1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56 ª LEGISLATURA
Comissão do Esporte
(Audiência Pública Extraordinária)
Em 18 de Setembro de 2019 (Quarta-Feira)
às 14 horas e 30 minutos
Horário (Texto com redação final.)
14:47
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O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Boa tarde, senhoras e senhores.
Declaro abertos os trabalhos desta audiência pública, que está sendo realizada em atenção ao Requerimento nº 55, de 2019, de iniciativa do Deputado Roberto Alves, com a finalidade de debater o Projeto de Lei nº 7.683, de 2017, sobre a assistência psicológica a atletas profissionais.
Convido para tomar lugar à mesa o Sr. Rinaldo José Martorelli, do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo; o triatleta Leandro Macedo; o Sr. Marco Antônio de Mattos La Porta Júnior, Vice-Presidente do Comitê Olímpico do Brasil, e o Sr. Rodrigo Acioli Moura, da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte.
Informo que o Comitê Paralímpico Brasileiro, a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, a Confederação Brasileira de Futebol e o atleta paralímpico de natação Daniel Dias foram convidados, porém, não enviaram representantes por causa de compromissos anteriormente assumidos.
Antes de passar à exposição dos nossos convidados, informo as regras de condução do trabalho desta audiência pública.
Os convidados deverão limitar-se ao tema em debate e disporão de 10 minutos para a suas apresentações, não podendo ser interrompidos.
Após as exposições, serão abertos os debates. Os Deputados interessados em interpelar o palestrante deverão inscrever-se previamente e poderão fazê-lo estritamente sobre os assuntos da exposição, pelo prazo de 3 minutos.
Comunico também que esta audiência pública está sendo transmitida pelo portal e-Democracia, com link disponível na página da Comissão do Esporte, no Portal da Câmara dos Deputados.
Primeiramente eu gostaria de agradecer a todos e a todas que vieram participar da nossa audiência pública e agradecer também aos internautas que nos acompanham, ao vivo, através da Internet.
O objetivo da nossa audiência pública é discutir, mais uma vez, no âmbito da Comissão do Esporte, o texto do Projeto de Lei nº 7.683, de 2017, de autoria do ex-Senador republicano e Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. A proposta é alterar o inciso III do art. 34 da Lei nº 9.615, de 1998, conhecida como a Lei Pelé, a fim de incluir a assistência psicológica continuada como item fundamental para o atleta profissional.
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No seu projeto de lei, o então Senador Crivella avaliou que a saúde mental do atleta profissional é tão importante quanto a saúde física, uma vez que o atleta de alto rendimento enfrenta uma dura rotina de trabalho que exige um elevado equilíbrio mental. A proposta do Senador Crivella gerou polêmica no segmento do esporte já que representantes dos clubes, empresas e entidades desportivas afirmaram que a mudança na lei poderá causar problemas financeiros. Por outro lado, a classe dos psicólogos argumenta que a lei irá trazer benefícios aos atletas profissionais e gerar mais postos de trabalho aos psicólogos, em todo o País, que atuam no segmento esportivo.
Diante desse cenário, eu inicio esta audiência pública para ouvir as partes interessadas nessa pauta para que eu possa apresentar um parecer equilibrado e que atenda a todos os segmentos e beneficie os atletas profissionais de todo o Brasil.
Muito obrigado.
Concedo a palavra ao Sr. Rinaldo José Martorelli.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Ótima tarde a todos. Sr. Presidente, Deputado Roberto Alves, a quem eu agradeço o convite e parabenizo pela iniciativa, senhores representantes da Mesa, saudando o triatleta Leandro Macedo, saúdo todos os representantes e todos os presentes.
Esse tema, se formos parar para pensar em quem milita no esporte, nós teríamos um mês para falar, porque são muitas as vertentes. Enfim, eu começo falando da obrigatoriedade de os clubes atenderem os atletas psicológica e emocionalmente. Só a resistência dos clubes mostra de cara em que mundo nós estamos, porque não deveria haver nenhuma resistência, mas uma preocupação, e já trabalhada.
Eu fiquei 24 anos no esporte, dentro do campo, depois mais 26 na militância como sindicalista, com toda a formação que eu tenho. Minha última formação foi MBA, gestão empresarial, com ênfase em gestão de pessoas. Agora estou no terceiro ano de Psicanálise.
Por que isso me chama atenção, Deputado? Desde os meus tempos de atleta, chamava-me atenção por que eu gostava de jogos difíceis e alguns companheiros não. Por que em determinado momento um atleta cresce e outro murcha? Isso sempre me preocupou. Preocupou-me porque, em um ano, eu perdi duas semifinais e duas finais com uma equipe tecnicamente muito valorosa. O problema era emocional. Entender a pressão emocional que o atleta sofre, o atleta de rendimento, que faz atividade esportiva para poder se manter e manter a sua família, que é muito diferente do atleta que vai para uma maratona sem compromisso, aquele que faz atividade para participar de uma maratona sem compromisso, aquele atleta que joga futebol, no final de semana, sem compromisso, aquele atleta que nada sem compromisso, é muito diferente. Nós temos dois mundos diferentes. Aliás, Alonso Olea, um escritor espanhol, já dizia que o atleta profissional não joga, trabalha.
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Lá em Taubaté, Deputado, quando a gente acabava o treino, havia três emissoras de rádio e duas de televisão querendo saber o que havia acontecido no treino, qual seria o próximo passo. Enfim, esse monitoramento, essa exposição, faz com que haja uma mudança significativa na carreira. São poucas as carreiras que têm esse monitoramento e um compromisso com o resultado, porque o atleta só tem melhor vida se ele obtiver melhor resultado. E como a gente resolve isso? Como o atleta lida com isso? Como o atleta, quando perde um jogo importante, sai na rua? Ele entende que tem de renunciar à sua vida social por conta da profissão? Ele não entende. Ele está exposto o tempo todo.
Se nós imaginarmos, e aí eu quero chamar a atenção dos senhores porque eu tenho uma preocupação em relação a isso, que, na última Copa do Mundo, analisando os melhores jogadores do Mundo, Messi, Cristiano Ronaldo e o Modric, que foi considerado o melhor jogador do mundo, o Messi, carregando a Argentina nas costas, não conseguiu jogar de cara, não conseguiu jogar por uma questão emocional. No primeiro jogo, ele perdeu um pênalti contra a Finlândia. Acabou o Messi, porque a Argentina tem o compromisso de ser campeã do mundo, como temos nós no Brasil. O Cristiano Ronaldo, num país que não teria o compromisso de ser campeão do mundo, começou a Copa muito bem, fazendo três gols. No segundo jogo, ele já fez um gol só, porque ele passou a ter o compromisso de ser campeão mundial. Mudou o formato emocional dele. Ele começou a ter o compromisso, porque, a partir do primeiro jogo, com três gols — a Espanha ainda empatou no final do jogo —, Portugal passou a ter um destaque na Copa do Mundo. No segundo jogo, com esse peso, ele já não rendeu. No terceiro jogo, contra o Irã, o goleiro pegou o pênalti que ele chutou. No quarto jogo, contra o Uruguai, cadê o Cristiano Ronaldo? Sumiu. O Modric, considerado o melhor jogador do mundo, nas oitavas de final, Croácia e Dinamarca, 1 a 1, aos 42 minutos, 43 minutos do segundo tempo, pênalti para Croácia. Ele convertendo, a Croácia passa. Ele deu um chutinho bem pequenininho, não conseguiu executar o movimento. Vejam que são os três melhores jogadores de futebol do mundo. Dois são sempre eleitos pela FIFA, e o Modric foi melhor da Copa. Vejam a situação emocional desses meninos.
Sem considerar a nossa derrota para a Bélgica, o primeiro gol, porque a gente sabe que, com o nervosismo e o medo, o nosso cérebro descarrega no organismo um hormônio que paralisa o movimento, dificulta o movimento. Então, pegue o primeiro gol da Bélgica contra o Brasil e vejam o movimento do Gabriel Jesus, do Fernandinho e do Alisson. Acho que fica muito claro para quem se preocupa com isso.
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Então, se nós não observarmos a necessidade, primeiro, de que o trabalho emocional vai trazer maior produtividade, maior satisfação e melhor desempenho para o atleta, se nós não observarmos que isso acarreta um pós-vida melhor, se não trabalharmos com isso, se tivermos ainda de viver tentando obrigar o esporte brasileiro a se preocupar com isso, eu acho que estamos dando um passo para traz. Obrigar é um passo para traz.
Eu vou continuar tratando um pouco mais do futebol porque são os casos que saltam aos olhos. O Iniesta, que é um jogador superconsagrado na Europa, teve uma depressão nas férias porque faltava a adrenalina do jogo. Nós temos o caso do Nilmar, recentemente, que rompeu um contrato com o Santos porque entrou em depressão.
Nós precisamos mesmo colocar na lei para entendermos a necessidade desse trabalho? Se por um lado parabenizamos o projeto de lei, que é uma forma de chamar a atenção para esse aspecto, por outro, ainda sentimos que estamos muito para trás nos aspectos de organização fora do campo de competição, seja campo de jogo, nas quadras, nas pistas. Estamos muito distante daquilo de que nós necessitamos, mesmo porque não dá para desconsiderar ainda uma outra questão agravante que é a brevidade da carreira do atleta de rendimento. Não dá para desconsiderar isso. Há um filósofo francês, que agora não me recordo o nome, que diz que o atleta morre duas vezes. A primeira morte é quando ele para de jogar, para de atuar, para de competir. É a primeira morte. Como é que a gente faz com isso? Há a preocupação, a tensão, a angústia da transição de carreiras.
O que fazemos lá, Deputado? Nós temos o centro de formação humana, em São Paulo. A preocupação evidente é proporcionar um espaço para que os atletas possam treinar fisicamente, tecnicamente, mas cuidar emocionalmente para que o atleta possa voltar para o mercado de trabalho. É aquela coisa. O atleta pode receber uma proposta maravilhosa da China, que hoje é um mercado aberto, mas se ele não souber como viver na China, emocionalmente, ele rompe um contrato e, ao invés de receber uma quantia grande, ele vai ter uma dívida enorme, e ele para a carreira dele no futebol. Então, se ele não tiver essa consciência, se ele não tiver conhecimento, se ele não tiver formação, cada vez mais, ele vai lidar com dificuldades, com as pressões que a carreira impõe.
Como eu disse, eu tinha muito para falar, mas eu fico por aqui e agradeço.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu que agradeço ao nosso Rinaldo José Martorelli, que é do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo e que foi um bom goleiro. Foi goleiro até do meu Taubaté.
Daqui a pouco, falando em goleiro, eu farei uma pergunta para ele.
Vamos falar agora com o Leandro Macedo, triatleta.
Boa tarde, Leandro.
O SR. LEANDRO MACEDO - Boa tarde a todos. Saúdo os componentes da Mesa e todos que estão assistindo a esta Comissão. Passou toda a minha carreira aqui, enquanto o Rinaldo falou de todo o trabalho psicológico de que um atleta precisa.
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Vou ser mais abrangente aqui em termos não de atletas profissionais, mas de atletas que trabalham com alto rendimento. Então, vejo que trabalhar com alto rendimento tem que ser emocionalmente sustentável e vou além de todas as consequências. Como foi relatado aqui, há diferença de trabalhar alto rendimento e um esporte de lazer, um esporte lúdico. Uma prática esportiva difere do alto rendimento no sentido de que a prática esportiva já é a própria terapia do atleta, do praticamente. Agora, nem todos vão para o alto rendimento e saem sem sequelas.
Estamos no mês de setembro, mês de combate ao suicídio. Conheço vários casos de ex-atletas que já tentaram suicídio e, mais do que isso, às vezes, um atleta que não esteja emocionalmente preparado para encarar pós-carreira vai passar isso de geração em geração, para o seu filho. Ele vai passar a frustração, vai criar esse filho de certa forma com aquela cultura, sem entender ainda a importância do esporte, visando somente ao resultado e não está emocionalmente preparado para encarar os benefícios do esporte.
Então, para mim, essa é uma questão de saúde pública. Quem trabalha com alto rendimento necessariamente tem que trabalhar o equilíbrio emocional e o treinamento mental e preparar esse atleta para o que é esperado dele: alto rendimento, em todos os níveis, na parte física e mental, tanto durante a carreira quanto pós-carreira, para que ele ainda contribua com a sociedade de forma equilibrada.
Tenho 33 anos envolvidos com alto rendimento. Na minha época, sequer se falava de psicologia desportiva. Busquei várias alternativas justamente para conseguir trabalhar isso ao longo de toda a pressão. Fui a duas Olimpíadas. Meu objetivo maior era chegar às Olimpíadas e entrar do jeito que eu entrava para um treino, com a mesma tranquilidade emocional de fazer o meu melhor dentro de umas Olimpíadas, estando isento de todas as pressões e fazendo aquilo que eu sei. Isso parece simples, mas é algo que tem que ser trabalhado na cabeça do atleta, treinado, mentalizado, visualizado. Na minha época, não havia ajuda nenhuma, então, eu recorria à meditação e ao autoconhecimento e, assim, fui me desenvolvendo.
Hoje a Psicologia está muito mais avançada. Já é sabido de várias consequências e o que se pode fazer, o que se pode treinar. Muitos atletas profissionais usufruem disso, mas não todos de alto rendimento. Então, nós falamos muito de futebol, mas todos os atletas olímpicos de todas as práticas estão trabalhando e estão no alto rendimento e, muitas vezes, não têm suporte. Nos esportes coletivos e individuais, são abordagens diferentes. Entendo que o projeto, essa restrição, essa defesa dos clubes vai onerar o clube. Talvez, para um clube de futebol, seja fácil ter uma verba até para contratar alguém, e os outros menores não teriam.
Na minha visão, vejo isso como um papel, pelo menos nos esportes olímpicos, das confederações. Na minha ideia, isso já existe pela Lei Piva. Todo o corpo, o escopo de uma confederação é pago já pela Lei Piva: do Presidente a todos, como o contador, o CEO. Já há uma verba destinada a tudo isso. Não oneraria mais os cofres públicos se isso fosse remanejado, incluindo um psicólogo dentro de uma confederação, ainda mais que seria um trabalho importantíssimo esse acompanhamento do alto rendimento. As federações, dentro da nossa realidade, têm muito menos recurso. Elas não recebem essa verba, a não ser das filiações. As confederações, sim, usam essa verba pública para desenvolver o esporte. Acho que teríamos que inserir o psicólogo por aí e, a partir disso, capacitarmos as federações e fazermos um trabalho em conjunto. Imaginem se tivéssemos um legado histórico dentro da psicologia esportiva para cada modalidade, e não seguirmos um padrão americano ou europeu, porque a nossa cultura é diferente. Talvez entendêssemos por que, numa Copa do Mundo, em 4 minutos, tomamos sete gols, se tivéssemos esse acompanhamento para cada modalidade, dentro da confederação, com um histórico, um banco de dados e uma metodologia apropriada para cada esporte e para a nossa cultura.
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Então, vejo que esse projeto é de suma importância. Acho que tem muito a ser discutido. É preciso incluir, na questão de saúde pública, não só atletas profissionais, mas também todos que estão envolvidos com alto rendimento.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu agradeço ao Leandro Macedo, que é triatleta.
Eu gostaria agora de convidar o Marco Antônio de Mattos La Porta Júnior, Vice-Presidente do Comitê Olímpico do Brasil, para usar a palavra por 10 minutos.
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - Obrigado, Deputado. Agradeço o convite feito ao Comitê Olímpico.
Eu queria cumprimentar o Martorelli; o meu grande amigo Leandro, nosso campeão mundial de triátlon em 1991, para quem não sabe...
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - E dos bons.
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - É um excelente triatleta, um exemplo para a nova geração.
Cumprimento ainda o Lindberg e o Rodrigo.
Quero também saudar a todos.
Eu preparei uma rápida apresentação para mostrar a vocês o trabalho que fazemos hoje dentro Comitê Olímpico voltado para a preparação mental dos atletas. Fazemos isso não só visando a competição, mas também visando a carreira do atleta, preparando-o até para a transição.
O Leandro tocou em um ponto bastante importante. Quando fomos chamados para esta audiência, houve até um questionamento interno no Comitê Olímpico, porque a audiência se referia a atletas profissionais, e nós não temos atletas profissionais, temos atletas de alto rendimento. A ideia foi trazer para a discussão exatamente isto: como o Comitê Olímpico trabalha os seus atletas de alto rendimento que não são profissionais. Isso é muito importante, inclusive diante de todo esse quadro que o Leandro citou aqui agora com bastante propriedade, até porque ele vivenciou uma época em que talvez a preparação mental fosse algo muito empírico. Era época daquelas famosas palestras motivacionais. Passavam-se vídeos para a equipe e ali estaria resolvido o problema da preparação psicológica.
(Segue-se exibição de imagens.)
Durante anos, houve esse desempenho esportivo sem um programa de preparação mental. Eu me lembro bem de uma historinha rápida: eu estive no Exército por 30 anos. Quando o militar se torna tenente ou capitão, recebe uma missão, por exemplo: "Você vai treinar a equipe de futebol", mesmo sem nunca ter treinado nada. Aí eu falei: "Está bem, vamos lá". E lembro que tínhamos uma final, um jogo decisivo. Eu chamei meu soldado que era enfermeiro e disse a ele: "Traga da enfermaria 15 aspirinas". Coloquei aquilo num potinho especial e passei para os atletas. Eu disse: "Isso aqui é um estimulante que vai fazer vocês correrem mais". No primeiro tempo, nós já estávamos ganhando de 3 a 0. Aí, no intervalo, eles vieram e pediram: "Dá mais um professor, porque a gente vai voar agora!" (Risos.)
Isso era só um placebo que funcionava. Antigamente era assim. Hoje em dia mudou muito. O esporte não permite mais esse amadorismo, digamos assim. Então, hoje nós temos a psicologia do esporte, que faz esse trabalho de preparação para a alta performance e também para a saúde mental.
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Hoje, nós temos alguns temas que exigem bastante a nossa atenção em relação aos atletas. O Leandro citou alguns exemplos, que foram importantes.
Hoje é muito frequente casos de depressão entre atletas. Isso existe com muito mais frequência do que vocês possam imaginar, particularmente quando o atleta está chegando ao final da carreira, quando ele começa a pensar: "O que eu vou fazer depois que eu parar?" Então, temos essa preocupação em relação a esse aspecto.
Síndrome de Burnout é aquela exigência que se tem o dia inteiro no trabalho, o atleta sempre ali, buscando bater metas, e sendo cobrado por isso. Estamos sempre muito atentos em relação a isso.
Assédio sexual foi um tema que surgiu bastante nos últimos tempos. Tomamos as providências necessárias. O COB hoje é referência até internacional em relação a essa política de assédio.
Plano de carreira. Nós criamos, dentro do Comitê Olímpico, o nosso plano de transição de carreira do atleta. Então, o atleta é acompanhado quando chega ali. Há um curso específico dentro do COB, com palestras, em que o atleta é preparado para fazer a sua transição de carreira. Pegamos os atletas olímpicos, vamos fazendo um trabalho com eles, com palestras, para prepará-los para essa transição.
Incentivo à educação. Há bastante incentivo, para prepará-los. Os nossos cursos lá do COB sempre têm participantes. O atleta olímpico tem a matrícula automática no nosso curso de Gestão Esportiva, é só ele querer fazer, não há problema nenhum.
Suicídio é outro tema com que também temos nos preocupado bastante. Inclusive, nós estamos na Semana da Prevenção ao Suicídio. Lá no COB, hoje, tivemos uma palestra, de manhã sobre essa questão do suicídio. Há preocupação com isso dentro do COB.
Então, dentro desse problema que nós temos, nós passamos a desenvolver programas de suporte a atleta, desde a sua vida competitiva até os treinamentos.
Essa preparação foi evoluindo ao longo do tempo. Como eu falei, ela era muito amadora. Em Pequim, em 2008, foi a primeira vez que o Time Brasil ofereceu, dentro de uma missão, uma preparação mental, com 4 psicólogos trabalhando. Em Londres, esse número subiu para 10. No Rio, nós fechamos em 24. Então, tínhamos 24 profissionais das diversas modalidades trabalhando nessa parte da preparação mental. Em Tóquio, até o momento, temos 10. Temos 10 porque ainda não classificamos todos. Assim que as modalidades forem se classificando, vamos aumentando esse número, que, com certeza, se não for maior, vai ser próximo do número que tivemos no Rio de Janeiro.
Desde 2017, nós temos, dentro do Laboratório Olímpico, essa parte voltada para a psicologia desportiva, para a preparação mental do atleta. Então, já fizemos inúmeras avaliações. Todos os anos temos mais de 200 avaliações, quase uma a cada 2 dias. Visamos, especificamente, aos atletas do Time Brasil. Particularmente, aqueles que chamamos de atletas alvo, ou seja, os com grande potencial de ganhar medalha, têm um acompanhamento muito mais cerrado.
Agora, por exemplo, nos Jogos Pan-Americanos, tivemos 341 ações voltadas para a preparação mental. Nas diversas modalidades, mais de 100 atletas foram atendidos. Tivemos lá um trabalho, o pessoal da psicologia trabalhando, dando palestras.
Esta foto é bastante interessante. Este atleta é o Ygor Coelho, do badminton, que foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos. O Ygor é um atleta de alto nível, uma aposta nossa, treina na Europa com uma dinamarquesa. Às vezes, ele apresentava o problema de perda de concentração durante o jogo. Quando ele tomava dois ou três pontos, começava a se perder e acabava perdendo o jogo. Desde que chegou a Lima, ele fez um trabalho com a Alessandra, a psicóloga que trabalha conosco, e chegou à final. Nos momentos em que percebíamos que ele iria perder o controle, a psicóloga tinha um código com ele. Ela gritava da arquibancada, e ele rapidamente retomava o jogo. Às vezes não sabemos o que está por trás de algumas coisas, mas há um trabalho muito benfeito. A preparação mental é muito importante na performance do atleta.
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Dentro dessa preparação, nós começamos a inserir também um trabalho que tem dado muito resultado que é o trabalho de coaching. Nós temos o Antonio Carlos Moreno, capitão da seleção de vôlei nos Jogos Olímpicos de 1976, uma longa história no voleibol, que vem fazendo um trabalho bastante importante de preparação do atleta para transição de carreira e performance. Ele conversa com os atletas, os atletas vão ao Comitê Olímpico para se sentarem com ele. Há todo um acompanhamento desses atletas, principalmente daqueles que percebemos terem algum problema.
Nós temos um acompanhamento muito cerrado com o pessoal da canoagem, particularmente agora com o Isaquias e o Erlon, para quem acompanhou o noticiário, quando do falecimento do treinador espanhol deles. O tempo inteiro Moreno participa desse trabalho, assim como os psicólogos, para os manterem focados naquilo que é importante e superarem a perda do treinador.
Esse é o trabalho que temos feito dentro do COB na tentativa de não só usar a preparação mental na performance do atleta como também de preparar aquele atleta para sua transição de carreira.
Era isso o que tínhamos a apresentar. Julgamos que o assunto é muito importante e está aberto ao debate.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Quero agradecer ao Marco Antônio, Vice-Presidente do Comitê Olímpico do Brasil.
Passo a palavra ao Rodrigo Acioli Moura, da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Boa tarde a todos. Boa tarde à Mesa.
Agradeço a V.Exa., Deputado Roberto Alves, pelo convite. É uma honra estar aqui.
Mais cedo, quando cheguei, visualizei o Leandro Macedo.
Meu nome é Rodrigo Acioli, sou psicólogo, mas, antes de ser psicólogo, eu fui atleta de alto rendimento da natação e triátlon. Na minha época de atleta, isso já faz 18 anos, Leandro Macedo era uma referência para mim. Aqui na Casa temos o Deputado Luiz Lima, que foi referência na natação e na modalidade natação de triátlon.
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É muito bom estar aqui falando com os senhores e com as senhoras e trazer informações importantes para este debate. Eu trouxe um pequeno texto que vou ler, mas não ficarei preso a ele. Vou apresentar algumas histórias e alguns exemplos para vocês.
Estou aqui representando a Associação Brasileira de Psicologia do Esporte — ABRAPESP, que nasceu a partir do encontro de psicólogos e profissionais de educação física com o intuito de discutir e promover os estudos da prática da psicologia no esporte no Brasil.
Desde 2000, quando o Conselho Federal de Psicologia instituiu a Resolução 14, de 2000, que determinou a criação de especialidades, dentre elas a psicologia do esporte, o número de profissionais dessa área vem crescendo anualmente. E essa é uma preocupação para que possamos trabalhar juntos a eles.
Independentemente da área de atuação da psicologia, nós psicólogas e psicólogos trabalhamos visando promover a saúde, a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e devemos contribuir também para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Infelizmente, essas situações também vêm surgindo no contexto esportivo aqui no Brasil tanto nos momentos de treinamento quanto nos momentos de competição, gerando muitas vezes transtornos não somente aos atletas como também aos outros atores desse contexto, como os integrantes da comissão técnica cujo trabalho pouco se discute. E por que não lembrar também dos árbitros? Hoje, existe um trabalho superimportante da psicologia junto à arbitragem. Sendo assim, a atuação dos psicólogos e psicólogas do esporte vai além do desenvolvimento das competências dos atletas em prol da alta performance humana e da competição.
Na última audiência que houve aqui na Casa a respeito desse projeto de lei, muito foi dito sobre o custo de haver psicólogos nos clubes. Mas, senhoras e senhores, lhes garanto que ter psicólogos nos clubes não é custo, é investimento não só para a saúde dos atletas como também para a economia, pois certamente esse trabalho inibe a necessidade de despesas futuras com intervenções e tratamentos.
Sabemos que existem outros contextos e fatores que permeiam o mundo esportivo. Sim, os psicólogos e psicólogas devem atuar com responsabilidade, respeitando e analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social, cultural e ambiental.
A Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, entidade reconhecida pelo Sistema Conselhos, e o Conselho Federal de Psicologia, autarquia federal, cujo objetivo principal é orientar, fiscalizar e regulamentar a profissão, apoiam esse projeto de lei e concordam com ele.
O atendimento e o acolhimento psicológico precisam ser estendidos a outras modalidades além do futebol, não só aos atletas profissionais como também aos atletas da categoria de base. Daqui a pouco, apresentarei algumas histórias sobre as outras modalidades esportivas, incluindo o futebol.
A ideia de assistência psicológica compreende a saúde biopsicossocial e psicofísica, que é a emocional, mental e física, do atleta durante toda a sua carreira profissional, da infância à vida adulta. Incluem-se casos de psicodiagnósticos clínicos, situações de bem-estar e qualidade de vida, reabilitação psicofísica, planejamento de carreira, desde o início até o seu ápice, a aposentadoria, bem como o desenvolvimento e descobertas de habilidade e competência. Esta assistência ajuda a estimular condições de melhor rendimento e performance, propiciando consciência de limites e regras para obtenção de resultados. Temos outras participações também e casos dos quais às vezes não nos lembramos, como, por exemplo, os casos de emergência. Houve três casos recentes e tristes na história. Um deles foi o de Santa Catarina, com os atletas da Chapecoense, quando a atuação da psicologia do esporte foi super necessária. Como dissemos, emergência de desastre é uma das linhas de atuação da psicologia. Temos o exemplo de incêndio no Ninho do Urubu, quando a psicologia foi potente e atuante não só no dia, mas também nos que se seguiram à situação, com acolhimento dos atletas da base e dos profissionais que foram atingidos e tocados por aquela situação. Outro caso pouco divulgado foi o acidente com atletas das categorias de base do Bahia na estrada. A psicologia, no dia do acidente, também se fez muito importante.
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Quando falamos em psicologia do esporte, não falamos apenas em alto rendimento, em atletas profissionais, falamos de iniciação da carreira esportiva, na categoria de base, no mirim, antigamente na categoria chupeta do futsal, até o alto rendimento, os atletas profissionais.
Os serviços de psicologia, então, vão além da ideia de cuidar de doença. Somos profissionais relacionados à resolução de conflitos, enfrentamento de situações e aceitação de limites, perdas e ganhos.
A psicologia brasileira este ano completou 57 anos de regulamentação. Durante muitos anos, como lembrou aqui Leandro Macedo, nós ficamos à mercê, estudando apenas os conhecimentos norte-americanos e europeus — e na psicologia não foi diferente. Hoje, nós temos produções científicas de pesquisadores muito competentes das principais universidades brasileiras no assunto. Hoje, quando discutimos psicologia do esporte, não estamos mais presos ao conhecimento internacional, já temos produção científica da psicologia brasileira de acordo com suas peculiaridades e de acordo com a sua cultura, o que a torna muito mais potente.
Uma informação que poucos sabem é que o Brasil é o país com o maior número de psicólogos, tornando-o referência internacional em algumas resoluções e com um foco superimportante.
Preocupações diversas nós temos na formação dos atletas, porque percebemos que muitos, para alcançar esse principal objetivo, deixam as escolas, a formação, a educação, a família, e muitas leis são violadas. Há casos de abusos sexuais e abusos de autoridade diversos não só no futebol, mas também nos esportes olímpicos.
Existe o entendimento de que essa questão entre coaching e psicologia... O coaching atualmente é uma ferramenta de atuação, não é uma profissão, não é uma atuação reconhecida profissionalmente. Não existe uma instituição regulamentadora. E nos preocupa muito essa atividade. Entendemos que existem sim pessoas que atuam nessa área e que são importantes, fazem belos trabalhos. Mas, realmente, o profissional competente para essas atuações é o psicólogo.
Eu, por exemplo, fui atleta. Há 18 anos não existia praticamente profissionais à disposição para atender os atletas. Eu não tive acesso à psicologia do esporte. Realmente, com o tempo, muitas práticas foram sendo trabalhadas para aprimorar a saúde mental na prática da meditação e tantas outras, como muito bem lembrou Leandro.
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Nossa preocupação, então, é também tentar garantir segurança a essa área, para que profissionais não psicólogos não venham a atuar de maneira incongruente, ineficaz, que atrapalhem muito mais do que ajudem a saída dos atletas não só, repito, profissional, quanto da base. Nós nos preocupamos muito com os atletas profissionais, mas esquecemos as outras categorias, que são tão importantes, porque os atletas profissionais são referências para os amadores.
Eu tenho alguns dados tristes. No meu consultório particular, por exemplo, nós vemos jovens atletas, de 12, 13, 14 anos, já falando de aposentadoria, já apresentando dependências alcoólicas, já apresentando lesões. Nós percebemos que, hoje em dia, infelizmente, o esporte de competição deixa de ser sinônimo de saúde e bem-estar.
Então, é mais do que importante, quando falamos sobre este projeto de lei, nós fazemos um pedido para que, sempre que a psicologia for mencionada, deve-se falar sobre a sua importância, e não só Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, mas também o Conselho Federal de Psicologia participem dessas discussões e da construção desse projeto, porque nós temos muitas informações e podemos contribuir para melhorar a nossa profissão e a saúde como um todo na sociedade.
Para finalizar, no Brasil, exatamente hoje, somos 353.200 psicólogos e psicólogas em atuação. Desculpem-me a confusão, eu pulei uma linha. Somos 353.200 psicólogos e psicólogas em atuação e nós também trabalharemos para que o esporte não se torne ferramenta de violação, de sofrimentos psíquicos e físicos.
Obrigado pela atenção, e bom debate a todos nós. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Finalizando a apresentação, abrirmos espaço para os debates.
Nós temos o Deputado Danrlei, que sempre vai ser um atleta, só que, antes de eu passar a palavra para S.Exa., eu queria fazer uma pergunta a Rinaldo Martorelli, e que já fiz. Como vocês dois jogaram na mesma posição, essa pergunta que vou fazer pode também ser respondida por Rodrigo Moura, da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte.
No domingo passado, o Brasil todo pôde ver o frango que Cássio, goleiro do Corinthians e da Seleção Brasileira, tomou, o que levou seu time à derrota. Era um time que vinha invicto. Por causa desse frango, da sua falha, o Corinthians perdeu o jogo. Aí faço uma pergunta a você, que representa o Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo, e a você, que é da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte. O Corinthians é alvo, é um time grande, como se fosse o Palmeiras ou outro clube grande. Naquele momento, praticamente o jogo estava em rede nacional. Se não bastasse isso, há ainda as gozações. Os outros clubes, as outras torcidas fazem aquela festa toda, principalmente os palmeirenses. Deputado Danrlei, por favor, fique à vontade também para participar deste debate, já que foi goleiro.
Eu pergunto: sente na hora e depois passa? Estou pronto, levanta, balança a poeira e dá a volta por cima? Como é?
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O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Primeiro, minha solidariedade a Cássio.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Que é um ótimo goleiro.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Sim, minha solidariedade, porque é isto: não entramos em campo para errar, entramos para acertar. Evidentemente ele deve ter tirado algumas lições técnicas daquele lance, porque ele entrou de lado para a bola. Se tivesse feito o bê-á-bá, escaparia da mão dele, bateria no peito e estaria resolvido. Enfim... Aí, Deputado, é muito pessoal. É muito pessoal.
Como eu disse aqui, há jogos complicados. Eu adorava jogos complicados. Quando jogava pelo Palmeiras, eu adorava jogar contra o Corinthians, contra o Santos, contra o São Paulo, os clássicos. Os jogos no interior, com pouca torcida, não me animavam muito. Então, é muito pessoal.
De repente, ele tem a capacidade, ele se trabalhou, ou tem uma questão, mesmo que não trabalhada conscientemente, uma estrutura emocional inconsciente que faz com que ele possa rapidamente se recuperar. No jogo, depois, ele não foi muito acionado — porque nós percebemos isso nos próximos lances, nos outros lances. Ele não teve um acionamento, para nós entendermos como repercutiu nele aquele lance, aquela falha. Mas é muito pessoal. Eu vejo assim.
Cássio tem toda a capacidade de recuperação. Aliás, ele foi tirado do time, um tempo atrás, pelo Tite. Ele esteve conosco. Eu conversei com ele e disse: "É exatamente neste momento que você precisa estar bem, feliz, continuar treinando, para poder recuperar a posição". E parece que ele fez aquilo, porque foi uma situação que tinha vivido lá atrás.
Enfim, são situações que não dão para fecharmos a questão. O que dá para fechar é que há uma necessidade, que é o debate desta tarde, desse trabalho emocional constante não só — aí vou ao encontro do que Rodrigo falou — no esporte profissional, mas também nas categorias de base. Eu acho que é lá que começa a sedimentar o futuro do atleta, o futuro do cidadão.
Essa preocupação eu acompanho bastante nos clubes de São Paulo. Nós temos um trabalho também de prevenção ao assédio sexual, assim como prevenção à manipulação de resultados. Nós vamos para os clubes para levar esse tema. E fazendo esse trabalho, nós temos um contato muito forte com os coordenadores das categorias de base nos clubes grandes de São Paulo.
É um trabalho muito bem feito, e nós esperamos que isso se prolifere para o Brasil todo. Essa preocupação que os clubes passam a ter não só no profissional... Eu acho que no profissional é menos efetivo do que nas categorias de base, pelo menos em São Paulo. Nós esperamos que isso se prolifere e se torne uma prática mesmo, independentemente da questão da obrigatoriedade legal.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Com a palavra Rodrigo Moura.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Com relação a história de Cássio, podemos dizer que um ou dois erros não o torna um péssimo profissional. É um momento. O mais importante é que ele esteja resiliente o suficiente, para que possa lidar com a situação apenas como um momento. Parece que, em entrevista logo após a partida, ele se saiu muito bem, ele compreendeu.
Mas, como eu disse, cada caso é um caso. É importante lembrar também que, quando nós trazemos esses assuntos, costumamos trazer apenas os exemplos dos atletas que estão na ponta, que estão nos grandes clubes, que estão nos Jogos Olímpicos. Mas precisamos lembrar que os que estão nos grandes clubes e os que estão nos Jogos Olímpicos são infinitamente em menor quantidade do que os que estão fora.
15:35
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Eu não vou dizer ao certo quantos atletas profissionais existem no Brasil, mas, com certeza, um décimo não está na Série A do Campeonato Brasileiro, nem na Série B, nem na Série C. Existem atletas olímpicos que vão às Olimpíadas, mas existe o dobro, o triplo, o quádruplo que trabalharam, treinaram durante anos, e não conseguiram a vaga olímpica. Esses não são menos importantes do que aqueles que foram e conseguiram medalha ou deixaram de ter medalhas. Muitas vezes, nós só damos atenção aos medalhistas, entendendo o quarto lugar como o primeiro dos últimos, e às vezes até o segundo lugar como primeiro dos últimos. Às vezes, toda uma carreira, desde a infância até a idade adulta, não é reconhecida. Só entendemos como campeões aqueles que conseguiram uma medalha. Mas todos conquistaram muitas coisas durante sua vida e são campeões também porque conseguiram bolsas de estudos, saúde e acesso a diversas coisas que o esporte oferece.
Então, quando um exemplo como o de Cássio nos é trazido, é apenas um exemplo. Mas que bom que ele trabalha num grande clube que tem suporte e pode dar saúde e atenção total a ele. Mas me preocupam muito aqueles que não estão em frente às mídias.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Com a palavra o Deputado Danrlei de Deus Hinterholz.
O SR. DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ (PSD - RS) - Presidente, inicialmente, quero parabenizá-lo por esta audiência pública importantíssima, que, acredito, esteja ocorrendo após a reunião em que indaguei algumas questões sobre o projeto que para mim continuam sendo importantes. Eu acredito que esta audiência pública venha a clarear muita coisa em relação a isso.
Quanto à importância da psicologia no esporte, não há dúvidas. Eu acho que isso já é superado, tanto que a importância deste projeto é muito grande. A questão que fiz inicialmente foi que o projeto diz "atletas profissionais". Aí englobamos só o futebol. É disso que eu não gostaria. Por isso indaguei o Deputado quanto à relatoria.
Eu acho que nós temos que ampliar este projeto — temos que ampliar este projeto. Como, Deputado? Eu acho que essas pessoas que estão aqui, principalmente La Porta, que vem do Comitê Olímpico Brasileiro, podem nos ajudar a ampliá-lo para atletas olímpicos, para atletas de modalidades olímpicas, o que seria até melhor. Paralímpicos também, mas aí eu acho que colocaria junto, tirando "atletas profissionais". Você faz um projeto desses para atletas profissionais e acaba colocando só o futebol. Eu acredito que, de todos eles, apenas o Comitê Olímpico Brasileiro e o Comitê Paralímpico Brasileiro têm capacidade e condições de cuidar dos seus atletas, que são os de ponta e que estão a seus cuidados. Mas quantos passam por clubes como União, SOGIPA e outros, para que eles cheguem a ter um atleta na seleção? É a mesma coisa em relação ao futebol. Todo mundo quer jogar — vou pegar um exemplo do meu Estado, o Rio Grande do Sul — no Grêmio ou no Inter. Só que só ficam, para cada categoria, 30, 35 atletas no máximo. E o restante desses meninos? É a mesma coisa entre os profissionais.
Então, a minha indagação principal foi para mudar este projeto e colocá-lo também para esportes olímpicos, mais do que para atletas olímpicos. Atletas olímpicos, aí sim, seria só achar o Comitê Olímpico Brasileiro, mas "atletas de modalidades olímpicas" é importante também, porque englobaríamos todos os clubes que existem no País, não só os de futebol. Então, minha indagação primeira foi essa.
15:39
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Outra foi que está muito ampla a questão do cuidado psicológico aos atletas. É só enquanto ele está no clube? Na forma como está, o atleta sai do clube e diz: "Bom, eu quero continuar tendo esse apoio psicológico. Quem vai pagar?" Ai vai se criar questão na Justiça. Está aqui Martorelli. Não preciso nem falar. Ele conhece muito bem essas questões de Justiça, de atletas. É ele quem está sempre cuidando, ajudando. Eu acho que é o maior conhecedor da questão.
Então, que se coloque que, aí que temos que debater, enquanto o atleta, por exemplo, está no clube, é o clube que cuida dessa parte psicológica dele? E eu acho que teríamos que aumentar o apoio. Não é só do atleta, Deputado. Para o futebol, que é de onde eu vim — de repente nos esportes olímpicos isso é diferente —, às vezes é mais importante cuidar psicologicamente da família, esposa e filhos. E para alguns, quando são mais novos ainda são o pai e a mãe os principais inimigos do atleta, muitas vezes. São aqueles que estragam o jogador e tiram dele a capacidade de se concentrarem e de trabalhar. Eu acho até que se deve ampliar para a família. Se for um atleta solteiro, amplia-se para pai, para a mãe; se for um atleta casado, para esposa e filhos. Para mim, isso seria muito mais importante. A minha tranquilidade era muito maior quando a minha família estava tranquila ali, do que dentro de campo. Dentro de campo eu treinava todo dia, de manhã e de tarde, como um cavalo, porque é assim que atleta de alto nível é tratado. Não adianta. Se não treinar, não vai ganhar. Treinando do jeito que treina, trabalhando do jeito que trabalha, acontecem os erros como aconteceu com Cássio. E se eles acontecem por rodada, de algum atleta, imaginem se não treinassem dessa forma.
Eu acho que essa questão da psicologia e de como vamos fazer nós temos que ampliar, Deputado. É importante nós ampliarmos primeiro não só para atletas profissionais, mas sim para aletas de modalidades olímpicas pelo menos, que não são, no Brasil, considerados profissionais, mas são profissionais, porque treinam todos os dias também. Mas não são considerados. No projeto de lei, se deixar "atletas profissionais", esses atletas olímpicos estarão desamparados, estarão fora.
Temos que ampliar isso, de alguma forma, e tenho certeza de que La Porta pode nos ajudar, o próprio Rodrigo também, a como fazer esse projeto ser mais amplo. Eu adoraria se nisso também pudessem entrar não só os atletas, mas os familiares mais próximos, para eles também poderem ter apoio dos clubes — de futebol, de vôlei, de basquete —, o clube que for.
Que fique também claro, pelo menos é a minha visão, de quem são o tempo e a responsabilidade. Por exemplo, no futebol, o atleta está jogando no Grêmio e tem contrato de 5 anos. Quando ele sai, ali não diz que o clube é responsável pela questão psicológica do atleta durante os 5 anos. Ali diz que o clube é o responsável, mas não diz o tempo. É a mesma coisa se o atleta joga a vida inteira na seleção brasileira de vôlei, só que um dia ele vai ficar velho e vai sair, e ele pode entrar com pedido de que o próprio Comitê Olímpico Brasileiro continue o resto da vida dando auxílio psicológico. O meu medo é esse. Nós temos que ter as regras. Temos que colocar as regras juntamente. Acho que as regras corretas seriam enquanto ele fosse atleta do clube ou do COB.
15:43
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(Não identificado) - Enquanto ele tiver um vínculo com aquele clube.
O SR. DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ (PSD - RS) - Exatamente, com o clube, com a CBF, com o Comitê Olímpico. Tem que ser enquanto ele for atleta olímpico. Sei que não precisa pedir, porque o COB vai cuidar desse trabalho; o Grêmio vai cuidar do seu jogador; a CBF vai cuidar do seu atleta que está na Seleção. O que me preocupa são os que não vão. É exatamente o que disse Rodrigo. Eu me preocupo com os outros. Esses terão? Todos os clubes grandes têm um, dois, três.
Eu peguei o início disso em 1999 e 2000, no Grêmio, que foi quando começou. Digo, Rodrigo, que foi muito malfeito. Foi feito de forma muito errada. A forma com que o Grêmio usou a questão de um psicólogo dentro do clube foi a pior possível. Tanto que chegou ao ponto de, em menos de 1 ano, o Grêmio simplesmente se desfazer do profissional. Por quê? Porque acredito que seja uma questão de confiança entre o psicólogo e aquela pessoa que está do outro lado. Só que aquilo era usado para o clube, para os diretores e para o treinador usar a seu favor ou contra o atleta. Usava-se aquilo que o atleta acabava falando ao se abrir com o psicólogo ou com a psicóloga. No caso do Grêmio, era.
Em 6 meses, simplesmente, o Grêmio não conseguiu fazer mais com que nenhum atleta quisesse ter uma conversa com ela, porque aquilo era usado inclusive em preleções. Aquilo que era para ficar entre duas pessoas era usado em preleções ou até mesmo, às vezes, para tirar um atleta da equipe. Acredito que já tenha melhorado muito. Aconteceu muito tempo atrás. Faz quase 20 anos. Mas eu lembro no futebol quando começou. Sei da importância que tem hoje, principalmente para a base, como disse Martorelli, nós termos a Psicologia do Esporte.
Falando do projeto de lei, que é o mais importante e é o motivo de estarmos aqui hoje, essas seriam as minhas ponderações. Não sei o que cada um de vocês que estão nesta audiência pública teriam a dizer em relação a isso. É uma opinião minha, é uma visão minha. E acredito que essa indagação tenha nascido também nesta audiência pública. Precisamos impor regras, definir quem é o responsável, onde é.
Quanto à importância, para mim, isso já é superado. A importância é enorme. Faz diferença sim naquele 1 segundo, às vezes, de o atleta ganhar ou perder uma partida, acertar ou errar uma cesta, defender ou não, às vezes, uma bola, acertar ou não um cruzamento. Então, discutir a importância, para nós aqui, está fora de cogitação, mas precisamos discutir sim como vai ser feito esse projeto para que ele venha realmente a ajudar os atletas brasileiros, não só os profissionais, mas também todos aqueles que tenham um sonho de chegar a um grande clube, a uma Olimpíada, a um pré-olímpico, a um grande clube que tenha modalidades olímpicas.
Essa era a minha indagação para todos vocês senhores e gostaria de ouvi-los.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu queria aproveitar, após a fala do nosso Deputado Danrlei, e passar aos nossos internautas que estão mandando as suas perguntas.
O Sr. Franco pergunta: "As ações, Martorelli, serão restritas a clubes de futebol?".
15:47
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Eu vou aproveitar também e fazer a pergunta de Marta Nipole: "Eu gostaria de saber, Martorelli, qual é a abrangência da proposta: será somente para o futebol?"
Elaine Cristina Alexandre também pergunta para Martorelli: "Gostaria de saber se a comissão técnica também terá direito à assistência psicológica."
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Deputado, é lógico que vi a proposta. Ela precisa ser reescrita em alguns aspectos. Por exemplo, se formos tratar diretamente do trabalho do profissional, temos que estabelecer quantidade de sessões, como vamos fazer, como vão ser os protocolos. Enfim, há algumas coisas. Se é para assegurar uma obrigatoriedade, temos que escrever mais algumas coisas ali.
Com relação ao futebol, às outras modalidades, ao atleta profissional e aos atletas olímpicos, para mim, que gosto de estudar, temos duas concepções de profissional. O atleta profissional propriamente dito, que está na Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, que fala do contrato formal registrado. Mas imaginamos que o Diego Hypolito ou Murilo, do vôlei, não sejam profissionais? Lógico que não! Eles comem da atividade esportiva.
Mas, se ele não é profissional, pela lei especial, cai na lei geral, na CLT. Ele se enquadra em todos os requisitos de exclusividade, subordinação, onerosidade com o clube. Aliás, é um grande erro o art. 94 da Lei 9.615/98, que obriga só o futebol a registrar o contrato de trabalho. Acho que todos tinham que registrar o contrato trabalho e regularizar a situação.
Há um exemplo, hoje, seguindo um pouco mais à frente, do futebol feminino, que tem uma imposição da FIFA, que se estendeu e chegou até nós, fazendo uma análise. Eu não posso falar pelo São Paulo e pelo Santos também, mas as outras equipes não têm o contrato formal registrado. Quer dizer, estão irregulares, como um ou outro clube, pontualmente.
É só seguirmos o que temos que fica fácil aplicar a lei. O problema é que sempre fica uma discussão daquele que quer fugir da responsabilidade, porque nós temos no nosso quadro associativo atletas do futsal, do vôlei, do basquete, da luta olímpica, do automobilismo que vivem daquilo. Então, não dá para dizer que não são profissionais. Uma sugestão é incluir atletas profissionais e os atletas cujas atividades sejam uma modalidade olímpica. Já chega aos outros.
Há uma questão também, que me tocou aqui Lindberg, sobre a comissão técnica. Evidentemente, a comissão técnica precisa desse amparo, porque ela é composta de duas pessoas. E, às vezes, é o treinador sozinho que carrega o mundo nas costas em momentos difíceis. Vejam que Muricy é um exemplo, largou o futebol, porque o emocional estava pegando toda a região cardíaca dele. Ele teve que se afastar. Olha que loucura! Há pressão o tempo todo. Quem vive do esporte e está aqui olhando sabe que há pressão o tempo todo.
Ele não tem uma exposição muito grande na mídia, mas tem a pressão da família, tem a pressão dos que convivem com ele. "Você não ganhou a competição? Em que lugar você chegou? Em que lugar você chegou, Leandro? Qual foi o resultado do jogo, Danrlei? Mas eu estou no juvenil. Qual foi o resultado do jogo?" O atleta tem que se apresentar o tempo todo. É pressão o tempo todo.
15:51
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É por isso que a atividade de brincar no esporte é uma coisa e que o esporte profissional é totalmente outra. Quando tivermos um pouquinho essa noção, acho que vai facilitar para todo mundo.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu passo a pergunta do Deputado Danrlei para Marco La Porta.
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - Eu acho importante o que o Deputado Danrlei colocou. Reforço também o que Martorelli colocou com relação a uma maior abrangência. Acho que é só colocar no projeto de lei que isso não cabe apenas àquele atleta profissional mas também àqueles enquadrados pela Lei Pelé. Acho que é só colocar isso no projeto de lei.
A maior dificuldade — e isso vai requerer uma maior discussão — é entender exatamente o objetivo desse PL: se é realmente o acompanhamento do profissional para a performance, se é o acompanhamento para a performance e para os problemas do dia a dia que ele possa ter, se é o acompanhamento para a performance, para os problemas do dia a dia e para a sua transição de carreira. Esta delimitação talvez seja a mais complexa: tentar definir exatamente qual vai ser a área de atuação. Talvez a associação possa ser fundamental nesse processo.
Aos olhos do Comitê Olímpico, entendemos a preparação mental como fundamental na performance. Temos essa preocupação. Eu costumo dizer lá no Comitê Olímpico que, quando entramos ali, seja a moça que serve o cafezinho, seja o Presidente, estamos pensando como podemos melhorar a performance do nosso atleta. Todo mundo trabalha para isso.
Então, se aquele atleta está com problema em casa — e você citou a família —, ele não vai render bem. Se ele está com problema financeiro ou com a família, ele não vai render bem. Observem a abrangência disso em relação à performance.
Eu até não citei aqui uma coisa importante. No ano passado, nós começamos a fazer um trabalho nos Jogos Olímpicos da Juventude. O Comitê Olímpico Internacional criou jogos olímpicos para os mais jovens que englobam crianças na faixa dos 12 aos 16 anos, a depender da modalidade.
O que nós fizemos? Começamos a trabalhar não só o plano de transição de carreira, mas também o plano de carreira. Nós fizemos uma ação. Foram classificados 78 atletas para os Jogos Olímpicos da Juventude. Trouxemos o pai ou a mãe e o treinador. Passamos com eles um fim de semana fazendo palestras, falando sobre doping, planejamento de carreira e os preparando: "Olhem, pode ser que não dê certo. O alto rendimento não é para todos". Hoje, com 16 anos, esse jovem pode ser um atleta de alto rendimento, mas daqui a 2 anos pode não ser. E como vai ser isso? Observem, nesses 3, 4 minutos em que falei aqui, a abrangência disso.
Eu acho que a maior discussão que tem que haver agora nesta Casa realmente é no sentido de perceber qual é objetivo desse PL, qual é o trabalho que vai ser feito. Primeiro, já chegamos à conclusão aqui que não vai tratar só do atleta profissional, mas também do atleta olímpico, nas modalidades olímpicas. Quando falamos em modalidade olímpica, podemos pensar no exemplo do atletismo. Há crianças de 12 anos que já são atletas, que já estão na iniciação do atletismo. Isso vai ser abrangido?
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Acho que essa é a discussão. E nós, lá no Comitê Olímpico, estamos dispostos a participar dela, auxiliando e trazendo os programas que já fazemos. É importante ajudar e compartilhar o que pudermos com outras instituições.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu queria ouvir agora Rodrigo Acioli sobre o posicionamento do Deputado Danrlei.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Deputado, eu só vou fazer uma troca de palavras, para percebermos o quão isso é importante. Eu vou tirar a palavra "atleta" e usar a palavra "cidadão", o "ser humano". Quando falamos isso, vamos além. Estamos falando sobre garantia de direitos, sobre o dever... Sabemos que, infelizmente, o Estado muitas vezes não consegue acessar, dar atenção a todos. Mas as instituições que acolhem esses atletas, essas pessoas, esses cidadãos devem lhes garantir também um cuidado, porque às vezes o contexto onde eles estão inseridos acaba lhes gerando estresse, lesões.
É claro que existe a Constituição Federal que tenta nos garantir isso; existe a Carta Internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que também tenta garantir isso. Mas as instituições, os dirigentes, como seres humanos e cidadãos, devem reconhecer no outro essas dificuldades e lhe fornecer esse tratamento e esse cuidado.
Nós esquecemos que existe, acima disso tudo, leis federais. O que muitas vezes acabamos encontrando nos grandes campeonatos e nos grandes circuitos — vou falar agora do automobilismo também — é um grande espetáculo, porque também é para entreter. Mas os principais atores... O próprio Deputado Danrlei disse que treinava como um cavalo. Atletas não são animais, são seres humanos que muitas vezes treinam em horários absurdos. Volto a me lembrar dos jovens atletas que jogam campeonatos, treinam no horário da escola, ao meio-dia, quando o sol está a pino, e correm num gramado de tamanho oficial. O goleiro agarra numa tabela oficial também.
Cadê a cidadania aí? Cadê a legislação à frente de um contrato? Cadê a legislação tentando garantir que essas pessoas, que esses seres humanos têm direito à saúde e à qualidade de vida?
É isso.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu queria também ouvir o posicionamento de Leandro Macedo sobre o questionamento do Deputado Danrlei.
O SR. LEANDRO MACEDO - Para mim, é muito claro que essa lei tem que ser mais abrangente.
Vou dar o exemplo do triatlo. Na minha fala citei e enfatizei o alto rendimento. Eu vou dar como exemplo de desenvolvimento de esporte o modelo canadense. Existem três níveis. O primeiro é a base prática, o esporte para todos. Eles fortalecem, estimulam todo mundo para isso como saúde. Chega um momento em que uns vão continuar na prática e outros vão aprender a competir. A partir daí, eles vão ensinar a participar de competição, etc. No terceiro momento, uns vão aprender a vencer. É o esporte de alto rendimento.
No triatlo, por exemplo, o que é alto rendimento? Não são considerados só os profissionais. Corrijam-me se eu estiver errado, mas a categoria júnior, que vai de 15 a 19 anos, é considerada de alto rendimento; a categoria de 20 a 23 anos é considerada de alto rendimento. A partir de 23, é considerado elite. É o atleta formado já, teoricamente profissional, o que não existe no triatlo. Então, a partir dessa categoria de 15, há a opção de alto rendimento.
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Há atleta de 15 ou 16 anos que vai disputar e fazer esporte por esporte. Na categoria de 15 a 16 ou de 16 a 17, ele não está buscando o alto rendimento, não está buscando performance, não está buscando olimpíadas, não está buscando viver do triatlo ou do alto rendimento mesmo, para se dedicar mais horas para esse trabalho.
Então, para mim, é clara a questão de idade. Você vai ver na ginástica olímpica que o alto rendimento começa cedo. Eles vão para as olimpíadas com 14 ou 15 anos. Isso é alto rendimento.
Se você sai da modalidade, como eu disse, que é o esporte lúdico, participativo, que já é uma própria terapia, lógico, vários outros problemas estarão inseridos. Mas não sei se a lei está contemplando isso. Há sim a questão de saber até onde o alto rendimento vai complicar psicologicamente a vida social de um atleta, até onde o esporte está sendo saudável, se está equilibrado emocionalmente, se há esse amparo.
Na minha opinião, todas as entidades que estão buscando e desenvolvendo alto rendimento teriam que estar preocupadas. Acredito que isso tenha que ser tratado por lei mesmo, para que seja um requisito. Quer trabalhar o alto rendimento no seu clube com esse atleta de 12, 13 ou 14 anos em determinada modalidade? É alto rendimento? Então tem que haver amparo.
Seria, como foi dito aqui, na base. Eu acho que, quando os atletas profissionais chegam ao COB, o trabalho é muito maior — corrijam-me se eu estiver enganado — de mudar um modelo mental que ele tem para performar do que quando se vem da base, desde a hora em que ele optou pelo alto rendimento, por um trabalho continuado.
Logicamente a psicologia envolve não só o atleta, mas todo o contexto em que ele vive, pais, mães, famílias, treinadores, técnicos. Todo mundo tem que estar imbuído nesse processo, nesse treinamento mental. Para mim, é bem claro: trata-se de alto rendimento se o atleta vai mudar, vai treinar mais horas.
Luiz Lima não está aqui, mas não é todo mundo que vai fazer 30 de mil e vai sair sem sequelas numa sessão de treino. Seja com 12 ou 13 anos, se está no alto rendimento, tem que mudar essa chave. Você tem que prepará-lo mentalmente para suportar isso tanto para performar quanto na pós atividade física. Não sei como.
No meu pouco conhecimento das leis, eu sei que atleta profissional é uma coisa e atleta olímpico é outra. E o atleta de alto rendimento no triatlo não é nenhum nem outro, nem olímpico ainda e nem profissional, mas visa ao alto rendimento. Então sofre todas as consequências de um processo psicológico que é inerente ao que ele está buscando, que é o alto rendimento.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Tem a palavra o Deputado Danrlei.
O SR. DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ (PSD - RS) - Sr. Presidente, eu acho que cada um colocou sua opinião dentro da sua visão, do seu ponto de vista, para começarmos a elaborar um projeto mais amplo, mais focado.
Até agora, eu nem sabia que o próprio triatlo não tinha isso. Então daqui a pouco nós colocamos algo mais em relação à alta performance.
Eu acho que isso é pertinente à associação brasileira, pessoas que possam daqui a pouco, dentro do próprio projeto, separar qual é o tipo de auxílio psicológico no esporte para cada idade ou para cada categoria. De repente acabamos fazendo aqui um projeto muito bonito, que venha realmente a ajudar o esporte.
16:03
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Ouvir cada um de vocês, Deputados, acredito que temos muita coisa a fazer com este projeto. Os nossos convidados têm como nos ajudar a fazer um projeto belo e importante para todos os esportes.
Eu quero parabenizar novamente V.Exa. por esta audiência pública. Agradeço a todos os convidados. Se é para fazer algo aqui, vamos fazer uma coisa boa. Às vezes temos até a intenção de fazer algo bom. Já aconteceu comigo pegar um projeto e achar que eu estou fazendo uma coisa maravilhosa, mas ao ouvir todo mundo, percebemos que estamos deixando de lado muita coisa. Ouvir vocês nos faz começar a tomar um rumo correto para ajudar os atletas e o esporte.
Parabéns, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu concordo com V.Exa.
Por isso, é muito importante, quando V.Exa. falou comigo da outra vez para realizarmos uma audiência pública para fazermos a coisa certa. Eu peço sua contribuição, Deputado Danrlei, que sempre será um atleta. Não jogou no meu Corinthians, mas sempre vai ser um atleta.
Chegou aqui mais uma pergunta para todos da Mesa: "De que maneira os clubes e entidades desportivas vêm batalhando para garantir assistência psicológica aos atletas profissionais? Na avaliação dos Srs. Deputados é importante que esse projeto de lei se torne lei?" Quem quiser responder, fique à vontade.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - O que acontece no esporte profissional é a cobrança pela performance. Não só no futebol, mas também no voleibol, no futsal e nas modalidades coletivas principalmente o foco e a exigência são com a performance.
Se pegarmos a Copa de 2014, quando tomamos quatro gols em 5 minutos naquele jogo horroroso contra a Alemanha, se imaginarmos que o capitão daquela equipe era um menino de 23 anos, o Neymar, que ainda não tinha maturidade para exercer essa função de responsabilidade, por que o Brasil estava dentro de casa e havia muita pressão, o erro começou aí.
Então, imaginar por que o atleta tem um bom desempenho técnico e por isso ele já está formado mental e emocionalmente é um grande erro. Nós cometemos isso o tempo todo.
Observando um pouco mais distante ou mais perto, verificamos que Thiago Braz, o menino que foi medalha de ouro no salto com vara, teve sua performance diminuída. Por quê? Porque ele passou a ser cobrado. Enquanto ele não tinha a responsabilidade de ganhar a medalha, ele foi lá e superou o francês, que era o cara. A partir do momento em que ele passa a ser esperança de medalha — como foi o Hypólito na Olimpíada, e acabou perdendo a medalha —, a coisa muda. Então, a performance e o resultado não estão vinculados à estrutura mental do atleta.
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Eu acho que o grande erro no esporte do Brasil é não entender que esse trabalho tem que começar lá atrás. Quando você prepara emocionalmente um atleta para os resultados, você o prepara para os desafios da vida, e esse crescimento em paralelo é importante para aquilo que nós imaginamos como um trabalho cidadão. O que fazer para que um menino se torne um cidadão? Trabalhar o lado emocional dele, principalmente.
O Leandro trouxe aqui uma questão importante mesmo. A atleta de ginástica olímpica de 12 anos, de 13 anos, já é atleta de alto rendimento, e ela está abdicando da sua infância e da sua adolescência. Como isso repercute na cabeça da moça lá na frente? Isso fora as sequelas físicas. Como podemos lidar com as sequelas físicas?
Hoje, lá no sindicato, estamos desenvolvendo um trabalho para melhorar a qualidade de vida do ex-atleta, até para ele desafiar as dores físicas e ter melhor qualidade de vida. Porque o atleta foge das dores físicas, não percebe o que está fazendo com a própria vida. Ele foge de uma série de questões emocionais fugindo das dores físicas. Enfim, isso é bem abrangente e precisa ser mais esmiuçado, mais trabalhado e mais divulgado.
Parabéns, Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Antes de passar a palavra ao meu amigo Deputado Luiz Lima, vamos ouvir a resposta do Rodrigo.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Bem, este assunto é muito importante e nós precisamos ampliá-lo para além do futebol. Nossos exemplos são todos voltados para o futebol, o que já é um sinalizador.
Partindo para a resposta, em relação aos psicólogos, enquanto nós considerarmos que a nossa função é apenas levar o time ou o atleta ao título, ao campeonato, estaremos nos equivocando.
Vou usar o exemplo do futebol. Hoje, na série A do campeonato brasileiro, 20 clubes disputam, e apenas um será campeão. Então teremos 19 fracassados, 19 técnicos perdendo emprego, psicólogos demitidos porque não conseguiram ser bem-sucedidos? Não. É claro que o objetivo principal da competição é o título, é o campeonato...
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - E ainda podemos dizer que um é campeão e que quatro caem. (Risos.)
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Vai muito além disso. Enquanto tivermos essa mentalidade de que a função é apenas ganhar... Vou usar como exemplo o Flamengo, que está há alguns anos sem ganhar título, mas está sempre entre os quatro ou cinco primeiros, está se fortalecendo, ganhando corpo, se mantendo. Quem sabe...
Enfim, o importante é deixar de achar que só é competente o campeão. Precisamos levar em consideração todo o histórico, sabendo que em certo momento aquele time vai ter a sua hora.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Com a palavra o Deputado Luiz Lima.
O nome de V.Exa. já foi citado aqui várias vezes. (Risos.)
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O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Obrigado, Deputado Roberto Alves. Obrigado Rodrigo Acioli, Marco La Porta, Lindberg, Leandro Macedo, que foi nosso triatleta medalhista em 1995, no Pan-Americano de Mar Del Plata, atleta olímpico em 2000, na estreia do triatlo.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Campeão mundial em 1991.
O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Campeão mundial em 1991.
Vi uma matéria do Leandro no Esporte Espetacular muito engraçada. Você não lembra, La Porta. Vocês se lembram das trigêmeas, que eram modelos? A matéria era fictícia. O Leandro era casado com trigêmeas. Ele tinha que fazer um triatlo em casa também. A matéria é sensacional. É inesquecível aquela reportagem, não é, Leandro? Foi muito bem bolada.
Leandro, parabéns pela sua trajetória, hoje de grande profissional de Educação Física aqui no Distrito Federal, trabalhador para caramba, não é, Leandro? Você não para. Tem que ter psicólogo para profissional de educação física também, porque acaba que nós nos tornamos um pouco psicólogos. A quantidade de pessoas com quem conversamos!
E obrigado, Rinaldo Martorelli.
Eu sou professor de educação física, Rodrigo. Você é psicólogo. Na educação física nós estudamos a disciplina psicologia, porque acabamos lidando com pessoas totalmente diferentes. O futebol é o retrato disso. Nós acabamos falando sempre no futebol, mas é que o futebol é mais do que esporte, o futebol é uma religião neste País, uma paixão, e tudo que envolve paixão foge do nosso controle emocional.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Nunca, nunca. Com certeza, não.
E, se há paixão e amor... Não podemos condenar uma pessoa apaixonada. Mas tudo tem os seus limites, e o esporte também, inclusive o esporte amador. Nós temos no nosso público pessoas do esporte amador que muitas vezes têm uma característica até mais profissional do que o próprio profissional, porque não recebem nada, mas se dedicam até mais do que o profissional. E também há exemplos de ex-dependentes químicos, de pessoas que tiveram algum problema na vida e começaram a treinar com a gente e a substituir pelo esporte esse grau de dependência.
A psicologia é muito ampla, não é, Rodrigo? Num time de futebol, meninos de 9 anos, de 10 anos de idade são submetidos a lutar por um sonho que às vezes não é nem deles, é dos pais, e muitas vezes esse sonho nem é esportivo, é apenas uma tentativa de garantir um futuro melhor. Isto é muito ruim para o esporte, treinar pensando em dar um futuro melhor para os pais. A carga é muito forte.
Então, quando eu vi no projeto do Senador... Agora me foge o nome do Senador, Deputado Roberto Alves.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Senador Marcelo Crivella, atual Prefeito do Rio de Janeiro.
O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Isso, Senador Marcelo Crivella. Quando ele fala em assistência psicológica continuada, eu tenho uma dúvida: seria uma obrigatoriedade para o clube — é claro que alguns clubes vão ter mais facilidade — manter psicólogo atuando diariamente, ou o psicólogo seria acionado para fazer um trabalho com a equipe esporadicamente, caso um atleta precisasse? Essa é a minha dúvida relativa à proposta do Senador Marcelo Crivella.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - É também a dúvida do Deputado Danrlei.
O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Ele também teve essa dúvida?
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Foi por isso que nós chamamos a audiência pública.
O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Entendi.
Nós sempre temos que usar o bom senso. O São Paulo, por exemplo, é um clube maravilhoso, um clube classe A em qualquer parte do mundo, e é claro que ele tem o seu psicólogo, profissionais de educação física, fisioterapeutas, fisiologistas, médicos, uma infraestrutura fabulosa. É claro que, para o São Paulo, na minha opinião, é um dever, quase uma obrigação zelar pelo bem-estar dessas crianças e adolescentes, dos quais 90% não vão ter uma carreira de sucesso, não vão se tornar um profissional que jogará futebol até os 32 anos, 34 anos. Eles param. Nesse caso, realmente, o apoio psicológico é até muito mais importante do que o apoio que possibilita enfrentar o público ou disputar uma partida. O efeito da não realização de um sonho é muito forte, porque mexe com a autoestima da pessoa. Mas vamos pegar o caso de um clube do Rio de Janeiro, o Serrano, de Petrópolis, o Serrano do Pedro, que é um clube de segunda divisão, praticamente um clube amador, que enfrenta suas dificuldades, às vezes até para pagar o salário do jogador. Essa é a minha dúvida. Mas quem dera todo atleta tivesse apoio psicológico, Rodrigo. Se nós mesmos, adultos, precisamos de apoio psicológico, quanto mais uma criança em formação.
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Essa é a minha única dúvida, Deputado Roberto Alves. Eu o parabenizo pelo requerimento para realização desta audiência pública. A psicologia é um complemento em qualquer área, no esporte mais ainda, porque temos no esporte o movimento mais democrático do mundo, uma união de pessoas de classes sociais diferentes, de histórias diferentes. O apoio psicológico é fundamental.
Nós citamos muito o futebol porque o futebol é maravilhoso, não é, Rinaldo? Eu fui nadador, mas sou apaixonado por futebol, embora jogue muito mal.
Muito obrigado, Deputado Roberto.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu é que agradeço a participação de V.Exa.
Tenho uma pergunta aqui para o Marco La Porta:
O que o COB tem feito para combater o abuso sexual nas categorias de base?
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - Obrigado pela pergunta. Essa é uma preocupação e uma prioridade do Comitê Olímpico. Ano passado, todos foram testemunhas das matérias publicadas sobre o problema com a ginástica. Em 8 de dezembro do ano passado, nós publicamos o nosso manual de prevenção e combate ao assédio no esporte. Esse foi o primeiro passo, como medida preventiva. Criamos um canal de ouvidoria, e qualquer denúncia pode ser feita diretamente ao COB. Esse é um canal de ouvidoria independente, ligado diretamente ao Conselho de Ética do Comitê Olímpico. As denúncias são apuradas e as providências tomadas, independentemente das consequências criminais decorrentes.
Em relação à prevenção, temos feito ações junto com as confederações, em competições. Nós temos, na organização dos Jogos Escolares, que são realizados anualmente e envolvem crianças na faixa etária dos 12 anos até os 16 anos, palestras sobre ações de prevenção. Agora há pouco, nos Jogos Pan-Americanos, tivemos uma barraca chamada Esporte Seguro, que foi até citada pelo Comitê Olímpico Internacional como exemplo. Todo atleta que passava por lá sentava e respondia a um quiz para verificarmos seus conceitos em relação não só ao abuso, mas também ao doping, e ele recebia orientação. Esse trabalho feito junto com a ONU Mulheres.
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Enfim, temos adotado medidas efetivas para evitar isso. Mas é claro que não conseguimos controlar tudo, principalmente nas categorias de base. As confederações e os clubes têm papel fundamental, mas o Comitê Olímpico está dando o caminho e promovendo ações para tentar evitar problemas fora do ambiente... nem vou chamar de ambiente esportivo, porque isso deveria estar fora de qualquer ambiente.
É isso.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Com a palavra o Rodrigo Acioli.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Deputado Luiz Lima, eu quero dar uma resposta ao senhor. Desculpe-me, talvez eu quebre algum protocolo com relação ao respeito, mas vou chamá-lo de Luiz Lima. (Risos.)
Eu fui nadador do Fluminense também. Posso dizer "você"?
O SR. LUIZ LIMA (PSL - RJ) - Você está com quantos anos?
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Hoje tenho 38 anos. Acho que somos da mesma época. Eu ficava ali na borda, no bloco de partida, junto com a Regina Arraes, e ela apontava: "Olha, acompanha o Luiz nadando — ela o chamava de Luizinho —, observe a angulação do braço e repita". Além de nadador, eu fui triatleta, depois. As provas olímpicas dos 1.500 metros eram a sua especialidade. E muitas vezes acompanhei as peladas no campo de society.
Bem, o que nós entendemos por trabalho de continuidade? O profissional de psicologia muitas vezes é chamado apenas para apagar incêndio, mas é importante o acompanhamento do atleta desde a base, desde a categoria mirim, como eu dizia no começo, seja na natação, seja no futebol, até a categoria adulta e a elite. É importante que o atleta tenha acesso a esse trabalho sempre, não apenas esporadicamente, quando algo de ruim acontece. O atleta precisa ser amparado, acompanhado. Não necessariamente ele vai ser chamado para uma conversa. Às vezes o psicólogo atua apenas nos bastidores, tentando garantir um ambiente saudável para a equipe. O atleta não foi submetido a situações de estresse, mas o psicólogo trabalhou nos bastidores a ambiência, o ambiente do local de tratamento, fazendo um trabalho escondido.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Nós temos mais duas perguntas dos nossos internautas, para os quatro componentes da Mesa.
O Alberto Filgueiras faz a seguinte pergunta:
Um atleta profissional tem riscos 4 vezes maiores de ter anorexia ou bulimia quando comparado à população em geral, 3 vezes maiores de ter depressão, 2 vezes de ter transtornos de ansiedade. Quais as políticas públicas atuais para isso, lembrando que médicos não são preparados para isso?
Qual dos senhores vai responder?
Temos outra pergunta aqui, do Rafael Conde:
Como vocês pensam em fazer treinamento mental/cuidar da saúde mental no esporte sem a presença do psicólogo(a) do esporte na comissão técnica?
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Eu acho que já falamos um pouco sobre isso. O Deputado Danrlei, quando esteve aqui, falou a respeito da resistência dos clubes e dos atletas, porque lá atrás foi mal-usada a figura do psicólogo. O psicólogo foi usado como espião da comissão técnica e do clube, isso antes da experiência que ele trouxe do Grêmio. Houve uma experiência lá atrás, se não me engano com o Fluminense, que foi muito malsucedida. Mas isso é passado. Isso é passado.
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Os dados que ele traz eu não tenho condição de observar, mas a preocupação era tão grande, que eu me reuni com o pessoal do Hospital das Clínicas, em São Paulo, com o diretor da Psiquiatria... Ele aplica um teste para entender...
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu só vou lhe pedir... É que chegaram mais perguntas, e daqui a pouco nós vamos ter que estar no plenário.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Está bem.
Ele aplica um teste, criou-se um teste para saber se o cidadão tem características de burnout. Daí vem a depressão. Mas ainda estamos engatinhando. Temos um projeto para a categoria dos atletas profissionais, não só do futebol. Expandimos isso para todo mundo. Essa é uma preocupação do mundo moderno, dessa loucura em que vivemos, os atletas ainda mais, com exposição nas mídias sociais, buscando performance e resultado o tempo todo e tendo a frustração de não conseguir resultados. Isso causa problemas.
Mas, enfim, eu acho que política pública não temos. Existe uma tentativa, principalmente para o esporte de alto rendimento profissional, e é uma iniciativa muito feliz debater este assunto, para poder melhorar um pouco esse quesito.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - A Cristianne Carvalho, outra internauta, pergunta:
Quais profissionais são necessários em uma comissão técnica para garantir o bom desempenho de um atleta? Prepara-se apenas física e tecnicamente um atleta? E os aspectos emocionais? Ficarão sempre evidenciados e renegados?
O Marco Aurélio Araújo pergunta:
Teria como mensurar ou sinalizar o quanto estamos atrasados, comparados com outros países, que já se estruturaram sistematicamente, incluindo o psicólogo nessa estrutura, no desenvolvimento humano e esportivo, num cenário mundial?
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - Eu vou responder à pergunta da Cristianne em relação aos profissionais necessários na comissão técnica.
Pela exposição que eu fiz aqui e pelo que foi debatido, não tenho dúvida de que, pelo menos no âmbito do Comitê Olímpico, o psicólogo é fundamental numa comissão técnica. Nós sabemos que a preparação mental é fator preponderante na performance do atleta. Se o atleta não está — vou usar um termo bem popular — com a cabeça em ordem, a performance não vem. Eu tive uma carreira de atleta no Exército, de treinador... Se eu começar a contar as histórias que ouvi ao longo da minha vida profissional de atletas que não conseguiram boa performance por estarem com a cabeça desajustada, ou, o contrário, de atletas que conseguiram uma ótima performance por estarem com a cabeça em ordem, elas são inúmeras histórias.
Como eu mostrei aqui no quadro, a cada participação brasileira em Jogos Olímpicos aumenta a preparação mental nas comissões técnicas. Nesse aspecto, temos certeza de que é fundamental para a performance a presença desse profissional.
16:27
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O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Passo a palavra para o Rodrigo Acioli.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Temos aqui uma pergunta do Marco Aurélio Araújo e também a pergunta do Alberto Filgueiras sobre dados estatísticos, uma relação entre atleta e sociedade.
Para quem não sabe, o Alberto é um psicólogo pesquisador, um dos doutorandos na área e um dos primeiros a oferecer o doutorado em psicologia do esporte no Brasil. Ele tem um laboratório na UERJ, que, apesar das dificuldades, vem se mantendo forte. O Alberto mantém seu laboratório funcionando. Ele é um grande pesquisador. Poucos sabem que, na época do incêndio no Ninho do Urubu, ele era o psicólogo do Flamengo. Mesmo sendo profissional do alto rendimento, do time profissional do Flamengo, ele deu total acolhimento à categoria de base e seus familiares, como disse o Deputado Danrlei. Ele traz uma informação superimportante sobre a necessidade de darmos atenção especial à formação do atleta e atenção também primordial à pesquisa, à ciência da psicologia brasileira, que nos oferece dados sobre a nossa realidade. Nós precisamos trabalhar com a nossa realidade.
O Marco Aurélio pergunta se haveria uma forma de mensurar ou sinalizar o quanto estamos atrasados se comparados a outros países que já se estruturaram sistematicamente, incluindo o psicólogo nessas estruturas, no desenvolvimento humano e esportivo, num cenário mundial.
Marco — os outros podem me corrigir com relação aos números —, eu estive no Comitê Olímpico Brasileiro antes da Olimpíada do Rio de Janeiro, acompanhando as reuniões com os psicólogos como representante do sistema, para ajudar na construção do trabalho e também para ajudar os profissionais psicólogos na área, de modo que não se repetissem algumas coisas que aconteceram em outros momentos. Naquele momento, o Brasil estava levando, na Olimpíada do Rio de Janeiro, 36... 33 psicólogos... Na Olimpíada anterior, acho que eram 11. Nós mais do que dobramos. Esse é um dado muito importante. De pouquinho em pouquinho, nós vamos reconhecendo a ciência e percebendo a importância do profissional ali. Quem sabe um dia vamos ter profissionais em cada confederação, no masculino, no feminino, em todas as categorias, para melhorar a qualidade do trabalho com os atletas e não deixá-los ficar, como já aconteceu em Olimpíadas... Geralmente são cem atletas, mais ou menos, mais comissão técnica...
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - Duzentos atletas.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Duzentos atletas, e um psicólogo para todos. A partir de Pequim, começamos a aumentar os números de profissionais. Estamos melhorando a cada dia, dando mais qualidade para o atendimento psicológico.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Eu quero agradecer à Associação Brasileira de Psicologia do Esporte.
Rodrigo Acioli, peço que faça suas considerações finais.
O SR. RODRIGO ACIOLI MOURA - Primeiro, quero agradecer novamente a oportunidade de estar aqui presente.
O pedido que faço eu faço é que, sempre que a psicologia for pensada como política pública, não apenas o Conselho Federal de Psicologia seja chamado para participar, mas, no caso do esporte, também a ABRAPESP. A psicologia brasileira tem 57 anos. Já temos dados científicos suficientes para contribuir para as políticas.
Deixo isso registrado e agradeço a oportunidade. Espero que este projeto vá à frente. Sabemos das dificuldades dessa construção — muitas mãos e muitas cabeças participando —, mas espero que, no fim das contas, ele não só ajude os atletas e comissões técnicas, mas também mostre exemplos de qualidade de vida para quem assiste aos jogos.
16:31
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O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Muito obrigado.
Quero também agradecer ao Comitê Olímpico Brasileiro.
Marco La Porta, peço-lhe que faça as considerações finais.
O SR. MARCO ANTÔNIO DE MATTOS LA PORTA JÚNIOR - Deputado, eu queria agradecer o convite e parabenizá-lo pela iniciativa. Agradeço também aos membros da Mesa. Eu acho que as contribuições dadas aqui foram bastante importantes. Este projeto de lei privilegia o bom atendimento ao atleta, ao ser humano, então tem total apoio do Comitê Olímpico Brasileiro. Desde a assunção do Presidente Paulo Wanderley, o Comitê Olímpico tem se feito presente nas sessões aqui, participando, abrindo portas para a discussão, porque entendemos que o trabalho que fazemos lá dentro visando a resultados é para o bem do esporte — isso foi comprovado agora nos Jogos Pan-Americanos de Lima, onde obtivemos resultado histórico. Então, em toda e qualquer discussão que se faça para o bem do esporte, o Comitê Olímpico estará presente.
Agradeço esta oportunidade e parabenizo os autores do projeto pela iniciativa.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Quero também agradecer ao Leandro Macedo, atleta que muita alegria trouxe ao povo brasileiro e que tem também a responsabilidade de formar atletas. Muito obrigado.
Leandro, pode fazer suas considerações finais.
O SR. LEANDRO MACEDO - Quero agradecer o convite para participar desta audiência e passar um pouco da minha experiência. Acho que o projeto está no caminho certo, e ele pode ser muito mais abrangente, como estamos buscando aqui, e contribuir muito para o esporte e para o cidadão, para a pessoa, o ser humano.
Eu acho que a psicologia não é tudo, que não podemos relacioná-la diretamente... como se bastasse a psicologia para que os resultados saiam. Ela é muito mais do que isso, como foi dito. Não podemos mensurar os resultados da psicologia em cima de quadro de medalhas. Nossa visão é muito mais ampla dos benefícios que o esporte traz quando está associado à psicologia, porque ele pode tornar o ser humano muito melhor.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Também quero agradecer ao Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, na pessoa do seu Presidente, Rinaldo Martorelli. Muito obrigado.
Peço-lhe que faça suas considerações finais.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Primeiro, Deputado, eu queria agradecer ao Rodrigo Acioli, ao Marco La Porta e ao Leandro Macedo os ensinamentos que me trouxeram, pela abrangência e pela inteligência no debate.
Queria agradecer também ao Lindberg, que está sempre conosco nos auxiliando.
E parabenizo o senhor, Deputado, pela iniciativa da discussão de um assunto tão importante, que até parece de menor valor, mas que é importante para buscarmos a melhoria no esporte e também a melhoria na vida do cidadão.
Chegamos à conclusão também de que se devem fazer alguns ajustes no texto. Havendo necessidade, estamos aqui, dispostos, para colaborar sempre.
Deixo o meu agradecimento.
O SR. PRESIDENTE (Roberto Alves. REPUBLICANOS - SP) - Quero agradecer ao nosso companheiro Lindberg e a todos os assessores desta Comissão, aos internautas que participaram da audiência pública, aos nossos assessores do gabinete, ao meu amigo Ricardo, que veio lá de São Paulo para nos prestigiar. A todas as senhoras e senhores, muito obrigado.
Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença de todos.
Está encerrada esta audiência pública.
16:35
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Que Deus abençoe o Brasil! (Palmas.)
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