Horário | (Texto com redação final.) |
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Declaro aberta a 38ª Reunião Ordinária da CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Peço, Sr. Presidente, a dispensa da leitura da ata.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O Deputado Paulo Ramos pede a dispensa da leitura da ata. Dispensada a leitura.
Esta reunião ordinária foi convocada para tomar depoimento do Sr. Lúcio Bolonha Funaro, empresário, pelo Requerimento nº 220, de 2019.
Constatando a presença do Sr. Lúcio Funaro, eu o convido para tomar assento à mesa, para darmos início aos nossos trabalhos.
Antes de passar a palavra ao depoente, peço a atenção dos senhores presentes para os procedimentos que vamos adotar. O tempo concedido ao depoente será de 20 minutos, não podendo ser aparteado.
A Presidência solicita aos Srs. advogados que também tomem assento à mesa: o Sr. Pedro Jaguaribe e o Sr. Valber da Silva Melo, devidamente identificados por esta Presidência.
Os Deputados interessados em interpelar deverão se inscrever previamente junto à Secretaria, que já tem a relação em mãos, solicitando aos interessados que se inscrevam. O Relator disporá de 30 minutos para as suas interpelações e a autora do requerimento, a Deputada Paula Belmonte, de 10 minutos. Cada Deputado membro inscrito terá o prazo de 5 minutos e o não membro de 3 minutos.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Muito bem.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Boa tarde a todos. É um prazer estar de volta hoje a esta Casa. Queria cumprimentar a todos os que estão aqui presentes e agradecer por ter essa oportunidade de vir aqui e poder explicar aos senhores, dentro daquilo que eu sei, os fatos que estão contidos dentro do contexto desta CPI. Só isso.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Bem, não havendo mais interesse na continuidade da manifestação, a Presidência passa a palavra ao nosso Relator, o Deputado Altineu Côrtes, por 30 minutos regimentais.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Boa tarde, Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Lúcio, doutores advogados, demais presentes aqui.
Bom, primeiro quero agradecer ao senhor a presença aqui, porque, apesar de ter sido aprovada a sua convocação, em nenhum momento, o senhor recorreu ao Judiciário, como fizeram outras pessoas que foram convocadas aqui, no intuito de se preservar com os direitos que a Justiça garante a algumas outras pessoas. O senhor conheceu pessoas que são, na nossa opinião, diretamente envolvidas em práticas ilícitas do BNDES e, com certeza, em outros bancos públicos, e diria, em outros setores governamentais. Além das perguntas que nós vamos fazer, eu gostaria que o senhor pudesse ajudar esta Comissão. A gente sabe que o senhor tem uma história e uma bagagem grande na relação política. Pelo que o senhor passou, a gente vê — pelo menos a minha impressão é essa — que o senhor realmente virou a página no intuito de esclarecer os pontos que obviamente o senhor, por anos, teve a oportunidade, muitas vezes, até sem estar participando diretamente, mas com seu conhecimento teve a capacidade de enxergar. A minha primeira pergunta é de forma global sobre a questão do BNDES. Quais as pessoas com quem o senhor teve relação que, na sua opinião, se envolveram em processos duvidosos no BNDES?
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14:46
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - De acordo com a pergunta do senhor, das pessoas que eu tive relacionamento aí, durante esses últimos 9 anos, e dos empresários com os quais eu tive maiores relacionamentos e mais próximos, eu posso afirmar, com certeza, que são Grupo JBS, Grupo Bertin, Grupo Marfrig. E, num episódio de 2008, até uma empresa da qual eu era investidor.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Qual é a empresa?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Qual era a relação do senhor com o Joesley Batista?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Talvez por um pouco de ingenuidade minha e por acreditar na palavra dele, era uma relação de compadres, como ele falava. Mas, talvez, para ele, o sinônimo de compadre seja Judas Iscariotes.
Então, a relação foi de amizade, de negócios, de relacionamento pessoal com ele e com toda a família dele, incluindo irmãos, irmãs, mãe, sobrinhos, sobrinhas, sobrinhos-netos, a família inteira, assim como ele tinha relacionamento com toda a minha família.
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14:50
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor citou aqui — recordo-me que escutei o senhor falar — Judas Iscariotes. Eu tenho dito aqui nesta CPI, investigando essa questão da JBS, que o Sr. Mário Celso Lopes... O senhor conheceu o Sr. Mário Celso Lopes?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Que operação a JBS, o Joesley, os irmãos Batista fizeram no BNDES que o senhor aponta como uma operação em que aconteceram práticas ilícitas ou de favorecimento, sobrepreço? Enfim, o senhor conhece bem a história deles. O que o senhor poderia nos contar a respeito disso?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu tenho uma experiência no mercado financeiro de aproximadamente 26 anos. Com a experiência que eu tenho no mercado financeiro, atuando em diversos setores, em diversas instituições credenciadas pelo Banco Central, corretoras de valores, bancos, distribuidoras de valores, eu posso afirmar, com quase 95% de certeza, que nenhuma operação realizada por ele dentro do BNDES foi totalmente — como é o termo que eu vou usar para explicar para o senhor? — totalmente lícita.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Foram todas ilícitas na sua opinião?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Na minha opinião, sim, porque ele tomava dinheiro a juro negativo e aplicava o dinheiro a juro positivo, sobrevalorizava o preço dos ativos que ele estava comprando, prejudicou diversos produtores rurais, assim como continua prejudicando hoje. Eu trouxe aqui uma notificação que eu fiz para a empresa JBS. No ano de 2015 e 2016, eu vendi praticamente 1.500 cabeças de gado para ele e, após eu ter sido preso, ele continuou comprando gado meu. E, para a minha surpresa, quando eu saí da cadeia, eu fui vender gado para o frigorífico JBS, que disse que eu não passava no compliance dele. E a minha pergunta para o diretor de compliance foi se o Joesley passava no próprio compliance da empresa. "Se eu não estou passando, como é que ele pode passar?" Eu tenho... A minha lista de crime é bem menor do que a dele, né? Além disso, é uma maneira de ele exercer pressão sobre todos os pecuaristas brasileiros, tanto na questão de preço, de formação de preço, o que ele domina, como uma maneira de pressionar pessoas que têm fazendas em lugares isolados, que só têm o frigorífico dele perto, e que tenham alguma coisa contra ele a falar ou a delatar a não revelarem. Então, ele se utiliza da empresa para fins específicos, que são a benefício dele e da família dele, não do BNDES, não dos outros acionistas minoritários. E ele utiliza a empresa como se fosse um brinquedo dele. É assim que acontece.
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Como foi a operação específica da incorporação do Bertin? Segundo o Sr. Mário Celso Lopes, nessa incorporação, houve um sobrepreço de 9 bilhões de reais. Eles compraram o Bertin... Eu até apresentei — não sei se o senhor já teve conhecimento disso —, tornei isto público aqui na CPI: eles assinaram um contrato por fora com o Bertin no valor de 750 milhões de reais mais 10% das ações da nova empresa. Enfim, esse seria o negócio, vamos dizer, original, que foi um documento assinado por fora. Mas o Sr. Mário Celso Lopes nos conta, nas memórias dele, que isso foi contabilizado no banco por 12 bilhões de reais mais a dívida de 4 bilhões de reais. E isso deu um sobrepreço. Na realidade, o que o Sr. Mário Celso Lopes disse foi que a empresa valia um preço, e o Joesley colocou 9 bilhões de reais a mais no seu valor quando esse assunto foi contabilizado no BNDES. Isso diluiu os acionistas minoritários e derrubou, obviamente, o percentual das ações do BNDES. Assim, a J&F ficou controladora dessa situação até hoje. O senhor tomou conhecimento dessa operação, já que o senhor tinha uma ligação, assim, próxima com os Bertin e com o Joesley e o Wesley?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Primeiramente, eu tomei conhecimento dessa operação. E eu não participei dessa operação de maneira ativa, como o Mário Celso Lopes participou. Mas, se o senhor chamar aqui 200 donos de frigoríficos que foram fechados nos últimos tempos, por outras práticas que o Joesley praticou no mercado, o senhor vai ver, claro, que ele tinha a intenção de oligopolizar todo o setor. Eu participei, numa fase posterior, de uma intervenção para que os dois fizessem um acordo e chegassem a um denominador comum para parar com as disputas societárias oriundas desses spread que foi cobrado a maior do BNDES pelo pagamento das ações do Bertin. Ou seja, eu participei da fase em que os Bertin já estavam litigando com o Joesley, com dificuldade de caixa, e o Joesley não pagava a eles o valor que era devido. Até que os irmãos Bertin se reuniram e resolveram tomar a atitude judicial cabível, e eu os auxiliei nisso. Ao contrário do que o Joesley disse, eu nunca incitei os Bertin a tomarem essa atitude. A atitude foi tomada devido à situação de caixa da empresa.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Então, na realidade, o senhor confirma que, nessa operação — apesar de o senhor estar colocando aqui que não participou dessa operação junto ao BNDES —, houve um sobrepreço dessa monta e que havia um contrato paralelo com os Bertin?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - O valor específico que ficou a mais eu não posso afirmar para o senhor, mas tinha um valor a receber por parte dos irmãos Bertin do Joesley.
E o Joesley não pagava, ia empurrando, empurrando, e a situação do Grupo Bertin ia se deteriorando. Com a deterioração da situação financeira do Bertin, eles resolveram tomar uma providência mais drástica, que foi a judicialização da causa. A partir do momento em que eles judicializaram a causa, eu fui procurado por todos os irmãos Bertin e ajudei eles a tentar solucionar. A situação foi equacionada por mim, com a minha intervenção, e o Joesley simplesmente não reconhece que me deve esses honorários. Isso que aconteceu.
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14:58
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Essa pergunta eu iria fazer ao senhor também. Quer dizer, na realidade, o senhor fez uma intervenção. O senhor foi contratado para fazer essa mediação entre o Joesley, que devia essa fortuna ao Grupo Bertin, que era o pagamento do valor real, vamos dizer assim, mas nem o valor real ele pagou. Aí o senhor participou direto, então, desse entendimento?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu participei do entendimento, que era a distribuição desse dinheiro que estaria parado em algum lugar, que eu não sei onde é, e que os Bertin tinham direito a uma parte desse valor, porque, quando houve o sobrepreço na venda lá atrás, foi acertado que um percentual do sobrepreço era dos Bertin e um percentual do sobrepreço era do Joesley, só que o Joesley nunca pagava, empurrava, e foi levando eles à situação de insolvência, até que eles chegaram ao limite de ter que judicializar a causa. Aí, quando judicializaram, eu fui chamado para tentar pôr panos quentes, e eu acabei conseguindo pôr panos quentes, que foi quando começou aquela história que tinha assinatura falsa em contrato, que o Natalino alegou que a assinatura não era dele. E aí começou a briga na Justiça. Durante uma dessas reuniões que eu tive, até na JBS, estava eu e o financeiro da Bertin, que se chama Wendel Caleffi, e eu lembro muito bem do Joesley falar, assim na minha frente, que, se os Bertin não aceitassem e continuassem provocando ele, ele seria obrigado a tomar medidas mais radicais — como se fosse uma ameaça velada, entendeu?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Como se fosse uma ameaça de morte?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não sei se é de morte. Eu também não sei a vida pregressa do Joesley. Eu conheci o Joesley em 2011. Eu não sei como foi a vida dele em Formosa; eu não sei como foi a vida do pai dele, depois, quando veio aqui para Brasília. Eu não sei... Quando eu conheci ele, ele já era um grande empresário, não era...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Sr. Lúcio, eu fico ouvindo assim o senhor fazer esse comentário sobre essas questões e me lembro muito do sentimento do Mário Celso Lopes. Quem lê as memórias do Mário Celso Lopes, como eu li, vê um sentimento assim de uma traição da relação, uma traição da amizade, que está acima até de uma relação comercial. Foi isso que o Joesley, nas memórias do Mário Celso Lopes... que o Mário Celso Lopes coloca. Há uma situação que eu gostaria que ficasse bem clara aqui. Eu não sei se o senhor tem conhecimento sobre esse fato. Quer dizer, o senhor já falou aqui sobre a ilicitude dessa operação. Ontem, a gente teve aqui o Presidente do BNDES, e eu pedi a ele que me desse o parecer dele sobre esse assunto, porque, na minha opinião, a maior caixa-preta individual em tamanho de volume financeiro é essa operação. Mas o Sr. Mário Celso Lopes, ele... O senhor sabe que foi ele que montou o processo da Florestal, que depois virou Eldorado Celulose.
Naquele momento, ele tinha 50% e o Joesley tinha 50%. Quando o Joesley conseguiu o financiamento do BNDES, que era uma espécie de ativo pessoal do Joesley, o Joesley chamou ele do dia para a noite e disse: "Olha, nós temos uma empresa que tem um capital de 300 milhões de reais, mas agora eu estou trazendo mais 2 bilhões e 700. Então, como eu estou integralizando 2 bilhões e 700...", como se a parte do BNDES fosse do próprio Joesley. E ele virou para o Mário Celso Lopes, depois de 20 anos de relação e de amizade, e disse: "Então, a partir de agora, você tem direito a ter 5% da empresa, e eu vou ficar com 95% da empresa". Então, ele quis tomar 45% da empresa. Daí talvez tenha sido a maior rusga na relação dos dois. Por que eu estou dizendo isso? Porque me parece que uma outra fraude na origem — e aí eu gostaria de saber do senhor como funcionava esse caixa, de que eles tratavam — era a de quando surgiu a Eldorado Celulose. A Eldorado já devia 450 milhões de reais à J&F, e os recursos da J&F eram provenientes do sobrepreço dessas operações fraudulentas. Como é que eles lidavam com o caixa da empresa? Era como se fosse uma coisa só? O que o senhor tem a me dizer sobre isso, o senhor que era bastante próximo a eles?
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ele lidava com o caixa de todas as empresas, JBS, Eldorado, Vigor, Flora, como se fosse um caixa único à disposição dele. Ou seja, o dinheiro do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, ele encarava como se fosse um dinheiro próprio dele. O Mário Celso foi realmente muito prejudicado, foi uma pessoa que fez várias operações de venda e compra de ativos para o Joesley, proporcionou, pelo histórico que eu sei, um lucro fenomenal para ele. E o Joesley se apropriou de um capital do BNDES como se fosse dele e ele estivesse subscrevendo as ações com um capital próprio, quando o capital não é dele, o capital é do BNDES. O certo a fazer seria pôr o capital na empresa, e os dois sócios assumiriam a dívida de 2 bilhões e 700. E, com o projeto que eles tinham, que eu também ajudei a financiar, era um projeto extremamente viável, extremamente lucrativo, a celulose estava num dos patamares mais baixos em que já esteve na história. Então, o Mário Celso se sentiu traído, e com toda a razão. Se eu fosse ele, também tinha me sentido. Após isso, o Mário Celso tentou tocar um projeto de fazer uma fábrica de papel sozinho em Mato Grosso do Sul, e o Joesley tentou, de todas as maneiras possíveis e impossíveis, impedir que essa empresa se instalasse, inclusive usando toda a influência política que ele tinha naquela época.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Depois de todos esses ilícitos, a gente vê as declarações e delações, digamos, do grupo JBS, da família. E nós da CPI não conseguimos trazer ninguém aqui a esta CPI que fizesse parte disso, porque sempre recorrem a decisões, e o Supremo Tribunal Federal tem dado decisões no sentido de que eles não tivessem que vir aqui. Então, por tudo pelo que o senhor passou, por toda a vivência do senhor, onde está o ilícito? Ilícito, não, porque o ilícito está claro. A palavra não é "ilícito". Onde o Joesley mentiu nas suas delações premiadas? O senhor tem conhecimento do acordo de leniência que eles fizeram?
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não tenho ciência do acordo de leniência que ele fez, e, ao que me consta, está suspenso. Não tenho acesso à íntegra da delação dele, porque ele teve que fazer recall da delação dele por ter mentido e omitido fatos, como ficou claro para todo mundo, e gravado, né? Não é que ficou claro, foi gravado, né, o que é muito mais grave. E ele tem ali como principais executivos ele, o irmão, o Francisco de Assis, o José Carlos Grubisich, que foram os que formularam todas essas operações aí, que vocês estão vendo hoje, que são várias empresas compradas, várias empresas vendidas com lucro, e sem dar nenhuma satisfação a quem emprestou o dinheiro a juro subsidiado.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O Francisco de Assis era o que do Joesley? Que papel ele exercia ao lado do Joesley?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - E o trabalho dele, de que o senhor tenha conhecimento, era absolutamente exclusivo desse grupo?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Segundo o Sr. Mário Celso Lopes, ele era absolutamente um operador jurídico das determinações do Joesley. E ele conseguiu também uma liminar, usando a prerrogativa de advogado, para não abrir o sigilo do seu telefone, que está preso lá na Operação Bullish. Ele conseguiu isso. Um absurdo, né? Quer dizer, quem não deve não teme. E, mais uma vez, apesar de o Francisco ter vindo aqui — acho que não deu tempo de eles trabalharem, ou não conseguiram a liminar que pediram para ele não vir aqui —, ele não respondeu nada, mas o seu telefone ficou preso na Operação Bullish. O senhor, que se relacionava com ele, sabe com quem ele tinha relacionamento? Ele tinha tanto medo de aparecer o telefone dele! Já que ele só cuidava dos assuntos do Joesley, por que ele tem pânico desse telefone?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Deputado, eu não vou declinar nomes, porque eu não quero citar nomes que depois eu não possa provar. Mas ele tinha um relacionamento jurídico e uma agenda jurídica intensa em todos os Estados onde a JBS, ou empresas ligadas à J&F tinham negócios. Eu acho um absurdo essa liminar, porque, em primeiro lugar, eu acho que ele ali não está sendo advogado, ele é funcionário da JBS. Advogado é aquele que tem um escritório e presta serviço à JBS. Ele, não. Ele é funcionário da JBS registrado. A partir do momento em que ele é funcionário da JBS, eu acho que, em meu entendimento jurídico, que é bem pouco, o tribunal deveria abrir, porque, se só se fala de assuntos da JBS, está no escopo do que é o emprego dele, não na função dele como advogado, que estaria advogando para terceiros, quartos, quintos, sextos. Então, essa é a minha opinião.
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - É a nossa convicção também. Obviamente, são essas relações que eles estão escondendo mais uma vez. Eu fico impressionado: o Brasil, tendo passado pelo que está passando, esse pessoal está vivendo — está entendendo? — uma vida completamente normal depois de todos esses crimes cometidos. É nisso que estamos trabalhando aqui para apontar nesta CPI. Queria que o senhor falasse: quando a JBS abriu o capital, qual banco deu suporte à JBS? Como foi construída essa abertura de capital?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Qual era o nome dela?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Patrícia Moraes, inclusive ela teve de se desligar do banco por motivos de compliance. São as informações que eu sei não do Brasil, mas do exterior; ou seja, o problema não é só aqui, ele tem problema aqui, tem problema no exterior, ele tem problema praticamente no mundo inteiro. Infelizmente... Felizmente, né, o golpe dele não deu certo, que era fazer o acordo aqui, ir embora para os Estados Unidos, fazer um acordo nos Estados Unidos, mudar para fora, e aí só Deus sabe o que ele ia fazer.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Quando ele conseguiu os recursos do FI-FGTS, existem nesses financiamentos uma obrigatoriedade da aplicação em infraestrutura ou em saneamento e tal, enfim, existem obrigações quando esses recursos do FI-FGTS são liberados. Ele cumpria essas obrigações ou o mando dele era tão grande que ele fazia o que quisesse com o dinheiro sem cumprir obrigação, sem nada? Como é que era isso?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ele tinha um certo poder, mas não era esse poder onipresente, tanto que não era onipresente que ele precisou do meu auxílio para conseguir esses recursos na Caixa. Ele pleiteou recursos da ordem de 1 bilhão e 800, foram liberados 940 milhões, porque os outros 860 não foram liberados porque eram para a área de energia. O FI-FGTS, naquela época, já tinha a parte de seus recursos alocados em energia totalmente tomados, e mesmo assim ele tentou forçar de todas as maneiras, queria que eu impusesse isso dentro da Caixa, dentro do comitê, e eu me neguei e falei que eu não ia fazer. As garantias que ele deu são garantias que foram suficientes, o empréstimo foi pago, acho que até antecipado, através de uma venda que ele fez de 49% da empresa para uma empresa estrangeira que se chama Paper Excellence. Ele recebeu os recursos da Paper Excellence e depois não entregou as ações que ele tinha que entregar, que era a outra metade da empresa, ou seja, ele é mágico.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Então me fale sobre essa operação, do que o senhor tem conhecimento sobre essa operação especificamente?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Essa operação foi feita com um grupo que tem negócios de papel, minas de carvão, tecnologia, banco, várias empresas de papéis espalhadas pelos mais diversos lugares do mundo.
É uma empresa hoje robusta, apesar de ter passado por uma crise financeira no ano de 2002, quando ela emitiu bonds durante a crise da Ásia, e, naquela época, o Joesley, ninguém queria comprar nenhuma participação dele em nenhum lugar. Ele estava com dificuldade de caixa, precisava se desfazer da participação, e ele se desfez dessa maneira, vendendo 49 e deixando a opção para o cara exercer depois de 1 ano ou 2 anos, eu não vi o contrato. Quando a pessoa foi exercer, ele falou para o cara que o cara não tinha o direito de exercer e que queria um over price, porque a celulose tinha subido, mandou o sobrinho dele, que é o Presidente da empresa, o Agnaldo, ir até lá negociar com Jackson Wijaya, e tentou extorquir o cara e o cara não aceitou ser extorquido, porque é um player grande que está acostumado com briga, e eu acho que ele vai brigar até o final pelos direitos dele, os quais eu acho que são legítimos. Eu não tenho noção de toda a demanda jurídica, não conheço os advogados da causa, mas eu acho que os pleitos são legítimos porque ninguém paga 49,9 para uma empresa que está sendo acusada de pagar propina, os donos quase presos, cheia de problema. Ninguém vai desembolsar a quantidade de 5 bilhões de reais para brincadeira. Ele veio com vontade de investir e tomou um passa-moleque do Joesley. Foi isso o que aconteceu. Esse é o termo mais... Apesar de não ser o termo mais elaborado para falar, é o termo de conhecimento comum que fica mais fácil para vocês compreenderem. Tomou um passa-moleque do Joesley, daí o Joesley manda para o Judiciário. A gente está acostumado com o Judiciário brasileiro, que é um Judiciário lento. Não que seja ruim. Eu estou só afirmando que o Judiciário tem vários recursos, o que pode ser útil na defesa, ou pode ser útil para alguém que precise conservar os seus direitos. Então, ele aproveitou que o dinheiro entrou no caixa, e, depois que o dinheiro entrou no caixa, ele pegou e deu bye-bye para o cara. Então, a gente tem um ditado no mercado financeiro: cash is king, ou seja, dinheiro é rei. Depois que ele se viu de posse do dinheiro, ele falou: "Agora eu não preciso mais de você para nada".
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15:14
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Esse modus operandi...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Só um minuto, o que é muito ruim para o Brasil em termos de trazer novos investidores internacionais, porque traz uma insegurança jurídica para quem faz negócio no País. São negócios de porte. Não é uma empresa pequena. Essa Paper Excellence, a fortuna do patriarca da família, que morreu em janeiro, é da ordem de tipo 8 bilhões de dólares, então é um cara muito rico. Então, isso aí traz um prejuízo inestimável para o País. Se o senhor perguntar para qualquer player do mercado financeiro, vai falar para o senhor que isso aí... Realmente, além do prejuízo que ele causou, tomando dinheiro a juro negativo, ele traz mais um prejuízo para a imagem do País no exterior, né?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Nessa investigação que estamos fazendo aqui na CPI, eu tenho me deparado com diversas atuações do Joesley que são atuações com o mesmo modus operandi. Por exemplo, os litígios que ele teve com o senhor, os litígios que ele teve com Mário Celso Lopes, os litígios que ele teve com o Sr. Luigi, um italiano, em uma compra de uma empresa. O senhor teve conhecimento disso?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Tenho. Essa foi uma história boa. Quando ele comprou o Frigorífico Bertin, o Frigorífico Bertin tinha uma parceria com o Frigorífico de Modena, que o dono era o Seu Luigi.
Após ele adquirir as ações do Frigorífico Bertin, ele pegou o seu jato privado, se dirigiu à Modena e chegou para o Seu Luigi e falou: "Está acontecendo isso, isso e isso". Pediu a interferência do Governo frente à embaixada, frente ao Governo italiano. Ele mesmo falou isso aí da própria boca dele, e se dirigiu de novo à Itália. Quando chegou na Itália, o Seu Luigi mandou dar um recado para ele: "É bom, rapaz, você não vir mais aqui, porque, da próxima vez, você vai voltar num caixão aí dentro do navio". Daí ele se retirou.
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Esse modus operandi, agora acontecendo nesse litígio atual, é uma espécie de não cumprimento. E aconteceu com o Bertin também, né? Mas esse acontecido com Bertin, aí é que está: na delação do Joesley, eu não vi ele assumir o sobrepreço que foi colocado junto ao BNDES.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não vi ele falar na delação dele inteira, até a parte que eu consegui ler até hoje, um crime que o Natalino Bertin cometeu ou um crime que a família Bertin cometeu, ou seja, ele poupou a família Bertin, assim como ele poupou um primo dele, que se chama Fernando Mendonça, que é do Mato Grosso, que era o operador dele no Mato Grosso, no caso de ICMS. Então, ele foi omitindo, omitindo, omitindo, e depois, agora, depois que ele teve esse problema perante a PGR e os órgãos de fiscalização, não sei se ele resolveu contar a verdade, se ele continua tentando manipular. Mas eu acho que hoje as autoridades brasileiras estão muito preparadas para encararem esse tipo de pessoas que não estão dispostas a fazerem uma delação por completo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Esse é um dos pontos mais importantes desta CPI, quer dizer, eu penso que não só a JBS, mas, assim como a Odebrecht e outras empresas fizeram, elas andam no limite da lei: usam os recursos, usam, obviamente — cada um no seu papel, não estou aqui, em hipótese alguma; pelo contrário, são advogados reconhecidamente competentes no uso da sua atribuição a favor dos seus clientes —, mas usam no limite da lei. Eu, sinceramente, Sr. Lúcio, eu peço muito a ajuda do senhor. Se por acaso nós não perguntarmos aqui ao senhor, se o senhor puder colaborar com esta CPI — está entendendo? — e nos enviar, enfim... É difícil, num tempo curto, conseguirmos construir toda essa história. Temos tentado. Mas, se faltar alguma coisa, eu peço ao senhor. Sabe por quê? Porque temos de fazer valer, de uma vez por todas, essa investigação sobre, talvez, o maior crime cometido financeiramente por um empresário no Brasil numa instituição financeira, que foi a relação não só... Eu digo do Joesley, da JBS, porque aconteceu em uma operação o maior crime, que, na minha opinião, foi a operação de fusão da Bertin. Eu gostaria que o senhor me falasse de três pessoas: Sr. José Carlos Grubisich, Antônio Barreto e Denilton. O que o senhor tem para me falar dessas pessoas?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Onde está o Denilton? Qual o paradeiro dele?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Da última vez que eu soube, quando a coisa começou a apertar, ele mandou o Denilton para a Austrália, para algum lugar fora do País. Não vi mais. O Sr. José Carlos Grubisich foi um executivo recrutado pelo Joesley, que ele também gosta de roubar executivo das outras empresas.
E ele roubou o executivo do Marcelo Odebrecht, que ele cuidava da área agroflorestal do Marcelo Odebrecht, e foi encarregado de tocar a Eldorado. É um executivo muito competente e estava ciente do que acontecia lá dentro, em termos de propina e negócios ilegais. Ele também foi Presidente da Braskem.
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15:22
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Ele foi Presidente da Braskem?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Foi. Já o Antônio Carlos Barreto é um menino novo, inteligente, com uma boa formação acadêmica, que foi trabalhar no Joesley e era o financeiro dele, o tesoureiro dele, para as operações dele assim mais heterodoxas. Quando eu digo mais heterodoxas, são aquelas operações que são menos lícitas.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Quais operações? Me conte um pouquinho sobre isso.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Insider trading, pagamento de propina através da emissão de nota fiscal, porque aí, no final, quando você emite uma nota fiscal para ele, ele paga propina por essa nota fiscal, ele está dividindo a propina com todos os acionistas da empresa, está sonegando imposto. Até hoje eu não vi a Receita Federal emitir nenhum auto de infração contra a JBS. Tudo isso aí precisa ser apurado, levantar qual é a quantidade de notas fiscais e os valores emitidos de notas fiscais frias. Ele não declarou? "Está bom, você emitiu essas notas fiscais e lançou no balanço da empresa, não lançou? Lançou. Você lançou em qual coluna? Despesa. Está bom". Quando você lança na coluna de despesa de uma empresa de capital aberto; despesa, o que acontece? Diminui o lucro, ou seja, diminuem os dividendos que serão distribuídos aos acionistas. Ou seja, ele dividia a propina que ele pagava para os outros com dinheiro do BNDES, dinheiro meu, dinheiro seu, dinheiro de todo o povo brasileiro, porque o dinheiro não era 100% dele. A JBS não é uma empresa 100% dele. A JBS é uma empresa que ele tem apenas 50,1%, e desses 50,1% ainda tinha um percentual que era do Bertin, até fazer o acordo e o Bertin se desfazer de tudo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Quem era a relação dele mais forte no Governo, que dava a ele as informações, quando o senhor citou aqui a questão do Antônio Barreto em relação às informações privilegiadas no mercado financeiro?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu estive em algumas festas na casa dele, estive com o Ministro Guido Mantega, estive com o Ministro Palocci, outras várias autoridades, agora, quem vazou eu não sei. Ele nunca me falou quem é que vazava esse tipo de informação para ele, mas era óbvio que vazava, é só você pegar o índice de acerto dele no índice, no dólar, no DI. E uma pessoa que não tem essa formação de mercado financeiro, não tem a formação de operador, que, na verdade, nem formação acadêmica tem, se eu não estou enganado, acho que ele nem fez... concluiu o segundo grau. Eu, com quase 30 anos de experiência no mercado financeiro, não conheço ninguém que tenha conseguido fazer isso. Eu sou amigo pessoal do Naji Nahas, que foi um dos maiores investidores do Brasil, não conseguiu; Samir Jubran não conseguiu, e aqui eu posso citar para o senhor 10 horas de exemplos que não conseguiram. Aí eu não entendo como é que o Joesley conseguia esse índice de acerto, entendeu?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Presidente, eu tenho outras perguntas aqui, mas eu vou passar para os companheiros.
Depois eu volto às considerações sobre outros temas. Obrigado.
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15:26
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O.k.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Boa tarde a todos. Boa tarde, Sr. Lúcio. Que Deus nos abençoe, abençoe todos e esta CPI, que tem uma responsabilidade muito grande de propor uma nova mudança no Brasil, para que realmente tenhamos um Brasil mais transparente e principalmente um Brasil mais próspero para a população de um modo geral. Eu fiz o requerimento ao senhor, eu ouvi algumas delações do senhor e procurei conhecer um pouco da vida do senhor, mas, pelo que nós vemos, nós não conseguimos encontrar muito a vida pessoal do senhor, no sentido de saber de onde o senhor veio, como se formou. Então, a primeira pergunta que eu faço é: como foi a sua carreira até começar a chegar ao meio político?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu sou de uma família de imigrantes italianos. O meu bisavô Domingos Funaro veio da Calábria. O meu bisavô Antônio Bolonha veio de Bolonha, na Itália. Meu pai é médico. Minha mãe é dona de casa. Eu cursei o primário numa escola de elite de São Paulo; cursei o colegial, que hoje tem outro nome, numa escola boa em São Paulo; me formei em economia pela Universidade Paulista. Depois de formado, eu trabalhei em diversas corretoras, dentre as quais, só para lembrar algumas, eu vou citar a Umuarama, Novinvest. Eu tinha uma factoring de minha propriedade singular. Eu cheguei a ser investidor de um dos maiores projetos de energia de grande vulto no ano de 2008. Eu tenho investimentos na área de mineração, minha família tem. Nós temos investimento na área de gado, que inclusive hoje nós estamos proibidos de vender gado para a JBS, porque o compliance dela é muito rigoroso. Eu queria saber se o rigor também existe com os próprios acionistas da empresa. Já deixei uma notificação aqui, que eu enviei ao jurídico da empresa, aqui para o Presidente. E, a partir de 2003, que eu passei a ter um relacionamento político mais extenso.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor pode continuar falando de 2003?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - O primeiro relacionamento político que eu tive foi com o ex-Deputado Valdemar Costa Neto. Ele me foi apresentado pelo ex-dono do banco PCN, o Sr. Henrique Borenstein, que era sócio do Pedro Conde. Depois, eu vim a conhecer o Deputado Eduardo Cunha, apresentado por ele pelo Deputado Estadual Albano Reis. E, a partir daí, eu fui tendo um relacionamento político cada vez maior e me relacionando cada vez maior com o meio político.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sr. Lúcio Funaro, pelo pouco que eu conheci do senhor, o senhor é um jovem. Quantos anos o senhor tem?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Então eu sou mais velha que o senhor. E inteligentíssimo, inteligentíssimo.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Inteligentíssimo.
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15:30
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Porque o Joesley conseguiu inventar uma história e colocar minha irmã no meio de uma confusão. Ela não tinha nada a ver com essa confusão. Eu tinha um saldo credor na conta corrente com ele. Ou seja, eu tinha valores a receber com ele, lícitos e ilícitos — quero deixar bem claro isso: lícitos e ilícitos —, e ela recebia um valor mensal, para mim, durante 3 ou 4 meses, e ele solicitava que esse valor fosse pego na JBS com o Francisco. E eu queria emitir nota, e ele falava que não queria que eu emitisse nota por problema de compliance, problema não sei do quê, problema não sei do quê, e entregava em dinheiro em espécie. E eu, infelizmente, não escutei um conselho de um colega que estava preso comigo na Papuda, o ex-Senador Luiz Estevão, que falou: "Lúcio, vou te falar uma coisa e você pode anotar: esse Joesley vai te trair". E eu falei: "eu não acredito". E acabou acontecendo.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ele acusou a sua irmã do quê?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ele acusou a minha irmã de fazer parte de uma organização criminosa, que ela nem sabe que existe, porque eu tinha um contrato com ele, eu tinha executado um contrato; tinha outro contrato que o Pedro, que é meu advogado aqui também, tinha executado. Então, eu tinha valores aproximados, na data de hoje, de uns 80 milhões de reais para receber dele, mais 3% de dinheiro ilícito do empréstimo referente à Alpargatas. Isso aí vai dar mais 90 milhões de reais. Então, eu tinha esse saldo credor e eu queria receber. Ele não queria me pagar através de nota, e eu precisava receber, eu estava preso com despesa de advogado, tudo, e ele falou: "Olha, então eu vou te entregar em espécie". E eu aceitei, fui ingênuo. Eu não devia ter aceitado isso aí. Eu devia ter falado para ele: "é o seguinte: ou você me paga desse jeito, ou então nós vamos romper, não tem jeito de ficar isso". Mas ele foi me levando em banho-maria, eu tinha uma filha de 6 meses, minha filha fez 1 ano, ele mandou a mulher dele na minha casa, fazer uma festa de 1 ano para a minha filha. Aí a mulher dele levou a cunhada, irmão, passarinho, periquito, todo mundo. Então, ele foi me levando nesse banho-maria. Quando encontrava a minha esposa, em alguma reunião da família dele, perguntava como é que eu estava, se eu estava bem, não sei o quê. Ele é um sujeito muito sestroso, entendeu? Um sujeito difícil de você identificar o que está passando na cabeça dele. Ele é muito frio. É uma pessoa que, na minha opinião, não tem nenhum tipo de escrúpulo. Apesar de ele falar que a gangue sou eu, Eduardo Cunha, Geddel, nós somos todos aprendizes dele. Nós somos aprendizes. Ele pode dar aula para a gente. Então, foi isso que aconteceu. Mediante haver uma pessoa que não tem culpa ser presa, só me resta — eu, como homem, após estar quase 1 ano e 3 meses preso — fazer a delação, porque a minha irmã não tem que ficar presa nem meia hora. Ela ficou 3 dias, mas não era para ficar nem meia hora. Quem devia estar na cadeia era a irmã dele, que tirou dividendo da empresa, e não a minha irmã ou a mãe dele, ou o pai dele. Como pode uma empresa JBS fazer propaganda enaltecendo o pai dele? "Vai, Zé; vai, Zé; vai, Zé!" Eu não entendo. É dinheiro público. Tem que ser JBS. Tem que ser assim a propaganda. Eu não entendo. Eu não entendo como é que foi passando essa série de coisas, foi passando, passando, passando, e ficou assim.
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15:34
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A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor trouxe uma informação bem importante em relação a essas notas frias que eram utilizadas para colocar no balanço para desconto patrimonial. Quer dizer, nós emprestávamos o dinheiro para propina, vamos dizer, pegava o dinheiro, e ainda se colocava essa nota, e ainda descontava. Então, isso é uma coisa que realmente tem que estar nos nossos autos aqui, para que nós possamos fazer essa investigação. Só esse motivo faz com que essa delação já se torne realmente, totalmente, inadequada. Mas eu estou querendo fazer mais algo. Eu vou aproveitar um pouco da inteligência do senhor para o senhor me ensinar, mostrar aqui para mim e para todos a questão das debêntures. O senhor, numa das delações, falou a respeito da venda das debêntures. Por que se mudou? Num primeiro momento, o BNDES fazia o empréstimo, e se mudou para BNDESPAR. O senhor acompanhou esse processo de mudança?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Não, mas aí o senhor falou uma coisa que eu achei muito interessante numa das delações do senhor. O senhor falou o seguinte: "É muito melhor..." O senhor pode falar com maior propriedade do que eu: debênture, tem dois tipos de debêntures, a eco e a outra debênture...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E quando você transforma, você coloca o valor da empresa muito maior, e acaba que o acionista que compra se torna muito menor. É isso? Como é isso?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas ele vendia a debênture? Porque há uma fala na sua delação que o senhor fala exatamente isto "É muito melhor que ele venda, porque ele vai receber muito mais, e os acionistas, vamos supor, o BNDES vai tomar um prejuízo."
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - É porque nem sempre o valor de mercado da empresa é igual ao valor que está precificado na debênture para o exercício, entendeu? Então, como o preço, várias vezes, fixado para o exercício da debênture é mais alto do que o valor mercado da cotação da bolsa da empresa, isso aí traz prejuízo para o BNDES. É como se acontecesse assim: eu posso comprar hoje ação da JBS a 20 reais, e o BNDES vai lá e exerce uma opção de ações que está vencendo hoje de debêntures a 27 reais. Ou seja, tem 7 reais aí de spread a mais do que se o BNDES fosse comprar no mercado.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Exatamente isso.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Deixe-me fazer uma pergunta: Nós olhamos, e a JBS foi comprada com um valor acima do mercado da época, um prejuízo de 150 milhões de ações. Em relação ao BNDES, ficou a menos; ela foi comprada com 46 centavos a mais, 50 e poucos centavos a mais. No caso da Marfrig, é um absurdo: 11 reais a mais! O que eu percebo — com todo o respeito para falar, eu estou entrando na política agora — é que, em todos os lugares onde nós vimos esses atos ilícitos que eram feitos, existia uma coisa muito de confiança.
Então, no caso do senhor, o senhor preferia deixar sua conta junto com Joesley, porque, às vezes, o senhor não tinha onde colocar, e o senhor teria que pagar imposto. No caso, por exemplo, do Fábio Cleto, o senhor colocava todos os valores recebidos dentro de uma conta do senhor e aí ia debitando. Quer dizer, existia uma questão de muita confiança entre as pessoas que estavam cometendo aqueles atos ilícitos. É essa a pergunta. Aí, as pessoas começam a se conhecer, saber o que um está fazendo, o que o outro está fazendo. Como era essa questão? Era falado por que fizeram isso? Porque uma das coisas que o Sr. Mário Celso deixou aqui claro para nós é que o Joesley dizia que ele tinha um capital político atrás dele. Foi até usada essa palavra, e ele gostava de mostrar esse capital político. O senhor sabe que o senhor também tinha um grupo político. Então, como era em relação a essa negociação do senhor? Ele abria as portas do BNDES? Como era a questão do Luciano Coutinho, do Guido Mantega, como era isso?
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15:38
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu nunca presenciei o Luciano Coutinho com o Joesley; o Guido Mantega, já presenciei. Agora, o que eu posso afirmar para a senhora é que ele tinha realmente algum respaldo político. Talvez ele não tivesse toda a força política que ele achava que tinha, tanto é assim que ele precisou recorrer a mim. Então, se a força política dele fosse tão grande, ele não precisaria de mim para nada, ele passava em cima de mim que nem um trator. Mas não era tão grande quanto ele imaginava ser. E todos vocês aqui são políticos e sabem, mais do que ninguém, que esta Casa prova para todo mundo que política só se faz dividindo, dividindo em todos os aspectos; dividindo nas decisões, dividindo nas atitudes, dividindo nas reações. Hoje a gente vê o País aí numa situação de uma disputa entre os Poderes, mas que está normalizada, o que eu acho que é até saudável para que os Poderes definam realmente que o Judiciário vai atuar aqui, o Executivo aqui e o Legislativo ali. Agora, ele realmente, ele peitava. Ele peitava. Ele chegou a me ameaçar uma vez, porque eu não queria liberar um negócio para ele no Ministério da Agricultura, e ele falou para mim que eu não sabia com quem eu estava mexendo. E eu falei para ele que eu não estava nem aí para ele. E, no final, foi aquela história que ele narrou na delação dele, que ele e o ex-Deputado Eduardo Cunha quase se estapearam dentro do gabinete do ex-Ministro da Agricultura Antônio Andrade.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Como o senhor o conheceu? O senhor falou que ele foi procurar o senhor. Parece-me que o senhor o conheceu em 2011?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Conheci ele em 2011. Ele tem uma sobrinha que é casada com um rapaz que é filho de uma pessoa que se chama Paulo Formigoni. O Paulo Formigoni era o corretor dos Bertin, e o Mário Celso era o corretor do Joesley. Corretor é um modo mais simplório de dizer, porque eram grandes negócios que eram efetuados. Eu já tinha feito um outro negócio com o grupo Bertin, dentro do âmbito do FGTS, e ele, ao saber disso, pediu para o Paulo me levar até a sede da empresa.
E aí eu fui lá e conheci ele. Ele fez 300 perguntas para mim. E aí, no final, ele queria saber se eu tinha o poder político ou não que eu dizia ter. Falou: "Então, tá bom, eu quero jantar na sexta-feira com esse Vice-Presidente da Caixa". Eu falei: "Tá bom, você vai na minha casa, a gente janta lá". Foi isso.
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15:42
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A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Quando o senhor fala sobre isso, o senhor fala que o senhor conseguiu liberar 2 bilhões para o Bertin do FI- FGTS. Não é isso que o senhor fez?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não, eu liberei aproximadamente, um pouco mais de 2 bilhões de reais para o Bertin, de uma linha do BNDES, repassada através da Caixa, para o financiamento do rodoanel de uma SPE que eles têm, que chama SPMar. Liberei para eles do FI-FGTS um valor próximo a... Eu não me recordo muito bem, isso aí já faz quase 10 anos, mas acho que foi aproximadamente, na época, de 400 milhões de reais, que foi para o financiamento de uma outra empresa de infraestrutura que eles tinham na época, que chamava Cibe.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ontem, eu até questionei isso ao Presidente do BNDES, porque, na mesma época — é isso que eu quero entender —, foram liberados 2 bilhões pela Caixa Econômica Federal. Ao mesmo tempo, o BNDES também abriu mais 2 bilhões para esse Grupo Bertin. Então, o que é que acontece? Na mesma época, parece-me que, dessa operação, o Bertin pagou 64 milhões para o grupo político do senhor, não é isso? Essa operação como é que foi?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - É, eles tinham mais 2 bilhões. E aí o que é que aconteceu? E ainda o BNDES liberou em duas parcelas. Eu quero entender, assim, da inteligência do senhor, o senhor conhecia, vamos dizer assim, os bastidores. Todo mundo liberava. Na realidade, como é isso, o poder político disso tudo? O Luciano Coutinho tinha total consciência disso? O Ministério do Planejamento... Porque uma das coisas que foi falada aqui é que o ex-Ministro Antonio Palocci era muito amigo pessoal dele. Então, foi liberado para esse Grupo Bertin 4 bilhões, na mesma época. E, na sequência, o BNDES faz essa união da JBS, por 12 bilhões de reais, que nós sabemos aqui, porque o Relator trouxe esse contrato de gaveta. Foi um contrato de 750 mil. Mas nós já estivemos lá no Sr. Natalino, só se pagaram 350 milhões. E, também na delação do senhor, diz que o senhor foi o advogado das duas partes. Então, o senhor conhece realmente por dentro essa situação toda. Então, é isso que nós estamos querendo colocar para o senhor ter essa oportunidade de nós, juntos, quebrarmos essa delação premiada desse senhor e fazermos com que ele pague verdadeiramente pelas ações dele. É isso que eu estou pedindo para o senhor trazer aqui.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Na verdade, não é que eu fui advogado das duas partes, eu fui o advisor das duas partes, porque eu era o único que tinha capacidade de segurar o Joesley e o Bertin, porque eu podia segurar o crédito do Joesley e segurar o crédito do Bertin. Então é o seguinte: "Ou vocês se acertam, ou não sai para ninguém. Vocês vão ficar os dois sem dinheiro".
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sim, mas isso é muito simplório para falar na Justiça para quebrar uma delação. Eu estou querendo saber o que realmente aconteceu.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - O que aconteceu foi que o Bertin estava numa situação extremamente delicada, financeira, e que ele viu que ia chegar ou a pedir recuperação judicial, que depois ocorreu, ou a ter algum problema mais sério.
Ele queria colocar em operações as usinas hidrelétricas e termelétricas que ele tinha comprado em leilões da ANEEL, não tinha capital para isso; o Joesley não pagava os valores devidos do sobrepreço do BNDES para o Bertin; o Bertin queria receber e me falou. E eu falei: "Eu vou resolver". E chamei todo mundo e pus na mesa. Aí, depois que foi feito o acordo, eu não participei da segunda etapa. Da etapa de formalização eu não participei. Eles juntaram os advogados de uma parte e de outra parte. Eu não sou advogado, apesar de ter algum conhecimento jurídico; eu não acompanhei esse processo depois de ter sido fechado na mesa do meu escritório o acordo deles, não acompanhei.
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15:46
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A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sr. Lúcio...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ele admitiu na PGR que o acordo foi feito por mim. Mas ele admitiu de maneira diferente, disse que eu extorqui, disse que eu incentivei o Grupo Bertin a entrar com uma ação contra ele. Eu não tenho um poder desse aí sobre um empresário que tem um capital de 10 bilhões de reais. Vocês têm que convir. Todos vocês aqui são excelências, eu não tenho esse poder. Agora, o que aconteceu é que ele quis dar um squeeze no Grupo Bertin até quebrar os Bertin. Ele tinha um sonho de rachar os Bertin no meio, tanto que existe uma mágoa muito grande do Grupo Bertin com ele. E... Ou tinha, não sei como é ficou agora. E, da minha parte, eu levei até a parte: "Olha, está fechado a acordo? Está fechado?" "Está". Então, agora vocês se resolvam. Eu tenho o meu valor para receber aí, que é 3% do valor da fusão. E ele queria e falou: "Não, você tem que fazer de graça". Eu falei: "Não, se eu te pedir dinheiro emprestado no seu banco, você vai emprestar de graça para mim?" Ele falou: "Não". Então, aí ficou essa discussão. Eu falei: "Tenho o contrato assinado e eu vou pôr no pau — desculpe o termo —, na Justiça".
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sr. Lúcio, mas aí vamos lá. Para uma situação dessa que o senhor está falando aqui que "nós estávamos com uma empresa totalmente endividada", como é que é liberado isso? É isso que eu estou querendo entender. Quais são os atos ilícitos que estão envolvidos e quais os agentes públicos?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas o senhor participou de uma parte, de 2 bilhões.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas o Grupo Bertin não fazia negociação com o nome Bertin. Não é isso?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ele colocou também em nome de outras empresas dele.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ele tem outras, Tito Holding; não sei o quê; Buriti, que é uma PCH; Três de Maio, outra PCH. Ele tinha várias linhas lá. Eles têm várias empresas. Essa parte eu não participei. Eu participei da parte da liberação do dinheiro provindo do BNDES, liberado pela Caixa Econômica Federal, para a concessionária SPMAR, que é responsável por dois trechos do Rodoanel de São Paulo. O Deputado Vanderlei Macris deve saber até melhor do que eu, porque deve ter ido nas inaugurações, porque eram obras de grande porte no Estado de São Paulo, importantes até para o setor viário de São Paulo. Essa parte de quando o Bertin pegou o financiamento dentro do BNDES pro frigorífico eu não conheço, eu não participei dessa parte.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu estou com... Nós temos algum tempo restrito. Eu vou fazer algumas perguntas em sequência. Se o senhor pudesse, por gentileza, anotar, eu vou fazê-las na sequência, para dar tempo de eu utilizar o meu tempo da melhor forma possível. A primeira coisa é: o senhor conhece o Sr. Gilberto de Souza Biojone Filho, que é a pessoa que trabalhou também nesse grupo do FGTS e também se colocava como o responsável da Blessed?
Da questão das debêntures o senhor falou. Quanto à questão das assinaturas falsas, que o senhor trouxe, nós temos aí também uma situação que são algumas instituições financeiras. Além da Caixa Econômica Federal, além do Banco do Brasil, além do BNDES, nós temos infelizmente também instituições financeiras como Bradesco e Citibank envolvidas. O senhor pode falar alguma coisa a respeito desse assunto? Outra questão é: por que eles faziam tudo isso e como eles faziam para dar o dinheiro de caixa dois para os políticos? Então, foi feita uma análise, inclusive no dinheiro, e, além de ele estarem... Como é, o senhor os auxiliava a trazerem o dinheiro para cá para dar em espécie? Algumas pessoas dizem que tinha dinheiro inclusive com vestígio de cocaína. O tráfico de droga estava envolvido nessa história? O senhor participou... Eu sei que vocês são do grupo político diferenciado, e foi falado aqui pelo Eike Batista a respeito dos estaleiros do Rio de Janeiro. Então, nós temos situações aí de que o senhor faz parte de um grupo diferente do Sérgio Cabral. E nós temos uma situação hoje na Baía de Guanabara que é muito delicada em relação aos estaleiros. E nós percebemos muito fortemente a questão infelizmente... É este o objetivo desta CPI, de mostrar para a sociedade que nós temos que melhorar os nossos sistemas, porque tudo o que aconteceu fazia parte — foi dito aqui várias vezes — de uma orquestra sintonizada. O Executivo mudava as regras, trazia para o Legislativo, o Legislativo as aprovava, à base, muitas vezes, de ganho financeiro, para indicação do Executivo. E os empresários estavam juntos; infelizmente, o Judiciário também, muitas vezes. Hoje nós vemos. Ontem mesmo nós tivemos infelizmente uma decisão do STF por um Ministro que recebe e é vendedor, passou na compliance da JBS, dizendo que o filho do Wesley não pode vir. Quer dizer, não tem que estar impedido? Então, eu estava querendo que o senhor trouxesse esses assuntos, para que nós possamos chegar à verdade e mudar o que tem que ser mudado e mostrar para o Brasil as pessoas realmente responsáveis.
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15:50
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Primeiramente, com relação ao Sr. Gilberto Biojone, eu o conheço só de nome, não o conheço pessoalmente, e ele nunca fez parte de nada ligado ao FI-FGTS. Sobre as assinaturas falsas, eu soube que o Natalino Bertin pediu para fazer um laudo, e foi apurado que as assinaturas eram falsas. Esses documentos estavam assinados no Citibank, Banco do Brasil, Banco Paulista, entre outras várias instituições — eu não me recordo de todas. Eu nunca fiz operações de câmbio para o Joesley, nunca dei dinheiro vivo para o Joesley, troquei com ele, a não ser numa única oportunidade, em que ele me pediu que eu emprestasse 1 milhão de reais para uma pessoa que ele precisava, que era o operador político do ex-Governador do Mato Grosso do Sul. Caixa dois para políticos, eu não sei como é que ele operacionalizava lá interno para fazer recursos em reais vivos. Pelo que eu li na delação dele, ele se utilizava de supermercados e doleiros. O Eike Batista eu não conheço. E do Judiciário eu não tenho conhecimento e não tenho nenhuma informação a tecer para a senhora. Dos estaleiros, a mesma coisa: eu não participei de nenhuma operação envolvendo estaleiro no Rio de Janeiro, nem sendo financiado pelo FI-FGTS ou por qualquer verba relativa à Caixa Econômica Federal.
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15:54
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Alguma dúvida a mais, Deputada?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Por enquanto, não.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Bem, vamos dar sequência, então.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Eu sei que vou ferir alguns ouvidos, Lúcio Bolonha Funaro, não do senhor. Mas eu vou ler algumas matérias jornalísticas para orientar as minhas perguntas: "MP investiga maracutaia de Guedes: R$ 1 bilhão com fundos de pensão!"; "PF vai investigar maracutaia do Guedes"; "Paulo Guedes foi 'fiador' de empresa suspeita de fraude"; "Auditoria acha R$ 385 milhões com Guedes, sem explicação"; "Auditoria vê ágio injustificável em compras de fundos geridos por Guedes"; "Lava-Jato ignorou repasse de Guedes em denúncia contra empresa de fachada". São matérias publicadas em jornal que envolvem o nosso plenipotenciário e blindado Ministro da Economia, blindado até por esta CPI, na medida em que requerimento de minha autoria e de outros para que ele venha aqui prestar depoimento, como o senhor veio aqui para se submeter a todas as perguntas, nem sequer é apreciado pela Comissão. De qualquer maneira, vamos insistir. Já que o Supremo Tribunal Federal também, às vezes, interfere nesta CPI impedindo que alguns depoentes venham, também requerimentos são engavetados e não são submetidos aos membros da Comissão. Então, eu queria perguntar...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Presidência não vai interromper V.Exa. em respeito ao que V.Exa. está dizendo e vai perguntar. Mas, ao final do seu depoimento, a Presidência vai esclarecer essa eventual acusação que V.Exa. faz em relação aos trabalhos desta CPI. A Presidência gostaria de colocar apenas isso neste momento.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Presidente, não é acusação, é constatação.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Seu tempo está preservado.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Muito obrigado.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Muito provavelmente, porque eu fui um dos maiores players do mercado de futuros da Bolsa dos anos de 2001, 2002, 2003. As informações que eu tenho dele é que ele foi dono do Banco Pactual; saiu do Banco Pactual, fundou uma gestora de recursos que se chama JGP. E depois da JGP, pelas matérias que eu li, ele foi para o Bozano Simonsen Asset. É um profissional respeitado perante todo o mercado. Com relação a essas afirmações aí sobre gestão de fundo e desvio de recursos que o senhor leu em reportagens, eu não posso fazer nenhuma afirmação, porque eu não conheço os investimentos específicos e nem sei como foram feitos. Se eu tivesse mais documentos e pudesse analisar, eu talvez pudesse dar uma resposta para o senhor mais enfática.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Mas o senhor...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Pois não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Alguns fundos de investimentos geridos pelo Ministro o senhor chegou a conhecer?
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15:58
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Vários. Ele é o gestor de vários fundos há muito tempo, um gestor competente. Ganhou prêmios. Ele é uma pessoa respeitada, tanto dentro do meio acadêmico quanto do meio financeiro. É difícil afirmar, porque eu não sei o ativo que comprou, se comprou, como é que foi a liquidação, como é que não foi a liquidação, qual é o prazo, qual não era o prazo, qual era a situação do mercado naquela altura. Se o senhor perguntar para mim hoje, numa situação como a do País hoje de extrema falta de liquidez no mercado, o que é justo pagar de taxa de juro ou não é justo, é difícil a gente emitir qualquer tipo de opinião sem ser leviano com a pessoa que está do outro lado. Eu não tenho nem por que defender o Ministro, porque eu não sou amigo do Ministro pessoal. Mas eu não posso tecer nenhum tipo de comentário que eu possa pôr em dúvida qualquer qualidade do Ministro Paulo Guedes ou qualquer atitude dele, porque eu não tenho conhecimento preciso para isso e das operações que foram praticadas.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eu estou lendo as matérias jornalísticas...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - É o que o senhor falou, eu estou lendo as matérias, o senhor está me afirmando. Eu não sei se é verdadeiro ou não é verdadeiro. O que eu posso falar para o senhor é que eu, como quem operou no mercado financeiro, eu nunca nem tinha visto esse tipo de... Nunca saía na época esse tipo de matéria a respeito dele.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eu não estou fazendo acusações.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O papel da CPI é investigar.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - O papel do senhor é o seguinte: "O senhor é um player do mercado, e como quem é player do mercado, o senhor chegou a ouvir alguma dessas afirmações?" Eu estou afirmando para o senhor que eu não ouvi. Vi agora, depois que ele assumiu o Ministério, essas denúncias. Mas eu não tenho condição, lendo as matérias, de afirmar se as denúncias são verdadeiras ou não são verdadeiras, em que pé que elas estão e se foram analisadas da maneira correta ou incorreta. Eu não tenho condições técnicas de falar isso aí para o senhor nesse momento.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Se eu citar os fundos de investimento, as empresas pelas quais ele passou, talvez...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - BR Investimentos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - BVP.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Centro de Estudos e Pesquisas Minerais.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - BR Educacional Gestora de Recursos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Conhece, mas...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Então, não vou insistir nas perguntas sobre as empresas, porque certamente... Vou perguntar sem também manifestar qualquer suspeição sobre as pessoas que eu vou citar, mas é natural que eu tenha a obrigação de perguntar. O senhor chegou a conhecer o Sr. Eudes de Gouveia Varela?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - No caso do SwissLeaks, aquela confusão do HSBC, que estranhamente deixou o Brasil, o senhor sabe, conhece o Sr. André Esteves?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Gilberto Sayão?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eduardo Plass?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Pessoalmente? E sabe da relação dele com o...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Do Banco Pactual.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Era oriundo do Banco Pactual; saiu do Banco Pactual, montou um asset que é dele. O Gilberto Sayão saiu do Banco Pactual e hoje montou um banco, uma fintech nova aí, que se chama C6 Bank...
Não, ele não montou o C6 Bank, desculpa. Ele montou a Da Vinci. E o outro nome que o senhor falou, quem é?
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16:02
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Foi o...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - André Esteves.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Essa...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Um executivo que teve negócios em todas as áreas: posto, farmácia, petróleo, M&A. Em todas as áreas do mercado financeiro ele atuou, e atuou com vontade mesmo, com volume. O banco realmente era um banco que despontava sempre na frente aí de IPO, de valuation, de fusões. Era um banco muito respeitado dentro do cenário nacional, apesar de ter algum desgaste da imagem por conta das operações que aconteceram nos últimos tempos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Quais operações?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Que atingiriam a imagem dele?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Mas o senhor sabe alguma coisa sobre depósitos no HSBC na Suíça?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Com... Dessas pessoas?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - A Sra. Elizabeth Guedes, irmã do...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - A corretora Dimarco o senhor chegou a conhecer?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Também não...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Tem mais coisa, Presidente. Eu sei que eu vou... O senhor, nessa operação... Estou aqui com um documento do Ministério Público Federal, e o senhor foi... prestou depoimento, acredito eu, porque tem aqui o seu nome como arrolado para prestar depoimento. Força-tarefa da Operação Greenfield.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - E nessa Operação Greenfield, o senhor tem alguma informação sobre procedimentos do Ministro Paulo Guedes atual e que estavam sendo investigados?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor não tem...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Está aqui: colaborador do Ministério Público Federal a ser ouvido no dia 12 de novembro de 2018.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - É que talvez eles tenham me arrolado como colaborador e para fazer o... para testemunhar, pela minha experiência no mercado financeiro. E eu, tendo acesso às operações, eu vou poder emitir um parecer meu. Não quero dizer que o meu parecer é o correto, mas eu vou poder emitir um parecer da minha opinião.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Porque aqui, Sr. Presidente, este documento... Eu acho importante a presença do Ministro Paulo Guedes, porque vem aqui: "... do empresário... BR Educacional Gestora de Recursos, do empresário Paulo Roberto Nunes Guedes e outros, a fim de cometerem crimes de gestão fraudulenta ou temerária de instituições financeiras", tal, "...e emissão e negociação de títulos mobiliários sem lastros ou garantias, relacionados a investimentos no FIP BR Educacional". Nós temos outras investigações que são feitas em torno do Ministro Paulo Guedes. Eu não tenho nada pessoalmente, Presidente e querido Relator, contra o Ministro Paulo Guedes. Nada. Simplesmente não é razoável que ele fique blindado, enquanto outros vêm aqui.
E, por mais que seja obrigação, depor numa CPI é motivo de constrangimento. Isso causa algum constrangimento.
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16:06
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não acho que é motivo de constrangimento, não. Eu acho que aqui a gente vem para prestar os esclarecimentos aos senhores do que a gente tem que prestar. A gente está aqui para prestar um serviço para a Nação! Eu não precisei pedir habeas-corpus, não precisei me blindar. Eu vim aqui com a verdade; estou falando a verdade. Se alguém disser que eu estou mentindo, eu estou aqui pronto para fazer qualquer acareação, a qualquer momento, em qualquer lugar, a qualquer tempo. Com relação ao Ministro Paulo Guedes, eu acho que ele é uma pessoa que tem toda a capacidade técnica para estar no Ministério. Não sei dessas operações, mas acho que o mais correto seria chamar ele aqui, porque ninguém melhor do que ele conhece essas operações e tem o interesse em esclarecer essas operações, imagino eu. E acho que ele vai ter total condição de esclarecer todas essas operações para o senhor e tirar as dúvidas do senhor. Eu não tenho condições de tirar essas dúvidas do senhor. Estaria sendo leviano com esta Casa e com o próprio Ministro. Não sou partidário, não tenho mais partido, não possuo mais vínculos políticos, então não tenho por que defender ninguém aqui nesta Casa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eu fico até, Sr. Presidente, muito contemplado.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Tenho o compromisso aqui, primeiro, de dizer a verdade, por compromisso assumido por mim perante a Procuradoria-Geral da República; com o Ministro Edson Fachin; com o Juiz Vallisney, da 10ª Vara Federal daqui de Brasília. Então, o meu comparecimento aqui hoje é para explicar aquilo que está dentro daquilo que eu tenho certeza e daquilo que eu posso afirmar. Mas eu tenho a impressão de que, se ele convidado e não convocado, ele viria, sem nenhum problema. É o meu sentimento. Mas eu não posso falar pela boca do Ministro Paulo Guedes.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eu quero registrar que esse também é o meu sentimento. Mas já sugeri até...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Até porque ele é um homem de enfrentamento, e já deixou claro aqui nesta Casa que ele é um homem de enfrentamento, entendeu? Apesar de eu não concordar com a atitude, às vezes, dele, de enfrentamento. Acho que poderia ser um pouco mais brando, que a coisa fluiria de uma maneira mais fácil.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eu fico, como dizer, feliz com a sua opinião, por estar aqui sem se sentir constrangido e ainda manifestar o entendimento de que, com certeza, o Ministro Paulo Guedes teria o maior interesse em ele próprio, já que ele é um homem também combativo, vir aqui prestar os esclarecimentos. Já até sugeri, diferentemente do que acontece com o senhor, fazer uma sessão reservada da CPI, tendo em vista a posição hoje ocupada pelo Ministro, que poderia mobilizar outros entendimentos que não o dever nosso de fazer as investigações.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu vou explicar uma situação para o senhor. Eu tenho uma filha de 3 anos de idade e eu quero ter, se Deus me permitir, a condição de, quando ela tiver compreensão total dos fatos, de provar para ela que eu posso ter errado, mas que eu paguei o preço. E, depois de ter assinado o compromisso que eu me comprometi, que eu cumpri todas as cláusulas, sem vergonha nenhuma, inclusive serviço comunitário, e todos os outros requisitos que me forem exigidos pela Procuradoria-Geral da República, pela Vara de Execuções Penais. E eu acho que isso não é vergonha para nenhum brasileiro.
A vergonha seria eu vir aqui e não assumir meus erros. O meu bisavô chegou no Brasil e fazia tijolo. Hoje, graças a Deus, a minha família progrediu, nós temos uma situação financeira confortável. Então, eu não tenho por que me esconder, pedir HC, nada disso. Eu vim aqui para esclarecer, porque eu quero um dia pegar minha filha e sentar com ela na sala, pôr a televisão e explicar: "Filha, vou te explicar o que aconteceu para você ter plena ciência". Até porque eu moro no interior, numa cidade pequena, e eu não quero que ela sofra bullying e nenhum tipo de constrangimento por não saber responder qualquer tipo de questionamento que seja feito a ela a meu respeito. Eu quero que minha filha tenha orgulho de usar meu nome. Eu não quero que ela tenha vergonha de falar meu nome, nem de falar que é minha filha.
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16:10
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Aqui tem a informação, veja só, de quando eu perguntei sobre Eudes Varela: "Aparecem documentos compartilhados pelo Ministério Público da Suíça, em virtude de ter realizado operações com contas bancárias pertencentes a Glauco Colepicolo Legatti, Gerente-Geral de Implementação de Empreendimentos da PETROBRAS para a Refinaria Abreu e Lima, e que foi condenado na Lava-Jato". Mas está aqui também que — e eu vou verificar — "atualmente ocupa o posto, indicado pelo Ministério da Economia, nos conselhos do Banco do Nordeste e da EMBRAPA, e faz parte do Conselho da CONAB". Eu estou fazendo esse registro por quê? Porque o Ministro Paulo Guedes, muitas vezes, falou em obstrução da Justiça. Quem ocupa uma posição, como ocupa o Ministro Paulo Guedes, que indica para cargos, nomeia, participa de indicações, obviamente... e se ele está sendo investigado, é necessário que uma CPI como esta o ouça. Por quê? Porque há no BNDES também... Alguns dizem assim: "Mas isso não é o objeto da CPI". Claro que é o objeto da CPI! E é preciso dizer que tem o fundo de investimentos dirigido pelo Ministro Paulo Guedes, que também buscou recursos no BNDES. Então, uma CPI tem o objeto, mas muitas vezes — e não é a minha pretensão — pode também buscar informações sobre outros fatos que venham ao conhecimento da CPI. Mas eu fico feliz com o senhor afirmar que não tem nenhum constrangimento em vir aqui. Eu espero que o Ministro Paulo Guedes também não tenha. Que essa avaliação que o senhor faz em relação à disposição do Ministro Paulo Guedes de vir aqui prestar depoimento... Eu falo no caso específico dele. No seu caso é disposição, porque o senhor poderia ter evitado. Mas, no caso dele, é dever prestar esclarecimentos. É dever dele prestar esclarecimentos a esta Casa, a esta CPI. E eu não vejo nenhum motivo para qualquer preocupação. Já sugeri — e reitero — que ele preste um depoimento numa sessão reservada, para evitar qualquer outro de tipo de interpretação. O senhor conhece a Sra. Solange Paiva?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - E a Sra. Daniela Marques?
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16:14
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Não conhece nenhuma.
Sr. Presidente, eu vou encerrar a minha participação, ao mesmo tempo consultando sobre o ofício encaminhado ao Presidente da Casa em relação à investigação feita pela Kroll, por solicitação, por contrato assinado com o Presidente desta Casa à época, se o contrato e o relatório já foram encaminhados a esta Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Presidência, respondendo a V.Exa., já assinou a solicitação ao Presidente da Casa. Ainda não temos informações sobre se chegaram até a Secretaria os documentos que foram solicitados. A Presidência vai reiterar ao Presidente essa solicitação.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor sabe o amor que eu tenho por V.Exa.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Presidência vai esclarecer o porquê dessa questão.
Primeiro, nós temos um foco muito definido nesta CPI: os contratos internacionais do BNDES. Muito bem. Esse é o primeiro ponto. Nesse caso, as informações que V.Exa. traz, na opinião desta Presidência, não estão suficientemente robustas para justificar essa solicitação, em função do período que nós temos a investigar, de 2003 até 2015, que é o objeto da CPI, o tempo da CPI. Nós temos um prazo temporal para poder avaliar as questões da CPI.
Então são duas informações: a primeira, suficientemente robusta, é que não está aqui a prova de que houve contrato internacional com a presença do Sr. Paulo Guedes. A segunda é que nós temos a preocupação, Deputado Paulo Ramos, de evitar que esta CPI descambe por um debate político sem precedentes, o que iria com certeza deslustrar e, mais do que isso, criar dificuldades para que a CPI pudesse fazer um trabalho mais aprofundado de investigação, como temos feito aqui sem o envolvimento da questão partidária.
Outros requerimentos estão apresentados para convocação do Presidente Lula, da Presidente Dilma, da Deputada Gleisi, dos Srs. Miguel Jorge e Armando Monteiro, de ex-Ministros, dos Srs. Renato Duque, Nestor Cerveró, José Dirceu e tantos outros. A Presidência tem procurado, em alguns casos, ter a confirmação de que documentos e detalhes dos depoimentos já são suficientes para o indiciamento por parte do Relator, não havendo necessidade de um clima de enfrentamento político que pode nos impedir de concluir um trabalho tão sério como este que estamos fazendo aqui nesta CPI, diferentemente de duas outras CPIs do BNDES feitas no Senado e na Câmara, sem resultados. Nós queremos apresentar resultados positivos em relação a isso.
Outra questão, nobre Deputado Paulo Ramos, é que nós temos um prazo para terminar o trabalho da CPI. O prazo é 22 de setembro. Nós estamos a vinte e poucos dias dessa data.
E a Presidência, conversando com o Sr. Relator, já deu demonstrações claras de que nós precisamos de pelo menos 10 dias para poder debater, discutir, dar vista do relatório a ser apresentado, cujo prazo acertamos até o dia 10 de setembro, iniciando já o primeiro movimento do Relator, entregando o relatório no próximo dia 3. Portanto, nós já estamos com as datas comprometidas com as próximas reuniões e convites feitos por esta CPI para depoimentos. A Presidência dá por encerrado, portanto, este debate, esta discussão sobre a manifestação de V.Exa.
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16:18
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sr. Presidente, muito rapidamente, só citar um dado adicional...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Como eu disse que não ia polemizar com V.Exa...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - É só um dado adicional.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Eu não quero polemizar com V.Exa. Vou dar continuidade à reunião.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eu não quero polemizar também.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - V.Exa. se inscreva novamente. A Presidência dará a palavra a V.Exa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - São poucos segundos, só para concluir a minha participação para não render isso além da conta. "O principal interesse de Elizabeth Guedes é o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior". Ela preside uma entidade que reúne 200 estabelecimentos de ensino, especialmente universidades. "Vem aqui com um lobby realizado. Obteve-se a aprovação com o BNDES e o MEC de uma receita de 2 bilhões para o financiamento também de bolsas" — bolsas no Brasil e bolsas no exterior. "É interessante ressaltar que o valor liberado pelo BNDES é equivalente ao valor contingenciado das universidades públicas e institutos federais, em maio deste ano: 2 bilhões, 83 milhões...".
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputado Paulo Ramos, a Presidência...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Se V.Exa. acha que isso não é pertinente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputado Paulo Ramos, mais uma vez, eu peço escusas a V.Exa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Se não é pertinente, constará de um relatório paralelo. Não tem problema. Eu farei um relatório paralelo.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O Deputado Lucas Redecker tem a palavra pelos 5 minutos regimentais.
O SR. LUCAS REDECKER (PSDB - RS) - Sr. Presidente, boa tarde. Cumprimento o Relator Altineu Côrtes. Dr. Lúcio Funaro, quero saudar a sua presença e, de certa forma, também lamentar que muitos que tiveram a oportunidade — e dito por mim e por tantos outros — de vir aqui e poder abrir o jogo, falar a verdade, limpar de fato o seu nome para deixar claro que cometeram erros, mas vieram aqui e estão prestando um serviço para poder reverter os pontos negativos que foram encaminhados em certas circunstâncias, principalmente investigadas pela CPI do BNDES... Sr. Presidente, algo me preocupa. Como V.Exa. anunciou aqui que faltam vinte e poucos dias para finalizar o prazo da CPI, e nós tivemos aqui o encaminhamento da convocação do Joesley Batista, mas, por força de liminar, não conseguimos trazê-lo, não sei se não há como, quem sabe, fazer uma frente jurídica para tentar derrubar essa liminar e conseguir trazê-lo nesses vinte e poucos dias. Eu sei que não é fácil, mas é uma preocupação que temos, porque eu acho que essa é a cereja do bolo da nossa CPI para poder sentar aqui. E também as acareações que foram encaminhadas do Joesley, entre outras pessoas. Pois bem. Eu vou encaminhar o meu questionamento. Dr. Lúcio Funaro, o senhor aqui antes disse que havia um encaminhamento do senhor de uma liberação de 2 bilhões para o Grupo Bertin, através da caixa de recursos do BNDES. O foco da nossa CPI é, de fato, a liberação dos recursos do BNDES.
Na sua experiência, dos recursos que foram emprestados, financiados pelo BNDES, qual era o trâmite interno e quanto existia de influência externa no trâmite interno, da porta para fora do BNDES, que conseguia garantir, antes mesmo do encaminhamento interno do Banco, que seria liberado o recurso por influência política ou por comando, tanto do Ministro na época, Guido Mantega, quanto do Luciano Coutinho ou do próprio Palácio do Planalto?
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16:22
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Olha, quanto à liberação de dinheiro do BNDES para, por exemplo, a primeira operação do Bertin ou para os 2 bilhões que foram liberados por mim e foram repassados pela Caixa, o trâmite interno do BNDES eu não tenho conhecimento, porque eu não acompanhava nada dentro do BNDES. A minha experiência pessoal com o BNDES é horrível. Como eu disse para vocês, eu participava como investidor de um empreendimento que se chama Serra da Carioca, que era sócia do empreendimento que se chama Serra do Facão, que é uma usina hidrelétrica no Estado de Goiás. E eram sócios: Furnas; Serra da Carioca; Camargo Corrêa Energia; DME, que é uma unidade de energia de Poços de Caldas; e a Alcoa. De todos esses players, o único que apresentou garantia real, ou seja, uma fiança bancária de um banco de primeira linha internacional foi a Serra da Carioca. Ela ofertou uma fiança do Banco ABN. Se os senhores quiserem — isso aí é do final do ano de 2008 —, eu mando todos os documentos comprovando. Por incrível que pareça, sendo a única que ofertou a única garantia real, porque eu entendo por garantia real aquela que se executa a qualquer momento, e fiança bancária é uma garantia real, foi negada, e o BNDES não liberou a verba para a construção da parte da Serra da Carioca no empreendimento Serra do Facão. Isso aí, já é sabido, por uma influência política da ex-Ministra Dilma Rousseff sobre o Presidente do Banco, Luciano Coutinho, com o auxílio do ex-Presidente da ELETROBRAS, o Sr. Valter Cardeal, conforme eu já narrei.
O SR. LUCAS REDECKER (PSDB - RS) - Na relação no mercado... No encaminhamento dessa própria relação de proximidade que o senhor tinha com Joesley Batista — e o senhor disse, inicialmente, aqui, que ele lhe chamava, se eu não me engano, de compadre, enfim, numa relação muito próxima, uma relação familiar —, o Grupo JBS foi o grupo, pelo menos no encaminhamento que nós fizemos aqui dentro da CPI, que mais conseguiu recursos do BNDES, e o senhor mesmo disse aqui, com juro menor, emprestava com juro maior, conseguia ter um spread maior e, consequentemente — dito por tantos outros que vieram aqui —, tinha o domínio do segmento de carne, comprando diversos frigoríficos e destruindo tantos outros no mercado. E continuam tendo...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Comprando frigorífico inclusive no nome de laranja, porque ele usou o marido da sobrinha dele para comprar frigorífico no nome dele, ou seja, uma prática que o CADE devia dar multa fenomenal para ele. Então, a prática dele no mercado de frigorífico foi uma prática de carnificina. Ele acabou com o produtor de bovino no Brasil. Ele desclassifica boi, ele faz lá o critério que ele quer, paga do jeito que quer, faz do jeito que quer. Ele só mudou de atitude depois que ele teve esse problema da crise financeira, porque aí passou a inverter: o produtor que não queria vender para ele, porque ficou com medo de não receber.
Ele, além de pegar dinheiro no BNDES a juros subsidiados, pegou dinheiro do FGC, subsidiado, que é outro absurdo, para comprar o Banco Matone. Que experiência tem o Joesley para pegar dinheiro do FGC para... 1 bilhão de reais para fazer uma (ininteligível) de um banco dele, que não era nem banco, era um boteco de bar, aquele Banco JBS, antes de virar Original. Até hoje não gerou emprego nenhum. O Banco Inter abriu há 1 ano e já é muito maior que o Banco Original. Não sei se em patrimônio, mas em valor é muito maior, porque o banco é cotado em bolsa. Então, o que a gente vê é que ele tinha influência no FGC, na Caixa, no Banco do Brasil, no BNDES, no... Só no BASA que eu não vi se ele tinha influência ou não, mas em todos esses órgãos de fomento ele usou e abusou da sua influência.
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16:26
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Deputado, se me permite...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Relator.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Dessa sua explanação agora, esses assuntos estão contidos na delação do Joesley? Eu não li sobre isso na delação — essa operação, por exemplo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - FGC significa o quê?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Fundo Garantidor de Crédito. É um fundo que é composto por contribuição de todos os bancos que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional. Então, todos esses bancos contribuem, de acordo com o seu tamanho, com um valor — não sei se é mensal, trimestral, semestral — para um fundo, que é para garantir uma liquidez em caso de risco.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eu me confundi, porque eu nem sabia que esse fundo poderia fazer empréstimo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Fez empréstimo?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Fez para algumas instituições. Fez, por exemplo, para o BMG adquirir o Schahin; depois, fez para o BMG adquirir outro. É normal isso aí. Não é normal... Por exemplo, o BMG adquiriu o Schahin. A família Pentagna Guimarães é uma família que tem uma experiência vasta no mercado bancário. Fazer um empréstimo para o Pactual comprar o PanAmericano também... se foram juros negativos, não importa, porque o André Esteves é uma pessoa que tem experiência para tocar um banco. O que justifica emprestar um valor de mais de 1 bilhão de reais para o Joesley pôr no banco dele? Fora isso...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Então, foram 1 bilhão de reais para a aquisição...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Isso está na delação dele?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Quem é o ex-Diretor Jurídico?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O filho do ex-Diretor Jurídico do FGC...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor pode encaminhar isso para a CPI?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Desculpe-me, Deputado, mas esses são pontos que não estão constando na delação. Acho que a gente tem que se debruçar sobre essa questão.
O SR. LUCAS REDECKER (PSDB - RS) - V.Exa. tem preferência, Relator.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Não, eu sou um soldado.
O SR. LUCAS REDECKER (PSDB - RS) - Então, encaminhando o meu questionamento, pela relação que o senhor comentou de proximidade com o Joesley e familiares e pelo que nós vimos aqui do amplo volume de valores que foram liberados pelo BNDES nas operações dessas compras de frigorífico e expansão da empresa, qual era o comentário? Existia uma garantia real? "Olha, eu vou comprar, vou financiar, vou buscar dinheiro no BNDES", sem preocupação alguma da parte interna com as garantias? Enfim, teria uma facilitação na obtenção desses recursos?
E aí eu quero também complementar a pergunta com esse último comentário que o senhor fez, de que o Joesley tinha influência dentro da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil. Essas garantias que ele dava de busca de recursos por essas instituições financeiras e outras eram garantias que, de certa forma, com tranquilidade ele conseguiria o recurso, ou sempre havia ponderações? "Não, nós primeiro temos que passar para o corpo técnico para uma avaliação." Ou antes mesmo de fechar o negócio a garantia já existia?
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16:30
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O SR. LUCAS REDECKER (PSDB - RS) - O.k., Presidente. Estou satisfeito com as perguntas.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Obrigado, Deputado Lucas Redecker.
O SR. GENERAL GIRÃO (PSL - RN) - Boa tarde, senhores e senhoras e colegas Deputados.
Boa tarde, Sr. Lúcio Funaro. Eu sou o General Girão, um político de primeiro mandato. Ao longo desses últimos, talvez, 30 anos, como militar, acompanhei muito o cenário nacional. Isso me causou tristeza, Sr. Lúcio Funaro, porque nós vimos empresários, políticos, executivos, servidores, concursados ou não, envolvidos com desvios das mais diversas naturezas, inclusive com criação de monopólios, com empresas de fachada. Enfim, riquezas eram arrotadas, mas na verdade não existiam. Vi também, ao longo desses meus últimos anos de vida, a criação de profissões que eu não sei se existem no Imposto de Renda: doleiro e lobista. São criações que existem aí, mas, de repente, não estão no Imposto de Renda. Mas vou ser sincero com o senhor — e falo aqui para o Relator e para o Presidente da CPI —: em função desses últimos dados que a gente está tendo, corroboro a afirmação de que está na hora de nós buscarmos juridicamente reforçar e forçar uma situação para que o Judiciário se curve ao Legislativo, em relação ao nosso papel, e que nós possamos trazer aqui, sim, pessoas que eles blindaram. Aí, sim, esses caras foram blindados pelo Judiciário. Eu me expressei aqui na última vez e disse que a gente tinha obrigação de ir atrás, porque é o nosso dever constitucional. Agora, Sr. Funaro, veja só: a gente está de posse aqui de uma informação, e o Relator até procurou fazer essa confrontação com o senhor. Então, meu grande amigo Altineu Côrtes, eu tenho impressão de que a gente pode pedir uma acareação. A CPI tem que ousar nesse sentido de fazermos uma acareação, para que nós possamos dar a resposta exata para a sociedade. Então, eu deixo essa ideia. O senhor, com a sua delação, em dezembro de 2017, foi beneficiado com a conversão do mandado de prisão em prisão domiciliar. E o senhor fez uma afirmação aqui que eu vou pedir que me permita repetir — abre aspas —: "Qualquer pessoa que vá presa fica arrependida. A gente chega à conclusão de que coisas que eram feitas já não podem mais ser feitas, que é preciso atuar de uma nova maneira, totalmente limpa, clara, sem ilicitudes. Quem vivia em um ambiente como aquele em que eu vivia já não pode mais" — fecha aspas.
Isso foi dito ao fim de uma audiência na 10ª Vara Federal em Brasília e caracteriza, sim, que há muita coisa que ainda podemos fazer na confrontação desses dados. Depois dessas afirmações, eu quero fazer uma pergunta para o senhor. No seu acordo de delação premiada — ou colaboração premiada —, assinado em 21 de agosto de 2017, constam lá cláusulas do acordo, objetos e fatos ilícitos praticados pelo colaborador. Em função de todos esses atos ilícitos que envolveram recursos do BNDES — e o senhor já se referiu a alguns deles aqui —, em algum momento o senhor tomou conhecimento ou desconfiou que esse dinheiro estaria sendo usado para financiar campanhas políticas? Se positivo, para quem e quando? Muito obrigado.
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16:34
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Em casos específicos que eu conheço melhor, quando uma empresa possui um caixa único, como é o caso aí do Grupo J&F ou do Grupo Bertin, é difícil você separar o dinheiro que vem do BNDES do que está no caixa, do que está em não sei o quê. Mas, obviamente, se eles pagaram, fizeram doações políticas através de caixa dois, eles se utilizaram pelo menos de um percentual desses recursos que eram públicos, porque, na pior das análises possíveis, o que o senhor tem que fazer? "Ah, o caixa da empresa é 400, entraram 700 do BNDES, o caixa é 1 bilhão e 100. Quanto foi que ele pagou de... doou na eleição naquele ano? X". É só fazer... O senhor é general, o senhor deve ser uma pessoa boa de conta. É só fazer uma conta de proporção, e vai ter um número, que vai dar: esse aqui veio do recurso público, e esse aqui foi do caixa que a própria empresa tinha.
O SR. GENERAL GIRÃO (PSL - RN) - O.k. Eu só quero deixar claro ao senhor que eu sou bom de conta, sou bom de matemática, agora, não participei de nenhuma reunião e de nenhum tipo de operação financeira...
O SR. GENERAL GIRÃO (PSL - RN) - Não, não. Veja só, eu sei que o senhor não afirmou. Por isso eu estou... Eu lhe fiz a pergunta porque, como o senhor participava dessas operações financeiras, nessas operações financeiras, em um rascunho, um rabisco ou uma conversa que tivesse sido feita com o senhor — ainda estou dentro do meu tempo —, quero saber se foi comentado: "Olha, isso aqui são 10%, 15%, 3%, 1%".
O SR. GENERAL GIRÃO (PSL - RN) - O senhor deve ter ouvido muito isso.
O SR. GENERAL GIRÃO (PSL - RN) - Por isso eu deixo a minha sugestão de que nós façamos outra audiência para trazer outros envolvidos para, nessa audiência, deliberar sobre isso. Muito obrigado.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Olha, é muito fácil. Já vieram várias testemunhas aqui. Vim eu, veio o Mário Celso, veio o Roberto, do Independência. Se o senhor quiser que eu enumere para o senhor mais 20 donos de frigoríficos, mais dezenas de pessoas que foram lesadas aí pelo Grupo JBS, eu estou à disposição. Eu duvido ele conseguir pôr em uma página uma pessoa que foi lesada por mim. Duvido! Desafio ele. Duvido. Então, o que eu tenho para afirmar para o senhor é que eu acho que essa acareação é benéfica, porque vai pôr na mesa tudo o que ele fez, e vamos pegar a delação dele, vamos pôr aqui e vamos ver: "Você falou isso?" "Não". "Então está furado. Você falou isso?" "Não". "Está furado. Você falou isso?" "Não". "Está furado". A minha o senhor pode pôr e fazer todas as questões para mim que eu posso garantir para o senhor que não vai ter nenhum furo.
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16:38
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O SR. GENERAL GIRÃO (PSL - RN) - Muito obrigado.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Deputado...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não estou querendo negar o crime que eu cometi, Excelência. Eu cometi o crime, assumi o crime, estou arrependido, tenho a minha consciência arrependida, mas eu acho que o ser humano é vulnerável a erros. Até o crescimento do ser humano só acontece devido ao ser humano extrapolar as regras estabelecidas, porque senão o ser humano estava até hoje na Idade da Pedra. Então, o que eu tenho para dizer para o senhor é que, realmente, não existe mais espaço, na minha opinião, hoje em dia, para aquele tipo de prática que acontecia anteriormente. Se o senhor me perguntar: "Você acha que continua ocorrendo?" Eu vou dar uma resposta que eu tive que dar na semana passada para uma pessoa. Se você me perguntasse, quando eu tinha 20 anos de idade, num cenário que nem o do... que nem o cenário atual, se eu não tivesse filho, não tivesse casado, se eu voltaria a fazer as mesmas coisas que eu fiz no passado... Talvez, porque a gente, quando é jovem, tem toda aquela ganância para ganhar dinheiro. Depois de passar a experiência de fazer serviço comunitário, de ficar preso por 18 meses, ficar preso na minha residência por mais 2 anos, estar no regime semiaberto, que parece que é uma maravilha, mas, para quem está, não é uma maravilha — é lógico que, para quem esteve preso e saiu da prisão e agora está em um regime semiaberto, é um grande passo... Mas o que eu tenho para afirmar para o senhor é que eu acho que o Brasil está em uma hora em que ele pode ser passado a limpo, e o País tem que ser passado a limpo, independentemente de quem vai ser atingido ou não vai ser atingido. Entendeu? Faço votos de que o senhor, que está chegando a esta Casa aqui neste ano, que o senhor consiga se empenhar ao máximo para conseguir fazer com que o Brasil seja um País melhor aí para as próximas gerações.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Sra. Presidente...
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Sim.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Deputado, eu quero aqui me somar à disposição que eu vejo que V.Exa. tem. Todos sabem da seriedade de V.Exa., que, aliás, passou até por um problema de saúde e está aqui nesta CPI, o que prova a sua responsabilidade, a sua conduta, a sua boa intenção. Eu tenho 50 anos. A mesma dedicação que esse time, que, na minha opinião, ainda está cometendo ilícitos e se esconde da Justiça, a mesma disposição e poderio financeiro que eles têm vai ser a disposição que nós vamos colocar aqui para relatar a verdade dos fatos no nosso relatório e, se a gente puder aprovar esse relatório, levar esse relatório às mãos de todas as autoridades, pessoalmente, junto com os membros aqui desta CPI. Eu acredito que o Joesley Batista não é maior que Deus. Ele pode ter recursos, ele pode ter o que tiver, mas nós vamos apontar, sim, o que ele está escondendo da Justiça. E eu quero aqui dar os parabéns ao Sr. Lúcio Funaro, porque vem aqui e, com muita clareza, falando abertamente, assume aquilo que fez e coloca a cara para limpar essa história. Agora, é lógico que a gente gostaria de fazer acareações, mas eles usam o limite da legislação, lá no Judiciário, com advogados competentes.
Agora, nós vamos apontar... Sr. Lúcio, eu gostaria de dizer ao senhor o seguinte: o senhor foi traído por esse pessoal, como outros foram traídos. E o senhor foi traído no momento em que o senhor estava na maior dificuldade, quando o senhor acreditava na relação. Eu vejo que o senhor é de origem italiana. O italiano tem aquela questão do sangue, da relação, você se envolve, você acha que... Então, eu vejo que, além de você ter sido traído, você foi traído naquele momento em que você precisava. Machucou a tua irmã. Machucou a tua irmã. Deixou uma mancha, que poderia... Eu acredito no que você está falando. Eu também tenho filhos. Isso não vai manchar a história com a tua filha. Eu acredito no que você falou. Mas...
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16:42
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Pois é. Então, acontece o seguinte, eu peço ao senhor que nos ajude...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Isso é uma falta de escrúpulo total. E o pior: nos grampos, ainda tem ele falando com a advogada dele, que, após estourar a delação dele, a primeira coisa que a minha mulher ia fazer era me dar um pé na bunda, porque eu ia ficar pobre. Então, ela ia me deixar sozinho, na Papuda. Para infelicidade dele, quem deu um pé na bunda dele foi a mulher dele. Ele teve que buscá-la em Nova Iorque de volta, e eu não sei em que condições.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não, eu tenho que botar, porque o dele foi público, pô! Eu tenho que botar! Eu tenho que falar para ele: "Olha, Joesley, infelizmente, o seu plano não deu certo", do mesmo jeito que eu falei para a advogada dele, para a Dra. Fernanda Tórtima: "O seu plano não deu certo. Vocês são tão espertos que caíram no próprio grampo".
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eu quero lhe pedir, Sr. Lúcio, que nos ajude a apontar a inconsistência na delação do Joesley, na sua leniência. O senhor tem experiência, o senhor esteve no mercado, o senhor tem vivência com essas operações. Aqueles pontos que nós estamos anotando aqui, ao longo desta caminhada da CPI, ajude-nos nisso, porque ele não é maior do que a Justiça do Brasil, não. Ele pode ter bons advogados, ele pode ir ao limite da lei, mas ele não é o maior, ele não vai superar o trabalho desta CPI. Eu acredito nisso, senão eu não estaria me envolvendo nisso, senão eu não estaria me envolvendo nisso com a vontade, com a determinação que eu estou.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eu não tenho dúvida disso.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - A delação do Joesley Batista... Nós vamos pedir a quebra da delação dele na CPI. Ele tem que voltar a ser preso, porque ele continua cometendo crime, e nós já temos aqui várias histórias que nos levam a isso. Por exemplo, a fraude na incorporação do Frigorífico Bertin, o valor superior que foi colocado lá no BNDES. Isso não está citado na sua delação. Isso é um roubo do dinheiro público! E eu gostaria que o senhor nos ajudasse, com a sua experiência, enviasse para a CPI... Essa história, por exemplo, quando a gente cita aqui do FGC, se tem um filho do ex-Diretor Jurídico do FGC que trabalhava na Eldorado...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - A gente sabe que essas empresas dele eram um caixa único. O dinheiro para construir a Eldorado, uma delas, veio da corrupção que foi feita na incorporação da Bertin. É dinheiro sujo! E hoje tem litígio na Justiça, impedindo, por exemplo, como o senhor falou, manchando a imagem do Brasil em contratos firmados que não são cumpridos. Isso é uma outra história que ele tem que responder na Justiça.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Pois é. Eu não acredito que ele seja superior à Justiça do Brasil. Uma hora a casa cai. Uma hora a casa cai. Eu acredito que, se a gente fizer um trabalho, apontar aqui as questões jurídicas, os pontos que não estão relacionados...
Quer dizer, que história é essa? Esse cara vai ser superior a todos os Deputados, vai ser superior à verdade? O dinheiro dele vai poder comprar tudo o tempo inteiro? Eu não acredito nisso, não! Eu acredito que nós vamos vencer aqui no trabalho, na verdade. Onde está errado, está errado.
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16:46
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu estou à disposição desta Casa aqui para qualquer esclarecimento, qualquer explicação, qualquer anexação de documentos, o que for necessário. No que eu puder ajudar, eu estou à disposição, até porque é um compromisso meu assumido perante a PGR e os outros órgãos de investigação. Eu queria dizer para o senhor que eu não acredito em super-homem. Eu queria dizer para o senhor que eu li, nesta semana, na Veja, uma reportagem que o Luiz Estevão deu, e ali está a prova mais clara de que o País não aceita mais esse tipo de atitude. Ele mesmo está assumindo que errou, no passado, e que hoje, com 70 anos, se ele pudesse, perderia todo o dinheiro dele, por conta de ter a liberdade privada. Então, se o Luiz Estevão pôde ficar 3 anos preso, se eu pude ficar 2 anos preso, se o Marcelo Odebrecht está preso até hoje, se todos estão pagando o seu preço... O Marcelo Odebrecht praticamente perdeu a empresa dele. E a UTC também e várias, todas, inúmeras empresas... Eu não entendo por que há essa diferenciação no tratamento com o Joesley, até porque o dever dele de não faltar com a verdade perante os depoimentos que ele prestou na Procuradoria-Geral da República ruiu e ficou provado que a delação dele tem que ser anulada. Na minha opinião, é isso. Mas eu não sou advogado, entendeu, nem juiz, nem da Procuradoria.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Só gostaria de fazer mais uma consideração. Quem não deve não teme. Por que eles não vêm aqui? Que falta de respeito com a Câmara dos Deputados, ficar usando... E obviamente tem o seu direito de ter os melhores advogados. O último habeas corpus que foi concedido para não vir à CPI, o do Wesley Filho, que, diga-se de passagem, está à frente de uma das principais empresas do grupo, foi porque, pelo Código de Processo Penal, ele é descendente. Então, como ele é descendente direto, ele recebeu um habeas corpus, porque não pode vir aqui para produzir prova contra o pai. Mas nós não estamos investigando o pai, nós estamos investigando a empresa. Mas tudo bem. Nós estamos aqui atendendo a decisão do Supremo Tribunal Federal. Agora, eu quero ver qual vai ser o argumento do Aguinaldo, que já apresentou habeas corpus. O Aguinaldo não é descendente, porque sobrinho não é considerado descendente. Então, como ele está convocado como testemunha, qual vai ser a saída jurídica que vai ser encontrada? Qual é o pedido? Eu não vi qual o pedido, mas já deram entrada no Supremo Tribunal Federal. E o Aguinaldo está à frente da Eldorado Celulose. Diga-se de passagem, está à frente da Eldorado Celulose e ocupou cargos importantes nesse grupo. Então, eu quero ver qual vai ser a saída agora. Vamos ver se vai ter mais uma vitória jurídica em relação a uma decisão que possa vir do Supremo Tribunal Federal. Mas, já que não é descendente, eu estou curioso para saber qual o argumento que os advogados desse grupo usaram.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Excelência, eu não sou Deputado, mas eu vou te dar uma recomendação: convoca também o Antônio Batista, que é outro sobrinho dele, que está lá no comando da operação. São os dois sobrinhos hoje que comandam a operação. Na verdade, são três: o Aguinaldo, o Wesley Filho e o José Antônio.
São os três: o José Antônio, na JBS; o Aguinaldo, na Eldorado; e o Wesley Filho, também na JBS, sendo que o José Antônio tem mais influência na J&F.
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16:50
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O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Presidente e Deputado Altineu Côrtes, permitam-me dizer que a questão não é nem convocar. Nós já convocamos Deus e o mundo, e eles não vêm. Conseguem habeas corpus do STF e o escambau e fica por isso mesmo.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Deputado, nós temos que fazer uma reflexão também, porque quem está fazendo o julgamento desse caso específico que foi feito é o Ministro que vende o boi para a JBS, o Ministro que recebeu há um tempo atrás, nas suas próprias instituições, uma doação da JBS. Então, quer dizer, no mínimo ele tinha que estar se declarando impedido.
(Intervenção fora do microfone.)
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - O senhor quer ler quem é? A decisão foi lida ontem. É do Ministro Gilmar Mendes.
O SR. JOÃO CARLOS BACELAR (PL - BA) - Cumprimento a Sra. Presidenta, Deputada Paula Belmonte; o Sr. Relator, Deputado Altineu Côrtes; o Sr. Lúcio Funaro; os senhores advogados; as Sras. e os Srs. Deputados. Sr. Lúcio, o senhor é tido, no mercado financeiro, como uma das cabeças do mercado financeiro brasileiro, do mercado internacional, do mercado de câmbio. O senhor sempre desenvolveu — pelo menos é a notícia que nós temos — com muito profissionalismo a área em que o senhor atuou. E eu vi aqui na CPI do BNDES muita coisa com as grandes empresas, na exportação de bens de capital, mas eu senti que os bancos ficaram um pouco fora disso aqui e tenho algum prenúncio de que havia muita operação também com outros bancos brasileiros. O senhor sabe dizer alguma coisa sobre isso? O senhor sabe contribuir com algo para esta CPI sobre operações de outros bancos que estão vinculados com o BNDES?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não tenho condição de esclarecer essa informação que o senhor está me pedindo, mas eu posso afirmar para o senhor que, se o senhor pegar aí as maiores instituições financeiras que têm no Brasil, nos últimos 20 anos, nenhuma vai passar sem ter nenhum tipo de percalço ou algum problema com a Justiça ou algum problema que não seja ligado a algum tipo de fraude — todas!
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. JOÃO CARLOS BACELAR (PL - BA) - Mas o senhor não poderia contribuir aqui, com a autorização dos seus advogados, se não for lhe causar nenhum dano jurídico, em razão da sua delação, com essa contribuição? Se o senhor pudesse falar um pouco mais disso aqui, acho que seria muito importante para esta CPI.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não é de hoje que a gente escuta por parte de todo o empresariado nacional que eles estão fartos de dividir a maior parte do lucro deles com as instituições financeiras. Nós vivemos hoje um mercado financeiro aqui em que nós temos apenas três grandes players privados, que são o Santander, o Itaú e o Bradesco, e dois players que são estatais, que são o Banco do Brasil e a Caixa.
E isso aí travou completamente a carteira de empréstimo dos bancos, prejudicou muito as empresas, porque a empresa tinha limite em quatro, cinco bancos, um banco vai se fundindo com outro, com outro, com outro, e o risco vai lá para cima, vão cortando o limite. Então, o que o Brasil precisa... Eu não vejo no Brasil hoje a presença de nenhuma instituição financeira internacional grande, de varejo, como Wells Fargo, como Bank of America, atuando no varejo, como outros vários bancos que existem no mundo, o Standard Chartered, vários bancos que poderiam... O Governo devia incentivar essa entrada de bancos de varejo, não só bancos de investimentos, no mercado. Para quê? Para parar com essa concentração que existe hoje nessas três instituições e nessas duas instituições privadas, ou melhor, estatais, até porque, na minha opinião, no caso dessas duas instituições estatais, a melhor coisa a fazer é vender. Se o Brasil der de graça os dois bancos, ele está lucrando.
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16:54
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O SR. JOÃO CARLOS BACELAR (PL - BA) - No caso do HSBC especificamente, o senhor sabe de alguma...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - O HSBC, eu não sei nada. Eu sei que o HSBC vendeu a operação dele no Brasil de varejo para o Bradesco e acho que ele nem tem mais nenhum tipo de negócio de repasse do BNDES nem nada. Ele parou já faz algum tempo, desde que ele deixou de ser banco comercial. A impressão que eu tenho é que o setor bancário virou oligopólio também. Nós tínhamos, se você pegar 10 anos atrás, nós tínhamos o BANESPA, Nossa Caixa, Banco do Brasil, BANERJ, sei lá, há 20 anos, BANERJ, BCN, Banco Boavista, uma série de bancos. Hoje em dia não temos mais bancos. Nós temos ou um banco que é pequeno, que foca um nicho, ou esses bancos grandes que monopolizam as operações. Hoje piora mais ainda, porque, com esse advento da informação e com essa monitoração que é feita pelo Banco Central, através de consulta de riscos, que os bancos têm o direito, então o banco sabe tudo, quanto você deve para um, quanto você deve para outro, se você está em atraso, se você está não sei o quê... Isso aí deixa de tornar o mercado competitivo. Isso aí afeta a quem? O empresário. Afeta a quem? A pessoa física. Aí, a desculpa é sempre esta: a taxa de inadimplência é muito grande. Isso aí precisa ser investigado. Vamos ver qual é essa taxa de inadimplência. A taxa de inadimplência é tão grande e os lucros são tão grandes assim ainda?
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Deputados, como teremos uma votação nominal, vamos suspender a reunião por 5 minutos. O senhor está com 3 minutos e 24 segundos. Vamos votar, depois voltamos, e o senhor continua.
(A reunião é suspensa.)
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17:16
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Está reaberta a reunião.
O SR. JOÃO CARLOS BACELAR (PL - BA) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Continuo a fazer a pergunta ao Sr. Lúcio Funaro, relativamente ao sistema financeiro. O senhor falou um pouco dos bancos privados. Acho que o senhor pode contribuir um pouco sobre os bancos privados e quero saber dos outros bancos, públicos. Quero saber se houve correlação das operações do BNDES com outros bancos, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal. Como seria esta correlação e qual seria o grau de abrangência perante essas outras operações feitas em outros bancos públicos brasileiros?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Acredito que sim, porque a maioria dos bancos estatais repassam verba do BNDES para os clientes deles com um pequeno spread. Então, o BNDES dá uma taxa, vamos supor, de 3,5%, eles põem um spread de 0,10%, de 0,15%, meio por cento, dependendo do cliente, e repassam essa verba do BNDES. Se a verba já vinha carimbada ou não para os outros bancos eu não sei. Em uma operação que eu fiz na Caixa, que foi o caso do financiamento da concessionária do Rodoanel, a SPMAR, sim, veio já carimbado para a SPMAR, e o dinheiro foi liberado, e já estava carimbado. Tudo certo.
O SR. JOÃO CARLOS BACELAR (PL - BA) - Foi carimbado de que maneira?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - O recurso foi pedido pela Caixa, já destinado a esse empreendimento, até porque o BNDES, para financiar, normalmente estuda o project finance, aprova e, depois de aprovar, faz reunião em conjunto com o comitê do banco. Aí ele repassa só depois de estar, acredito, o banco repassador e a equipe técnica do BNDES em concordância.
O SR. JOÃO CARLOS BACELAR (PL - BA) - O.k.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Obrigado a V.Exa., Deputado João Carlos Bacelar.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sr. Presidente, agradeço, mais uma vez, a oportunidade que V.Exa. me dá para eu realizar meu trabalho como Parlamentar nesta CPI. Meus cumprimentos a toda a Mesa, aos Srs. Parlamentares, aos assessores, a todos os presentes. Eu estava aqui, Sr. Lúcio Funaro, ouvindo as perguntas dos nossos Parlamentares, mas me aprazia mais estar ouvindo suas respostas, seus esclarecimentos, suas colocações, dentro de um cenário que nos parece bastante nebuloso, e é, mas sua coragem de falar aquilo que certamente o senhor sabe, e tem conhecimento do fato em si, pelo menos foi o que eu concluí. Temos a plena certeza de que, pelo tempo que o senhor teve e pela proximidade de todos os processos, o senhor sabe muito mais.
Logicamente, quanto ao "muito mais", fica a seu critério responder além daquilo que nós perguntaremos agora. Na verdade, já estamos perguntando. Eu digo que fica a seu critério porque, com aquilo que o senhor sabe a mais e pode colaborar para esta CPI, o senhor não vai estar colaborando para nenhum Parlamentar. O senhor vai estar colaborando para a Casa do Povo brasileiro. Aqui é esta Casa. O foco e os olhos do povo brasileiro ficam voltados para esta Casa, querendo saber respostas daquilo que lá fora o povo não conhece, está na dúvida. O senhor, certamente, pode dar um alento ao povo brasileiro. Nós somos apenas um instrumento do Parlamento para fazer chegarem as verdades, apenas as verdades. Eu tenho algumas perguntas para fazer ao senhor. Vou fazê-las. Algumas delas já foram até um pouco esclarecidas, não na totalidade. Eu vou ser direto: eu sou muito direto nas minhas perguntas. Eis minha primeira pergunta: V.Sa. afirmou, na imprensa, que prometia explodir informações sobre a ligação entre a JBS, o Frigorífico Bertin e o ex-Presidente Luciano Coutinho. O senhor confirma isso?
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17:20
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O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu falei que eu teria informações para prestar a respeito da JBS, da Bertin e do ex-Presidente do BNDES Sr. Luciano Coutinho. Às três eu respondi e apresentei quais foram as operações das quais eu participei e nas quais, pela minha opinião e experiência no mercado financeiro, houve ilícitos.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Então, por favor, quais foram essas transações que envolveram os grupos JBS, Bertin e o BNDES? Repita aqui, por favor.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Financiamento com dinheiro do BNDES, via repasse da Caixa Econômica Federal para a SPMAR, concessionária do Rodoanel de São Paulo, grupo este controlado pelo grupo Bertin; SPE esta controlada pelo grupo Bertin; da JBS, o financiamento da Eldorado. Eu não repassei dinheiro da Caixa para ele que fosse proveniente do BNDES, mas a operação em que foi liberado o crédito para ele comprar o grupo Bertin, ou seja, naquela época, a parte de carne, de bovinos e de embutidos do Frigorífico Bertin foi superavaliada nos valores que vocês têm até melhor do que eu, porque esta operação eu não acompanhei, como eu disse para os senhores desde o começo.
Então, eu acho que eu esclareci. Eram estes três pontos que o senhor queria, não é? E do Luciano Coutinho há a negativa de um crédito para a empresa Serra da Carioca Energética, sendo que este crédito era garantido por uma fiança bancária do Banco ABN, que é um banco internacional de primeira linha, e há a liberação para os outros sócios do empreendimento de financiamento, sem o aporte de fiança bancária, o que no meu entender não faz nenhum sentido.
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17:24
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Só uma pergunta: por que aconteceu isso? Por que não foi liberado esse crédito? Ao mesmo tempo, no entendimento do senhor, certas operações andavam, e essa operação que tinha uma garantia real de um banco por que não foi liberada?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - De quem contra quem?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Do ex-Deputado Eduardo Cunha contra o PT. Como é claro e de conhecimento público, eu não preciso negar para ninguém, eu tinha um ótimo relacionamento com o ex-Deputado Eduardo Cunha. Inclusive, alguns dos Parlamentares aqui presentes já me viram várias vezes aqui nesta Casa, junto com ele, ou jantando com ele em vários lugares. O relacionamento, apesar do que ele diz agora que ele nem me conhece direito, era um relacionamento próximo, com todo o respeito que eu tenho por ele. Foi negado, por fator político. Foi pressão da Alcoa, que não queria um novo player entrando no mercado de energia, e pressão da ex-Ministra Dilma Rousseff e do Valter Cardeal.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Há pouco, o senhor...
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Há pouco, o senhor citou uma autoridade do Judiciário, não foi?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Enfim, está bem. Mas eu vou perguntar para o senhor, então. Houve transações envolvendo autoridades do Judiciário?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Esta pergunta eu faço, porque isso aí fica na boca de muita gente. Mas, enfim, não. O senhor teve conhecimento de repasse para caixa dois em alguma campanha presidencial? O senhor teve algum conhecimento sobre isso?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Quais?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sim. Cite as outras.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Se me permite, Excelência, ele perguntou sobre campanhas presidenciais. É mais fácil.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ah, presidenciais, desculpe-me, Excelência. Eu não prestei atenção. Do ex-Presidente Michel Temer, junto com Dilma Rousseff. Em que eu atuei, de que eu me lembre de presidencial, só esta. Agora, pode ser que tenha me falhado a memória em alguma coisa, mas acho difícil, porque minha memória é boa.
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17:28
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O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k. O senhor lembra os valores que repassaram tanto para a ex-Presidente Dilma Rousseff, quanto para o ex-Vice-Presidente Michel Temer?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k. Tenho mais uma pergunta, esta é a última. Esta é a mais fácil, está muito fácil esta pergunta. De acordo com notícia da revista Exame, agosto de 2017, V.Sa. intermediou propinas na agricultura. Isso é fato?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Essas propinas foram direcionadas para que grupo político ou pessoa, que o senhor lembre?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Agora eu encerro. Foi recomendado por alguém do Governo?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Se foi recomendado por alguém do Governo, naquela época.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sim.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Por alguém do Governo?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k. Agora vou trazer tudo isto aqui. Tenho mais 4 minutos, não vou usar todo o tempo, Sr. Presidente. Agora vou tratar com o senhor, para ver se o senhor se arrependeu, se pensou muito na família, se deve ter pensado no povo brasileiro também. O senhor pensou no povo, no seu arrependimento?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k., começou a pensar. Meu Estado — eu sou do Estado de Rondônia...
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Conhece bem?
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Até hoje a barragem está lá destruída. Não fui reembolsado pelas construtoras que fizeram a obra. Então, o senhor vê que a declaração do ex-Presidente do BNDES não faz sentido, porque é uma empresa de papel ou de prateleira, como ele afirmou para o ex-Presidente de FURNAS Luiz Eduardo Conde, Luiz Paulo Conde... Não teria a capacidade de ter feito em Rondônia o maior investimento privado antes do Rio Madeira. E o senhor é de lá. Eu conheço várias outras autoridades do Estado, apoiaram a empresa em tudo o que puderam. Infelizmente, eu mitiguei os prejuízos até onde foi possível para mim, mas depois eu não tive mais condição de levar o empreendimento à frente, para que ele gerasse energia. Isso aí trouxe um prejuízo imenso para o País.
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17:32
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O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O.k. Então, o senhor tem conhecimento do que eu vou lhe perguntar relacionado a Rondônia. Tínhamos alguns pequenos frigoríficos, que foram adquiridos pela JBS com a finalidade de fechar e não deixar funcionar. Alguns. Não funcionam mais. O senhor tinha conhecimento disso?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Sim, é uma prática habitual dele, isso quando ele não usava interposto para fazer isso. Por exemplo, o Frigorifico Rodopa não era dele, estava no nome de Sérgio Longo, que hoje é o Presidente do Conselho da Eldorado. Mas Sérgio Longo nada mais é do que um ex-diretor financeiro da JBS que eu não quero falar que é cítrico do Joesley, porque eu não posso afirmar isso com certeza. Mas, quando ele teve um problema de saúde, Joesley foi lá e comprou o frigorífico, honrou os bonds dele lá fora. Então, é uma relação que não é muito cartesiana, em termos econômicos. Ninguém faria isso numa situação daquela. Ele só beneficiou porque ele deveria ter algum tipo de vínculo com Sérgio Longo, que nós não conhecemos, que são vínculos que devem ser nebulosos.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Muito bem. Então, a JBS realmente fez um estrago...
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sim.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Eu estou focando mais Rondônia, para encerrar, por ser meu Estado, porque, como o senhor disse que o conhece bem, o senhor também sabe que meu Estado praticamente não tem saneamento básico. Rondônia tem, no quesito saneamento básico, menos de 5%. Uma das finalidades do BNDES — o "S" já diz — é o social. Veja o prejuízo que todos os que participaram deste pleito, que não foi nada republicano, cometeram com meu povo de Rondônia e outros brasileiros. Como o senhor disse, o senhor se arrependeu de ter feito isso. Tem a ver com o povo de Rondônia também. Muito obrigado.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Obrigado ao senhor. Eu queria dizer que eu tenho todo o respeito pelo povo de Rondônia, pelos políticos de Rondônia, pela sociedade de Rondônia, pelo Ministério Público Estadual de Rondônia pelo apoio que eles deram, e continuam dando, para a empresa após o rompimento da barragem. Eu queria fazer este agradecimento de público aqui ao Estado de Rondônia, aos seus representantes nesta Casa, no Executivo e no Judiciário. Muito obrigado, Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Vamos dar seguimento. Há aqui uma demanda dos advogados do depoente, no sentido de que ele preste um depoimento agora à Polícia Federal, dentro do processo de colaboração em que ele está envolvido.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Excelência, sou eu. V.Exa. havia retirado e colocado depois.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Sr. Presidente, eu acho que sou, não?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Não, Deputada.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Excelência, serei o mais breve possível, considerando o tempo.
Eu queria, antes de mais nada, contextualizar para todos os brasileiros a figura de S.Exa. o Sr. Funaro, aqui presente hoje, e agradecer sua participação aqui. Eu considero o senhor um arquivo vivo das práticas ilícitas que aconteceram no Brasil nessas últimas décadas.
As pessoas não têm muita noção desde quando o senhor está trabalhando nisso, mas eu posso contextualizar isso rapidamente, utilizando a ordem cronológica dos fatos. Em 2003, o senhor já fez a primeira delação, BANESTADO, quando o Ministro Sergio Moro estava no caso.
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17:36
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O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Na verdade, o senhor foi ouvido naquela época.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Naquela época, o senhor era investigado. Não localizaram esses dados. Mas eu quero contextualizar isso, se o senhor permitir, e depois eu vou deixar o senhor falar. Depois, o senhor participou do escândalo da PETROBRAS, na primeira fase da investigação ligada à Lava-Jato, como doleiro, como representante, como investidor e como partícipe nas várias empresas: o senhor citou a Odebrecht e algumas outras com as quais o senhor tinha relação, até onde eu percebi. Em seguida, o senhor, nos idos de 2005, esteve envolvido com o Dr. Marcos Valério, já no escândalo do mensalão, conhecido aqui pela compra de Parlamentares Federais para votar em favor do Governo à época. A seguir, o senhor foi delator na Operação Themis, da Polícia Federal, da venda de sentenças judiciais, em 2007. Posteriormente, envolvimento com Daniel Dantas, na Operação Satiagraha, em 2008. Nesta operação, o senhor foi detido na época, ou o senhor foi preso, se não me engano. O senhor foi ouvido, não é? Condução coercitiva?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Prisão decretada, mas houve uma condução coercitiva. Alguma coisa assim. A seguir, Excelência, para não perdermos tempo, por causa do horário, o senhor passou pela Operação Greenfield; depois pela Operação Sépsis; pela Operação Cui Bono, que envolve Geddel Vieira Lima; pela Operação Capitu, da Polícia Federal; e, por fim, nessas propinas da Caixa Econômica Federal, em que o senhor fechou acordo de delação premiada já em 2017 ou 2018. O fato é que o senhor está há 2 décadas trabalhando com essas pessoas que estão desviando dinheiros ilicitamente do nosso País. Eu o considero um arquivo vivo das práticas ilícitas que existem neste País. Antes de mais nada, nós queremos pedir — eu sei que o senhor fez várias delações, eu sei porque participei da Polícia Federal por muitos anos — que essas delações que o senhor traz à CPI o senhor as traga em formato de provas também, provas documentais e ligações entre as pessoas. Como o senhor falou aqui, chame o fulano da JBS, o sobrinho. É ele que sabe. Essas indicações são muito importantes para a CPI. Nós precisamos aqui não só de elementos, de ilações e de palavras. Eu ouvi um Deputado aqui dizer que ele já apresentou vários requerimentos para ouvir, por exemplo, o atual Ministro da Economia. Eu fico me perguntando o que isso tem a ver com nossas investigações, quando o senhor tem 2 décadas de centenas de políticos e empresários que desviaram dinheiro e, quanto a isso, o outro Parlamentar que falou não está preocupado — ele está preocupado em escutar o Ministro da Economia. Portanto, eu fico pensando que o senhor poderia, inclusive, indicar mais nomes e situações pontuais que esta CPI quer colocar aqui. Nós precisamos é de provas. Do contrário, depois, nós vamos ser testados aqui pelo que provamos ou não. O senhor tem estes elementos. É preciso que o senhor os traga para nós. Pode falar, por favor.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Boa tarde, Excelência. Só para esclarecer, eu não fiz delação em 2003, não fiz delação em 2004, não estive envolvido no escândalo da PETROBRAS.
Eu fiz uma delação em 2005, no âmbito do mensalão, por ter recebido cheques provenientes da SMP&B, do Sr. Marcos Valério. Eu não tinha relacionamento nenhum com ele, quem me repassou os cheques foi o ex-Deputado Valdemar Costa Neto — ele, inclusive, assumiu isso publicamente —, para pagar um empréstimo que eu tinha efetuado para ele, para ele financiar a parte do PT que não foi paga a ele pela coligação com o PT nas eleições de 2002. Fui a principal testemunha e tive como pena o perdão judicial, que foi a mesma pena que foi aplicada agora para a família do Joesley. Com relação à PETROBRAS, pelo contrário, eu fui a primeira pessoa a denunciar todos os escândalos que aconteciam na PETROBRAS.
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17:40
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O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Eu sei disso.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Até, estranhamente, nunca foram investigados. Eu vim a esta Casa, entreguei vários contratos, contratos que totalizavam 12 bilhões de dólares, denunciei fora do Brasil, denunciei em todos os lugares que eu pude, e fui retaliado, de forma brutal, pelo Governo, talvez até por isso que não tenha saído o crédito do BNDES, por conta dessa retaliação à delação que eu tinha feito em 2005. Quanto à Operação Têmis, procede o que o senhor disse, realmente foram presos juízes, desembargadores, foi uma operação derivada da minha delação de 2005 no mensalão. Então, não foi uma nova delação. Em 2008, com relação à Operação Satiagraha, eu não fui detido, eu tive a prisão temporária decretada pelo Juiz Fausto De Sanctis em São Paulo, baseada num grampo telefônico do Naji Nahas falando com uma outra pessoa que citou meu nome. Eu nem estava grampeado. E eu não estava no Brasil, eu estava viajando, eu estava fazendo tratamento de câncer com um sócio meu em Houston. Por sorte, eu não fui detido. Com relação às outras operações de que o senhor falou, Operações Sepsis, Capitu, Cui Bono, que são todas referentes a operações efetuadas dentro do âmbito da Caixa Econômica Federal, nos seus vários setores, realmente eu fui um dos que delatei, assim como delatei aqui a fraude que existia dentro do banco BRB. Também venho sofrendo retaliação por parte do banco BRB. O senhor imagine que, numa audiência, eu fiz uma acusação contra o ex-Presidente do Conselho do BRB, e 5 minutos depois meu cartão de crédito foi cancelado e o da minha esposa também. Aí, eu pedi para o advogado entrar com a liminar: "Olha, você tem que devolver o meu cartão, porque não é justo o que você está fazendo; o meu você pode até cancelar, porque eu não preciso, mas o da minha mulher, você está criando mais problema para quem não tem. Ela não fez nada de ilícito". Então, é isso que acontece. Então, você vê que a pessoa é presa, era presidente do conselho do banco, e ainda continua com influência dentro do banco. E ele me manda uma notificação — eu tenho aqui a cópia, se o senhor quiser, eu deixo aqui —, falando que o meu cartão vai ser cancelado, e a notificação não é nem assinada. O fato é que o banco não tem compliance nenhum. É um banco que pode ser fechado imediatamente. Vai ser a melhor coisa para o Distrito Federal encerrar o banco, porque esse banco só serve para ser operado politicamente, já está mais do que provado. Está aqui a Deputada Celina Leão, que era Deputada Distrital, e ela sabe como é o uso do banco BRB em função da política local aqui.
Do mesmo jeito que acontece o uso do BRB para a política local, existe a Caixa para a política federal e o Banco do Brasil para a política federal, o BASA, o BNB. Então, na minha opinião, a melhor coisa que pode acontecer para o País é fechar tudo isso aí e deixar o privado tocar.
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17:44
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O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Deixe-me lhe falar uma coisa. O que nós precisamos do senhor é que o senhor traga elementos de provas. O senhor deu, por exemplo, uma declaração de que aqueles 51 milhões de reais encontrados na casa do Geddel...
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Então, qual é a prova que nós temos disso?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - E o senhor trouxe essa prova?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Nos autos do processo?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Esses 20 milhões eram propina de onde?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Vários, diferentes?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Então, sua digital está junto daquele dinheiro lá?
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Falando especificamente...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Deputado...
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Pode falar, Deputada.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu quero apenas complementar, para ver se a informação é correta. Nesses 4 anos em que o senhor fez operação para a JBS, o montante que a JBS devia para o senhor, em relação, acho, a 3%, era de 180 milhões de propina. É isso que o senhor está falando?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Cento e oitenta milhões de ilícito?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - De ilícito. Fora os valores lícitos referentes à aquisição da empresa Big Frango, à não judicialização e ao andamento do processo entre eles e a Bertin, à venda da empreiteira Delta para o Joesley, que ele deixou de exercer por 1 real, por influência do ex-Ministro Guido Mantega, que eu não tenho nada a ver com isso aí. Ele não exerceu, eu fiz meu papel. Vou te vender a empresa por 1 real — a minha comissão é devida. Se você vai exercer ou não, é problema seu. Então, essas operações geraram dinheiros lícitos e ilícitos.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Sr. Lúcio Funaro, há uma coisa que a população não entende muito bem. Fica parecendo que o BNDES era um caixa eletrônico, o cara ia lá, enfiava o cartão, tirava e saia com dinheiro de propina. Como é que isso funcionava? O Guido Mantega ganhava X% quando era Ministro; o Luciano Coutinho, quando era Presidente, ganhava X%; o senhor, X%; e o dinheiro, metade ia para realizar um negócio de verdade? Como era essa engenharia do crime?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - O senhor tem ideia desse percentual? O senhor consegue me explicar quanto era para cada um, ainda que seja por alto? Vamos lá, em uma transação como a da Bertin.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Entendi. Aí, entre o grupo político, que se dividia entre quem era técnico do BNDES, quem era empresário... Como era isso aí?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - A imprensa chegou a citar que Joesley Batista tinha induzido ou comentado ou pedido para o senhor fazer sua delação primeiro, para o senhor fazer antes de Eduardo Cunha. Tem sentido isso? Eu li isso em algum lugar, eu achei estranho. Mas eu queria...
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Entendi.
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17:48
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A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor disse que o senhor passava para dois ou três da Direção do BNDES. Quais são esses nomes?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Nunca passou?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Na situação antes do Fábio Cleto, o senhor liberou dois milhões e alguma coisa para a Bertin. Com quem o senhor acertou essa operação? Aliás, 2 bilhões!
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Presente nesta Comissão aqui, o ex-Ministro Antonio Palocci citou um número que para nós pareceu assustador. Ele falou em 500 bilhões de reais em transações do BNDES. O senhor acha que chegou a este montante? O que o senhor tem a me contar?
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Entendi.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Vou passar a palavra...
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Pode passar, Sr. Presidente. Eu ia fazer uma pergunta, para finalizar.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Era PL, virou PRB, e agora é PR.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eles não tinham...O PT furou o caixa, e ele pediu socorro a mim, e eu o socorri mediante o aval do ex-acionista, do principal acionista minoritário do banco BCN, o Sr. Henrique Borenstein, que me deu uma nota promissória assinada. Então, era uma operação praticamente sem risco, e eu cobrei juros. E, quando recebi os recursos de volta, recebi vários cheques administrativos, emitidos do Banco Rural pela SMP&B — eu nem sabia quem era SMP&B, nem Marcos Valério. Quando quebraram o sigilo da conta da SMP&B, pegaram vários cheques da empresa e depositaram numa conta corrente de uma empresa que tinha sido minha.
O SR. DELEGADO PABLO (PSL - AM) - Eu queria pedir à Presidência desta CPI que, quando possível, o senhor fornecesse documentos daquilo que o senhor falou ou do que o senhor achar que for conveniente, que não comprometa a sua delação, somente para nós.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Deputado Delegado Pablo, o que é furar o caixa?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Deputada Celina Leão tem a palavra agora.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Sr. Presidente, quero cumprimentar a Mesa, em nome de V.Exa. Nós estamos muito felizes nesta tarde, porque finalmente alguém chega aqui e fala. Poucos estão tendo a coragem de chegar a esta CPI e falar alguma coisa. O senhor afirmou, Dr. Lúcio, na delação, que outro fator determinante para o crescimento exponencial do grupo JBS foi a grande oferta por bancos públicos. O senhor, inclusive, deu um parâmetro aqui — era mais ou menos esta a pergunta que eu iria fazer para o senhor — sobre o BRB, nosso banco local. Qual era o papel de Ricardo Leal no mercado financeiro? Qual era o papel de Ricardo Leal dentro do banco? Houve transações ilícitas entre o BRB, Ricardo Leal e o grupo que o senhor operava? E qual é a ligação do Governador Rodrigo Rollemberg com todo esse grupo?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ricardo Leal é o principal operador do ex-Governador Rodrigo Rollemberg. Ricardo Leal, eu o conheço há praticamente 22 anos.
Talvez ele seja um dos maiores players do mercado, ou desse submundo do mercado financeiro, não só com o BRB, mas com várias outras fundações, tanto em nível estadual, como em nível federal. O esquema dele era um esquema muito forte. Dentro do BRB, ele tinha controle total sobre o Vasco, Nilban, Adonis. Toda a estrutura que estava ali instalada quem comandava era ele.
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17:52
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A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Houve alguma transação ilícita entre o senhor e ele?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - E com a presença do Governador Rollemberg também?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - O.k. Eu tenho outra pergunta também. O senhor também...
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Esta era, inclusive, uma das perguntas, porque isso ressonava na Câmara Distrital. Eu era Deputada Distrital à época e, por conta das declarações, nós tínhamos, às vezes, esta informação, que muitas vezes nós até levávamos ao Plenário da Câmara. Qual tipo de ingerência houve neste sentido?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Retirada de itens mínimos de sobrevivência dentro de um lugar — travesseiro. "Não pode entrar sabonete se não for branco." É uma ala do presídio — a senhora era Deputada Distrital, deve conhecer —, é uma ala em que só ficam os vulneráveis. Então, não havia necessidade nenhuma de fazer isso. Ele veio apertando, como querendo mandar um recado: "Se você falar meu nome ou o do Ricardo aí, sua situação vai piorar muito mais".
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Entendi. Em outro trecho da sua relação, o senhor diz que a JBS ainda deve cerca de 70 a 80 milhões de reais, sendo que cerca de 30 milhões são de operações lícitas, envolvendo apenas empresas privadas, e que não tiveram envolvimento com o pagamento de propina de políticos ou funcionários públicos; que também, entre essas operações que o senhor realizou com o Grupo JBS, estão um repasse de 500 milhões de reais, uma operação de 300 milhões e uma de 2 bilhões de 700 milhões para a compra da Alpargatas. Como ficou a questão desses pagamentos após a delação sua e do próprio Joesley?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - O Joesley costumava cumprir os compromissos que combinava?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Além do BNDES, o senhor tem conhecimento de outros bancos que foram usados neste formato também para a lavagem de dinheiro, fundos também financeiros?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Como funcionava, Dr. Lúcio, essa venda de ativos superavaliados para fundos de pensão?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Você faz dois valuations, contrata duas empresas para fazer valuation, elas fazem o valuation, e você já acerta com a própria empresa de fazer um valuation mais elevado. Ou você faz por outro método: um avalia pelo ativo, o outro avalia pelo fluxo de caixa descontado. Então, dependendo do método que se adotar para avaliar o ativo, o ativo pode ter um valor X ou Y. Então, na minha cabeça, quando tem essa duplicidade de valores na avaliação do ativo, teria que ser feita uma média ponderada. Eu não sei se esses fundos tomaram essa precaução.
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17:56
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Deputada, permita-me fazer só uma pergunta.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Qual é o nome da Vice-Presidente?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O nome completo dela é esse?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Deputada, eu só peço 30 segundos, porque a gente precisa fazer uns requerimentos.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Fique à vontade, Relator. Fique à vontade.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O nome do Antônio Barreto completo você tem?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - E o do sobrinho do Joesley?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Sra. Presidente, só que o meu tempo não foi o tempo de Líder e de Parlamentar.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Obrigado, Deputada. Desculpe.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Em 2014, o senhor também foi sondado pelo Joesley sobre a possibilidade de transformar a dívida da Eldorado junto ao FGTS em participação acionária. Que tipo de operação é essa? Ela é comum em empresa de grande porte?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ah, ele queria, além de já ter tomado o dinheiro do FI-FGTS, ainda vender caro as ações superavaliadas da Eldorado para o FI-FGTS. E eu falei que era impossível fazer essa operação, que eu não ia nem tentar. Ele queria ampliar o spread do roubo dele em cima da Eldorado, contra a Caixa Econômica Federal, mais precisamente o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - O senhor também falou sobre a questão de fraudes em notas fiscais. E, na parte de uma delação do senhor, o senhor coloca o seguinte: que entende que grande parte do lucro da JBS é relacionada ao esquema de fraude e sonegação de ICMS e ao incentivo fiscal que ele conseguia através de pagamento de propina. O senhor poderia nos detalhar como é que isso funcionava no Brasil?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Principalmente nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Inclusive, isso aí já foi detalhado por ex-Governadores de Estado que aderiram ao processo de colaboração, como no caso do ex-Governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, que explicou como é que funcionava esse esquema de ICMS no Estado de Mato Grosso. No Estado de Mato Grosso do Sul, quem tomava conta dessa parte para o Joesley é uma pessoa que era ligada ao Governador — esqueci o nome dele —, que se chama Ivanildo Miranda. Nos outros Estados, eu não sei com quem era que ele lidava. Ele tinha até um diretor financeiro que se chama Boni, que era o responsável por traçar as estratégias fiscais de sonegação, de não pagamento, de compensação de crédito tributário, todo tipo de recurso que você possa fazer na área tributária, ou para protelar o pagamento, ou para pagar de maneira que o tributo seja mais barato, caucionando título público, esse tipo de coisa.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - O senhor também fala, quando cita esse esquema na sua delação, de Marcos Molina. Também o senhor se lembra dele?
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18:00
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A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Sra. Presidente desta CPI, Sr. Relator, eu quero aqui deixar consignado nesta reunião o nosso pedido oficial para a anulação realmente da delação do Joesley Barbosa. Quando iniciamos esta CPI, Deputada Paula, eu vim aqui e coloquei um caso que a nossa família sofreu. O meu pai era dono de empresa de couro, e o mercado inteiro foi quebrado, porque você não consegue disputar com recurso público quando você vai a um banco privado buscar dinheiro emprestado a juros que não consegue pagar. Então, esse cidadão, que é talvez o mais mau-caráter — e acho que essa palavra é até pequena perto do que ele tem feito contra o nosso País —, nem no momento da sua delação teve a austeridade de mostrar que realmente estava arrependido e de se colocar numa posição de tentar devolver aquilo que ele roubou dos cofres públicos. Portanto, eu quero deixar isso consignado. Estou satisfeita com as perguntas, Sr. Relator, Sra. Presidente. Mas eu faço questão de deixar isso consignado, porque, quanto mais depoimentos ouvimos aqui, Deputada Paula — e gostaria de parabenizar V.Exa., que é autora desse pedido —, quanto mais escutamos as pessoas que estão dispostas falar, que falam da forma como isso acontecia, mais eu acho que essas pessoas pensam que podem comprar o mundo todo. Mas esta CPI, com seus Parlamentares, está de parabéns, porque não vai se curvar a esse poder econômico. Obrigada, Sra. Presidente.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Fico muito grata, Deputada Celina. Esse é o nosso sentimento também, o sentimento de que, além de pegar o dinheiro das pessoas, do povo, do trabalho — temos que sempre lembrar que o dinheiro do BNDES e do Fundo de Garantia vem do suor do povo trabalhador —, além de vir com essa benevolência dos juros, ele quebrava os pequenos e diminuía o emprego. Em Mato Grosso, por exemplo, me parece que mais de 17 plantas acabaram. Então, imaginem o desemprego que se gerou. E aí eu aproveito para complementar o que disse a Deputada. Em uma delação do senhor, eu ouvi que o objetivo dele era exatamente fazer a dificuldade dos pequenos, quer dizer, ele queria federalizar algumas ações para que os pequenos tivessem dificuldade de fazer a comercialização no seu Município, no seu Estado. Então, ele fez de tudo. Parece-me que faz até parte da delação do senhor essa...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Faz até hoje. Por exemplo, hoje, ele, agora, não contente em oligopolizar o mercado da carne, agora quer oligopolizar a distribuição. Então, na frente de todo supermercado grande que tem em São Paulo, nas grandes capitais, ele vai e monta uma loja da Swift, que é a marca de carne dele premium, ou seja, ele leva o dono do supermercado a ter prejuízo, porque o cara para de vender carne dentro do supermercado dele e ter lucro. Foi o que aconteceu com o pai da Deputada Celina Leão. O que aconteceu? Ele não conseguia vender o couro, não conseguia curtir o couro, não conseguia exportar o couro, porque ele pode operar com prejuízo de 10 anos, porque ele toma dinheiro a juro negativo, enquanto o pai dela vai tomar dinheiro no banco. É juro que não é juro normal, é juro estratosférico. Com uma concorrência desse tipo, ninguém consegue. Não é questão de ser competente ou incompetente. Com juro negativo, qualquer um ganha dinheiro.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Eu aproveito para dizer que nós tivemos o depoimento do proprietário do Frigorífico Independência, o Sr. Russo, e ele falou para nós que ele sentiu que o BNDES atrasou a análise para liberar o recurso exatamente para que ele chegasse ao limite dele e pedisse depois a...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Recuperação judicial.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - ... recuperação judicial.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - E, na sequência, na mesma época, foram liberados, em menos de 20 dias, bilhões de reais.
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18:04
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A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Deixe-me aproveitar aqui as perguntas da Deputada Celina Leão. Eu sou também de Brasília. O senhor trouxe aqui que o senhor fez um depoimento falando do BRB e que foi cancelada a sua conta, o cartão do senhor e da sua esposa. Isso foi nessa atual gestão? Então, nessa atual gestão...
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Então, nós podemos falar que essa atual gestão ainda está sob influência?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Está corrompida, está corrompida. Pode afirmar, não; eu afirmo que está corrompida. Ninguém pode mandar... O banco não pode mandar uma notificação para um cliente sem assinatura. Um banco tem que seguir os procedimentos e as normas-padrões de compliance do Banco Central do Brasil. Eu nunca vi norma de compliance do Banco Central do Brasil, trabalhando há 30 anos no mercado financeiro, que diga que não se precisa assinar uma notificação. Então, isso é um absurdo, um absurdo. Aí, a pergunta que eu fiz para o funcionário responsável pelo compliance é se ele fechou a conta do Paulo Octávio, se ele fechou a conta do Gim Argello, se ele fechou a conta de todos os outros envolvidos na Lava-Jato. É capaz de ele ter fechado a minha e deixado a do Ricardo aberta. É incrível, mas é o que acontece.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Dr. Lúcio, a gente faz até um pedido aqui...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - E, pior, o problema não é esse. O problema é que, para eu ter o direito de me defender, eu tenho que gastar dinheiro próprio meu com honorários de advogado, dinheiro meu para recolher taxa de Judiciário, ocupar um juiz e não sei o quê, quando está mais do que claro, quando você faz uma correspondência para um banco qualquer, um gerente de banco: "Aqui não dá para fazer". Ele tem alguma restrição no SERASA? Não. A esposa dele tem restrição no SERASA? Não. Ele tem outros cartões de crédito? Tem. Ele tem renda comprovada? Tem. Tem Imposto de Renda suficiente para ter esse cartão de crédito? Tem. Então, qual é o motivo de cortar um cartão de crédito da minha esposa e o meu no mesmo dia de depoimento em que eu fui depor contra o Ricardo Leal? Retaliação. Eu não conheço outro nome além desse. Mas eu acredito na justiça divina, que o que se faz aqui, aqui se paga.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Você falou também de uma mensagem. Se o senhor pudesse depois encaminhar toda essa documentação para a CPI, para a gente...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Posso. Está até aqui com o meu advogado, porque eu pedi para ele entrar com uma liminar. Acho que isso aí é um problema muito sério que o Brasil enfrenta, um banco que já foi usado extremamente politicamente. Eu acho que está na hora de parar e tocar o banco para frente ou, então, encerrar de uma vez.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sra. Presidente, eu acho importante buscar essas informações.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Com certeza.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Nós, eu e a Deputada Celina, somos do Distrito Federal e nos comprometemos a fazer essa investigação, com certeza absoluta.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sabe por quê, Presidente? Porque o Ministro Paulo Guedes também indicou o conselheiro do Banco do Nordeste, e foi trazido aqui...
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Isso que o senhor está trazendo é um ponto muito importante. Quando nós fizemos a...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - É por isso que, quando há essas coisas, digamos assim, aparentemente paralelas, fica demonstrado que nós não podemos, de forma alguma, agir nesta CPI com algum dirigismo. Nós temos que buscar as informações dentro do âmbito da nossa investigação.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Deputado Paulo, nós estamos aqui em prol do povo. Então, isso traz uma reflexão também a respeito das estatais. Eu sei que vocês são defensores das estatais, mas para que servem essas estatais? Simplesmente para indicações, e muitas dessas indicações não servem verdadeiramente ao seu fim. Não existe, na história do Brasil, nenhuma instituição financeira que não teve problema de corrupção. Não existe. Então, é muito importante...
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18:08
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Inclusive nas privadas. A JBS é uma empresa privada.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Mas, nas privadas, o prejuízo é da pessoa que está investindo, não é do povo. É muito importante colocarmos isso para fazermos uma reflexão.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O prejuízo causado pela JBS, uma empresa privada...
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Pelo BNDES.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - A Odebrecht é privada, a OAS é privada, todas são empresas privadas!
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Utilizaram o dinheiro do povo, do BNDES.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Mas só há empresa privada!
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Que utilizaram dinheiro do povo.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Nós não podemos de forma alguma dizer assim: "Quatro patas bom, duas patas ruim", como no caso do livro 1984, do George Orwell. A cumplicidade existe envolvendo o privado e o público.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Presidente, vamos seguir. Nós precisamos perguntar...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Não se pode dizer que, porque é estatal ou banco público, há corrupção e, porque é empresa privada, não há. O Ministro Paulo Guedes está aqui. Há um universo de envolvimento dele com bancos públicos, com o BNDES, etc.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Presidente, nós precisamos caminhar.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Eu consigo compreender.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Deputado Pedro, deixe-me só perguntar um nome, porque eu estou fazendo um requerimento.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Qual é o nome completo dele? O senhor sabe ou não?
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Deputado Pedro, V.Exa. tem a palavra.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sra. Presidente, Sr. Relator, Deputados, eu queria inicialmente fazer um comentário em relação à intervenção do Deputado Paulo Ramos sobre uma preocupação com recursos financeiros, instituições financeiras públicas, estatais e a relação com o Ministro Paulo Guedes. A fala foi questionada e criticada por outro colega nosso, que tentou deslegitimar e desqualificar o Deputado Paulo Ramos. Eu acho que nós devemos estar há umas 3 horas aqui. Acho que o próprio Deputado que o desqualifica, Deputado Paulo Ramos, não fez uma pergunta sobre práticas ilícitas do BNDES em contratos no exterior. Então, eu acho que essa tentativa de censurar determinadas investigações ou solicitações, elegendo o que interessa para cada um, deve ser deixada de lado, porque assim se permitiria, inclusive a mim mesmo — estou dizendo isto em defesa do Deputado Paulo —, fazer perguntas. Daqui a pouco, por exemplo, eu vou perguntar sobre o Ministério Público, a Polícia Federal, sobre interferências nesses órgãos para não se investigar o Queiroz e assim por diante. Nós estamos atrás dele, mas o homem não aparece. Defendo a autonomia e a independência, até porque os nossos Governos deram autonomia para a Polícia Federal, para o Ministério Público. Isso é fato, não é discussão ideológica. Em segundo lugar, eu queria fazer duas ou três perguntas para o senhor em relação ao sistema financeiro, aos bancos privados. O senhor falou aqui de fraudes em todos os bancos privados nestes últimos 20 anos. Onde é que está a necessidade de uma nova governança na relação do Estado brasileiro com os bancos privados? Há necessidade de uma reforma do sistema financeiro? Por exemplo, lavagem de dinheiro passa por banco público ou por banco privado?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Pelos dois. Então, é isso.
Aí é importante ouvir o senhor, que então mostra que no banco privado também tem lavagem dinheiro, também tem ilícito, também tem corrupção. Aparentemente, é o lugar da competência, da eficiência, da produtividade; é o lugar do bem, para os homens de bem, e no Estado só tem homens de mal, fazendo o mal.
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18:12
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O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Eu vou voltar depois à pergunta geral, mas volto, então, já para a questão do BNDES. Em toda a sua experiência, teve funcionários do BNDES, de qualquer escalão, que pediram propina, pediram recursos, taxa de sucesso, mediação de financiamentos, ao longo da sua experiência profissional?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não posso responder a essa pergunta para o senhor, porque, como eu falei para o senhor, eu nunca tive nenhum negócio direto com o BNDES, a não ser uma solicitação de crédito, que, de pleno, já foi negada, por conta de divergência política que eu tinha com o Governo do PT.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então, o senhor desconhece qualquer prática ilícita no interior do BNDES?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Eu vou pegar um pouco o histórico. Fez muito bem o Deputado Pablo aqui, trazendo as suas participações em alguns momentos da relação do privado com o público, privado com a política, privado com os partidos políticos, desde lá de 2005, recentemente, etc. Eu faço uma pergunta. A partir da Lava-Jato... Eu tenho profundas críticas, mas, com a Lava-Jato, lá em 2005, 2006, estava muito presente o caixa dois. Recentemente, mesmo com caixa um, a gente vai perceber essa relação entre o privado e o público. O fim do financiamento empresarial para as campanhas eleitorais dos partidos políticos é uma esperança para eliminar esse processo corrosivo de conluio dos interesses privados na relação com o público?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Por quê?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Porque eu acredito que o sistema continua ainda tendo tanto dinheiro de caixa um como de caixa dois. E eu acho que o problema... Por que tem o caixa dois? Porque muita empresa não queria se vincular na doação com o candidato porque, se por acaso ganha a Oposição, depois ele tinha medo da retaliação. Então, eu acho que o mais eficiente seriam doações declaradas ao TSE, mas que não fossem... que só o TSE soubesse quem doou os valores. Então, eu vou lá, quero doar 500 mil para o PMDB; eu doo, o TSE sabe que quem doou fui eu, mas o PMDB não sabe de quem recebeu, nem os outros partidos, porque aí você cria o que a gente chama de Chinese wall, em que a doação não é uma doação provinda de corrupção, mas uma doação que é anônima. É como o senhor pegar um saquinho da igreja; se tem um cheque lá de 1 milhão de reais, o senhor não sabe quem é o fiel que deu. Então, o senhor concorda que aí não pode ter... a retaliação passa a deixar de existir? Por quê? Se eu doei para o senhor, e o senhor não é eleito, e o seu concorrente é eleito, obviamente o seu concorrente vai querer me retaliar. Estou falando, assim, em sentido amplo. Não posso afirmar que isso vá acontecer. Então, o que eu acho que devia acontecer na parte de doação...
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18:16
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O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Por que empresa tem que doar para os políticos? Para continuar a não ser retaliada ou ser beneficiada quando ganharem os seus candidatos? Para continuar fazendo essa prática de influência junto da política?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Mas nós estamos, inclusive, discutindo aqui internamente acabar... O Marcelo, que foi o Presidente da Comissão da reforma da Previdência, propõe o fim inclusive da contribuição da pessoa física.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - É isso, é isso.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k. Então, se acabar, tanto a pessoa física...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O senhor acha que, tendo essa opção de não ter mais empresário botando dinheiro na mão de político... E o senhor mediou muitas relações assim e hoje tem uma avaliação... Essa questão de Eduardo Cunha, várias relações de que o senhor mesmo falou hoje aqui... Tanto de pessoa física quanto de jurídica, diminuiria a corrupção no País, e o Estado brasileiro teria mais transparência?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k. Obrigado por essa informação. Segundo, vou perguntar de novo sobre o sistema financeiro. Se o senhor admite que tem corrupção em bancos públicos e bancos privados, por onde passa... Eu sou um grande defensor da reforma do sistema financeiro, da reforma do sistema financeiro. Eu não consigo imaginar, num segundo trimestre, os bancos terem 20 bilhões de lucro, quando o setor produtivo está precisando de crédito, está precisando de recurso. O BNDES junto com os bancos públicos e privados financiavam 2,8 trilhões de reais; hoje financiam no máximo 700. Estão segurando o dinheiro e, quando emprestam, emprestam com juros exorbitantes, criminosos neste País. Por onde passa, pela sua experiência, até porque eu estou querendo aproveitar esta CPI para ter alguma utilidade, além do que a Lava-Jato, que as investigações que outros setores estão fazendo... Sobre a reforma política, já me atendeu a minha posição. Segundo, sobre o sistema financeiro: por onde passa a transparência do sistema financeiro? Por onde passa uma nova legislação, nós Parlamentares aqui, para que não tenha corrupção nem em banco público, nem em banco privado, e que os bancos sejam um instrumento não com um fim em si mesmo, mas um instrumento de desenvolvimento do próprio País?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Por um regime de... A melhor coisa que poderia existir para o Brasil hoje é um Banco Central independente, com um poder fiscalizatório amplo sobre todo tipo de instituição financeira, seja ela pública ou privada, e com um investimento maciço na área de tecnologia e na área de fiscalização. O Banco Central tem profissionais extremamente capacitados, e, se precisar, o Governo deve abrir, deve fazer concurso público para requisitar mais pessoal e deixar isso a cargo do Banco Central, que tem toda a capacidade de administrar e ver quando os bancos não estiverem cumprindo o papel deles, que é de emprestar dinheiro, cobrar compulsório, para que eles não fiquem com o dinheiro no caixa recebendo juro. Então, a política do Banco Central sendo independente e o Banco Central sendo independente são na minha opinião o que pode existir de melhor para o Brasil, e no menor espaço de tempo possível.
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18:20
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O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Em relação aos bancos privados, tem várias denúncias na imprensa aqui de que a Lava-Jato os deixou de fora, os excluiu, silêncio em relação... Inclusive, um delator citou 71 vezes o Banco Safra e 32 vezes o Banco Bradesco. Por que a Lava-Jato demora tanto, ou demorou, ou não fez seletivamente as investigações nos bancos privados deste País? Ali efetivamente é o centro de relações promíscuas e ilícitas, não só no mundo dos empréstimos, do crédito, mas na lavagem de dinheiro. Teria aí também um caminho com paraísos fiscais? Teria aí também transferência de recursos ilícitos, como de narcotráfico, crime organizado?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Por quê?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então o banco privado tem um banco no paraíso fiscal para pegar o ilícito...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Não, não é?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Da corrupção no setor privado, nos bancos privados, narcotráfico e crime organizado, além dessa relação entre o público, o dinheiro público, com as instituições privadas, com empresas.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Claro, claro. Não vou nem pedir para o senhor fazer, até porque o senhor fez delação.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não, não é problema. Se eu achasse que estivesse errado, eu falaria para o senhor. Eu não tenho... Posso falar, eu já passei por experiências extremamente desagradáveis na minha vida, então não tenho mais receio de nada. Se eu tivesse receio, eu nem teria vindo aqui hoje. Como disse um Deputado ali que é delegado da Polícia Federal, eu me considero ser um arquivo vivo, então eu nem sairia daqui. Mas eu não tenho medo: ando na rua, na minha cidade, não ando com segurança. Não tenho nenhum receio, com exceção de quando vou para grandes capitais. Com relação a esse dinheiro que circula, que não é lícito, que tem algum tipo de problema, que é oriundo... Isso aí... Só o Banco Central pode criar um sistema de fiscalização efetivo, que possa controlar os bancos e punir exemplarmente quando o banco transgredir alguma norma. Por que é que o banco nos Estados Unidos não transgride a norma? Porque, quando ele transgride a norma, a punição é tão grande, tão grande, que não compensou o valor que ele... Por exemplo, se ele lavou 100 milhões de dólares, ele vai tomar uma multa de 2 bilhões de dólares, entendeu? O preço da multa é tão superior ao valor do que ele pode ter auferido de ganho para lavar 200 que ele prefere não fazer. Assim você vai coibindo. Então, tem que ser aumentado o valor das multas punitivas, aumentada, até na própria legislação penal, a tipificação do crime financeiro, aumentando as penas; tem que ser demonstrado com uma precisão ímpar que não vai ser mais aceito esse tipo de atitude dentro do mercado.
E eu acredito que o mercado, a partir do momento em que o Banco Central se posicione dessa forma... O mercado é muito dinâmico. Rapidamente, ele vai se consolidar de novo, e nós vamos ter um mercado aí saudável, como o senhor espera que esteja aqui... que tenha um mercado saudável para a Nação. Eu concordo com a afirmação que o senhor fez: não tem banco privado bonzinho e banco estatal mauzinho; é tudo a mesma coisa, tudo na mesma panela, e tudo funcionando. O sistema financeiro como um todo tem que ser reformulado totalmente, na parte de legislação e de multa. No resto, o sistema brasileiro é um sistema bem controlado. O sistema de pagamentos é um sistema que é um dos mais modernos do mundo, a política do COPOM é uma política que eu acho que é segura. Eu acho que o Banco Central tem tido um comportamento... o Presidente do Banco Central tem tido um comportamento muito bom aí nesse começo de Governo.
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18:24
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O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sobre ilícitos dos bancos, essa questão de dólar, você consegue identificar práticas que possam estar se relacionando entre empresas privadas ou públicas, ou no mundo da política, ou nos paraísos fiscais, junto com o setor financeiro, na transação de dólar?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Certo, mas e ilícito nessa questão dos dólares?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Então, a wire transfer é só para dólares ou euros ou francos suíços, só para esse tipo de coisa. Aí, para você saber se é ilícito ou não, depende de um trabalho de trás, que é para saber de onde veio o dinheiro, porque eu estou fechando o câmbio para mandar para fora. Quem é a empresa? Tem porte para fechar? Não tem porte para fechar? Pode fechar? Não pode fechar? É fácil, não é difícil criar esse sistema, desde que não tenha a conveniência do banco, seja ele público ou privado. E ele só vai fazer isso a partir do momento em que... É o seguinte: se ele for fazer uma operação de câmbio de 100 mil dólares com dinheiro proveniente de narcotráfico e ele tomar uma multa de 1 milhão de dólares, ele não vai mais fazer. Aí se ele fizer uma de 1 milhão e tomar uma de 100 milhões, ele não vai mais fazer. Aí acaba esse ilícito que existe hoje no mercado financeiro.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sr. Presidente, eu concluo — nem vou utilizar os 4 minutos — dizendo que eu estou convencido da importância de fazer dos bancos públicos estatais... Diferentemente do senhor, eu sou a favor de manter o BNDES como um banco público indutor do desenvolvimento e fornecedor de crédito para o setor produtivo, mas com uma transparência, com uma competência técnica, etc., etc.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Se o BNDES financiasse o pequeno produtor, a pequena indústria, o pequeno comerciante, eu estaria de pleno acordo com o senhor. Mas a exigência é tão grande que o pequeno produtor, a pequena indústria, o pequeno comerciante não conseguem nem ter acesso, de acordo com as exigências do Banco Central, ou melhor, do BNDES. Então, tem-se que desburocratizar o banco e fomentar a política de menores empréstimos para mais empresas, porque a empresa que é grande tem capacidade de emitir bonds, ela tem capacidade de emitir debêntures, ela tem vários instrumentos financeiros que o pequeno não tem. Eu não posso emitir 500 mil reais de debêntures, eu não posso emitir 1 milhão de reais de bonds. Então, a empresa grande tem um lastro, uma assessoria financeira, uma assessoria jurídica, um apoio muito maior que o pequeno.
O pequeno tem ele e no máximo um gerente financeiro que tem na empresa dele. E eu acho que o banco, o BNDES, deve servir para fomentar esse tipo de empresa e as empresas estatais saudáveis. E as não saudáveis que se privatizem.
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18:28
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Financiou helicóptero!
(Risos.)
Financiou helicóptero para várias figuras importantes.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Bem, Deputado...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deixe-me dizer só o seguinte: Deputado Uczai, termine sua fala.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Eu já termino aqui. Eu estou convencido, Sr. Presidente, Srs. Deputados, de que nós precisamos fazer uma reforma do sistema financeiro brasileiro. Não é possível nós transferirmos 1 trilhão e 46 bilhões de reais, como fizemos no ano passado, do Tesouro, do Orçamento da União, para os bancos e vermos esses lucros bilionários a cada trimestre no setor financeiro. Não estou nem responsabilizando o atual Governo, mas essa é uma necessidade da sociedade brasileira. Quando participei no âmbito da relação com o Governo, sempre foi um desafio esse enfrentamento com os bancos, o setor financeiro. Quando o Lula fez o casamento entre o capital e o trabalho com o José Alencar, o José Alencar era um dos empresários que sempre questionava a taxa de juros neste País. E está atual o José Alencar novamente aqui neste debate.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Permita-me, no seu tempo...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sim.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Quero só um pedacinho do seu tempo para mencionar que o Bertolt Brecht disse que crime maior do que roubar um banco é fundar um banco. Essa é uma afirmação verdadeira, porque o vício está em todo o sistema financeiro, nacional e internacional. Há países importantes que controlam paraísos fiscais.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Eu vou passar a palavra, então, para o próximo orador...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Ele me cedeu um pedacinho do tempo dele, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Está bem.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sim.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O Deputado Pastor Gildenemyr tem a palavra por 5 minutos.
(Pausa.)
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Sr. Presidente, Sr. Lúcio Bolonha Funaro, senhores advogados, Srs. Deputados Coronel Chrisóstomo, Pedro Uczai e...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Meu comandante!
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - ...Coronel Paulo Ramos, nós estamos chegando já quase ao final, ao encerramento dos trabalhos da CPI do BNDES. Ouvimos aqui dezenas de pessoas. E eu sempre digo que a colheita de provas testemunhais — eu sou oriundo da Polícia Federal também, como o Deputado Delegado Pablo — é algo quase dispensável, pela experiência que nós temos, à exceção das delações, porque as delações não são testemunhos, como os doutores que estão aqui sabem.
Mas o seu depoimento hoje chama atenção, porque o senhor fala com o coração, com indignação e até, em alguns momentos, com tristeza por ter feito parte de uma história muito feia do Brasil. E o Pablo comentou que o senhor, há 20 anos, há duas décadas, transita nos escaninhos da corrupção.
E a corrupção permeia todos os setores. Deputado Uczai, V.Exa. foi Prefeito em Chapecó, uma cidade muito rica do Oeste Catarinense...
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18:32
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(Intervenção fora do microfone.)
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Pois é. Então, a corrupção permeia os três setores do setor público e os três setores da iniciativa privada. Para haver a corrupção, tem que haver a participação de um funcionário público; no Brasil, de um político; e de uma empresa privada. Sem essa triangulação, ela não acontece, porque entre privado e privado pode haver até dumping ou cartel, mas não corrupção. A corrupção só vai existir na triangulação de privado, com a empresa privada; público, com o servidor público; e, no Brasil — eu digo no Brasil porque isto é específico daqui —, com um agente político: Governador, Prefeito, Vereador, Deputado Federal, Senador. Então, havendo essa triangulação é que acontece esses grandes escândalos, desde o Banestado, em 2003, quando apareceu um senhor chamado Sergio Fernando Moro, que era juiz em início de carreira ainda. Alberto Youssef e outros doleiros, na época, já operavam. Um deles era o tal de Dario Messer — e depois eu vou lhe perguntar sobre o Sr. Dario Messer. Entrarmos, Sr. Presidente Macris, nessa seara de público e privado, sinceramente, enquanto nós convivermos num sistema político de Estado brasileiro corrupto... E é um sistema corrupto. Eu estou há 6 meses na Câmara Federal e nunca havia tido nem filiação partidária até hoje. Em muitos locais a que chego, eu ainda digo que minha profissão é policial federal licenciado. Tenho vergonha de dizer que estou Deputado Federal, produto da tradição corrupta de 100 anos, que continua. Nós vimos agora uma votação sobre o abuso de autoridade — e aí faço uma crítica à realização de uma votação simbólica para algo de tamanha importância. Os operadores que estão aí para combater corrupção vão praticamente acabar. Se passar como está aquele projeto, acabou a repressão. O enfrentamento à corrupção não vai existir mais, vai se tornar impossível. E aí faço uma crítica. Não sou partidário, não tenho viés ideológico, mas o PT se juntou com boa parte de partidos que estão envolvidos até o pescoço em corrupção, como o PT também está, e eles fizeram aquela vergonha nacional. Aquilo foi um fiasco, para todos nós. No mesmo momento, a minha filha de 22 anos perguntou: "Pai, o que está acontecendo aí?" Eu disse: "Olha, eu não sei", porque se faz votação nominal até para escolher nome de ponte, mas, para votar um projeto daquele tamanho, faz-se votação simbólica. O que é isso? Deputado Coronel Chrisóstomo, nós ficamos estarrecidos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Mas ninguém requereu.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Nós requeremos. Houve um requerimento formal apresentado. Nós — 40 Deputados — apresentamos.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Mas não houve votação. Foi votação simbólica.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O Presidente não acolheu?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Nada! Isso é uma vergonha.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Por contribuir com a Justiça e, mais, contribuir com o povo brasileiro, dentro de um sistema que é feito só para roubar, de minha parte, pelo menos, o senhor já passa a ter um respeito, porque está fugindo à regra. O Paulo comentou que o senhor seria um arquivo vivo. Não, eu acho que é um HD vivo.
Há milhares de arquivos dentro dessa cabecinha aí. E, certamente, lá na frente, seus filhos, seus netos vão dizer: "Pô, realmente, teve alguém de coragem para falar de JBS, Joesley, Wesley, PETROBRAS, BNDES, empresas públicas que são tomadas de assalto por homens públicos, para fazer enriquecimento ilícito, evasão de divisas, para matar centenas de crianças, que não têm remédio, que não têm assistência, saúde". Houve 62 mil homicídios no ano de 2017 no Brasil — 62 mil homicídios no Brasil!
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18:36
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputado Sanderson, seu tempo já...
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Eu estou nos meus 5 minutos.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Não, seu tempo já terminou.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Já terminou? Presidente, desculpe então a...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Mas pode concluir.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Obrigado. Essa indignação tem que tomar todos nós, porque a corrupção toma todos, toma a todos, público ou privado. Essa discussão sobre se privatiza ou não privatiza acaba sendo secundária. Mas deixe-me lhe perguntar, então, me permitindo aqui quase um desabafo: há quanto tempo o senhor não fala com o Sr. Joesley Batista, por WhatsApp, telefone ou pessoalmente — mais ou menos, não precisa citar data —, 1 mês, 2 meses, 1 semana?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Faz uns 3 anos que não fala com ele?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Tá. Como é que o senhor fala, então, que ele continua praticando crimes? Como é que o senhor sabe que ele continua praticando crimes?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Sim. O senhor poderia asseverar que Joesley Batista continua se dedicando a práticas criminosas de evasão de divisas, sonegação fiscal, crimes contra a ordem econômica e contra a ordem pública em geral? Poderia afirmar?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Então, aquilo que o senhor disse antes... No depoimento anterior, o senhor falou que Joesley continuava praticando crimes hoje.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Mas o que o leva a afirmar que ele continua praticando crimes?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Mas o senhor não tem nenhuma informação concreta para nos apresentar?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Simples, uma coisa simples: ele vende a empresa, não entrega; o senhor acha que isso é um ato normal ou é crime? Ele vende a empresa para um investidor estrangeiro. Não entrega a empresa. Ao não entregar a empresa, ele afugenta mais outros investidores estrangeiros que poderiam investir no País. O senhor acha que isso aí, perante a Nação, é um crime ou é um presente que ele está dando para o País?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Então, o senhor, dando a volta agora, acha que ele está cometendo então crime contra a ordem econômica, continua cometendo crime contra a ordem econômica, pelo menos — pelo menos?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Eu estou construindo uma ideia aqui. O senhor comentou também que foi retalhado em algumas situações, retalhado...
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - ...pessoalmente por instituições públicas.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Teria o nome para indicar? Se não tiver, pode ser o nome do interlocutor, para nós irmos atrás de responsabilidades objetivas de quem os retalhou. Teria?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Tá.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Tá. Da Caixa Federal há alguém?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Banco do Brasil?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O.k.
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18:40
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O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Claro. O senhor também comentou que na época...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - E, pior, ainda estenderam o problema para a minha mulher. Porque é mais um problema para eu ter que explicar em casa. Porque qualquer coisa que acontece, depois desse passado que aconteceu, minha mulher se assusta com qualquer coisa: "Pô, o meu cartão não está passando. Será que é algum problema?" Então, é um negócio que é para ir te minando psicologicamente, entendeu? O senhor é delegado. O senhor sabe como é que faz para ir minando. Todo dia você dá uma porrada, uma porrada, uma porrada, a pessoa cansa.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Para finalizar, Presidente. O senhor comentou que na época do Presidente Eduardo Cunha, Presidente da Câmara, o PMDB da Câmara recebia propina. Mas o PMDB é algo abstrato. Além desse senhor que está preso, o Eduardo Cunha?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Não pode ou não sabe?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Então não seria para Deputado?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Não. Às vezes, acontecia de alguns Deputados se dirigirem ao meu escritório para sacar dinheiro que tinha sido separado pelo Deputado Eduardo Cunha. Mas eu não me lembro de cabeça todos os nomes, mas eles estão na minha colaboração. É só o senhor pedir um compartilhamento. Tenho quase certeza de que vai ser deferido.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O.k.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Presidente, peço 15 segundos, para ajudar. É na mesma direção a pergunta.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sim?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Mais de 30 milhões para o Eduardo Cunha?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Foi o ano em que ele andou financiando os Deputados para virar Presidente da Câmara?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Para depois dar o golpe.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Presidente, para encerrar. Qual é a sua relação com o Sr. Dario Messer? Já teve negócio com ele?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O senhor é um HD vivo. Ele seria um Winchester vivo?
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não qual o tipo de... Eu acredito que sim. Ele é uma pessoa que tem muito conhecimento. É uma pessoa muito inteligente. Tem todo o meu respeito, apesar de ter feito coisas que possam ter sido erradas, mas ele só me ajudou na minha vida. Ele sempre me financiou. Então, a única coisa que eu tenho a dizer dele é que eu não desejo que ele tenha um período preso estendido e nem que os familiares dele tenham mais nenhum tipo de problema com a Justiça.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O.k. Numa escala, tendo o Dario Messer como o doleiro dos doleiros, o Alberto Youssef estava num andar superior ao seu ou inferior?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Superior.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O.k.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu falei aqui do Sr. Biojone Filho. Ele foi indicado. Ele realmente não trabalhou na Caixa Econômica Federal, mas foi indicado para participar de um conselho. E ele foi indicado no dia 28 de novembro de 2012, como representante do titular do Ministério do Trabalho e Emprego para integrar o Comitê de Investimento de Fundo de Investimento do FGTS. E, lá, logo na sequência, foram aprovados 950 milhões...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Para a Eldorado. Exatamente.
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18:44
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A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sim, mas o senhor...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Hoje houve um julgamento no TCU a respeito das obras, a respeito de algumas obras que eles estão investigando. E o Ministro Sherman fez uma declaração de que eles já conseguiram comprovar um desvio de 12 bilhões de reais, mas que ele julga que esse valor é muito maior. O senhor disse que o senhor movimentou nesse período 10 bilhões, sendo que, desses 10 bilhões, o senhor disse que mais ou menos 2 bilhões seriam para o Grupo Joesley.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sim, mas então... Quais são os meios de... Quanto que o senhor movimentou? Porque o senhor trabalhou também com a Odebrecht...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor não tem nenhuma relação com o Grupo Odebrecht?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas existem várias reportagens falando que o senhor tem uma relação com...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu mostro aqui para o senhor depois.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Então, pode a reportagem estar errada. Eu não tenho nenhuma ligação, nenhuma. Nunca fiquei preso com nenhum executivo do Grupo Odebrecht. Não tenho nenhuma ligação com o Grupo Odebrecht. A única ligação que eu posso ter com o Grupo Odebrecht é que a gente utilizava o mesmo sistema de liquidação. Eles usavam o Tony e o Juca, que eram os funcionários do Dario que ficavam no Uruguai, e eu também usava o Tony e o Juca para fazer as minhas liquidações financeiras. Nada mais disso. Eu não tenho nenhum relacionamento com o Grupo Odebrecht, nenhum.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Deputado, eu posso só fazer uma reflexão rapidamente?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Rapidamente, para nós encerrarmos, Deputada Paula Belmonte.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sr. Lúcio, eu fiz a requisição da vinda do senhor aqui. Eu agradeço a disponibilidade. Como foi falado aqui, o senhor trouxe informações relevantes para que a gente possa trazer mais oportunidade de realmente fazer, que é o nosso sentimento aqui de trazer a transparência... Eu também nunca fui política. Estou entrando na política por um drama pessoal, na realidade. Eu perdi um filho, e essa perda me trouxe para a política, com a defesa muito grande das crianças. Morei fora do País muito tempo. Quando cheguei aqui no Brasil, percebi, infelizmente, uma desconexão do mundo político com o povo verdadeiramente. Quando se fala desses grandes bilhões de reais, a gente vê que quem contribuiu... Esse dinheiro foi colocado com o suor do povo, porque o Estado mesmo não tem. E aí o senhor traz aqui para nós que existe — e que é a confirmação dessa CPI — o tempo todo, que existia uma orquestra tanto do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, da própria..,. os empresários. E eu fico fazendo aqui uma reflexão, quando foi perguntado para o senhor aqui pelo Deputado Coronel Chrisóstomo, que falou assim: "O senhor não pensou no povo?". O senhor não era político, mas eu fico aqui pensando assim: como que é? Como que é esses políticos que vão pedir voto, pedir voto para essas pessoas que realmente estão em situações assim muito fortes de vida, de miséria, e a farra de bilhões? Roubar! Porque não há outra palavra. É roubar do nosso povo, tão vulnerável.
O senhor, em algum momento, chegou a ver algum desses políticos — não precisa falar o nome, não — ter essa conexão ou o senhor pode me dizer, assim, que não existe, é tudo uma ilusão?
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O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Olha, eu não posso falar em nome de todos os políticos, porque eu não conheço todos os políticos. Eu posso falar pelos que eu conheci. Raramente eu via algum político se preocupar realmente com a massa do povo. Agora, eu não posso generalizar. E eu acredito que existem Parlamentares e membros desta Casa e do Senado que têm essa consciência e que trabalham para isto, para o melhor bem-estar do povo. Agora, que existe também o outro lado, isso aí já está claro, e mais do que provado em todos os sentidos.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Presidente, poderia passar a palavra para mim, por 15 segundos só? É porque não ficou claro, e é importante. O senhor disse que entregou 30 milhões de reais para o Sr. Eduardo Cunha. Isso foi em caixa dois ou declarado à Justiça Eleitoral como doação de campanha?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Não, mas...
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Mas no todo foram 30?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Trinta no todo, entre declarado e não declarado?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O.k. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Deputado Altineu Côrtes para concluir.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Presidente, quero agradecer ao Sr. Lúcio pela sua contribuição aqui hoje. Percebemos que o senhor respondeu a todas as perguntas...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu não só entreguei, como, se o senhor pegar a planilha do Sr. Joesley Batista do meu caixa dentro da empresa dele, o senhor vai ver debitados 30 milhões de reais de dinheiro que ele deu para políticos, debitando na minha conta, a mando do Deputado Eduardo Cunha, de uma ordem de crédito, de uma linha de crédito que eu estabeleci dentro da JBS para ele.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O único encaminhamento foi de 30 milhões aqui para a Câmara? O único ou 30 milhões foram só para o veio de Eduardo Cunha?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Só o veio Eduardo Cunha?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Teriam outros veios ou não?
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - O.k.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Deputado Altineu Côrtes.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Então, eu quero agradecer, Sr. Lúcio, e lhe pedir, se o senhor pode colaborar com informações a respeito do que nós falamos aqui hoje, qualquer informação complementar, qualquer informação que o senhor julgue necessária, que vai acrescentar nos resultados desta CPI, que não foi tocada aqui, ou que tenha sido tocada aqui e o senhor queira encaminhar qualquer documento, o senhor faça isso...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Eu vou pedir uma solicitação para os senhores: os documentos que estão em sigilo no STF, eu pediria que os senhores fizessem um requerimento dirigido ao Ministro Edson Fachin. Os outros que estão de minha posse, que são públicos, eu vou encaminhar para o senhor diretamente. Os outros que dependem da minha análise, eu mesmo vou fazer e encaminho para o senhor. E é claro que eu sei que vocês aqui têm uma equipe técnica capaz de julgar se eu estou sendo parcial ou imparcial. Eu acredito aqui no trabalho do Presidente da Comissão, o Deputado Vanderlei Macris, já estive aqui em outras oportunidades com ele aqui. É um Deputado sério, ele e o filho dele. Acredito no trabalho do senhor, Deputado Altineu Côrtes, acredito no trabalho da Deputada que acabou de ser eleita. Espero que vocês consigam concluir esse trabalho. E dou uma sugestão: que vocês, além de concluir o trabalho, que informem as autoridades, não só do Brasil mas de fora também, para que tomem as providências cabíveis, visto que a JBS não é uma empresa que só atua no Brasil. Então, eu acho que é um dever desta Casa aqui encaminhar para outros locais, como Estados Unidos e Austrália, todas as praças nas quais eles têm negócios, porque isso aí é um documento que vai ser respeitado pelas autoridades de outras localidades. E eu acho que é um relatório que vai ajudar a esmiuçar mais as operações deles e até alertar as autoridades de outros países para qual é o modus operandi deles.
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Se o senhor pudesse, então, fazer essas sugestões, encaminhar documentos e mesmo qualquer comentário ou colaboração que pudesse nos ajudar nesse sentido de concluirmos os trabalhos da CPI, nós ficaríamos muito gratos. Muito obrigado ao senhor e aos seus advogados.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Inclusive já deixei até um documento aqui com o Deputado Vanderlei Macris aí, para ele tomar as providências que sejam cabíveis. Eu agradeço a todos. Queria pedir desculpas à sociedade brasileira, pedir desculpa a esta Casa aqui pelos atos que eu cometi no passado, pedir desculpa a minha família, agradecer ao meu pai, minha mulher e minha filha pelo apoio que me deram durante todo esse período, e dizer que eu desejo que o Brasil tenha um futuro melhor para os nossos filhos e netos, porque o Brasil não pode continuar sendo o país do futuro eternamente. Tem que virar realidade esse futuro.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Muito bem. Eu queria...
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Presidente, se eu for embora desse jeito, eu vou mal.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Rapidamente, Deputado.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sim, senhor. Primeiro, quero dizer que se eu gostava de trabalhar com o senhor, depois das palavras dele, em elogia V.Exa. e o seu filho, estou mais feliz ainda, e elogiando também o trabalho...
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Vou dizer um negócio aqui para o senhor: eu não posso mentir que eu fiz colaboração premiada. Eu nunca dei 1 real para o Deputado Vanderlei Macris, nunca doei 1 real para o filho dele. E, pelo contrário, até nós já disputamos muitas vezes aqui nesta Casa, dentro da democracia...
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - É importante. Por isso que eu estou falando...
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Presidente, não chore não, Presidente.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - Ele foi uma pessoa sempre muito séria, muito imparcial, apesar de já termos tido aqui dentro dessa Casa, por diversas, embates em lados opostos. Ele sempre foi uma pessoa que foi séria, nunca falou de dinheiro comigo e sempre teve a atitude dele. Levou a sério o mandato dele como Parlamentar. Eu faço votos que a Casa tenha sempre Parlamentares do mesmo nível do dele.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - O senhor está vendo, Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Obrigado.
O SR. LÚCIO BOLONHA FUNARO - E do mesmo nível do senhor também. Fico agradecido de ver aí como o senhor gosta do povo do Estado de Rondônia, um povo sofrido, que está sofrendo mais. E gostaria que não tivesse esses índices tão baixos de saneamento. E eu acho que lá é um Estado que tem muito para crescer, está numa região boa. Então, eu queria cumprimentar o senhor também pelo seu mandato aí. E parabéns a todos que estão aqui. Boa tarde.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Muito bem. Eu considero a manifestação do Sr. Lúcio Funaro como considerações finais.
A Presidência gostaria de dizer que o seu depoimento, Sr. Lúcio, foi importante para os nossos trabalhos. Esta CPI não será igual a duas outras que aconteceram no Congresso Nacional, uma delas no Senado e a outra na Câmara Federal, e nós teremos resultado. E as suas informações, Sr. Lúcio, foram muito importantes para que possamos construir esse quebra-cabeça. A partir de agora, a responsabilidade maior cabe ao Sr. Deputado Altineu Côrtes, nosso Relator.
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E esperamos nesta CPI dar a nossa contribuição para que, mais uma vez, a sociedade brasileira possa enxergar um novo sistema político, mais adequado, que do ponto de vista representativo seja mais adequado à própria sociedade.
Agradeço muito ao Sr. Lúcio pela sua presença nesta Comissão, já que muitos outros com habeas corpus não quiseram comparecer.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos, antes convocando os Srs. Deputados para reunião ordinária a realizar-se amanhã, dia 29 de agosto, às 9 horas e 30 minutos, no Plenário 12 do Anexo II, para tomada de depoimento do Sr. Álvaro Luiz Vereda Oliveira, ex-assessor da Presidência do BNDES, conforme Requerimento nº 90, de 2019.
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