) - Eu gostaria de agradecer pela contribuição aos Deputados aos convidados e à assessoria técnica.
Eu tenho certeza de que ficaram bem atentos para podermos realmente finalizar esse documento com bastante propriedade. Temos aí uma grande missão. A cada discussão na área da educação, ficamos mais tontos, mas acho que são importantes essas contribuições para seguirmos com muita clareza de que o desenvolvimento do País passa, sem dúvida alguma, pelo conhecimento, pela educação.
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