1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56 ª LEGISLATURA
Comissão do Esporte
(Audiência Pública Ordinária)
Em 19 de Novembro de 2019 (Terça-Feira)
às 14 horas e 30 minutos
Horário (Texto com redação final.)
14:45
RF
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Boa tarde a todos.
Esta audiência pública está sendo realizada em atenção aos Requerimentos nº 69, de 2019; 70, de 2019; e 71, de 2019, de autoria dos Deputados Federais Helio Lopes e Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. e da Deputada Federal Flordelis, respectivamente, com a finalidade de debater as regras e o funcionamento do VAR.
A título de organização para esta audiência pública, informo que formaremos duas Mesas de debates. Na primeira Mesa, estará o convidado — a quem eu já chamo para se dirigir à mesa — Leonardo Gaciba, Presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol. Ele fará sua exposição, e em seguida abriremos os debates com os Deputados presentes. Depois, formaremos uma segunda Mesa com outros convidados que estão presentes na Casa.
Antes de passar a palavra ao Sr. Leonardo Gaciba, eu queria fazer o registro público da importância de a Comissão do Esporte discutir temas afetos ao desporto nacional. Esta Comissão discute aqui os esportes olímpicos. Você já teve a oportunidade estar aqui para falar sobre o VAR ao longo do Campeonato Brasileiro. Mas o VAR não é privilégio do campeonato brasileiro, é uma tecnologia que vem sendo implementada no mundo e tem sido motivo de discussão em todos os campeonatos do mundo.
Eu convido o Deputado Helio Lopes para compor a Mesa conosco, apesar de saber que ele está em recuperação de uma cirurgia odontológica. Ele é autor de um dos requerimentos desta audiência.
Toda nova tecnologia desperta dificuldade de entendimento e de compreensão, principalmente quando lida com um tema que mexe com a paixão de milhares de torcedores mundo afora. Nesses últimos dias, avaliando e pesquisando o VAR no mundo, conversando com inúmeros jornalistas desportivos, vimos notícias de reclamações, de problemas no campeonato alemão e no campeonato espanhol. Nós sabemos como se dá a incorporação de uma nova tecnologia e como o futebol desperta paixões. Então, eu acho que é uma oportunidade muito grande trazer você aqui, Gaciba, para nos ajudar a entender essa situação.
Eu, especificamente, tenho aqui um projeto de lei, o PL 5.572/19, para que a CBF disponibilize os áudios e as imagens do VAR para o público, principalmente os áudios, para que haja aumento da transparência no futebol. Esse é o nosso objetivo. O objetivo da Câmara dos Deputados, da Comissão do Esporte e dos requerentes desta audiência não é fazer nenhum tipo de intervenção na prática do futebol no nosso País, nem impedir o uso de nenhum tipo de tecnologia. Não é essa a nossa função. A função do poder público é só garantir a transparência para a população em geral, e essa é a nossa função na Casa do Povo.
14:49
RF
Eu pedi para prepararem um vídeo muito curtinho — são só 4 minutos — e solicito que o reproduzam.
Nós vamos tentar, com a ajuda do Gaciba, fazer um esclarecimento sobre a atuação do VAR, sobre a garantia da transparência ao torcedor com os acessos aos áudios e vídeos e vamos mostrar algumas imagens em que o juiz está acompanhando uma interpretação.
(Exibição de vídeo.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Vimos que houve uma interpretação direta do juiz, que estava acompanhando a jogada, e depois houve uma mudança. Nessas imagens, Gaciba, há 3 situações que nós separamos, em que o juiz acompanhava a jogada, e depois foi tomada uma decisão de forma diferente, provavelmente porque os árbitros do VAR interpretaram o lance de outra forma.
Só nesses casos já vemos a importância, principalmente em prol da transparência, de haver acesso aos áudios. No outro vídeo, vimos o árbitro do VAR conversando com o juiz sobre essas questões. Então, eu acho que é importante para nós que essas coisas sejam publicadas.
Aí vimos um terceiro lance, que foi um lance direto sobre pênalti. Esse terceiro é também sobre uma jogada polêmica em que o juiz estava a 1 metro de distância do lance. É obvio que a água o atrapalhou, mas ele estava a 1 metro do lance, acompanhando brilhantemente a jogada, de perto, como é a sua função, e houve mudança da decisão. Essas mudanças sempre causam preocupação.
Vamos deixar o vídeo seguir, porque é bem rápido. Eu trouxe isso para ilustrar a situação e para você esclarecer algumas coisas que nós recebemos no e-mail — eu e o Deputado Helio Lopes. As pessoas nos procuram com essas dúvidas. Eu tenho certeza de que na sua apresentação você esclarecerá bem isso.
(Exibição de vídeo.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Eu queria ressaltar aqui que nós também convidamos alguns comentaristas para que pudessem falar aqui, porque fazem uso da televisão.
Uma complicação que pairou aí foi o impedimento. E suscitou alguma preocupação a questão dos operadores de videoteipe. São eles que estão ali operando, mas, ao estudar esse processo, com a ajuda de alguns amigos especialistas, vi que eles só operam, porque na verdade é o árbitro que fica cuidando dos impedimentos que faz a definição do frame tempo a tempo. Se você pudesse depois falar de um caso polêmico, por exemplo, sobre se o braço configura o impedimento ou não, enfim, regras que na frente você provavelmente deve...
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Este caso, especificamente, é bem interessante. Nós vamos mostrar alguma coisa para o pessoal. Neste caso, em especial, observem como a imagem está parada num momento diferente.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Este é outro momento que nós separamos, também, em que o árbitro estava de frente para o lance, fez uma interpretação, e aí o VAR chama para que se dê outra interpretação. Nós ficamos preocupados com isso.
Gaciba, mostramos esses lances muito mais para ressaltar o problema. Mas eu acho que o fundamental para nós, na Câmara dos Deputados, é tentar argumentar com você e ouvir a sua argumentação sobre a possibilidade de se dar transparência aos áudios, para que tenhamos certeza de que não houve nenhum tipo de... para que saibamos quem deu a opinião. O árbitro de campo é sempre assertivo. Ele coloca o nome dele e está sempre à prova. E eu quero parabenizar todos os árbitros do nosso País e quero parabenizá-lo também, Gaciba, porque você foi um grande árbitro.
14:53
RF
Quero ressaltar a importância dessa transparência na era das apostas on-line, do chamado Sportingbet, que sabemos que vai crescer no nosso País. Então, essa transparência é uma preocupação, não só no Brasil, mas também em outros lugares do mundo. Não devemos achar que problemas só acontecem no Brasil. Já aconteceu manipulação de resultados no campeonato italiano. Então é importante a transparência dos áudios — já estou querendo convencê-lo.
De qualquer forma, já pergunto se a CBF poderia fazer isso legalmente. Acho que isso seria muito importante, para que pudéssemos ter certeza do que aconteceu. Os erros, as opiniões divergentes sempre acontecerão. É importante saber que até quando erramos... Nós que estamos na política, mais até que vocês árbitros, temos opiniões divergentes, estamos susceptíveis a erros ou a opiniões contrárias. Mas, se sabemos da boa-fé do árbitro que está à frente do VAR, da escalação desse árbitro, do próprio operador de VT, se esse operador tem o treinamento adequado para operar aquele VT... Eu acho que a publicação também do nome do operador de VT seria um diferencial.
Então, eu abro o espaço aqui para as suas considerações, reiterando meu agradecimento pela sua disponibilidade de comparecer à Câmara dos Deputados, a Casa do Povo.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - O prazer é todo meu.
Eu agradeço aos Deputados Dr. Luiz Antonio, Helio e Flordelis a oportunidade de estar aqui. Eu acho que, acima de tudo, o fato de a Casa do Povo querer ver e ouvir sobre o árbitro de vídeo é fundamental para nós. A Confederação Brasileira de Futebol se sente honrada em vir aqui conversar pela segunda vez no ano para mostrar exatamente como isso funciona. Muito mais do que polêmica, o árbitro de vídeo gera curiosidade. O povo quer entender como funciona o processo de revisão e o processo de checagem dos lances e como as coisas são feitas dentro da cabine, acima de tudo.
Entendo seu interesse e sua proposta de divulgação dos áudios, e isso não está completamente fora dos nossos planos. Obviamente, é importante dizer para todos os que nos ouvem e nos veem que esse protocolo não é feito pela Confederação Brasileira de Futebol. Nós temos regras e normas da International Football Association Board — IFAB a seguir. Nós somos uma entidade particular filiada à FIFA, que por sua vez é submetida às regras da IFAB, que faz o protocolo internacional. Estamos tendo muitos problemas em outros países, pelo fato de eles não cumprirem esse protocolo. No Brasil, já houve campeonatos que tiveram problemas pelo fato de não cumprirem as regras da FIFA e tiveram que voltar atrás em algumas situações.
A transparência é o objetivo maior da CBF. O árbitro de vídeo está obtendo o certificado ISO 9001 de qualidade. E estamos no processo de conseguir esse certificado exatamente para mostrar essa questão.
Preparamos um material, Deputado. Se V.Exa. me permite, como eu sou do povo, sou do futebol... Árbitro de futebol sentado...
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Estamos aqui a sua disposição. Faça da maneira que achar melhor.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Não sou árbitro de vídeo para ficar sentado, sou árbitro de campo. (Risos.)
Se V.Exa. me permite, vou ficar de pé.
Em primeiro lugar, agradeço a presença a todos vocês que estão aqui e ao pessoal que nos acompanha pela Internet.
Quero mostrar um pouquinho do projeto do árbitro de vídeo. Vou passar uma apresentação. Os números estão um pouco defasados, mas a apresentação mostra algumas imagens do que aconteceu no campeonato.
(Exibição de vídeo.)
14:57
RF
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Neste lance, havia só seis jogadores dando condição, Deputado.
(Exibição de vídeo.)
15:01
RF
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Esse foi um gesto novo. Acredito que o ano de 2019 vai ficar marcado na história do futebol brasileiro pelo gesto da janela. Nunca pensei que os torcedores iriam comemorar um gol quando o árbitro fizesse um sinal de janela e apontasse o meio de campo, como aconteceu nesse tipo de situação. O árbitro de campo anula o gol, mas o árbitro de vídeo o confirma. É uma coisa impressionante ver o jogador comemorar um gol depois de uma revisão, até 2 minutos depois de a bola ter entrado no gol.
Acima de tudo, senhoras e senhores, acredito que o árbitro de vídeo é a maior revolução do futebol mundial. Eu não tenho dúvida de que, nesses 156 anos de existência da regra do futebol, essa é a maior revolução do futebol mundial. É um jogo diferente de se observar. O grande desafio para a arbitragem brasileira e mundial é conseguir equilibrar emoção com precisão, trazer justiça ao futebol, eliminando os grandes erros de arbitragem, e conseguindo, ao mesmo tempo, tirar o mínimo da emoção do jogo. Esse é o grande desafio.
(Segue-se exibição de imagens.)
Estas são as quatro situações protocolares com as quais trabalhamos. Isso já é de conhecimento de todo o público. Quando falamos em gol, estamos nos referindo a todas as situações que envolvem um gol. Todo gol do campeonato é checado, desde a possibilidade de impedimento até alguma falta do atacante, se a bola saiu ou não, qualquer tipo de infração que possa ocorrer antes de o gol ser realizado.
No tocante aos pênaltis, são checados todos os que são marcados e todos os que supostamente deveriam ter sido, assim como situações de cartão vermelho direto — não os casos de segundo cartão amarelo, porque isso é interpretação de campo — e erros de identificação do jogador, tanto para cartão amarelo quanto para cartão vermelho.
Começamos a conviver com nomes novos dentro da arbitragem, como checagem e revisão. O público brasileiro está começando a aprender alguns desses termos.
A checagem pode ser silenciosa ou com impacto no jogo. A checagem silenciosa é quando acontece algum tipo de observação, concordando com a decisão do árbitro de campo, e, ao mesmo tempo, não tem influência no jogo. O árbitro de vídeo consegue fazer todo o processo de checagem sem ter impacto no jogo, antes que a bola tenha que ser reposta em jogo novamente. Nesse caso, não há impacto no jogo. Quando o árbitro faz coloca a mão no ombro e paralisa o reinício do jogo, isso significa uma checagem com impacto na partida, ou seja, a bola saiu para o próximo movimento de jogo, e o árbitro de vídeo ainda não conseguiu chegar a uma conclusão. Essa checagem passa a ser com impacto, quando ele não chama o árbitro.
A partir do momento em que é sugerida uma mudança de decisão ao árbitro do campo, chamamos de revisão. A revisão ocorre quando o árbitro faz o sinal da janelinha. A janelinha mostrada pelo árbitro de vídeo indica a revisão.
Existem dois tipos de revisão. A primeira delas é a factual, para aquela jogada que não é interpretativa. É o caso do impedimento — para se saber se o jogador estava ou não estava impedido —, é caso de se saber se a bola estava dentro ou fora do campo e é o caso de se saber se o atacante tocou a mão na bola ou não. Não há interpretação. É passada a informação ao árbitro do campo, ele faz aquela janela de TV e informa qual vai ser o próximo movimento do jogo.
15:05
RF
E existe a revisão feita na ARA — Área de Revisão do Árbitro, quando há interpretação. Esse é um termo novo. Nada mais é do que aquela tela de vídeo que fica na beira do gramado. Nesse caso, o árbitro de vídeo sugere a revisão, e o árbitro toma a decisão em relação às jogadas interpretativas na ARA.
Infelizmente, uma pesquisa mostrou muita desinformação nesse assunto. E nós temos que fazer mea-culpa. Todos nós brasileiros nos dizemos treinadores, não é isso? Mas, para ser treinador, é preciso saber as regras do futebol, não é, Deputado? Todos os brasileiros são juízes de futebol, mas a grande maioria deles nunca leu as regras do futebol. Estudo recente chegou à conclusão de que 99% dos jogadores brasileiros profissionais nunca leram as regras do futebol, essa Bíblia que está à disposição de todos no site da CBF.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Gaciba, eu sou médico, e praticamente todo mundo no Brasil é médico. Então, não é privilégio dos árbitros. (Risos.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - É normal, não é?
Então, 99% dos jogadores não leram as regras. Nós convidamos as pessoas, antes de qualquer coisa... O Deputado mesmo disse que fez a petição, foi estudar, foi olhar, foi ver como acontece. Existe o protocolo do árbitro de vídeo também. Como eu disse, esse protocolo não é feito pela CBF. Nós seguimos o protocolo da IFAB. E, no site da CBF, atualizado em junho de 2019, está a última versão do protocolo, o procedimento que a arbitragem deve adotar em todas as situações.
Nós estamos trazendo para vocês um balanço estatístico com base nos 320 jogos do Campeonato Brasileiro. A rodada do último fim de semana não está aqui, porque não houve tempo hábil para fazer o levantamento e a análise de tudo o que aconteceu. Então, consideramos até a penúltima rodada.
Para vocês terem conhecimento, até a rodada passada, em 320 jogos, nós tivemos 1.986 checagens ou revisões no Campeonato Brasileiro. É uma média de seis lances por partida, ou seja, seis jogadas por partida são consideradas para checagem dentro do campeonato — um possível cartão vermelho, um gol, um possível pênalti ou mesmo um erro de identificação.
Aqui temos um número muito interessante: de todas as checagens, 1.798 ficaram como checagens e 188 se transformaram em revisões. Isso significa que, em 90% das situações, o árbitro de vídeo concorda com a decisão do árbitro de campo, isto é, o árbitro de vídeo não considera que há um erro claro da arbitragem e não sugere uma troca de decisão. Isso significa 90% de acerto na visão do árbitro de vídeo e 10% — 9,5%, para ser mais exato — de equívoco.
Esta é a nossa formação hoje na VOR. Não está errado. Não é VAR, é mesmo VOR — Video Operation Room. Nada mais é do que a sala do árbitro de vídeo, a nossa VOR. Esta é a formação utilizada no Campeonato Brasileiro. Este aqui, Deputado, é um operador de replay. Ele não é árbitro. É um técnico treinado.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - É um operador de vídeo, não é?
15:09
RF
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Exatamente. É um operador de vídeo replay.
Este aqui é um auxiliar. Quando há mais de 12 câmeras, são 2 operadores, para conseguir passar a melhor câmera possível. Estes 2 são operadores.
Este aqui é o chefe da cabine. Este aqui é o árbitro de vídeo central. Este aqui é um segundo árbitro central. Fica com a responsabilidade de controlar o jogo, quando o primeiro árbitro começa uma checagem. A bola está em jogo, e ele passa a responsabilidade do jogo para este aqui, porque não pode deixar o jogo reiniciar sem isso. Ele fala com o árbitro do campo, e este aqui passa a fazer a checagem. Este aqui é um assistente, um bandeira de ofício, que está ali somente para interpretar jogadas de impedimento, quando há necessidade de interpretação. Este aqui é um assessor do árbitro de vídeo. É um ex-árbitro. Ele não tem poder de decisão dentro da cabine. Está ali simplesmente para resguardar a observância do protocolo da IFAB. Então, se este aqui for chamar o árbitro, por exemplo, para um cartão amarelo, este outro indivíduo vai dizer: "Não, isso não é protocolar. Você não pode chamar o árbitro". Então, este aqui está ali para fazer respeitar isso e, obviamente, juntar todos os nossos dados.
Observem que existem dois botões para o árbitro de vídeo. Somente este e este conseguem comunicação com o campo. Fica fechado o áudio do árbitro de vídeo para o campo o tempo todo. O campo não escuta o que o árbitro de vídeo está conversando. Vocês verão que, em volta da tela, quando acende uma luz vermelha, é o único momento em que o vídeo está falando com o campo. A luz informa que o árbitro de vídeo está falando com o campo.
Vamos aos motivos da checagem. Acho que isso é interessante. Vejam que 48% são gols. Outras situações são possíveis pênaltis, marcados ou não marcados; cartão vermelho; e, raramente, algum problema de erro de identificação. Na verdade, as situações mais polêmicas, realmente, são as que envolvem as penalidades, em especial aqui no Brasil, os cartões vermelhos — sempre os cartões diretos, que são os que são revisados — e os gols, que, por protocolo, devem ser todos checados.
Neste eslaide está a resposta ao questionamento do Deputado quanto ao procedimento adotado pela CBF. Esse é o processo que nós adotamos hoje. É interessante esclarecer que muitas pessoas não têm conhecimento disso, Deputado.
Eu acho que aqui mostramos a questão da transparência, que foi tão mencionada. Não é obrigatório, mas a CBF faz questão de ter 100% das checagens armazenadas. Todas elas estão à disposição no site. E todos os vídeos, com áudios — aí, sim, é obrigatório — são enviados para a IFAB — International Football Association Board. Todos esses vídeos têm que ser enviados para lá. Então, não existe possibilidade de algum áudio ou algum vídeo relativo a acontecimento durante o Campeonato Brasileiro não ter total transparência quando necessário. Sempre que a credibilidade da arbitragem ou o que aconteceu dentro de uma cabine for colocado em dúvida, estão à disposição os áudios e os vídeos. Estão lá. Ou seja, a divulgação dos áudios atende a uma curiosidade do povo, que quer ouvir o que acontece lá dentro, porque os vídeos e os áudios estão disponíveis.
O que nós dizemos? O material, conforme o protocolo, é utilizado para ensino, para divulgação, que é o que estamos fazendo aqui, divulgando nosso trabalho na Câmara — e muito obrigado pelo convite —, e a pedido da Justiça Desportiva, como aconteceu no lance que o senhor citou, entre Palmeiras e Botafogo.
15:13
RF
A Justiça Desportiva requereu o vídeo para saber o que tinha acontecido dentro da cabine, e ele foi utilizado como prova no processo. E se considerou que a nossa equipe havia agido de forma correta, e o resultado do jogo foi mantido, até porque o pleito era o cancelamento da partida.
O que fazer quando a credibilidade do projeto for posta em dúvida? Se, por exemplo, alguma pessoa vier a público dizer que dentro da cabine disseram que o time X tinha que ser campeão, não tem problema nenhum. É só pegar o áudio e mostrar. Está lá disponível.
As jogadas em que os clubes estão envolvidos, hoje, os Presidentes ou quem for por eles nomeado oficialmente, lá na sede da CBF, tem acesso a isso. Eles podem ver. Os próprios Presidentes estão aprendendo como funciona o processo do árbitro de vídeo. Estão olhando as imagens, estão vendo qual é o trabalho que é feito pela arbitragem dentro da cabine. Eu acho que isso é interessante.
A CBF não tem um processo estanque. Nós estamos sempre tentando evoluir, inclusive na questão da transparência. Após o começo do segundo turno, as revisões são todas mostradas para o público, para o telespectador.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Sim, o vídeo, sem o áudio. O que o árbitro central vê está disponível para os nossos telespectadores. Estamos tentando colocar nos estádios, mas esbarramos em um detalhe: muitos estádios do Brasil não têm telão. Colocar em um e não colocar em outro fere o critério de equidade.
A questão da divulgação das imagens de checagem é uma coisa em que nós estamos pensando, mas nós não temos o direito de transmissão. Quem faz a transmissão não somos nós — simplesmente utilizamos as imagens. Também estamos estudando isso. Muitas vezes, um pênalti é marcado, o árbitro de vídeo concorda com a decisão do árbitro de campo, e nós não podemos mostrar a imagem, que foi conclusiva para o árbitro. E eu acho que mostrá-la seria interessante.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Você não acha, Gaciba, que, como já existem esses áudios, esse banco de dados guardado com a CBF e disponibilizado aos Presidentes de clubes, isso poderia ser disponibilizado, em até 24 horas, à grande mídia, para que se possa ter certeza do raciocínio utilizado? Parece que na Espanha já se faz isso. Lá se disponibilizam os áudios para que todos entendam qual foi o raciocínio do juiz do VAR, que tem tanta importância hoje quanto o juiz de campo.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Não vejo problema algum na divulgação desses áudios, que estão disponíveis. A minha única preocupação, conforme nós conversávamos, é que as pessoas vão ficar analisando mais a conversa que acontece dentro da cabine do que a imagem em si, que é o mais importante. Mas não tem problema. Se é uma questão de considerar a credibilidade ou não do projeto, não vejo problema algum.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Acho que, do ponto de vista prático, nós conseguimos entender o posicionamento do juiz de campo. Já do juiz que está ali no VAR e, agora — estamos aprendendo todo dia, não é? —, do juiz que está ali para tratar do impedimento, nós conseguimos entender exatamente o posicionamento de cada um nas decisões.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Sim, o ponto de vista.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Hoje está restrito ao juiz de campo, que está ali... As decisões dele estão muito mais expostas a toda a população do que as dos juízes que estão na cabine do VAR. Se fossem disponibilizados, saberíamos qual foi o posicionamento de cada um. Por exemplo, houve um posicionamento de tal maneira, e o juiz de campo concordou, ou não concordou, ou interpretou de outra forma.
15:17
RF
E aí há um tempo para que possa ser disponibilizada a imagem, com 2 horas, como é feito na Espanha, parece-me, ou com 24 horas, para entendermos o posicionamento de cada árbitro. Essa é a principal reivindicação, do ponto de vista do nosso projeto de lei, nesta Comissão do Esporte.
Quero agradecer a presença ao Deputado Domingos Neto, ilustre Relator do Orçamento, e do Deputado Otoni de Paula.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Por mais que eu ache interessante, aos poucos nós vamos entender como a coisa funciona.
Quanto ao próprio árbitro de vídeo, acho que é novo para todos: novo para árbitros, para telespectadores e para torcedores. E há uma coisa interessante. Hoje em dia, entender o raciocínio, conforme V.Exa. está colocando, é muito simples: o árbitro de vídeo sugere uma revisão quando não concorda com a decisão do árbitro campo. A partir daí, o árbitro de campo vai à beira do campo e olha o monitor. Se ele achar que a decisão foi correta, ele vai mantê-la; se ele achar que o árbitro de vídeo estava correto em sugerir a revisão, ele vai mudar a decisão. Pronto. É isso que acontece. E vamos mostrar isso.
Esta é uma mostra da maneira como nós a armazenamos uma checagem. Temos a imagem e também o áudio. Essa é câmera 1. Peço que reproduzam o vídeo desta parte.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Essa decisão foi a de não ocorrência de um pênalti, e nós a guardamos. É assim que o árbitro de vídeo vê o jogo.
Observem o momento em que o árbitro de campo fala com o árbitro de vídeo. Isso e uma checagem rápida de um possível pênalti e a forma como a imagem é armazenada. É só para V.Exas. verem como é armazenado.
Quanto à questão da transparência, a cabine é filmada para mostrar o que acontece dentro da cabine; o campo é filmado, para mostrar o que acontece dentro do campo; e as imagens que o árbitro de vídeo vê são armazenadas — são essas as três tomadas que são feitas.
Quando há uma revisão na beira do campo, uma câmera é focada no árbitro, quando ele chega ao monitor, para evitar que paire qualquer tipo de dúvida sobre se aconteceu algum tipo de informação diferente do que estávamos vendo em casa.
(Segue-se exibição de imagens.)
Esta imagem é mais interessante. Esta é uma checagem que aconteceu em um pênalti marcado e mostra exatamente a questão do detalhe. A maioria da imprensa esportiva achou que essa penalidade não existiu. Mas por quê? Porque não observaram a imagem de uma das câmeras que o nosso árbitro de vídeo tinha visto. Esse é o trabalho que ele faz.
Lembro a vocês só uma coisa: esta imagem aqui vem com 3 segundos de delay. O árbitro de vídeo trabalha em cima desta imagem que aparece em um monitor com quatro telas. E existe um monitor com a transmissão do jogo. Na primeira tela, as imagens têm um atraso de 3 segundos. Então, ele olha o jogo no monitor e, para algumas coisas, ele consegue ter um replay imediato. Depois que acontece a jogada, basta ele mover o olho para baixo e, em 3 segundos, consegue ver a jogada novamente.
15:21
RF
Assim funciona a checagem de uma decisão tomada pela arbitragem. Como podemos ver, o árbitro de campo conversa com o árbitro de vídeo. É a isso que me refiro quando falo sobre a possibilidade de se colocar à disposição o áudio. O fato de simplesmente se colocar à disposição o áudio não apresentaria problema, mas acredito que se teria dificuldade em saber quem é quem neste diálogo todo: quem é, quem não é, quem está falando, quem não está falando, quem está ouvindo e em que momento está ouvindo. Vejam que o árbitro de campo continua dialogando com os jogadores: "Eles estão checando lá em cima, estão observando". Em momento algum, o árbitro de vídeo conversa com ele, em momento algum. Ele está observando imagens e buscando todos os ângulos disponíveis, para ter condições de observar se o jogador atacante toca a bola e se o defensor acaba atingindo-lhe na perna. A decisão do campo foi correta, e o árbitro de campo agiu corretamente. Viram que ele já tem amarelo? Alguém fala isso. Isso decorre da ativação de um assistente, que diz: "Ele já tem amarelo". Por um suposto segundo cartão amarelo, seria a expulsão do jogador. O árbitro de campo diz: "Pela regra, ele está disputando a bola; não há necessidade de cartão amarelo". O assistente achava que poderia ter um amarelo. Este é um papo, uma conversa que eles têm dentro do campo.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Com o assistente de vídeo?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Não. Este era o assistente de campo.
O árbitro assistente de vídeo, em momento algum, conversou com o árbitro. O árbitro assistente de vídeo só entra quando ouvimos: "Felipe, Felipe, posso falar?" Aquele é o árbitro assistente de vídeo. O árbitro de campo tira os jogadores de sua volta para conseguir ouvir. É quando o assistente de vídeo diz: "Felipe, segue a decisão de campo". O árbitro de campo repete: "Segue decisão de campo? Pênalti!"
Aquilo enche de moral o árbitro de campo, que diz: "Acertei!" "Excelente decisão", é o que o árbitro de vídeo diz para ele. Aí ele diz: "Acertei, e é sem cartão, porque há disputa de bola".
Vejam que este papo não existiu entre o árbitro de vídeo e o árbitro de campo. Trata-se de uma interpretação do árbitro de campo, que, corretamente, checou uma decisão perfeita tomada pela arbitragem. Assim funciona a checagem.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Este vídeo mostra as revisões, que são mais importantes: elas mostram as vezes em que o árbitro de vídeo sugeriu uma mudança de decisão.
Aqui temos algo interessante: se o Deputado der uma olhada no que ocorre no mundo todo, verá que no Brasil o quadro de pênaltis é muito maior que no resto do mundo. Nossos jogadores são artistas, literalmente.
A maior dificuldade da arbitragem são os lances dentro da área penal. Em 83 marcações, o árbitro de vídeo sugeriu que o árbitro de campo mudasse a decisão: o percentual é de 44,1%, praticamente metade das situações. Em 70 gols, foi sugerido que se fizesse a revisão. Quanto aos cartões vermelhos, o percentual chega à metade: 16,5%. Quanto aos erros de identificação, raramente se sugere uma revisão.
15:25
RF
Aqui temos o funcionamento de uma revisão. Este lance especificamente, que eu fiz questão de trazer, motivou os Deputados a sugerir a realização desta audiência pública. Este aqui é o áudio e o vídeo oficial da revisão que aconteceu na Arena da Baixada, no pênalti anulado do Flamengo. Aqui temos o áudio e o vídeo do que aconteceu naquela data.
Eu gostaria que os senhores observassem como funciona o trabalho do árbitro de vídeo. O árbitro de vídeo está lá para ver mais coisas do que o telespectador em casa acha que ele está vendo. Observem como existe uma checagem até mesmo de uma possível mão na origem da jogada. Eu vou tentar acompanhar o vídeo, identificando quem é quem, para vocês entenderem quem está conversando e quem está falando.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Quem está falando é o árbitro de vídeo: "Olha para mim, que a bola está entrando na área".
"Checando" — este foi o primeiro contato do árbitro de vídeo com o árbitro de campo.
O árbitro de vídeo volta a imagem e observa se houve mão na origem da jogada. Aí, seria anulada toda a jogada. Não houve mão. Vai para o pênalti.
Esta é a imagem conclusiva. O árbitro tinha visto o calço com o joelho, e esta imagem mostra claramente que há apenas um pisão no pé e que o jogador do Flamengo acaba caindo.
Com que parte do corpo foi feito o pênalti? Nesse momento, ele observa que houve um erro do árbitro e vai sugerir a revisão.
O árbitro de vídeo diz: "Calma, calma! Eu vou mostrar outra imagem, mostrando que não houve contato".
15:29
RF
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Este é o trabalho de revisão, o trabalho do árbitro de vídeo, Deputado.
Eu acho muito interessante V.Exas. nos chamarem aqui e a população ver como funciona o trabalho do árbitro de vídeo. Acredito que as pessoas não consigam imaginar a pureza de detalhes que é buscada dentro de uma cabine, para ter condições de considerar que houve um erro da arbitragem, para pedir uma possível revisão. Pelo que podemos ver, o árbitro de campo tinha visto um contato ou calço com o joelho, e o árbitro de vídeo percebe que não tinha havido nenhum tipo de contato. Houve contato somente do jogador atacante, com o pé, por isso se fez a revisão.
Opinião todos podem ter, o pessoal pode olhar a jogada e achar que isso é pênalti, como pode olhar a jogada e achar que não há um erro da arbitragem, que se pode deixar que um pênalti seja marcado por um pisão no pé do defensor. Isso é permitido, tranquilamente. Mas o trabalho do árbitro de vídeo é exatamente este.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Esta é uma revisão para cartão vermelho, que aconteceu, para ver que é um pouco diferente em relação a outra.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Como podemos ver, o árbitro de campo já informa, o jogo está rolando, o jogo continua rolando. Agora ele manda segurar porque o jogo já tinha parado, ele já apresentou o cartão amarelo ao jogador.
15:33
RF
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Esta é uma revisão para cartão vermelho.
Como podemos ver, em momento algum, o árbitro de vídeo diz para o árbitro de campo: "Isso é para cartão vermelho, ou não é". Ele simplesmente sugere uma revisão na entrada. Obviamente, quando ele sugere uma revisão, está dizendo que, na opinião dele, é uma entrada para cartão vermelho, e o árbitro tem que ir olhar. Esta é o tipo de decisão que tem que ser vista pelo árbitro.
(Segue-se exibição de imagens.)
Esta é outra situação que nós colocamos. O pessoal diz que, sempre que é chamado, o árbitro muda de posição. Não é verdade. Das 198 chamadas, em 158 vezes, ou seja, em 84%, o árbitro mudou sua decisão. Em 30 vezes, ou seja, em 16%, o árbitro manteve a decisão que havia tomado dentro do campo. Ninguém tem obrigação nenhuma de mudar a decisão.
Este é o espírito do árbitro de vídeo. A decisão final é do árbitro de campo, quando se trata de jogadas interpretativas. Este é o espírito do que é a intervenção, em que a autoridade do árbitro central tem que prevalecer.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Peço licença. Embora seus 40 minutos tenham terminado, eu prorrogarei o tempo, para o senhor ficar confortável e terminar sua apresentação, com o compromisso de os Deputados poderem fazer perguntas em seguida.
Peço ao senhor que controle o tempo.
(Segue-se exibição de imagens.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Aqui temos um pênalti marcado, que o árbitro está vendo.
Esta questão do tempo está melhor. Nos campeonatos estaduais, nós estávamos, em média, 6 minutos parados. Hoje o campeonato brasileiro tem uma média de 1,49 minuto parado: nós estamos num patamar não muito longe da Liga dos Campeões e melhor que a Copa América. Em relação ao tempo, acredito que nós estamos evoluindo, quando começamos a conhecer a ferramenta.
Acho interessante mostrar este vídeo para os senhores.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Se esse jogador está impedido ou não, acredito que, pela imagem que estamos vendo, todo mundo acha que o jogador está impedido. Isso aconteceu no Campeonato Brasileiro entre o Internacional e o Bahia. O árbitro de vídeo considerou legal esse gol.
Nós fomos ao Maracanã para mostrar isso. Eu acho que é interessante mostrar como é feita a linha de impedimento pela nossa tecnologia de árbitro de vídeo.
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Esta é a mesma situação do jogo: o de branco está impedido ou não?
15:37
RF
(Exibição de vídeo.)
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Assim ocorre a linha de impedimento. Temos a satisfação de ter erradicado o impedimento no futebol não apenas brasileiro, mas também mundial. Não houve gol impedido no campeonato brasileiro, por conta da posição, e não houve gol mal anulado pela arbitragem.
(Segue-se exibição de imagens.)
Na sequência, temos uma situação interessante: uma análise da própria arbitragem, feita pelo centro estatístico da arbitragem. Nós chegamos à conclusão de que, no campeonato brasileiro, as decisões dentro da área tiveram 65% de acerto sem o árbitro de vídeo, em decisões de pênalti ou não. Este índice passa para 94% de acertos quando o árbitro de vídeo entra em jogo. São 56 erros de penalidade corrigidos durante o campeonato brasileiro, pênaltis marcados ou desmarcados com o auxílio do vídeo.
15:41
RF
Temos aqui outra situação, em que o índice dos nossos assistentes é um dos melhores do mundo, em se tratando de acertos: 87,5%. Com o VAR, sobe para 93,9%. "Gaciba, você não disse que o índice era de 100%?" Ele não é de 100%, porque em lances laterais o bandeira marca o impedimento e toma uma decisão. O VAR só entra em lances que culminaram em gol. Em 48 gols, nós mudamos a decisão do campo.
Estas são todas as situações impactantes que aconteceram no campeonato brasileiro: 158 mudanças de decisão em 320 jogos. Não sei o que se quer ver, se meio copo vazio ou meio copo cheio. Acho que, no caso do árbitro de vídeo, cinco sextos do copo estão cheios. Não se trata de uma vitória ou de um ganho da arbitragem brasileira. Hoje ser contra o árbitro de vídeo significa ser contra a justiça no futebol. Ser contra o árbitro de vídeo significa ser desumano com os profissionais, não de carteira assinada, mas profissionais como os que aqui estão, da arbitragem no Distrito Federal, que se dedicam muito, mas perderam a velocidade: o olho humano perdeu para a velocidade do jogo. Por mais que tenhamos decisões polêmicas, podemos afirmar que a arbitragem brasileira está tendo um acréscimo de acerto de 85% nas suas decisões.
Aqui temos uma pesquisa encomendada pelo Datafolha junto ao IBOPE, que mostra que 58% do público na rua acha que o VAR mais ajuda do que atrapalha, e apenas 29% acham que o VAR mais atrapalha do que ajuda. O povo brasileiro começa a perceber a importância do árbitro de vídeo para o jogo, mesmo que tenhamos que abrir mão de um pouco da emoção do futebol. Mas será que o pessoal não está começando a sentir a emoção de uma checagem do árbitro de vídeo? Acima de tudo, acho que a justiça deve prevalecer.
Aqui temos algo interessante. Eu estive em 17 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, num tour inédito. Pela primeira vez, o Presidente da Comissão de Arbitragem fez questão de ir aos clubes. Conversei com 17 clubes da Primeira Divisão, entrevistamos jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. Tivemos uma resposta espetacular daqueles que diretamente trabalham com o árbitro de vídeo.
Este é um número que realmente muito nos orgulha. É interessante que o Brasil o observe. Este número está sendo apresentado pela primeira vez: 94,1% das pessoas questionadas gostariam que o árbitro de vídeo prosseguisse no campeonato do ano que vem. De jogadores, treinadores, membros de comissão técnica e dirigentes, 94,1% querem a continuidade do árbitro de vídeo. Este número chega a 100% quando se pergunta a dirigentes e a membros de comissão técnica.
Aqui temos um número chocante: em 320 jogos, a arbitragem brasileira, no ano passado, tinha cometido 161 erros capitais, protocolares, com cartão vermelho, impedimentos, pênaltis marcados de forma incorreta ou não marcados. Foram 161 erros, o que significa aproximadamente 5 erros capitais por rodada. Com o auxílio do árbitro de vídeo, este número baixou para 30, abaixo de 1 erro por rodada. Vamos errar? Sim, vamos errar, porque quem está trabalhando é um ser humano. Somos seres humanos! Mas acredito que o índice de acertos da arbitragem cresceu infinitamente, isso é incontestável. Quem é contra o árbitro de vídeo está sendo contra o futebol.
15:45
RF
Quero deixar bem claro que esta é uma escolha dos clubes, não uma escolha da arbitragem. Foram os clubes de futebol que quiseram isso, e acho que esta é uma vitória dos clubes de futebol. Eles aprovaram esta escolha por unanimidade, assim como, no ano que vem, se acharem que o árbitro de vídeo não é útil, simplesmente podem chegar, na reunião técnica dos clubes, e dizer que não querem o árbitro de vídeo. Assim, nós voltamos para a arbitragem raiz, voltamos para o número violento de erros, e eu voltarei a receber 161 visitas de dirigentes de clubes na minha sala, reclamando de impedimentos de 3 metros, de gols feitos com a mão, de pênaltis escandalosos não marcados. Foram 161 erros em 320 jogos!
Este aqui, Deputado, é o índice de decisões capitais dos nossos árbitros. Não pensem que este número é muito baixo. Na Inglaterra, o número é de 82%; nossos árbitros acertam 78,3% das decisões capitais que tomam dentro do campo de jogo. O árbitro de vídeo eleva este número para 98,3%. Se 21 equipes disputam o campeonato brasileiro, eu tenho certeza de que o melhor índice de aproveitamento é o da minha, com muito orgulho: minha equipe tem o melhor índice de aproveitamento.
Portanto, nós árbitros de vídeo estamos levando mais justiça ao futebol, que, acho, é o mais importante com que podemos contribuir.
Este vídeo, de 30 segundos, diz respeito a uma campanha que eu não poderia deixar de passar nesta oportunidade. Trata-se de uma campanha do Presidente Rogério Caboclo, um dos grandes incentivadores do projeto do árbitro de vídeo. Graças a Deus, existe o árbitro de vídeo! Senão, nós não seríamos campeões mundiais Sub-17, por um pênalti que ninguém viu no campo que o árbitro de vídeo viu e acabou fazendo justiça, em que o Brasil se sagrou campeão, assim como fez justiça na semifinal ao anular a penalidade marcada a favor do Brasil contra o México, quando estávamos perdendo de 2 a 0.
Esta é uma campanha que nós realizamos e que respeita o árbitro. Isto é o mais importante: a idoneidade das pessoas que lá estão, Deputado. É muito importante deixar isso bem claro para o público brasileiro que nos acompanha. Se algum dia tivermos algum caso de corrupção, eu serei o primeiro a denunciá-lo, e estarei fora da arbitragem nacional. Este processo de transparência é fundamental para nós.
Nós utilizamos todo tipo de filtro. Nós temos pais de família com a grande responsabilidade de dirigir o futebol, pessoas que gostariam muito de ser tratadas com respeito pela paixão que têm pelo futebol brasileiro. O senhor estava comentando comigo quão difícil é lidar com paixão, quão difícil é comentar e trabalhar com paixão, acima de tudo. Portanto, nós temos muito orgulho e pedimos que se respeite o jogo de futebol e não apenas o árbitro.
(Exibição de vídeo.)
15:49
RF
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Acima de tudo, é importante destacar que, em momento algum, a Confederação Brasileira de Futebol ou a FIFA prometeram a perfeição, porque elas sabem que isso não existe. A busca incessante é pelo maior índice de acerto possível. Perfeição é impossível, porque somos seres humanos. Além disso, existe a frase: "se na interpretação do árbitro", o que é espetacular! A regra do jogo é interpretativa: pode-se ler uma regra, interpretá-la de uma maneira, outra pessoa lê a mesma regra e a interpreta de outra forma; pode ver uma jogada e interpretar de uma maneira, e outra interpretá-la de outra forma.
Se tivermos respeito pela decisão do árbitro dentro do campo de jogo, acredito que nós teremos muito a crescer.
Muito obrigado a todos os presentes.
Muito obrigado pela oportunidade.
Foi muito bom apresentar o projeto aos senhores. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Eu queria agradecer ao Leonardo Gaciba pela brilhante apresentação. Saiba que a Câmara dos Deputados e nossa Comissão têm nos árbitros brasileiros nosso respeito absoluto. Temos um respeito absoluto pelo trabalho da Comissão de Arbitragem da CBF.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - O que sempre buscamos é conhecer e informar. O mais importante nas nossas audiências é podermos estar informados e conhecermos os aspectos.
Realmente foi importante sua vinda aqui, Gaciba, para entendermos o trabalho de vocês, que é tão bem feito, que não vejo nenhum impedimento em que esses áudios e vídeos aqui apresentados de maneira brilhante sejam franqueados à população e aos comentaristas esportivos. Este trabalho dará mais credibilidade ainda, que vocês já têm ao longo da carreira, e, tenho certeza, irá dirimir dúvidas do esporte e das condições, conforme colocado. O trabalho de vocês é tão bem feito que, quando for disponibilizado, não pairarão mais as dúvidas que às vezes permeiam nosso imaginário, como é normal, principalmente voltando a falar de paixão, pois em nosso imaginário permeiam inúmeras possibilidades. O trabalho de vocês é tão bem feito, que o fornecimento do áudio e do vídeo vai dar a ele mais credibilidade ainda, porque perfeito só Deus, realmente. O trabalho de vocês tem, tecnicamente, uma consistência enorme.
Passo a presidência dos trabalhos ao Deputado Helio Lopes, autor do requerimento.
O SR. PRESIDENTE (Helio Lopes. PSL - RJ) - Primeiramente, quero parabenizar pelos excelentes esclarecimentos o Sr. Salmo Valentim, Presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol; o Sr. Jorge Rabello, Presidente da Comissão Especial de Planejamento e Desenvolvimento da Arbitragem; o Sr. José Bezzi, Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor; e o Sr. Leonardo Gaciba, Presidente da Comissão Nacional de Arbitragem.
15:53
RF
Quando eu apresentei o requerimento, eu realmente tinha várias dúvidas, assim como os telespectadores e os Parlamentares, em relação ao funcionamento do VAR. Quero dizer que todos estão de parabéns pelo êxito nos resultados. Nós sabemos que vocês buscam a perfeição, como buscam diminuir a quantidade de erros. Mas nós somos humanos. Como o Deputado Luizinho bem disse, nós somos apaixonados por futebol. Cada um quer uma seleção, cada um tem uma regra. Se a bola bate na mão, é pênalti para uns, para outros, não. Os senhores sanaram minhas dúvidas.
Eu gostaria de fazer duas perguntas bem simples. Quero saber qual o critério que se usa para escolher o pessoal que trabalha nas cabines, se isso ocorre por sorteio. A outra pergunta: quais são as medidas que a Comissão Nacional de Arbitragem tem adotado não para chegar à perfeição, mas ao mais próximo dela, de maneira que a decisão do árbitro, quando ele a tomar dentro do campo e for consultado o VAR, não deixe o torcedor aqui fora tão aflito para saber o resultado?
Nós sabemos que 1 minuto e 49 segundos é um bom tempo, perto do que era no início, quando eram mais de 6 minutos. No entanto, diante da qualidade do trabalho que vocês demonstraram aqui, que medidas vocês estão tomando para melhorar estes números a partir do ano que vem?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Obrigado pelas palavras, Deputado Helio Lopes.
É interessante a pergunta de V.Exa. Nenhum árbitro central pode entrar em campo sem o curso do árbitro de vídeo, mesmo para apitar no campo. Ele tem que ser habilitado para o campo, habilitado para o VAR e para o AVAR, para ser auxiliar de árbitro de vídeo. Assim, há um curso básico feito por todos os árbitros que atuam tanto no campo, como no vídeo.
Hoje nós temos aproximadamente 120 profissionais habilitados junto à International Football Association Board — IFAB como árbitros de vídeo. Todos eles receberam o mesmo treinamento, com carga horária exigida pela IFAB. Há vídeos em que eles apitam, em que eles estão no vídeo e têm que ser mandados para a IFAB para receber autorização.
A partir daí, qual é a minha intenção? Eu estou analisando e aprendendo que as qualidades de um árbitro de vídeo não são necessariamente as mesmas de um árbitro de campo. Eu tenho muitos árbitros de vídeo que estão se mostrando muito eficientes, embora nunca tenham apitado a Série A do Campeonato Brasileiro, mas têm, como o árbitro de vídeo, uma grande performance. Há árbitros que têm uma grande performance dentro do campo de jogo e não têm necessariamente qualidades para trabalhar a melhor performance como árbitros de vídeo.
Este é um trabalho de análise constante, um trabalho que temos feito, com muito treinamento e feedback para todos os que trabalham na área. Nós utilizamos muito estes vídeos, porque achamos interessante a pessoa se ouvir e se ver trabalhando. Eu acho que isso é interessante para a melhoria dos resultados. Nós pretendemos, já no ano que vem, ter algumas pessoas no quadro da CBF trabalhando especificamente como árbitros de vídeo, não mais dentro do campo de jogo, somente como árbitros de vídeo. Esta é a intenção. A partir daí, o treinamento passa a ser esporádico, com o feedback pessoal que estamos dando.
Se o senhor visse a qualidade dos vídeos, das decisões e das conversas do que aconteceu na primeira rodada do campeonato para essa rodada de número 32, veria a evolução do pessoal. É impressionante! Eles são muito dedicados, muito competentes, muito corretos e muito focados nos seus objetivos.
15:57
RF
Como o senhor mesmo disse, é visível a evolução do árbitro de vídeo do início do campeonato até o presente momento.
Eu agradeço a paciência do torcedor por ter nos permitido este tempo para podermos evoluir.
O SR. PRESIDENTE (Helio Lopes. PSL - RJ) - Obrigado.
Saiba que esta Casa respeita o trabalho de vocês. Parabéns!
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Concedo a palavra à Deputada Flordelis, nossa companheira na Comissão de Esporte e coautora da homenagem ao Clube de Regatas do Flamengo. Aliás, S.Exa. está vestindo a camisa do nosso Flamengo. Parabéns, Deputada, pela atuação e coautoria da audiência pública e do requerimento sobre o árbitro de vídeo!
A SRA. FLORDELIS (PSD - RJ) - Boa tarde a todos.
Quero quer dizer que o VAR é, sem dúvida, uma grande ferramenta que chegou ao nosso País, para realmente ajudar o futebol brasileiro, que precisa crescer cada vez mais em todos os quesitos. Nós precisamos evoluir, e a tecnologia está aí para que isso aconteça. Como estamos na era da tecnologia, por que não trazê-la para o futebol, um esporte tão lindo no nosso País, que chama atenção das crianças, dos jovens, dos adultos, dos anciãos, dando muitas alegrias aos corações?
Todos sabemos que o VAR é novo, está chegando agora no Brasil, e ainda existem algumas coisas que escutamos por aí. Eu queria saber se vai haver outras adaptações no Brasil, em relação ao VAR, já que, na Europa, já existe o áudio, por meio do qual os torcedores podem ouvir a conversa entre o árbitro e o árbitro do VAR juntos. Já é possível ouvir este áudio em alguns lugares, mas no Brasil ainda não temos esta oportunidade. A CBF pensa nisso? Os senhores pensam em trazer para os torcedores a oportunidade de termos o áudio da conversa entre os dois árbitros, para não termos nenhuma dúvida?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Sim, pensamos em trazer o áudio. O Presidente Rogério já está estudando esta possibilidade.
Há uma questão, Deputada. Como nós começamos o campeonato sem isso? Acima de tudo, nós temos que ter critério em tudo o que fazemos. Qualquer situação que eu fosse divulgar, diante de qualquer tipo de áudio, poderia parecer que eu estaria dando uma justificativa em relação a alguma interpretação que meus árbitros tiveram para o clube X ou para o clube Y. Com certeza, isso aconteceria.
Portanto, no início do ano que vem, nós estamos pensando em evoluir, sim. Estamos estudando processos bem profissionais. A questão é a seguinte: em todo o fim de rodada, em 24 horas, ou no dia posterior à rodada, seria o caso de colocar algumas situações com miniprograma, como VOR — Video Operation Room — e mostrar como é feita linha de impedimento e quais são as interpretações.
Nós buscamos, acima de tudo, respeitar os árbitros e o poder de interpretação das pessoas. O que não queremos é chegar em público para dizer que o árbitro tal acertou, assim como não queremos chegar em público para dizer que o outro árbitro errou. Não é esta a nossa função. Devemos mostrar como isso é feito. Eu acho interessante.
Nós estamos estudando, sim, acima de tudo, a divulgação ao público de alguns áudios — não todos —, o que pode ser muito interessante e esclarecedor.
16:01
RF
A SRA. FLORDELIS (PSD - RJ) - Obrigada.
Eu agradeço a todos a presença no dia de hoje, diante de todos os esclarecimentos que foram feitos. É muito bom ver e ouvir as explicações. Para mim, foram muito válidas.
Nós mudamos nosso pensamento quando ouvimos os esclarecimentos. Eu acho que a população e os torcedores precisam ouvi-los, como nós fizemos. Nós temos que respeitar os árbitros. Além disso, é preciso acabar com os xingamentos nos estádios. Nós não precisamos disso. Estamos diante de profissionais que se dedicam, que se esforçam ao máximo para fazer o melhor trabalho. É muito importante termos informações como estas que o senhor nos deu nesta audiência.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Muito obrigado, Deputada.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Tem a palavra o Deputado Domingos Neto.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Sr. Presidente Dr. Luizinho, quero agradecer aos autores do requerimento, à Deputada Flordelis e ao Deputado Evandro Roman, a quem, por vezes, eu ligava para reclamar de qualquer tipo de coisa sobre arbitragem. (Riso.)
Primeiro, Gaciba, eu não sou Deputado eleito diretamente pelo futebol: não venho de clube, não venho de time, não venho de torcida organizada. Eu apenas acompanho, como telespectador, como todos os brasileiros, os fatos do futebol. Eu defendi o uso do VAR desde a Copa do Mundo. Eu morei nos Estados Unidos e via que o futebol americano já usava o VAR havia muito tempo, com muito sucesso. Isso não tirou o brilho dos jogos, de maneira nenhuma.
Eu acredito que o torcedor assistia ao erro da arbitragem como parte do show. Nós sabíamos, achávamos ruim, brigávamos, dizíamos que o outro time tinha mais força na comissão de arbitragem do que os outros e que, se existia algum erro, isso acontecia com todos, mas para alguns existia menos. Depois do VAR, eu acredito que todos tínhamos ou ainda temos — eu pelo menos tenho — a esperança de que esses deslizes se reduzam a zero. Nossa expectativa é que, se existe o vídeo, em muitos casos que não são interpretativos, nós tenhamos condições de chegar ao erro zero.
Acho que aqui sou o único do Nordeste, não sei se há mais alguém. O que está acontecendo neste campeonato com os erros passados pelo VAR em times nordestinos? Eu não sei se vou pegar essa sua apresentação e depois tentar fazer um recorte. Para nós, parecem ser acima da média. Aliás, eu trouxe aqui para entregar a você. Na sua fala, você estava dizendo que os áudios estão disponibilizados no site ou em algo parecido. Mas eu trouxe uma solicitação formal feita à CBF, pelo Fortaleza, para acesso aos áudios do VAR no jogo contra o Corinthians.
Toda a imprensa, todos os assistentes técnicos, todos falaram sobre dois lances. Eu trouxe o vídeo em que consta o lance e, se me permitir, já poderia colocá-lo no telão. São lances de natureza objetiva, e não subjetiva: bateu na mão ou não bateu na mão? Isso não é um lance em que cabe subjetividade.
16:05
RF
O principal — é o que eu e todos os brasileiros gostaríamos de saber — é o seguinte: não basta ter acesso ao vídeo ou ter acesso ao áudio, eu quero saber o que nós temos em grau de recurso, quando eu sei que está errado, o vídeo diz que está errado e todo o mundo viu que está errado. Nós passamos um sentimento de pura impotência. No calor da emoção, na velocidade, tudo bem se não conseguiu pegar o lance perfeitamente, mas, passado isso, eu gostaria de saber qual é o grau de recurso. Se acabou o jogo, o VAR foi chamado — ou em outros casos, como é o caso específico, em que não foi chamado — e está errado, o que o time, o torcedor, o brasileiro pode fazer? Ou esse sentimento de impotência acaba passando por si?
Era essa a minha preocupação. Eu trouxe o lance. Se me permitir, eu posso colocar um deles.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - É lógico.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Repito que não estou falando como torcedor, até porque, no meu Estado, tanto Fortaleza como Ceará têm muitas críticas a fazer.
Acredito no VAR e o defendo. Eu digo isto para os outros cearenses, que às vezes reclamam: a chance de haver menos interferência é, logicamente, fortalecendo o VAR.
Então, era isso.
(Exibição de vídeo.)
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Pegou ou não pegou na mão? Essa é a discussão.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - É interessante, Deputado, o que V.Exa. está colocando. Eu acho muito interessante ouvir essa parte, essa ótica.
Esse é o primeiro vídeo. Há mais algum?
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Eu tenho um vídeo de 2 minutos com vários lances.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Eu não vou ficar comentando acertos e erros dos meus árbitros.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Eu vou passar a você depois por WhatsApp.
O que eu gostaria de saber é isto: fez-se um consenso nacional, mundial, na hora o cara não viu, passou, qual é o grau de recurso que nós temos?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - O mesmo que o senhor tem quando o seu goleiro toma um frango: nenhum.
A interpretação do árbitro de futebol é parte do jogo, inclusive o erro. É como o erro do atacante que perde o pênalti, como o erro do dirigente que contrata mal, como o erro do treinador que escala mal. O erro do árbitro de futebol faz parte do jogo. Nós não prometemos perfeição. Erro, comprovado ou não, é muito subjetivo.
O primeiro lance que o senhor colocou agora não é uma questão sobre bater na mão ou não bater. Não é só isso, Deputado. A regra de futebol não é essa. A bola bater na mão não é infração.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Se bater na mão, vindo direto, sem ser de lance indireto, não é pênalti?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Não.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - E quando é pênalti?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - É pênalti se estiver aberto em relação ao eixo do corpo e o jogador estiver em ação de bloqueio. Se a mão estiver ao lado do corpo, se estiver colocada exatamente ao lado do corpo, em movimento natural, não em ação de bloqueio, e a bola bater no braço, é considerado bola na mão. Isso é uma jogada interpretativa, não é um erro de arbitragem.
O senhor me desculpe, mas não é um erro. E o senhor está colocando como se fosse um erro que o Brasil inteiro viu. Está errado.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Não, eu falei que todos os árbitros que comentam na televisão — são ex-árbitros — concordaram. Todos pensaram da mesma forma.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Ex-árbitros falaram? Eu vi esse programa. Eles não falaram isso, não. Eles falaram que não tinham a imagem deste lance aqui.
16:09
RF
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - De qual?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Deste aqui! Nesse lance com o suposto toque na mão, eles falaram que não havia imagem conclusiva.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Há outro vídeo, que inclusive é filmado por trás, da arquibancada.
(Exibição de vídeo.)
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Não é esse.
Esse é o mais longo. Depois, eu vou mandar o que é filmado por trás, que mostra exatamente essa mão aberta.
O que eu estou perguntando, objetivamente, é isto: no caso específico, com o acesso ao áudio, se comprovada uma decisão errada, não existe nenhum grau de recurso para nenhum time?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Só se houver dolo, Deputado.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Só se houver dolo?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Só se houver dolo.
Por exemplo, se disserem assim: "O braço está aberto. Isso é mão, mas não vou chamar o pênalti, porque é contra um time do Nordeste". Aí, sim, Deputado, há dolo. O erro faz parte.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - O dolo é interpretado na hora ou depois?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Nós temos dois tipos de erro dentro do futebol: de direito e de fato.
Erro de fato é erro de interpretação: mesmo que seja claríssimo para todo o mundo que houve um erro de arbitragem, o árbitro interpretou errado. Isso é um erro de fato. Isso não anula jogo. Isso não muda resultado. Ponto.
Erro de direito é desconhecimento da regra, é o erro deliberado do árbitro pelo desconhecimento total da regra. É, por exemplo, o árbitro dizer assim: "A bola bateu na cabeça do jogador e eu vou marcar pênalti, porque bater na cabeça é pênalti". Isso, sim, anula um jogo de futebol. Não tenha dúvida disso. Mas, quando for um erro de interpretação, não existe nenhum tipo de ação.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Quando há ação dolosa, o que os times podem fazer? A quem podem recorrer?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Podem pedir a anulação do jogo.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Diretamente à CBF?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Diretamente ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Ao STJD.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Foi o que fez, por exemplo, o Botafogo neste ano, quando achou que havia um erro protocolar. Foi comprovado que, mesmo havendo um erro protocolar, foi um erro de fato, não um erro de direito.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Ao final, já que o senhor disse que disponibilizaria...
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Já recebi tudo isso.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Mas não entregaram os áudios.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Já viram, sim, muitos desses jogos.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Não este áudio específico.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Eu não entrego. Eles vão à CBF e escutam.
Já está respondido o e-mail aos clubes. Já mandaram. Eu estou esperando os clubes de braços abertos, como fiz desde o início do campeonato
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - Então, eles têm que ir lá para ouvir?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Isso. Tem que ir ou o Presidente ou alguém indicado por ele, conforme eu coloquei na apresentação.
O SR. DOMINGOS NETO (PSD - CE) - É em relação a isso que o senhor estava dizendo que vai sugerir, no futuro, acesso geral?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Exatamente. Pretendemos colocar algumas jogadas, não necessariamente todas, no site.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Deputado Domingos Neto, o Projeto de Lei nº 5.572, de 2019, de minha autoria, é justamente para que, conforme o Estatuto do Torcedor — foi a sugestão que fizemos aqui ao Gaciba —, os áudios e os vídeos estejam disponibilizados publicamente, não só nessa conformidade. Eu acho que o Gaciba já foi sensível a que isso possa ser implementado no futuro. Eu acho que isso dará mais tranquilidade a todos nessa questão.
Pelo menos de minha parte, todas as vezes em que vejo o vídeo e entendo a forma como foi conduzido, até fico mais resignado, mesmo não concordando com algumas marcações. As nossas visões e interpretações são diferentes, mas ficamos resignados pela forma como foi conduzido. Isso pelo menos nos dá a transparência — foi a palavra que eu falei aqui logo no início — que buscamos.
16:13
RF
O Domingos Neto é um grande Deputado, um defensor do Nordeste. Acho que V.Exa. foi brilhante quando disse que o VAR é uma grande oportunidade até para tirar algum tipo de animosidade, algo que poderia estar prejudicando os times do Nordeste. Como um bom cearense, é um cabra brabo que defende a sua terra e os seus clubes com a veemência que Deus lhe deu. Por isso, está neste brilhante mandato, pela terceira vez.
Eu concedo a palavra ao Deputado Delegado Pablo.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Sr. Presidente Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., obrigado pela oportunidade.
Dr. Gaciba, seja muito bem-vindo à nossa Casa.
Algumas pessoas estavam questionando se falar sobre isso na Câmara dos Deputados seria importante, se o VAR realmente seria importante, se isso seria assunto para cá. A julgar pela movimentação tão grande do assunto nas massas brasileiras, em todas as grandes torcidas, eu acho mais do que oportuno, acho que realmente é tempo de falar nisso, até para que apresentações, como a que o senhor trouxe, tirem várias dúvidas, resolvam várias das implicações que se colocam no VAR, se ele é bom ou não é.
Eu sou desportista desde criança e acompanhei os mecanismos eletrônicos e tecnológicos chegarem muito antes em outras modalidades desportivas. Nas lutas, já existe há muito tempo. No vôlei, funciona através do desafio. Em outras modalidades, funciona até com mais acuidade e mais participação dos times e dos competidores do que acontece no VAR. Inclusive, esse é o meu primeiro questionamento, a minha primeira pontuação: por que não há a participação efetiva das equipes envolvidas para acionar o VAR? Por que o VAR é 100% ligado apenas à parte técnica de arbitragem?
Eu acho que alguns esportes que usam essa tecnologia fazem isso com muita propriedade. Às vezes, não é só um lance de uma mão na bola ou de um pênalti que vai mudar o resultado de um campeonato. Às vezes, um jogador não é expulso por uma falta muito grave, o VAR não considera passível de cartão vermelho e nem sequer é acionado, porque a regra diz que não tem que ser, mas depois vemos que foi uma agressão gratuita, que foi algo pior.
Eu vou além: eu tenho uma irritação sistêmica, porque a agressão não tem o mesmo tratamento da simulação, por exemplo. Os caras simulam pênaltis. Eu vi isto num jogo num dia desses: um cidadão que passou pelo PROJAC, na Globo, deu quatro cambalhotas, marcaram o pênalti, e o VAR não foi acionado. O VAR só é acionado quando o lance é grave, e a gravidade eles entendem que é uma falta que gera algum dano físico. Mas uma simulação, por exemplo, não é colocada na mesa. Isso não existe.
Isso seria corrigido se os times tivessem a oportunidade de solicitar uma ou duas vezes no campeonato. Isso ficaria a cargo do técnico, que analisaria: "Agora isso é muito importante. Eu acho que o VAR tem que entrar".
Depois que o senhor me responder essa pergunta, para não confundir mais o tema, eu quero colocar outra na pauta.
Com a sua permissão, Deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., eu vou fazer duas ou três perguntas. Peço para o nosso convidado responder a primeira. Depois, vamos caminhando.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Em primeiro lugar, Deputado, obrigado pelas perguntas.
Eu acho que é muito interessante colocar isso. Eu não concordo com o protocolo do árbitro de vídeo na sua totalidade. Eu, se fosse o responsável por esse protocolo, utilizaria muitas coisas diferentes, inclusive o desafio. Eu acho que o desafio deveria ser um direito dos treinadores ou, até mesmo, dos capitães — um ou dois desafios por jogo —, em cima de decisões tomadas pelo árbitro.
16:17
RF
A FIFA e a IFAB estudaram — esse era o projeto brasileiro — e acharam que isso não era viável. É uma regra, é uma norma internacional a que nós somos sujeitos. Por exemplo, eu não acho que um jogador tem que levar um cartão amarelo ao comemorar um gol e levantar a camisa. Eu, Leonardo Garcia, acho um exagero. Mas, dentro de campo, eu dava cartão amarelo, porque isso é regra, isso é lei. Talvez isso ocorra com os senhores. Com muitas leis vocês não necessariamente concordam, mas vocês as respeitam. Assim ocorre com o protocolo internacional do árbitro de vídeo. Eu tenho que fazer cumprir o que está no protocolo.
O desafio seria maravilhoso para nós árbitros. Se o treinador e o capitão tivessem direito a desafio e depois acontecesse um pênalti que eles não viram, no final do jogo, a cobrança não iria ser em cima do árbitro: "Mas, se foi tão claro, porque não pediu o desafio?"
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Justamente. É isso o que eu quero colocar em mesa.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Isso seria muito bom.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - É melhor do que o recurso que o nosso colega Deputado Domingos Neto queria colocar. Mudar o resultado do jogo a posteriori é complicado.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Nesse caso, pode-se alterar a decisão do árbitro de campo.
No final do jogo, se perguntarem do pênalti: "Você não viu no campo também. Então, respeite a decisão do campo!"
Não necessariamente nós fizemos o protocolo. Temos direito. Qualquer torcedor de futebol tem o direito de colocar essas propostas para a Confederação Brasileira de Futebol para serem levadas à IFAB. A partir daí, se o protocolo for alterado, o Brasil vai utilizar o protocolo atual.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Com a concordância desta Comissão, eu queria pedir ao Deputado Luizinho para depois encaminhar isso aqui a partir desta audiência pública.
Eu tenho outra preocupação, que vem de outra origem que eu tenho — sou Delegado da Polícia Federal também. Minha preocupação é muito grande com as fraudes, sempre foi, porque eu acompanhei no esporte, em momentos pretéritos, partidas inteiras serem anuladas por conta de árbitros que não estavam trabalhando dentro da legalidade ou até por conta de jogadores que não estavam praticando o seu esporte dentro da legalidade. Minha preocupação é com o novo instrumento, que faz esse controle de legalidade, de legitimidade e até de inibição de fraudes.
Eu desconheço o responsável pela formatação da plataforma. Qual empresa faz isso? Qual é o acompanhamento que existe? Existe alguma auditoria externa?
Estamos trabalhando com mecanismos eletrônicos. Então, uma linha pode ficar alguns centímetros para a frente ou para trás, em cima do que ela é colocada no vídeo. Se não houver uma auditoria depois para confirmar que realmente aquele jogador estava naquele lugar, vai ficar na cabeça de todo torcedor e de todo o mundo que aquele lance foi ou não aplicado da maneira correta, de acordo com a técnica.
Espero que dentro da ferramenta tecnológica não haja adulteração. Se se adulterar a ferramenta tecnológica, é isso que o árbitro de vídeo estará vendo. Ele estará sentado ali vendo uma linha azul e outra amarela. Se a linha azul for mudada um pouquinho na visão dele em relação a um lance mais polêmico, como o que eu já acompanhei, que gerou confusão nas mídias sociais... Nessa situação, o árbitro ficou mexendo no vídeo um pouquinho para cá, um pouquinho para lá, um pouquinho para cá, e isso gera mudança daquela linha. Não sei se isso é auditado por alguém depois. Também não sei quem é a pessoa responsável pela ferramenta tecnológica.
O senhor pode responder esses questionamentos e me explicar como isso funciona?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Sim.
Em primeiro lugar, as imagens são cedidas por todas as televisões que estão transmitindo o espetáculo. Isto é importante colocar: a CBF não gera imagens. Essas imagens são geradas pelas emissoras de TV. Todas as imagens de todas as câmeras têm que ser colocadas à disposição.
16:21
RF
A empresa que nos presta serviço hoje, com a qual nós temos contrato, é a Hawk Eye, a mesma que prestou serviços na Copa do Mundo para a FIFA. O programa utilizado para a linha de impedimento é um programa validado pela FIFA, pela International Board. Ele tem o certificado de validação e, na última aferição que foi feita para a questão de linha de impedimento, apresentou um nível de erro de 2,5 milímetros aproximadamente, falando tecnicamente.
É óbvio que quem faz a aferição do local onde é colocada essa linha é o árbitro de vídeo. Um operador ao lado mexe na linha, e o árbitro fica observando se é num ponto ou em outro. Essa é uma decisão humana.
Eu tenho como provas as imagens guardadas e armazenadas na Confederação Brasileira de Futebol. A análise do trabalho é feita por mim. Esses são premiados ou punidos pelas decisões que tomam dentro do campo de jogo.
Sobre a questão da avaliação externa, sem obrigação alguma, nós estamos fazendo questão de ter o ISO 9001 e, posteriormente, estamos querendo utilizar o ISO 37001, que trata do aspecto anticorrupção. Pretendemos colocar isso dentro do árbitro de vídeo, porque assim nós vamos ter uma auditoria externa em cima do processo de qualidade do árbitro de vídeo.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Para atingir a perfeição técnica, que é muito importante.
Farei uma última pergunta, que foi encaminhada inclusive por algumas pessoas que me acompanham pelas redes sociais: existe uma dúvida muito grande sobre o tempo do julgamento do árbitro de campo ao estar ou não utilizando a ferramenta do VAR.
Em muitos jogos que tenho acompanhado, tanto do meu time como de outras agremiações esportivas, vi, em vários momentos, em lances polêmicos, o árbitro ser acionado pelo árbitro de vídeo, ser chamado em campo. Ele faz aquele símbolo comum de colocar a mão no ouvido, existe um diálogo, que muitas vezes não é repassado, mas por razões estranhas ou não, porque não sei quais são, ele às vezes vai até o árbitro de vídeo ou não. Onde está esse julgamento?
Fala-se da técnica para tentar diminuir esse subjetivismo e cortar o erro. Eu vi em várias partidas lances idênticos. Em um, o árbitro recorria ao VAR; em outro, ele não ia. O que é esse diálogo? Qual é o momento? O que faz o árbitro definir se vai utilizar a ferramenta ou não? São os árbitros de VAR que definem ou é ele mesmo em campo?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - É uma boa pergunta, porque é uma coisa nova sobre a qual todos nós estamos aprendendo. Eu acho que isso é interessante.
Para o senhor ter noção, eu acho que vale a pena o dado: no Campeonato Brasileiro, até o presente momento, somente em duas situações o árbitro de campo pediu para ir ver as imagens ou pediu auxílio do árbitro de vídeo. Todas as outras revisões foram sugeridas pelo árbitro de vídeo. E essas duas situações são bem, digamos, pontuais. Uma foi o caso de o árbitro ter dado um cartão amarelo para um jogador e ter dito "não sei se era esse o jogador, dê uma olhada para mim e veja se não era o outro ali do lado". O árbitro de vídeo olhou e disse "realmente, não foi o 32, foi o 37". Aí ele fez o sinal de vídeo e trocou a punição, retirou o cartão de um e deu para o outro.
Na outra situação o árbitro tinha marcado um pênalti de um lado, por bola na mão, e aconteceu um toque na mão do outro lado. O árbitro de vídeo disse "você acertou na segunda situação", e o árbitro disse "eu quero ir ver, porque vi de um lado do campo e quero ver do outro lado. Para passar credibilidade na minha decisão, eu quero ir olhar". Foram as únicas vezes. Nas demais, isso partiu do árbitro de vídeo.
16:25
RF
Todo o mundo que vê um jogo de futebol deve colocar uma coisa na cabeça: quando o árbitro de vídeo chama? Quando ele acha que o árbitro cometeu um erro. Aí, ele chama. Se ele não chamar, é sinal de que ele concorda com a decisão que aconteceu no campo.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Isso gera muita dúvida. As pessoas não entendem e eu também não consigo entender quando há esse procedimento.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Nós mesmos, na CBF, achamos que árbitro de vídeo não deveria entrar em situações subjetivas e interpretativas, mas a própria linha da FIFA caiu. Os países pediram isso durante a Copa do Mundo, para entrarem as jogadas interpretativas. Então, é a questão da ferramenta como um todo.
Eu brinco sobre isso com os meus árbitros. A CONMEBOL diz que o árbitro de vídeo está ali para achar o elefante, não as formigas. Aqui no Brasil, nós já aumentamos o tamanho do animal e estamos atrás de baleia azul mesmo, que é o maior mamífero da terra. Então, o árbitro de vídeo tem que ver é a baleia azul. Ele não está ali para ver coisas pequenas, pequenos detalhes, mas jogadas que realmente comprovem que houve equívoco da arbitragem.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Eu agradeço.
Deixo a palavra com a Deputada Flordelis.
A SRA. FLORDELIS (PSD - RJ) - Sr. Presidente, conforme o Deputado já colocou aqui, seria maravilhoso o técnico ter envolvimento, poder falar de um lance e pedir o VAR naquele lance. Depois do jogo, não há muito o que fazer.
Eu sei que o Grêmio pediu para ver um vídeo e foi atendido. Os times vão à CBF, pedem isso ao Presidente e conseguem ver os vídeos. Isso já saiu na mídia e já está bem claro. Todos os clubes podem tirar dúvidas. Mas, depois do jogo, não há muito o que fazer.
Então, essa observação do Deputado foi muito boa.
Eu sou torcedora do Flamengo. Nós tivemos três gols foram anulados em um único jogo. Não seria o caso de o técnico ter esse acesso? Seria maravilhoso se essa ideia fosse realmente compartilhada com quem de direito. Nós Deputados também podemos nos juntar aqui.
O Deputado disse que muitas pessoas podem estar indagando o porquê de trazer isso para esta Casa. É algo que move a população, é algo que mexe com a população, é algo que leva para as comunidades coisas lindas e maravilhosas, que nós precisamos dar para as nossas crianças e para os nossos jovens. Por isso, esta Casa também se interessa pelo futebol.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Obrigado, Deputada Flordelis.
Vou passar a palavra ao Deputado Fábio Henrique e, na sequência, para o ex-juiz e Deputado Federal Evandro Roman.
Antes, quero agradecer a presença dos ex-árbitros Jamir Garcez, Marrubson Melo, Rodrigo Raposo e Alisson (ininteligível).
O SR. FÁBIO HENRIQUE (PDT - SE) - Sr. Presidente Deputado Luizinho, Sr. Leonardo Gaciba, demais representantes da arbitragem brasileira, a Deputada Flordelis foi muito feliz quando falou sobre a falta de informação.
Muitas dúvidas postas, inclusive na grande mídia, são oriundas de falta de informação. Entretanto, o VAR é novo e ainda está sendo implantado. É natural que tenha um prazo de maturação e de conhecimento da sociedade.
Eu entendo que o VAR é a busca da justiça no futebol. Números são números. Contra números não há argumentos. V.Exa. mostrou, com números, a quantidade de erros que tivemos sem o VAR e a quantidade de erros que tivemos com o VAR.
16:29
RF
Está claro que o VAR veio para ficar e é importante para fazer justiça no futebol.
Evidentemente, o futebol mexe com paixão. Todos os clubes do campeonato brasileiro já reclamaram, Deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., em algum dia, do VAR. Eu sou torcedor do Flamengo e já houve rodadas em que torcedores adversários disseram que nós ganhamos, em função do VAR, como houve rodadas em que nós reclamamos do VAR. Isso é natural, porque mexe com paixão, que é algo difícil de ser administrado. Os números estão claros em relação à eficiência do VAR.
V.Exa. já respondeu a algumas questões, como, por exemplo, a respeito da anulação do jogo. V.Exa. já deixou claro que só ocorre se houver dolo. V.Exa. também deixou claro que, assim como existe o árbitro auxiliar, caminha-se para haver o especialista no VAR, aquele que se destacou no VAR.
Eu sou do Nordeste, do Estado de Sergipe, que não tem clube na primeira divisão. Vai ter agora o Confiança na Série B — não é o meu clube de coração; o meu é o Sergipe. O Confiança, clube do Presidente desta Comissão, o Deputado Fábio Mitidieri, vai disputar a Série B.
Eu queria fazer duas perguntas. Primeiro, quero saber qual é o custo do VAR. Nós reclamamos do VAR, mas já estamos sentindo saudade dele nos jogos em que não há o VAR. A pergunta é: há a possibilidade de o VAR ir para as demais séries do Campeonato Brasileiro, para os campeonatos regionais? Nos Estados mais pobres, isso é difícil, em função do custo?
Além disso, há uma crítica que comumente se faz ao VAR: o tempo de análise da jogada. De que forma estão tratando esse assunto para se reduzir, com eficiência, esse tempo de análise dos lances?
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Peço ao Deputado Fábio Henrique que ouça a resposta aqui na Presidência, pois vou me ausentar por 2 minutos.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Deputado Fábio Henrique, pretendemos, sim, levar o árbitro de vídeo para outras séries, para outras competições.
Neste ano, nós já tivemos árbitro de vídeo nas duas finais da Copa do Nordeste; estamos tendo árbitro de vídeo nas duas finais da Copa Verde — foi utilizado no jogo de ida, em Cuiabá, e será utilizado amanhã, em Belém do Pará, pela primeira vez, na Copa Verde.
O Presidente Rogério Caboclo já mostrou interesse em utilizar o árbitro de vídeo nos jogos decisivos das Séries C e D, quando sobrarem oito times, para quatro subirem. Estamos pensando em utilizar o árbitro de vídeo pelo menos nesses jogos decisivos.
Hoje, o custo aproximado do árbitro de vídeo é cerca de 50 mil reais por jogo, porque é uma operação grande. Ele é descentralizado. A CBF também estuda a utilização do árbitro de vídeo de forma centralizada, mas teríamos que passar fibra ótica em todos os estádios do Brasil. A manutenção de fibra ótica é de aproximadamente 150 mil reais mensais. Mas é um projeto!
Eu aprendi que o Presidente Rogério Caboclo é um investidor ousado e quer que o futebol brasileiro cresça muito. Ele acha que o árbitro de vídeo pode dar essa qualidade e essa credibilidade ao futebol brasileiro.
16:33
RF
Acredito que nós vamos conseguir chegar a um estágio em que o árbitro de vídeo seja utilizado também na Série B, em todos os jogos — não sei se será no ano que vem, mas em um outro momento —, e em jogos decisivos das outras séries do campeonato.
Quanto ao tempo, acredito que nós estamos numa média praticamente mundial. Temos ainda alguns jogos de forma muito pontual. Essa reclamação do tempo era muito maior no início da competição. Na verdade, começa uma reclamação do tempo e, posteriormente, vai passando. Acredito que hoje o pessoal já está acostumado também com a entrada do árbitro de vídeo. As checagens são muito mais rápidas. Não se vê mais árbitro toda hora com a mão na orelha. O mais importante, ao diminuir o tempo, é não mexer na fluência do jogo. Isso me preocupa. Eu tenho que dar fluência ao jogo. Por exemplo, numa situação em que o time faz um gol e demora 4 minutos para a checagem, ele pode mudar o estado de ânimo da partida.
Então, temos que fazer um processo mais rápido. Eu acredito que essa média que nós estamos alcançando é um processo evolutivo. Muito em breve, nós estaremos na média mundial.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Leonardo Gaciba, quero fazer uma pergunta antes de passar a palavra ao Deputado Roman, que certamente falará com brilhantismo, por ser um especialista.
Você acha que, no campo do impedimento, nós teremos condições tecnológicas de sair da decisão manual e utilizar a tecnologia para ajudar na definição do impedimento sem aquela precisar de alguém conduzindo aquela linha? Você acha que existe a chance de ocorrer essa evolução tecnológica para que nós não tenhamos nenhum tipo de interferência nessa questão das linhas, que em alguns momentos gera também essas discussões? Inclusive, naquela partida entre Flamengo e Grêmio houve uma discussão sobre isso, e o CONMEBOL divulgou os áudios.
Eu acho que acabaríamos com esse problema, acabaríamos com essas discussões.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Existem vários projetos. Já evoluímos muito.
Existem, inclusive, estudos com um chip colocado nos jogadores, marcando o ponto onde está o jogador. A partir daí, seria uma decisão completamente tecnológica.
O problema é o momento do contato com a bola. Teríamos que ter um chip na bola e avaliar o momento em que o há o toque com o pé. É difícil fazer isso com tecnologia. Sempre precisaremos de um ser humano fazendo o trabalho.
Graças a Deus, robôs não vão apitar o futebol! Graças a Deus, os seres humanos vão continuar apitando no futebol. Eu acho isso espetacular! Se nós colocarmos um árbitro robô, daqui a pouco nós vamos colocar um robô jogando também. E aí não vai ficar legal. O negócio são seres humanos acima de tudo, porque é isso o que nos transforma e nos apaixona tanto pelo futebol.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Concedo a palavra a esse brilhante ser humano, o Deputado Roman.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Sr. Presidente, parabéns pela autoria do requerimento de V.Exa. e de outros Deputados que trouxeram o Leonardo Gaciba aqui.
O Gaciba já esteve aqui em meados do mês de julho para falar sobre um tema praticamente idêntico. Nós discutimos sobre a questão do VAR, que é importante, porque é um tema bastante pertinente.
16:37
RF
Antes de entrar no assunto, quero cumprimentar os meus grandes amigos Salmo Valentim, Jorge Rabello, José Bezzi, Marrubson, Jamir Carlos Garcez, todos foram árbitros e fizeram parte da construção da nossa história do futebol, da arbitragem brasileira. É um prazer imenso ter a oportunidade de estar aqui hoje no convívio com outros colegas Deputados, para debater essa ação.
Ao final eu farei uma pergunta que o Samuel Macedo me mandou agora pela Internet.
Em 1978, pela primeira vez, nós tivemos o replay na televisão. Em 1978, na Copa do Mundo, surgiu o replay. Depois nós passamos pela Copa do Mundo de 1982, que não deixou muitas marcas em termos de evolução. A utilização de imagens e equipamentos tecnológicos começou com o gol "a mão de Deus", do Maradona, em 1986.
Por que eu conto essa linha do tempo da evolução? Nós ficamos 30 anos naquela situação: usa ou não usa? A FIFA colocava os prós e os contras da utilização de imagens tecnológicas. Para nós árbitros, era uma maravilha. Nós sempre gostávamos que existisse, porque era um tormento ter que conviver com aquele erro até a próxima rodada. Era muito complicado, mas isso fazia parte.
Durante 30 anos, a FIFA ficou estudando se introduzia ou não a utilização da imagem, até que aconteceu — é um julgamento meu — aquele lance com a mão do Thierry Henry, nas eliminatórias, que tirou a Irlanda de uma Copa do Mundo.
A partir dali, eu percebi que houve uma definição no sentido de se dizer: "A partir de agora, nós temos que buscar uma saída para utilizar a imagem da TV".
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Evandro, o lance... Desculpe-me, mas eu não consigo chamá-lo de outra forma, a não ser de Evandro ou Roman. Não consigo chamá-lo de Sr. Deputado. (Risos.)
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Nem deve. É dessa forma que eu quero ser chamado. Pode ter certeza.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Muito obrigado, em primeiro lugar, pela oportunidade.
O lance decisivo, o lance que realmente veio para dizer "não tem como, nós vamos ter que usar o vídeo" foi o lance de Alemanha e Inglaterra, na Copa do Mundo: a bola entrou 1,5 metro depois de bater no travessão e a arbitragem não validou o gol.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Perfeito.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Essa foi a gota d'água no balde.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Concordo contigo. Houve a contribuição do Thierry Henry, mas essa eu acredito que foi a mais definitiva.
Enfim, por que eu fiz essa analogia da linha do tempo? Para dizer que, durante muito tempo, se sabia que iria chegar esse ponto. Você não pode ter as duas coisas: a emoção do futebol e a justiça que existe hoje com o VAR.
Mas, num determinado momento, o investimento no futebol transformou-se em algo muito grande, Deputado Dr. Luiz Teixeira. Os grandes clubes investiam, as grandes seleções investiam, mas, na hora, por um erro grotesco, acabavam tendo... Então, trouxe isso para dentro e aumentou muito a justiça.
Nós temos dados que apontam 98,3% de acerto. No Campeonato Brasileiro de 2019, se uma equipe chegar a 80%, deverá ser campeã brasileira — se chegou a 80%. Nós estamos falando de 98,3%.
Então, é para dizer que os erros vão continuar e que é de forma humana que se conduz o futebol. Eu vi a preocupação do Deputado Delegado Pablo aqui. Acho que a palavra que ele quis usar foi a "calibragem" do momento em que para ou não para a partida. Mas você matou a questão dizendo que a calibragem é humana. Ela vai continuar sendo humana, porque o futebol é jogado por humanos e será arbitrado por humanos, com apoio tecnológico, para que se possa fazer justiça.
16:41
RF
Eu diria que esse é o grande ponto em que o futebol evoluiu. Eu não consigo ver hoje o futebol sem isso. Porém, está nas mãos dos clubes. Se os clubes definirem que não existirá mais, não existirá mais. Não há problema nenhum. Isso está muito claro. Se disserem, num congresso técnico, que vão fazer uma Copa do Mundo no modo analógico, raiz, como aquelas em que você e o assistente trocavam olhares e decidia. Era o que tínhamos. Hoje isso não ocorre. Hoje você dialoga, conversa.
Trazendo isso para a Câmara dos Deputados, eu diria que eu virei um grande consultor sem nunca ter trabalhado com o VAR. No meu tempo, em 2013, não se usava isso. Quando há uma rodada quente aos domingos, é impressionante a quantidade de pessoas que me questionam na terça-feira, na quarta-feira. Eu não tive essa vivência. Eu não tenho nem como opinar. Eu opino em relação ao meu achismo, mas eu não vivenciei o VAR.
Você também não vivenciou o VAR, como árbitro, não é, Gaciba?
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Não. Como árbitro, não.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Hoje o árbitro não erra mais. Isso é bom. Quem possivelmente entra em debate, se errou ou não, é o VAR. Então, isso trouxe um pouco de impessoalidade ao erro.
Antes de encerrar, vou ler a pergunta do Samuel Macedo: "Como fica a situação em que você tem um árbitro muito experiente na cabine e um árbitro inexperiente no campo? Se ele chama o árbitro para analisar um lance, já não está condenando que o lance é ou não é falta ou pênalti?"
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Na verdade, eu já fiz várias experiências com a questão e acho que isso não tem muita influência. Independentemente de experiência, se eu estou chamando você, eu estou dizendo que você errou.
Esta frase não é minha, é do Anderson Daronco. Como esse é um processo muito novo, conforme o Deputado colocou, os árbitros também estão se acostumando. Ele disse que a primeira ida ao visor é uma experiência completamente maluca. Imaginem que, na vida de vocês, vocês tomam uma decisão e alguém lhes diz o seguinte: "Você cometeu um grande erro. Venha aqui, dê uma olhada aqui e mude o que você fez". É um negócio meio doido. É uma questão que afeta o andamento do jogo.
O Deputado votou e, quando terminou a votação, apareceu o voto no painel e alguém diz: "Deputado, o senhor cometeu um grande erro. Vá lá e troque seu voto". "Nossa Senhora, deixe-me analisar de novo o que aconteceu!" É um negócio meio doido. Esse é um processo novo. Acredito eu que estamos em evolução. Espero eu que, se os clubes continuarem optando pela permanência do árbitro de vídeo como um todo, a segunda temporada do árbitro de vídeo seja melhor, até pelo fato de o torcedor já conhecer, o dirigente já conhecer e todos já saberem como o processo funciona. Acima de tudo, que possamos continuar evoluindo!
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Eu trabalhei durante muitos anos. Tenho 46 anos. Já falei isso da outra vez e gosto sempre de falar isso, Deputado Fábio. Trabalhei desde a vida acadêmica, trabalhei em vários segmentos da vida. Hoje estou aqui e tenho a política como uma dedicação, que nos leva quase à sua totalidade. Mas eu digo que o meu melhor meio de convivência com o maior número de pessoas honestas e íntegras que eu já vivi na minha vida foi no meio do futebol, foi no meio da arbitragem. E nós não tínhamos todos esses recursos.
16:45
RF
Muitas vezes, quando você mexe com todas essas paixões, a passionalidade toma conta. Ninguém vai ao estádio para ver o time empatar ou perder. Aquilo gera frustração. E a frustração, principalmente em momentos de paixão, é muito mais fervorosa, muito mais presente.
Mas quero dizer que sinto muito orgulho de ter feito parte desse meio. Eu me sinto um árbitro. Demorei uns 3 anos, depois que eu parei, para deixar de pensar como árbitro, porque aquilo está na essência. Mas lá se foram 23 anos, não é?
Quero parabenizá-los pelo trabalho, pela transparência — é unânime. Todos os que fizeram o requerimento têm o entendimento de como é feito o trabalho, como é realizado. Ele está à disposição. Havendo necessidade, os áudios estão lá. Procure a CBF, ouça o áudio e discuta o que houve neste ou naquele lance polêmico.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Roman, acima de tudo, eu quero dizer que é um grande orgulho ser seu amigo. Foi um grande orgulho dividir o gramado com você, pela pessoa idônea que você sempre foi, um grande profissional, competente.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Obrigado.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Em nome da arbitragem brasileira — hoje eu posso falar em nome da arbitragem brasileira —, eu queria, acima de tudo, agradecer profundamente, e creio que este é o pensamento de todos os árbitros de futebol do Brasil, por você ter incluído no Estatuto do Torcedor a permissão para que nós pudéssemos designar os nossos árbitros sem sorteio.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Perfeito.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Realmente, era um retrocesso e, acima de tudo, para mim, era até ofensivo para os árbitros de futebol não poder indicar um árbitro para o jogo.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Foi em 2016.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Pelo fato de suspeitarem do árbitro X ou do árbitro Y, eu tinha que sortear. Isso é a mesma coisa que sortear o voto quando o eleitor vai querer escolher vocês. O eleitor tem uma pessoa em que ele confia e ele tem que depositar o voto nessa pessoa. Hoje eu tenho a liberdade e a responsabilidade de colocar a pessoa certa no lugar certo. Na minha opinião, eu coloco os árbitros no lugar certo.
Muito obrigado por essa contribuição para a nossa arbitragem.
O SR. ROMAN (PSD - PR) - Eu agradeço.
Que bom que está servindo! Em determinado momento, não era usado. Depois passou a ser usado.
Eu peço desculpas aos amigos, pois tenho que me retirar. Tenho uma audiência, às 17 horas, na FUNASA, com o Presidente Ronaldo Nogueira. Eu tenho que me ausentar, senão eu acompanharia o restante desta audiência.
Muito obrigado, Sr. Presidente Luiz.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Obrigado, Deputado Roman.
Aproveitando que nós já estamos numa conversa de árbitros, eu queria franquear a palavra, se vocês quiserem fazer algum tipo de colocação ou questionamento. Fiquem à vontade, Sr. Salmo Valentim, Presidente da Associação Nacional dos Árbitros, Sr. Jorge Rabello e o Sr. Jorge Bezzi, que está aqui representando a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.
Com a palavra o Sr. Salmo Valentim.
O SR. SALMO VALENTIM - Deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., a quem chamamos de Luizinho; Deputado Evandro Roman; caríssima Deputada Flordelis, para mim é satisfatório.
Eu acho que a apresentação proposta pela CBF mostra uma transparência total de como é o VAR. Entendo a preocupação dos Deputados quanto à transparência. O Deputado Roman e o Deputado Delegado Pablo, que já não está mais no plenário, foram muito felizes — e eu digo isso como representante da categoria — ao dizer que a arbitragem é a única função que decide a vida das pessoas, seja do treinador, seja dos atletas, devido ao resultado, que não tem qualquer controle no que diz respeito à suspeição. O meio é muito digno e muito honesto. O único desvio de conduta aconteceu em 2005, quando alguns resultados de jogos não foram felizes. Entendemos a preocupação e concordamos com ela.
16:49
RF
A pergunta que eu trago ao Gaciba é para que, nessa situação, o leque possa ser mais aberto, porque, como representante da categoria, eu vejo que o leque está muito fechado. Hoje, só nove Estados participam da Série A, porque as Séries C e D são para formação de árbitros. A base começa nos Estados. É preciso que haja mais elemento humano, mais árbitros participando.
O Gaciba fez visita a 17 clubes de futebol, e a apresentação hoje foi muito proveitosa. Mas é preciso que os 27 Estados brasileiros sejam capacitados e tenham oportunidade. Aqui há Deputados de Sergipe, do Rio de Janeiro, do Paraná, como o Deputado Evandro Roman. Todos os árbitros, sem exceção, que são pouco mais de 640, devem ser capacitados e treinados para que haja mais volume.
O VAR, sem dúvida, é um experimento em crescimento, mas que não vai mudar hoje. O ideal era que tivesse começado na Série D, e não na Série A. Mas se apostou na Série A. O Presidente Rogério Caboclo foi muito ousado em começar dessa maneira. Qualquer erro que possa existir está na capacitação de quem capacitou, não de quem executa.
Agradeço a oportunidade.
Deixo o Gaciba com a problemática em relação aos Estados, para que ele possa fazer uma reflexão maior quanto a oportunizar a todos.
Obrigado, Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Obrigado, Salmo. Tenho certeza de que o Gaciba, como ex-árbitro, tem todo o interesse em que seja ampliado o número de árbitros que possam ser capacitados no futuro.
Convido para fazer uso da palavra o Sr. Jorge Rabello, Presidente da Comissão Especial de Planejamento e Desenvolvimento da Arbitragem da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que foi a primeira federação — se eu estiver enganado, Jorge, corrija-me — a implementar o VAR em um campeonato estadual.
O SR. JORGE FERNANDO RABELLO - Obrigado, Deputado.
Não tenho pergunta. Quero parabenizar o Leonardo Gaciba pela sua apresentação. Tivemos a oportunidade de estar juntos na Brasil Expo. É preciso enfatizar a importância da tecnologia. A tecnologia veio para ficar.
Precisamos ter um pouco de cuidado com os números, pois, sempre que temos a oportunidade de externar algo em relação ao VAR, há uma prática no mundo de que isso seja fundamentado em números. Temos que ter cuidado, porque às vezes esses números são dados, e não informação.
16:53
RF
De qualquer forma, eu acho que a CBF está no caminho certo. O segmento da mídia, de maneira geral, no Brasil, faz críticas ou questionamentos um tanto quanto precipitados a um experimento que apenas está no início.
Obviamente, em relação a conteúdo, eu acho que há problemas na arbitragem. É preciso reconhecer que nós temos problemas. Eu lembro que na última apresentação do Gaciba, acho que em setembro, havia 87 revisões, e agora são 188 revisões. Isso significa que temos problemas.
Árbitro central no campo de jogo e árbitro de vídeo não são um só. Eles são complementares, mas são distintos. Temos que tomar cuidado com isso, porque gera um impacto. A minha apresentação logo a seguir vai ser fundamentada em elementos que têm impacto decisivo na questão do VAR, principalmente no Brasil, que são velocidade, amplitude e profundidade, conhecimento, treinamento e prática do controle do protocolo VAR com toda sua carga subjetiva. É preciso um novo mapeamento de competências. Devemos ter consciência e reconhecer que, com a entrada do VAR, passou a existir um gap entre as competências atuais e as competências necessárias na arbitragem brasileira em geral. Estamos pagando um preço sobre isso.
O entendimento é que o problema é sistêmico. Eu vejo críticas, que na minha opinião não procedem, em relação à CBF na questão da qualificação dos árbitros. Essa parte, a CBF procede com excelência, mas é preciso entender que o problema é sistêmico. O problema não é só da CBF, mas da CBF e de 27 Federações, que precisam estar em sinergia e conectadas. De qualquer forma, tem que haver uma análise mais profunda e que vá um pouquinho além dos números. Não há como não reconhecer que a história da arbitragem será contada antes e depois do VAR.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Concedo a palavra ao Sr. José Bezzi, para podermos liberar o Gaciba, que precisa sair, e podermos compor novamente a Mesa.
O SR. JOSÉ BEZZI - Como representante da Secretaria Nacional de Futebol, quero parabenizar o Deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. e a Deputada Flordelis pela iniciativa.
Deputado Luiz, agradeço a oportunidade de ter trazido aqui o Leonardo Gaciba para ele poder esclarecer vários pontos, particularmente a nós leigos, como a atuação, a transparência e todo o profissionalismo que eles aplicam nas decisões em campo.
Então, quero apenas parabenizar tanto o Deputado quanto o Gaciba pela brilhante exposição e pelo esclarecimento de dúvidas.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Gaciba, antes de sair, vou lhe repassar, gentilmente, algumas perguntas que chegaram pelo e-Democracia. É muito importante agradecer a todos que estão acompanhando esta audiência a participação. Estamos em um link ao vivo da TV Câmara.
O Nilson Levi Zalewski pergunta: "Por que o VAR é usado como árbitro do jogo ao invés de ser auxiliar do árbitro que está em campo? Já ocorreu jogos em que nenhum time reclamou e nem os milhares de torcedores que viram o lance, e o VAR dá um entendimento ao árbitro sem ter sido solicitado". Vou pedir que responda no final.
16:57
RF
Já o Paulo Roberto Eiras pergunta: "Os árbitros auxiliares em campo (bandeirinhas) também têm acesso ao áudio entre a cabine e o árbitro principal em campo?" É a cabine do VAR, pelo meu entendimento. "Se sim, eles têm poder de opinar na decisão?"
Parece-me que isso ocorreu em uma questão de um cartão amarelo, quando um bandeirinha chegou a argumentar, talvez em um lance de pênalti do Palmeiras contra um time de camisa vermelha, não sei se a Chapecoense.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Sim, eles escutam tudo, opinam, inclusive informam a decisão deles em casos de impedimento.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - O Sr. Valdir de Córdova Bicudo fez uma pergunta bastante longa, mas ele diz que a IFAB disponibilizou os testes off-line com o VAR e, após isso, disponibilizou os testes on-line, e que alguns outros países iniciaram anteriormente. Ocorreram alguns tipos de resultados negativos no campeonato de Pernambuco de 2017, e, de lá para cá, pouca coisa ou nada mudou, segundo as considerações dele. "Estamos na 15ª rodada." Essa é uma pergunta que ele deve ter feito anteriormente e enviado para o site da nossa Comissão. Eu queria que depois o senhor comentasse.
Para encerrar, Gaciba, eu, que acompanho todas as rodadas do campeonato, acho que o VAR vem evoluindo, principalmente no tempo de tomada de decisão, que tem sido mais breve, independentemente da nossa concordância ou não. Às vezes, vendo o lance, eu continuo com a opinião que eu tinha, mas o tempo tem se tornado mais breve.
Eu acho que a CBF, principalmente vocês árbitros, o árbitro de campo e o árbitro do VAR, só terão a ganhar com a transparência desses dados.
Antes de lhe conceder a palavra para as suas considerações finais, quero dizer que, através da sugestão do Deputado Delegado Pablo, vamos encaminhar uma proposta à IFAB — International Football Association Board para se fazer um desafio por tempo para cada time, para que cada time possa fazer um desafio por partida. Talvez houvesse a possibilidade de se fazer uma tentativa num campeonato regional, para sentirmos se isso pararia muito o jogo ou não. Acho que você defendeu isso, pelo que entendi. Poderíamos fazer um experimento, dentro da legalidade, para vermos qual seria a reação.
Gaciba, a palavra é sua.
O SR. LEONARDO GACIBA DA SILVA - Inclusive nós já pedimos isso. Colocamo-nos à disposição caso queiram fazer algum tipo de experimento dentro do protocolo. Esse é o oitavo protocolo. Ele já foi alterado, nesse meio tempo, oito vezes. Logo em seguida deve sair o novo protocolo para 2020. Esse é um processo em evolução. Na verdade, trata-se de sistema muito novo, utilizado pela primeira vez em uma Copa do Mundo no ano passado. Então, é uma coisa extremamente nova que está acontecendo no futebol. Todos nós estamos evoluindo. Quanto ao treinamento, provou-se claramente que o treinamento off-line é uma coisa e o jogo, valendo, é outra coisa.
17:01
RF
Claramente, o tão festejado VAR da Inglaterra também está passando por diversos problemas, recebendo grandes críticas. Foi feito um treinamento e um investimento para 2 anos de treinamento off-line. Mas uma coisa, amigo, é quando a bola rola e ali vale 3 pontos, outra história é quando a medida vai ser colocada em prática.
Eu acredito que o Brasil passa por um ano muito positivo na questão do árbitro de vídeo. Tivemos polêmicas em todos os países — todos os países! Muitos deles chegaram a cancelar o árbitro de vídeo durante o primeiro ano de competição; cancelamento mesmo, de se parar a utilização durante o campeonato para posteriormente voltar. Então, o árbitro de vídeo no Brasil tem que evoluir, obviamente, mas acho que é muito mais positivo do que negativo. O copo com certeza está mais cheio. Aos poucos nós vamos melhorar ainda mais, porque, se ainda erramos 1,7% dos lances, para a arbitragem 1,7% é muito. Temos que evoluir cada vez mais para tentar aumentar o índice de acertos, sempre deixando claro que nós nunca prometemos perfeição. Não vamos conseguir entregar isso, até porque há jogadas sobre as quais nós vamos passar 1 mês conversando, você vai achar que foi pênalti e eu vou achar que não foi. Não adianta que nós não vamos chegar a um consenso, são jogadas interpretativas.
Agradeço muito, Deputado. De antemão, peço desculpas aos colegas por não poder permanecer, porque realmente tenho um voo logo em seguida. Mas agradeço o convite. O senhor, em especial, fez um grande favor à comunidade do futebol como um todo, que é nos abrir este espaço generoso para conseguirmos falar do projeto do árbitro de vídeo e mostrar a questão da transparência desse projeto.
Muito obrigado
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Leonardo Gaciba, muito obrigado pela sua presença aqui. Vou falar em meu nome, em nome dos membros da Comissão e em nome do Deputado Fábio Mitidieri que esta Casa é a Casa do Povo. Quando a CBF quiser se manifestar, seja com a Comissão Nacional de Arbitragem ou em outros entendimentos, em favor do esporte brasileiro, esta Casa vai ser um ambiente acolhedor, com a educação que nos é formatada, mas sempre com o contraditório, porque esta é uma Casa de contraditórios, inclusive faz parte da nossa prática. O dia a dia aqui é muito mais contraditório do que o senhor vivenciou. O nosso contraditório aqui é muito grande. Quero lhe agradecer muito.
Agora, com a saída do Gaciba, convido para comporem a Mesa os Srs. Salmo Valentim, Jorge Fernando Rabello e José Bezzi.
(Pausa prolongada.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Vou pedir ao Sr. Jorge Rabello para que inicie a apresentação. Podemos iniciar com o senhor? (Pausa.)
Fique à vontade, Sr. Jorge Rabello.
17:05
RF
O SR. JORGE FERNANDO RABELLO - Primeiramente, Deputado Luizinho, meus agradecimentos pela oportunidade, pela convocação. Trago um abraço e os agradecimentos também do Dr. Rubens Lopes, Presidente da Federação de Futebol, por permitir, evidentemente, a nós que fazemos parte desse processo, acrescentar alguma coisa, dentro do nosso quintal.
Um nível de amostragem é o campeonato carioca de 2019. Nós tivemos 10 partidas; agora, vamos para 14 partidas. Mas, dentro do nosso universo, temos já uma compreensão das nossas responsabilidades e das nossas dificuldades.
Quero cumprimentar meus ex-colegas, ex-árbitros aqui presentes. É um prazer revê-los e estar com vocês aqui.
Quanto aos problemas em relação ao VAR, é uma sensação estranha, porque é uma exposição de números, e essa não é uma particularidade só no Brasil, mas no mundo, quando se fala de VAR, porque nós ficamos, às vezes, com a sensação de "do que estamos fazendo aqui?" Aparentemente, está tudo indo muito bem. Os problemas que têm ocorrido, e nós temos acompanhado rodada a rodada em relação ao VAR, no Brasil, parece que não existem. Às vezes, é uma visão de quem está do lado de cá, e eu estou ao lado das federações. Nosso universo é de maior dificuldade, de menos recursos.
O primeiro ponto, Deputado, é reconhecer que nós temos um problema, sim, em relação ao VAR. Precisamos entender isso. Os números são importantes? Sim; obviamente que sim, mas temos que ter cuidado.
Por exemplo, foi dito aqui que a média do tempo nos estaduais foi de 6 minutos. Eu não sei como se chegou a essa média, mas, no campeonato do Rio de Janeiro, foram 2 minutos e 32 segundos, não foram 6 minutos. Então, nós temos, sim, que ter cuidado com os números.
Número é o topo da pirâmide, o final do processo. O problema do VAR no Brasil não está no topo, está na base.
(Segue-se exibição de imagens.)
Foi dito aqui por alguns Deputados nos questionamentos do porquê dos problemas que têm ocorrido no VAR. Eu, como estudioso do VAR — fui perguntado por um Deputado, e aí surgiu o desafio —, pesquisei em alguns esportes pelo mundo que utilizam a tecnologia do vídeo replay, para tentar encontrar algumas especificidades nesses esportes que pudessem nos mostrar um caminho, uma direção do porquê no futebol estarmos enfrentando esse problema do VAR no mundo. Encontramos duas especificidades muito interessantes: a primeira é que todas essas modalidades pesquisadas utilizam a tecnologia do vídeo replay para lances objetivos; a segunda, em quase todas se utiliza o desafio.
17:09
RF
O desafio não é contemplado no protocolo atual. Falamos sobre isso aqui, e a Câmara vai encaminhar uma solicitação, porque acho que o desafio — e não vou perder meu tempo entrando nesse mérito —, em algum momento, vai entrar no protocolo VAR. Não há dúvida em relação a isso. Mas o protocolo — e aí é minha opinião pessoal — poderia ter sido mais conservador e admitir lances somente objetivos. E o que são lances objetivos? O gol foi feito com a mão, não foi gol feito com a mão; a bola entrou, não entrou; está impedido, não está impedido; foi dentro da área ou fora da área. E por quê? Porque todo experimento, seja ele de que tamanho for, seja em que empresa for, necessita de uma dose inicial de assertividade. E para quê? Para que você traga a credibilidade do entorno e a confiança de quem pratica. Isso é tudo o que não está acontecendo com VAR no momento. Ou seja, questiona-se a credibilidade da ferramenta, e os profissionais que trabalham na modalidade estão sem confiança, sim. Em setembro, houve 87 revisões; nós estamos em novembro, e o número passou para 188 revisões! Temos um problema.
Vou pular este gráfico aqui, para adiantar a exposição e não cansar os senhores.
Eu disse aqui antes e vou provar — ou tentar comprovar — o problema que estamos enfrentando. Apresento quatro elementos que impactam diretamente o VAR: velocidade, amplitude e profundidade, mapeamento de novas competências e impacto sistêmico.
Vou explicar o primeiro elemento: velocidade. Ouvimos que no novo ambiente da arbitragem, hoje, a meta mais ambiciosa sobre o VAR é reduzir o tempo gasto com a revisão. É uma meta importante? Sim. É uma meta? Sim. Mas a nossa meta mais importante é reduzir a quantidade de revisões. A tecnologia do vídeo replay e o VAR, especificamente na arbitragem, servem para corrigir uma não conformidade, que, no caso específico, tem origem na falta de eficácia, eficiência e efetividade na formação e preparação dos nossos árbitros.
17:13
RF
O que nós temos que dizer é o seguinte: "Opa! Tínhamos 187 revisões; esse número caiu para 53, caiu para 45...". E por quê? Porque árbitro de campo e árbitro de vídeo são complementares, mas são distintos. O árbitro do campo é causa; e o VAR é efeito.
Quanto maior o investimento na preparação desses árbitros dentro do campo de jogo menos utilizaremos o VAR. Mas perdemos esse foco, e isso tem um preço. Entramos num caminho perigoso e letal da crença de que o VAR tem uma grande vantagem: o árbitro ruim no campo de jogo atrapalha menos. E aí o investimento na formação e preparação é esquecido. E quem investe em formação e preparação não é a CBF, são as federações. E, se essas federações não forem ajudadas de alguma forma, nós vamos demorar a sair dos problemas que estamos enfrentando.
Isso foi dito aqui na sala, e todo mundo questionou — inclusive o Prof. Luizinho —, sobre vários lances de impedimento, de falta, de pênalti, na dúvida se foi ou não pênalti. Ouvimos aqui um representante que levantou a questão do Fortaleza. Enfim, fundamentalmente, este é o maior pesadelo de toda comissão de arbitragem no mundo: no processo, o VAR informa, e o árbitro no campo de jogo decide. Então, é simples e todos nós já conhecemos que o VAR observa um evento no campo de jogo dentro de quatro situações: gol, pênalti, cartão vermelho e identidade equivocada. Ao perceber esse evento no campo de jogo, ele analisa e interpreta duas situações. Uma delas é se a decisão da arbitragem foi correta — e o Deputado Luizinho não se conforma com o fato de o árbitro estar a 2 metros de distância e o VAR toda hora intervir no jogo. Não foi isso, Deputado, o que o senhor me falou? E é exatamente isso aí. A segunda situação em que o VAR atua é quando houver erro claro e óbvio.
Então, para quem está sentado na cadeira do VAR é isso. E esse é o motivo pelo qual estamos aqui. E por quê? Por causa da subjetividade. Se tivéssemos um protocolo que determinasse a intervenção só para o caso de lances objetivos, não estaríamos discutindo hoje.
Isto aqui produz um gap de competências. O Presidente da ANAF disse: "Trabalharam como VAR nesse campeonato brasileiro apenas árbitros de nove Estados brasileiros". Nós temos 27. Muito provavelmente esses 9 Estados estejam ali situados no tempo zero, com um gap menor, com uma capacidade de competência maior, e talvez os outros 18 Estados brasileiros estejam ali no tempo 1, com um gap maior de competências. E isso não é novo. O problema das competências dos árbitros no Brasil não é novo. Com o VAR, isso ficou apenas mais acentuado.
17:17
RF
Falamos aqui de régua alta e de régua baixa. Os senhores já devem ter ouvido isso na mídia, porque muito se falava: "O Presidente determinou que os árbitros usem régua alta". O que se está querendo dizer exatamente como isso? Régua alta é o VAR intervir no jogo próximo ao erro claro e óbvio. Ou seja, são lances que, provavelmente, em sua essência trazem menos polêmica. Então, quanto mais próxima essa régua estiver do erro claro e óbvio, melhor será o aproveitamento do processo VAR, e a interferência será mínima.
E essa é uma prática brasileira? Não. Vamos ver o que disse Mike Riley, chefe de arbitragem da tão elogiada Premier League. Ele disse: "Nós não queremos que o VAR venha e tente apitar novamente o jogo. Nós, na verdade, queremos que isso proteja os árbitros que cometerem erro sério, aqueles que todo mundo olhe e diga: 'Bem, na verdade, isso está errado'."
Na Premier League eles não chamam de régua, eles chamam de barra: "Se nós mantivermos a barra realmente alta, há uma chance maior de manter o fluxo e a intensidade do jogo, em vez de constantemente olharem para a tela de vídeo para decisões serem mudadas".
Temos ali: seja régua ou seja barra, o que se busca é aproximar a participação do VAR próxima ao erro claro e óbvio. A princípio, vocês diriam: "Simples, eu vou reunir meus árbitros, vai começar o campeonato brasileiro — ou o carioca, o paulista ou o que utilizar o VAR — e dizer a eles o seguinte: 'Eu quero que vocês utilizem a régua alta, próxima do erro claro e óbvio, para dizerem que não foi uma decisão correta da arbitragem'. É simples". Mas isso não é fácil. E por quê? Porque, seja régua, seja barra, elas trabalham com o seguinte aspecto: subjetividade, interpretação.
Então, pode ocorrer que, para um mesmo evento no campo de jogo, o Salmo, no VAR, entenda que foi um erro claro e óbvio, mas o Dr. Luizinho entenda que foi uma decisão incorreta do VAR. O Salmo vai aconselhar a revisão, e o Prof. Luizinho não. O nome disso é interpretação. O que fazer para melhorar isso? Qualidade no treinamento dado aos árbitros, no sentido de aprimoramento de suas competências, e a capacidade de assimilação desses árbitros no treinamento recebido. Isso é o que enfrentamos atualmente no Brasil.
Eu conversava com o Salmo, Deputado, sobre a estrutura organizacional da arbitragem e o mapeamento das competências. A estrutura organizacional da arbitragem tinha o formato desta pirâmide retratada no eslaide. Essa estrutura foi forjada ao longo de décadas de treinamento e desenvolvimento dos árbitros. Ou seja, há quantidade menor de árbitros no topo da pirâmide, representados pelo segmento de árbitros da FIFA — árbitros e assistentes —, e toda a estrutura de arbitragem abaixo. Então, esses árbitros recebiam treinamentos mais qualificados, eram mais escalados, apitavam mais jogos, enquanto os outros recebiam um treinamento normal, esperando a sua oportunidade.
17:21
RF
Há algum tempo, no Brasil, falou-se em profissionalização dos árbitros. Pensou-se, então, no topo da pirâmide, nessa galera que está aqui em cima da pirâmide. Porém, quem pensou isso vai ter que mudar, porque a estrutura de arbitragem com o VAR, Deputado, está mudando.
Ali embaixo está o VAR, e toda aquela massa que estava esquecida durante décadas, agora, está sendo requalificada e se movimentando em direção ao centro, diminuindo a distância entre a elite e aqueles que estavam na base. Dessa forma, cresce exponencialmente, no caso de uma profissionalização, entendo eu, o número que vai ser agregado a essa profissionalização.
A teoria do losango era algo assim: poucos continuarão no topo e a maior parte deverá se mover para o nível intermediário. Portanto, teremos um quadro mais qualificado, aproximando a base do topo.
Na verdade, nós temos que entender que isso não vai ser algo simples. Salmo mencionou aqui que o quadro é de 642. Detalhe, isso não tem a ver somente com a CBF. Muito pelo contrário, nesse aspecto a CBF é mais parte da solução do que do problema, porque ela não forma nem prepara árbitros. Quem faz isso são as federações, mas elas precisam ser ajudadas. Eu vou mostrar isso mais à frente.
Por que nós precisamos requalificar esses árbitros com a tecnologia do vídeo replay? Simples: porque o desempenho humano supera as máquinas, como foi dito aqui; porque não é ela que decide sobre erro claro e óbvio e sobre a decisão correta da arbitragem; e porque o talento para conectar variáveis subjetivas é do árbitro, e não das máquinas.
Então, nós temos que investir, sim, Deputado, nas pessoas, porque, se não, vamos ficar mais tempo nessa transição para chegarmos aos objetivos.
Para encerrar, falei por último do impacto sistêmico. Já que estamos num aprendizado, nós precisamos entender o processo de arbitragem. Não se pode discutir seriamente o processo de arbitragem no Brasil sem conhecê-lo efetivamente, e tem que se reposicionar. O VAR está inserido nisso.
De forma bem resumida, no processo de arbitragem você tem, em uma ponta, a formação e preparação desses árbitros. Eles fazem o curso nas federações, depois começam a atuar nas categorias de base com seus sonhos e objetivos, que são atingir a outra ponta: o quadro internacional, o quadro da FIFA.
Em uma ponta, estão as federações, comissões de arbitragem e escolas de arbitragem das federações de futebol, e, na outra ponta, está a FIFA. O que observamos de cara? Que a CBF não está nem em uma ponta nem em outra. Onde entra a CBF? No meio do processo. A CBF entra com mercado de trabalho, com visibilidade e com atualização de todo esse processo.
17:25
RF
Em relação a mercado de trabalho e visibilidade, eu tenho questionamentos e acho que pode melhorar. A atualização do processo, na minha opinião, a CBF realiza com excelência. A minha federação tem 7 instrutores FIFA formados pela CBF e são 35 árbitros e assistentes treinados nesses cursos da CBF. Então, eu posso afirmar que a atualização do processo a CBF faz com excelência.
Quanto aos demais instrutores, como os de Pernambuco e Alagoas — estou citando esses dois porque tenho tido oportunidade de viajar pelo Brasil e estive nesses Estados, mas sei que essa é a dificuldade de muitos —, eles chegam com todo esse material didático, treinamento recebido na CBF, às suas respectivas federações, sentam com seu presidente da federação e dizem: "Eu aprendi isso, e nós temos que praticar, fazer isso na escola". A primeira pergunta do presidente da federação é: "Com que recurso?" Falta o braço financeiro.
Temos que entender que o impacto sistêmico é a sinergia e conectividade da CBF com as demais federações. Não temos que ter só 9 participando com VAR. Nós temos 27, e 18 ficaram de fora, precisam de ajuda. E não é preciso inventar a roda. Já tive oportunidade de conversar com algumas pessoas sobre isso.
A UEFA nos ensina isso. Em 2003, a UEFA criou um documento chamado Convenção de Arbitragem. O que é esse documento? A UEFA chega às federações — e lá são 57 — e diz: "Eu quero que vocês formem os árbitros dessa maneira e eu quero que vocês treinem os árbitros dessa forma. Vou formar seus instrutores, vou capacitar seus instrutores e vou auditar esse processo". Dá-se um contrato à federação, a federação assina o contrato, com o compromisso de que vai agir da forma determinada, e recebe 60 mil euros ao ano para isso.
Portanto, temos um caminho: as federações. É legal a ISO? É legal. A ISO é muito bacana, mas as federações estão pedindo socorro para ajudar os seus árbitros, em todos os lugares — todos! Eu converso com vários. Nós temos gente competente, muito bem intencionada, com estratégia, planejamento, mas não há recurso.
Precisamos entender que, enquanto não resolvermos isso — e é sistêmico —, teremos problema. A CBF só utiliza os árbitros das federações no segundo semestre. Quem utiliza o VAR são apenas 4 ou 5 campeonatos regionais; expressivamente, nas federações, eu diria São Paulo e Rio, com 14 jogos, Minas, com 6 jogos, e outras federações, com 4, 3, 2, 1 jogos.
17:29
RF
Então, é muito difícil. Se não houver sinergia e conectividade com o problema da arbitragem em geral, que está sobressaindo com o VAR, nós vamos penar e demorar mais do que os outros países. Foi citado o off-line, mas os países que estão efetivamente avançando mais rápido foram os que fizeram off-line ou começaram o experimento nas categorias de base Sub-20. Aqui no Brasil poderíamos ter começado na Série C, na Série D, e depois chegarmos à Série A. Mas o off-line, não. Nós temos essa carga de crítica e de pressão porque, no Brasil, o VAR está sendo aprendido com o uso. Precisamos reconhecer que estamos apanhando mais porque estamos aprendendo com o uso.
Encerrando, como também foi dito, nós vamos praticar mais, desenvolver mais e melhorar. Mas existe uma verdade inexorável. Seria bom que alguns colegas Deputados estivessem aqui, porque já pensam no erro zero, que não vai existir. Com a entrada do VAR na arbitragem, o erro não acabou; o que passou a existir é tentativa com o menor erro possível e a tentativa com o menor risco possível.
Obrigado, pessoal. (Palmas.)
O SR. COORDENADOR (Lindberg Aziz Cury Júnior) - Obrigado, Sr. Jorge Rabello.
O Deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. saiu para conceder uma entrevista para a televisão e já está retornando.
Passo a palavra para o Sr. Salmo Valentim, a fim de fazer suas considerações e acrescentar o que puder a este debate.
O SR. SALMO VALENTIM - O Rabello trouxe muita clareza para o debate, mostrando uma realidade: precisa haver investimento na base. De fato, essa carência é muito grande hoje. Há Estados, por exemplo, Roraima, em que não se atua nem no campeonato brasileiro da Série D. Ele é completamente esquecido. Então, esse investimento nas federações, a busca da base, como falaram, de buscar o árbitro raiz, de fato, é primordial para que esse trabalho venha a ser desenvolvido.
A ANAF tem feito visitas a todos os Estados justamente para buscar esse alinhamento. Quero deixar claro para todos que o Rio de Janeiro é um dos Estados que investem fortemente na base, com trabalho específico há mais de 10 anos, até a formação. E há um acompanhamento. Então, não há privilégio, não se fura a fila, mas há, de fato, um trabalho de desenvolvimento.
O Bruno Arleu chegou na FIFA por um trabalho de desenvolvimento que já era para ter chegado desde o ano passado, desde a base. Então, esse modelo os Estados podem implementar. Em relação ao que foi exposto aqui pelos Deputados, que nós possamos contar com eles nesse desenvolvimento.
17:33
RF
A desconfiança é natural no País, principalmente no momento em que se vive, mas a entidade está atenta e está trabalhando para que a arbitragem possa ter cada vez mais transparência.
Quero agradecer ao Jamir, ao Raposo, à Márcia, que estão aqui presentes, e ao Deputado Luizinho e aos demais Deputados pela oportunidade única de podermos discutir arbitragem no Brasil.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Eu queria que Salmo Valentim fizesse as suas considerações...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Salmo já fez então suas considerações.
Estou vendo algo aqui, pelo que está colocado.
Eu até quero pedir desculpas. Tive absoluta necessidade de sair porque alguns trabalhos já começaram. Já são 17h34min e começam a acontecer outras audiências, o Plenário da Câmara está funcionando, uma série de coisas têm início aqui no entorno.
O que eu pude depreender da sua apresentação é a importância do fortalecimento das federações no campo da formação do árbitro. Eu queria ouvir a sua sugestão direta a respeito disto: de que forma a CBF pode fazer a aplicação para que haja melhor qualificação dos árbitros no âmbito da federação?
Vou me valer do campo da medicina para traduzir um pouco o que tenho entendido. Na medicina há inúmeros avanços tecnológicos. Cito como exemplo o campo da urologia. Nós que somos homens já ouvimos dizer que tal pessoa operou um câncer de próstata, e agora se usou um robô. Usou-se um robô para facilitar a recuperação da pessoa. Mas, às vezes, faz-se um investimento muito grande no robô e não se investe no ser humano.
Acho que a sua apresentação vai no sentido de dizer que o VAR é necessário, mas que é preciso fazer um investimento grande também na formação do árbitro no âmbito das federações. Não se deve fazer, portanto, o investimento só no robô, no árbitro de vídeo, na tecnologia. Pode ser que se gaste mais com a tecnologia do que com a própria remuneração e formação do árbitro. É mais ou menos isso?
O SR. JORGE FERNANDO RABELLO - É exatamente isso. Eu tive oportunidade de dizer — o senhor teve que dar uma saída — que não é preciso reinventar a roda. A UEFA tem um modelo a ser seguido. Depois de 2003, a UEFA, sempre que ia começar uma competição, como a sua maior competição, a mais importante, a Champions, ela reunia, por 15, 20 dias, no centro de excelência que eles têm em Lyon, os árbitros das federações filiadas à UEFA, para que fossem treinados para o campeonato.
A CBF costuma fazer isso. Leva os árbitros para Águas de Lindoia e os prepara por 10, 15 dias para a sua maior competição, que é a Série A do Brasileiro.
Naquela oportunidade, a UEFA observou que os árbitros que eram oriundos de federações com mais recursos tinham uma capacidade de assimilação maior. Mas esse não era o objetivo da UEFA. O objetivo da UEFA era que todos pudessem progredir. O que fez então a UEFA? Ela entendeu esse problema e estabeleceu um documento, que está no site da UEFA. Eu apenas o traduzi, e por isso aprendi.
Nessa convenção de arbitragem, a UEFA diz para as federações o seguinte: "Eu quero agora que os árbitros sejam formados com esta grade curricular e sejam treinados desta forma que estou determinando nesta convenção. Eu vou formar os seus instrutores, vou qualificar os seus instrutores, vou auditar esse processo. Quero que vocês assinem este contrato. Toda federação assina o contrato e recebe 60 mil euros por ano para formar e preparar os árbitros". Com isso, ela teve ganho de escala, na medida em que ajudou a capacitar os árbitros dos países que tinham menos recursos para investimentos.
17:37
RF
Isso é o que a CBF precisa fazer. Eu acho que não há dificuldade, como disse o Salmo, de ela ir a Roraima, Acre, Brasília, Goiás, Alagoas, Pernambuco, enfim, visitar as filiais e detectar as suas reais necessidades. Talvez fosse mais produtivo gastar energia visitando 27 filiais do que gastar energia visitando 20 clubes. Eu acho que perdemos uma oportunidade, porque precisamos ajudar a entender o trabalho das filiais.
É exatamente isso, Deputado, porque há um impacto sistêmico. A CBF é a Confederação Brasileira de Futebol, nem por isso ela forma e prepara jogador. A CBF não forma nem prepara árbitro, quem faz isso são as federações. Se não estivermos atentos a isso, vamos demorar a sair dos problemas que estamos enfrentando com o VAR.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Jorge, eu queria lhe fazer um agradecimento especial, por sua brilhante participação e pelos serviços prestados principalmente no nosso Estado, que é o Estado do Rio de Janeiro.
Ao final desta audiência, nós vamos...
O SR. JORGE FERNANDO RABELLO - Antes de o senhor encerrar — peço desculpas —, digo que me esqueci de dois detalhes muito importantes a respeito do seu projeto sobre a questão da transparência. O Rio de Janeiro — estou dizendo isto ao senhor em primeira mão, nesta audiência —, para o Campeonato Carioca de 2020, vai adotar, com foco na transparência, dois procedimentos.
O primeiro é este: a partir do momento em que houver uma revisão no campo de jogo e o árbitro modificar a sua decisão, isso vai ser mostrado no telão, para todos os torcedores. Não existe isto em esporte nenhum no mundo, proteger alguém que utiliza a tecnologia do árbitro de vídeo. Não se protege ninguém! É esse o processo no rugby, na NBA, no tênis, no vôlei, vê-se no telão a decisão. Por que no futebol não? A federação de futebol vai fazer isso, Deputado.
O segundo procedimento é também um desejo e um questionamento V.Exa. No Rio de Janeiro temos um grupo chamado GGP — Grupo de Gerenciamento de Problemas. O que é isso? Se houver uma polêmica num jogo de futebol, o lance, terminado o jogo, é considerado por esse grupo, é debatido pela Comissão de Arbitragem e debatido pelos instrutores. Chegamos a uma decisão em conjunto. Duas horas depois o Departamento de Comunicação da Federação de Futebol já a publica e a divulga em todas as mídias. Divulgamos o nosso entendimento sobre o que aconteceu, dizemos se o árbitro acertou ou errou, e o que deveremos fazer para uma tomada de decisão.
O que muda para 2020? Nós vamos fazer isso quando houver uma polêmica em relação ao VAR. Houve uma polêmica em relação ao VAR? O GGP vai analisar o lance, vai mostrar o vídeo da sala operacional e o áudio — e o áudio. O Rio de Janeiro vai fazer isso.
17:41
RF
Existe esta história: "Ah, a IFAB..." O.k., é verdade, existe um protocolo a ser seguido, mas a Espanha não o segue, e outros países também não. Quando há necessidade, divulga-se o áudio. Então, realizaremos estas duas ações pioneiras no Brasil: mostrar no telão a revisão e, quando houver polêmica, mostrar também o áudio da sala de vídeo.
O SR. PRESIDENTE (Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. Bloco/PP - RJ) - Parabéns, Jorge, por mais essa inovação. Vocês já foram inovadores na implementação do VAR no nosso País. Tenho certeza absoluta de que nós Deputados que participamos desta audiência melhoramos o nosso nível de conhecimento.
Quero deixar claro que o nosso objetivo é dar total transparência ao torcedor, para que ele possa comprar o seu ingresso ou assistir ao jogo pela televisão e ter certeza de que aquele resultado é o que efetivamente aconteceu dentro de campo e de que os árbitros e o VAR trabalharam para que acontecesse o resultado natural da partida. É por isso que volto a frisar a importância da transparência.
Parabenizo a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro pela decisão de oferecer, no campeonato de 2020, essa transparência em relação a cada lance decidido por meio do VAR. Muito obrigado pela sua presença.
Quero agradecer a todos que nos acompanharam pela TV Câmara.
Dou por encerrada esta audiência pública.
Voltar ao topo