1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56 ª LEGISLATURA
Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a prática de atos ilícitos e irregulares, no âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ocorridos entre os anos de 2003 e 2015, relacionados à internacionalização de empresas brasileiras
(Reunião Deliberativa Ordinária)
Em 14 de Agosto de 2019 (Quarta-Feira)
às 14 horas e 30 minutos
Horário (Texto com redação final.)
14:53
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Havendo número regimental, declaro aberta 33ª Reunião Ordinária da CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Encontra-se sobre as bancadas cópia da ata da 32ª reunião.
Pergunto aos Srs. Parlamentares se há necessidade da leitura da ata.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Peço a dispensa da leitura, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputado Paulo Ramos pede a dispensa da leitura.
Dispensada a leitura da ata, a pedido do Deputado Paulo Ramos.
Em discussão a ata.
Não havendo quem queira discuti-la, coloco-a em votação.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam com se encontram. (Pausa.)
Está aprovada a ata da 32ª Reunião.
Esta reunião ordinária foi convocada para tomada de depoimento do Sr. Roberto Graziano Russo, ex-Presidente do Frigorífico Independência — Requerimento nº 109, de 2019 —, e para deliberação de requerimentos.
A Presidência coloca em deliberação os requerimentos da pauta de hoje, iniciando pelo item 1, Requerimento nº 203, de autoria da Deputada Paula Belmonte, que requer ao Presidente do BNDES documento mencionado pelo Sr. Eike Batista em sua oitiva nesta CPI, no dia 6 de agosto 2019.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 207, de 2019, do Sr. Paulo Ramos, que requer cópia integral do contrato celebrado entre a empresa de investigação KROLL e a CPI da PETROBRAS iniciada nesta Casa em fevereiro de 2015.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis...
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deseja fazer o encaminhamento? (Pausa.)
Deputado Jorge Solla, V.Exa. tem a palavra.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Para entender o objetivo desse requerimento, gostaria que o Deputado Paulo Ramos explicasse por que está solicitando esse contrato.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Trata-se do contrato e do relatório da investigação feita, Deputado.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Então, é com isso que eu ia complementar. Mais do que ao contrato, eu gostaria de ter acesso ao relatório.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O requerimento pede o relatório.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - É que aqui não está escrito isso.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Não está na ementa que se transcreveu, mas no requerimento se pede o relatório.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Passe-me o requerimento original.
A Presidência vai confirmar se na proposta do Deputado Paulo Ramos consta efetivamente o relatório.
Deputado Jorge Solla, na pauta desta sessão, que está disponível no computador de V.Exa., também é possível confirmar a solicitação do Deputado Paulo Ramos. (Pausa.)
Pois bem, com a concordância de V.Exa., coloco o requerimento em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 209, de 2019, da Sra. Paula Belmonte, que requer ao Presidente do BNDESPAR informações e documentações mencionadas pelo Sr. Silmar Roberto Bertin em sua oitiva nesta CPI, no dia 7 de agosto de 2019.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 210, de 2019, da Sra. Paula Belmonte, que requer ao Presidente do BNDES informações e documentações mencionadas pelo Sr. Silmar Roberto Bertin em sua oitiva nesta CPI, no dia 7 de agosto de 2019.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
14:57
RF
Requerimento nº 211, de 2019, do Sr. Pedro Uczai, que requer ao Presidente do BNDES esclarecimentos quanto aos atos de controle de operações financeiras garantidas pelo FGE e às auditorias internas no âmbito do próprio BNDES, com o encaminhamento das respectivas informações e documentos, inclusive quanto às conclusões a que chegaram as auditorias internas.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Passa-se aos requerimentos de convocação.
Requerimento nº 191, de 2019, do Sr. Sidney Leite, que requer a convocação do Sr. Eduardo Rath Fingerl, Diretor da BNDESPAR responsável pela Área de Mercado de Capitais — AMC na época das operações de financiamento para apoiar a compra de empresas internacionais pela JBS, para prestar esclarecimentos sobre irregularidades na tramitação dessas operações no âmbito do banco.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 198, de 2019, do Sr. Altineu Côrtes, que requer a convocação do Sr. Décio Fabricio Oddone, ex-Diretor de Investimentos da Braskem, para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito.
Em votação. (Pausa.)
Aprovado.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 199, de 2019, do Sr. Altineu Côrtes, que requer a convocação do Sr. Germán Efromovich, empresário, para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito.
Em votação.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Deputado Jorge Solla.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Quem é o Sr. Germán Efromovich e qual é a razão da sua convocação?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputado Altineu Côrtes, V.Exa. tem a palavra.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O Sr. Germán é mais conhecido como o antigo... Há muitas histórias do Sr. Germán — e é por isso que eu quero ouvi-lo aqui —, mas a última diz respeito à companhia aérea Avianca, que, obviamente, não faz parte do contexto desta CPI. O Sr. Germán teve envolvimento direto como acionista do Estaleiro Mauá Jurong, no Município de Niterói. Nós estamos buscando esclarecimentos sobre as relações dos estaleiros com o BNDES, Deputado.
Para V.Exa. ter uma ideia, apesar de V.Exa. já estar satisfeito — e talvez isto não tenha a ver com o objeto desta CPI —, milhares de funcionários do Estaleiro Mauá Jurong não receberam sequer os seus direitos trabalhistas. Vamos ter a oportunidade também de entender como um homem tão poderoso como esse não paga sequer os direitos trabalhistas dos funcionários mais humildes. Ressalte-se que ele teve relações de crédito com muitas instituições, assim como teve com o BNDES.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Deputado Paulo Ramos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Nós participamos, nesta semana, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, de uma audiência pública sobre a indústria naval do Rio de Janeiro, e surgiu também o nome do Sr. Germán Efromovich, como dono do Estaleiro Ilha S.A. — EISA, na Ilha do Governador, que também recorreu ao BNDES, pegando vários empréstimos, e depois não entregou as encomendas. Os trabalhadores perderam os empregos, e o estaleiro está fechado até hoje.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Os empréstimos foram do BNDES?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sim, do BNDES.
15:01
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Presidência vai avaliar, evidentemente, as conexões com os trabalhos desta CPI.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Com certeza.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Em votação o Requerimento nº 199.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 200, de 2019, do Sr. Altineu Côrtes, que requer a convocação do Sr. Aguinaldo Gomes Ramos, Diretor-Presidente da Eldorado Brasil Celulose S/A, para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito, na condição de testemunha.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 201, de 2019, do Sr. Altineu Côrtes, que requer a convocação do Sr. Júlio Raimundo, ex-executivo do BNDES, para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 202, de 2019, do Sr. Altineu Côrtes, que requer a convocação do Sr. Wesley Mendonça Batista Filho, Diretor da JBS, para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito, na condição de testemunha.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - Sr. Presidente, quero só fazer uma questão de ordem sobre esse requerimento.
Relator, por que a convocação é em condição de testemunha? Eu já a aprovei, mas só para...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Nós temos aqui diversas decisões do Supremo Tribunal Federal de pessoas na condição de investigado. Como esse senhor não estava à frente daquela empresa naquele momento, mas está agora, nós o colocamos na condição de testemunha, já que ele não figura como real investigado, no nosso entendimento.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O.k., Deputada Celina Leão?
A SRA. CELINA LEÃO (Bloco/PP - DF) - O.k.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O Requerimento nº 202, do Sr. Deputado Altineu Côrtes, está em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 204, de 2019, do Sr. Altineu Côrtes, que requer a convocação do Sr. André Santos Esteves, Executivo do BTG Pactual, para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito, na condição de testemunha.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 205, de 2019, do Sr. Paulo Ramos, que requer a solicitação de uma audiência pública com a convocação da Sra. Daniela Marques Consentino, Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos, para que possa prestar esclarecimentos de detalhes relativos à concessão de empréstimos.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 206, de 2019, do Sr. Paulo Ramos, que requer a solicitação de uma audiência pública com convocação da Sra. Solange Paiva Vieira, Superintendente de Seguros Privados — SUSEP, para que contribua com informações importantes para esta Comissão.
Em votação.
O SR. PAULO EDUARDO MARTINS (PSC - PR) - Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Deputado Paulo Eduardo Martins.
O SR. PAULO EDUARDO MARTINS (PSC - PR) - Eu gostaria de compreender melhor a razão dessa convocação da Sra. Solange. Não entendi bem a relação.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tem a palavra o Deputado Paulo Ramos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Nós estamos nos empenhando muito para compreender os detalhes dos mecanismos quando há concessões de empréstimos pelo BNDES. Aqui mesmo, muitas vezes, surge a preocupação de ter havido influência política, não terem sido feitas observações técnicas, deixando uma nuvem de fumaça sobre essas questões. E ela é uma pessoa que está em condições de nos dar esclarecimentos. É por isso que foi feito...
15:05
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O SR. PAULO EDUARDO MARTINS (PSC - PR) - Ela foi responsável por essa área? Ela está na SUSEP hoje.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Ela tem conhecimentos. Em muitos casos, também havia a questão do seguro. O empréstimo era concedido e tinha...
O SR. PAULO EDUARDO MARTINS (PSC - PR) - Compreendo.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Ela poderá nos ajudar.
O SR. PAULO EDUARDO MARTINS (PSC - PR) - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 208, de 2019, do Deputado Sanderson, que requer a convocação...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Pois não, Deputado.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Foram aprovadas duas audiências públicas, mas podemos reuni-las numa só. Como a CPI tem pouco tempo, faríamos uma só audiência pública com as duas.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Presidência vai avaliar isso, levando em conta a solicitação de V.Exa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Requerimento nº 208, de 2019, do Sr. Sanderson, que requer a convocação do Sr. Taiguara Rodrigues dos Santos, para prestar depoimento nesta Comissão.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Presidente, quem é esse Taiguara Rodrigues dos Santos? Parece até que é alguém muito importante, porque os nomes de todos os outros estão escritos em caixa baixa, e o nome dele está em caixa alta.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputado, eu não sei por que razão a assessoria...
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - V.Exa. me permite, Presidente Vanderlei Macris, falar como proponente da ação?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Em consideração ao Sr. Secretário, que se preocupou com uma leve informação desta Presidência de que a Secretaria é que teria sido responsável por isso, a Presidência informa que não é esse o caso. A Secretaria simplesmente reproduz a redação da forma como está colocada no requerimento. Foi isso que aconteceu.
Mas o Deputado Sanderson tem a palavra para...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Presidente, a caixa alta também é uma homenagem ao Taiguara, não se deve ao depoente. (Risos.)
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Taiguara é um nome bonito, um nome indígena. O meu nome, Ubiratan, também tem origem indígena.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Esse aí não é compositor também, não é?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Eu vou passar a palavra ao Deputado Sanderson, que vai apresentar argumentos quanto à solicitação feita por S.Exa.
O SR. SANDERSON (PSL - RS) - Presidente, é importante assinalar que esse rapaz de nome, eu diria, exótico — talvez por isso esteja em caixa alta, Deputado Jorge Solla —, Taiguara Rodrigues dos Santos, é sobrinho do ex-Presidente Lula e teria sido favorecido com pagamento de propina. Digo "teria sido" porque estamos investigando ainda. Ele teria sido favorecido com propina referente a obras realizadas no exterior, numa hidrelétrica de nome Cambambe. Essa obra foi realizada pela empresa Odebrecht na África.
O objetivo do requerimento é justamente saber do Sr. Taiguara se ele tem alguma coisa a falar sobre esse indicativo. Digo "indicativo" porque nós estamos justamente investigando se realmente ocorreu prevaricação, propina, permeando esse negócio.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O.k.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 182, de 2019, do Sr. Paulo Ramos, que requer que seja convocado para uma acareação o Sr. Antonio Palocci Filho, Ex-Ministro da Fazenda, e o Sr. Emílio Alves Odebrecht, Presidente do Grupo Odebrecht.
Em votação.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Está aprovado, contra os votos da Deputada Margarida Salomão e do Deputado Pedro Uczai. Os dois foram contrários.
15:09
RF
Requerimento nº 195, de 2019, do Sr. Elias Vaz, que requer seja submetido à deliberação do Plenário desta Comissão Parlamentar de Inquérito o pedido ora formulado de afastamento do sigilo fiscal da empresa em todas as esferas governamentais e o consequente envio de toda a movimentação da empresa DM Desenvolvimento de Negócios Internacionais, inscrita no CNPJ sob o n° 11.734.782/0001-09, no período compreendido entre 2003 e 2015.
Em votação.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Sr. Presidente, desculpe-me, gostaria só de registrar o nosso voto contrário ao item anterior.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - A Presidência registra o voto contrário de V.Exa.
Está em votação o Requerimento nº 195, de 2019, do Sr. Elias Vaz.
Os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 196, de 2019, do Sr. Elias Vaz, que requer seja submetido à deliberação do Plenário desta Comissão Parlamentar de Inquérito o pedido ora formulado de requisição de informações e documentos bancários relativos a operações financeiras praticadas pelo Sr. Álvaro Luiz Vereda Oliveira, ex-assessor da Presidência do BNDES, entre 2009 e 2015.
Em votação.
Os Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 197, de 2019, do Sr. Deputado Elias Vaz, que requer seja submetido à deliberação do Plenário desta Comissão Parlamentar de Inquérito o pedido ora formulado de requisição de informações e documentos bancários relativos a operações financeiras praticadas pela DM Desenvolvimento de Negócios Internacionais, entre 2009 e 2015.
Em votação.
Os Deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovado.
Encerrada a fase de requerimentos, vamos passar ao depoimento.
Esta reunião foi convocada também para a tomada de depoimento do Sr. Roberto Graziano Russo, ex-Presidente do Frigorífico Independência — Requerimento nº 109, de 2019.
Convido, portanto, o Sr. Roberto Graziano Russo, que está presente, a tomar assento à mesa, acompanhado de seu advogado.
A Presidência pede a identificação do advogado presente, a ser feita perante a Secretaria desta Comissão.
A Presidência constata a presença do Dr. Pedro Paulo Wendel Gasparini, advogado do nosso depoente.
Antes de passar a palavra ao depoente, peço a atenção dos senhores presentes para os procedimentos que vamos adotar. O tempo concedido ao depoente é de 20 minutos, não podendo este ser aparteado. Os Deputados interessados em interpelá-lo deverão inscrever-se previamente junto à Secretaria. Comunico já aos Srs. Parlamentares que a relação de identificação dos inscritos se encontra disponível nas mãos do Sr. Secretário. O autor do requerimento disporá de 10 minutos para as suas interpelações; e o senhor depoente, 20 minutos. Os Deputados membros terão 5 minutos para suas considerações; os Deputados não membros, 3 minutos.
15:13
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Para atender às formalidades legais, o depoente foi chamado pela Presidência para firmar o termo de compromisso que integra o formulário de qualificação, de cujo teor solicito ao depoente que faça a leitura.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Faço, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e me for perguntado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Tendo sido firmado o termo de compromisso, a Presidência passa a palavra ao Sr. Roberto, que dispõe do tempo regimental de 20 minutos.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Boa tarde a todos. Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, senhoras e senhores, gostaria de agradecer o convite e a oportunidade, mais uma vez, de esclarecer o que aconteceu com a nossa empresa. Na justificativa para o requerimento do Deputado Elias Vaz, ele gentilmente já fez um resumo do histórico da empresa, e, como já se passaram 10 anos e dela pouco sobrou, citarei apenas a definição da palavra independência no dicionário: “estado, condição, caráter do que ou de quem goza de autonomia, de liberdade em relação a alguém ou algo; caráter daquilo ou daquele que não se deixa influenciar, que é imparcial, imparcialidade; ausência de relação de subordinação; autonomia política; soberania nacional; libertação; boa condição material; bem-estar, fortuna, prosperidade de quem trabalhou muito para conseguir a sua”. Primeiro, queria fazer uma observação sobre a justificativa do requerimento, no parágrafo que fala sobre o aporte do BNDES: “O pedido foi aprovado em julho de 2008, com aportes estimados em R$ 450 milhões previstos para julho ou agosto do mesmo ano. No entanto, por força de suposta ausência de recursos do banco, esses aportes foram divididos e atrasados, tendo sido feitos apenas entre novembro de 2008 e meados de 2009”. Na realidade, foi feito só um aporte, em novembro, de 250 milhões de reais, e o outro nunca foi feito. Este detalhe embasa o raciocínio da narrativa a seguir, em que farei uma cronologia de acontecimentos, com algumas respostas do Sr. Luciano Coutinho ao Deputado Delegado Francischini na CPI mista em 3 de outubro de 2017. Até 2004, o setor frigorífico funcionava normalmente, com algumas dezenas de empresas, em livre mercado. Em 2005, algumas empresas, principalmente Independência, Bertin, Friboi/JBS e Marfrig, veem a possibilidade de consolidação do setor e começam, via endividamento, a se capitalizar para irem a mercado fazer aquisições de outros concorrentes. A estratégia comum era crescer com endividamento e depois fazer a abertura de capital, trocando dívida por participação acionária. Em 2006, o mercado financeiro mundial vive um momento de grande liquidez e busca em países emergentes oportunidades de investimentos. Em 2007, o BNDES entra no setor via BNDESPAR, com participação expressiva na abertura de capital da Friboi/JBS. Marfrig também faz abertura de capital, com uma pequena participação do BNDESPAR. No início de 2008, o mercado financeiro começa a prever algum estresse por conta do excesso de financiamento imobiliário americano. Independência procura BNDES para possível investimento, pois já acompanhava a movimentação do banco no setor através de sua política de “campeões nacionais”. Gostaria de mencionar também que o Independência foi a primeira empresa do setor a procurar o BNDES para operações de participação via BNDESPAR em 2003, na gestão do Presidente do banco Carlos Lessa. Na época, o pedido foi indeferido, por não haver interesse do banco nesse setor. A crise se agrava, e as empresas que se endividaram começam a ter problemas de refinanciamento de capital de giro para as operações. O Independência passa por todos os processos técnicos no BNDES e percebe alguma dificuldade para liberação dos recursos. No final do ano de 2008, o BNDES informa ao Independência que, devido à falta de recursos, iria dividir o aporte em duas vezes. A empresa vai ao banco, informa sua situação e pede que o aporte seja feito em uma única vez ou que se fizesse também uma debênture conversível para suprir a necessidade de caixa para continuar a operar. O banco diz não ser possível. Aqui eu gostaria de incluir alguns trechos da resposta do Dr. Luciano Coutinho ao Deputado Delegado Francischini na CPI de 3 de outubro: “(...) uma vez que, em 2008, com o agravamento da crise financeira que vai explodir de maneira dramática a partir de outubro, com o agravamento da crise financeira nos EUA, o setor de proteína fica em grave dificuldade e as oportunidades aparecem. Então o aditivo que foi feito é o seguinte: vamos buscar outros alvos (...)”. Em 27 de fevereiro de 2009, o Independência entra com pedido de recuperação judicial. Foi o maior pedido de recuperação judicial até então no Brasil. Outras 15 empresas também recorrem à recuperação judicial nos anos de 2009 e 2010. Eu vou abrir aspas para palavras do Sr. Luciano Coutinho: “(...) e na verdade a aquisição da Pilgrim’s que foi feita posteriormente, em 2009, ela foi uma aquisição extremamente exitosa por duas razões: primeira porque comprou por um preço muito baixo uma vez que a empresa estava em recuperação judicial (...)”. Em setembro de 2009, JBS anuncia a compra do Bertin e da Pilgrim’s com emissão de debêntures conversíveis com total subscrição pelo BNDES.
15:21
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Aspas para a resposta do Dr. Luciano Coutinho ao Deputado Delegado Francischini: “(...) quando foi feita a operação de Bertin e Pilgrim's, tanto Bertin quanto Pilgrim's trouxeram um volume de dívidas inconveniente para a estrutura de capital da JBS. Para adequar a estrutura de capital a uma estrutura manejável, que permitisse que a empresa continuasse emitindo bônus e ter acesso ao mercado internacional de capitais, era necessária uma operação de readequação de capital. Essa operação de suporte, como BNDESPAR já tinha uma participação acionária, ela foi feita através de uma Debênture (...)” Abre aspas aqui para mais um trecho: “(...) em 2010, seguidamente as informações dadas pelos assessores era de que o mercado de capitais americano passava por uma fase muito negativa, muito difícil. Então foi dado a JBS, pagou um prêmio de mais um ano, ainda assim como o mercado de capital lá fora não melhorava, a JBS inicia uma tratativa com o BNDES para capitalização da Debênture (...)”. Em abril de 2010, o BNDES entra com processo na Câmara de Arbitragem da BOVESPA, alegando que os acionistas desrespeitaram o acordo de acionistas. Após 4 anos, o processo foi julgado improcedente por unanimidade dos árbitros. No final de 2010, o Independência para suas operações por falta de capital de giro. Em 2011, depois de várias tentativas de parcerias, os acionistas recebem contato da JBS/Friboi com interesse na compra dos créditos e as plantas da empresa e iniciam, dentro do processo da recuperação judicial, as negociações com os credores para a compra dos créditos. No início de 2012, Friboi/JBS compra em Assembleia de Credores os créditos financeiros e as plantas do Independência. Eu gostaria de finalizar com um texto do Sr. Luciano Coutinho “(...) uma vez que você entra na empresa e se torna sócio, você quer que a empresa aproveite as melhores oportunidades em prol da valorização (...)”. Em resumo, para o Independência e para os árbitros que julgaram em favor do Independência a arbitragem havida entre as partes, em um processo que durou 4 anos, em um fórum privado e imparcial, não houve razão ou motivo qualquer que justificasse a não liberação dos valores de aporte contratados com o BNDES. O BNDES, deliberadamente, em nome de uma política de concentração de recursos em um “campeão nacional”, não apenas quebrou algumas empresas. O BNDES, na gestão do Sr. Luciano Coutinho, quebrou um setor inteiro. Atrasou o desenvolvimento da indústria frigorífica, tirando do mercado uma empresa que valorizou o produtor, pagando prêmios pela qualidade do couro, qualidade da carne; atrasou o desenvolvimento da gestão nesse setor ao desprezar sistemas que, desde 2004, certificavam a qualidade, a gestão ambiental, saúde e segurança no trabalho e responsabilidade social. A única empresa do setor no mundo a ter as quatro certificações foi o Independência. Desprezou uma empresa que, em 2001, fez o primeiro embarque para a Europa de carne 100% orgânica. O prejuízo não é de uma família de empresários. O prejuízo foi de um país inteiro que viu um setor perder o senso da livre concorrência, da livre iniciativa. O prejuízo foi da sociedade, que por alguns anos não terá garantia de fornecimento de produtos com qualidade crescente e preços decrescentes. Obrigado.
15:25
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Muito obrigado, Sr. Roberto Russo.
Eu passo a palavra ao Sr. Relator, que tem o tempo de 30 minutos para as suas perguntas.
Tem a palavra o Deputado Altineu Côrtes.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Sr. Roberto, boa tarde. Boa tarde ao doutor advogado, aos Deputados, às senhoras e aos senhores. Eu vou começar com uma pergunta que eu formulei agora, durante esse seu início de depoimento. No dia 27 de fevereiro de 2009, o senhor pediu recuperação judicial. Em novembro de 2008, recebeu 250 milhões dos quatrocentos e poucos milhões solicitados em julho, quer dizer, pediu um empréstimo em julho, esse empréstimo foi concedido parcialmente em novembro, e, em fevereiro, infelizmente, houve o pedido de recuperação judicial, em 27 de fevereiro de 2009. Mas, no dia 25 de março de 2009, o senhor abriu uma empresa chamada Peroba Participações S.A., com um capital de 60 milhões, de propriedade do senhor e do seu irmão. Como existe um pedido de recuperação de uma empresa do senhor no dia 27 de fevereiro, e menos de 30 dias depois se abre outra empresa? Para que era essa outra empresa? Aqui diz sobre a sua atividade: "preparação de documentos e serviços especializados no apoio administrativo não especificados anteriormente". É isso que está escrito aqui no cadastro. A que se refere essa empresa? Esse dinheiro desse capital social dessa empresa veio do BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Boa tarde. Muito obrigado. Não houve empréstimo do BNDES. Foi compra de ações via BNDESPAR.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Entrou dinheiro no caixa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Duzentos e cinquenta milhões, sim. A Peroba é sucessora de uma empresa chamada Aroeira, que é um FIP, é um Fundo de Participações Acionárias. É normal nesse processo, o BNDESPAR exige que tenha esse mecanismo. Nós criamos esse veículo. Depois que pediu a recuperação judicial, esse FIP, como ele tem muita despesa, só foi renomeado para "Peroba". Era um FIP chamado Aroeira e virou Peroba depois da recuperação judicial. Esse aporte de 60 milhões nunca foi feito na companhia.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - É que o capital social é de 60 milhões.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nunca foi feito isso, só tem o capital social; ele é um...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Fictício?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - "A aportar".
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - "A aportar"?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - "A aportar".
15:29
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - É que isso é outra coisa que eu... Como eu não sou do mercado financeiro — talvez alguns Deputados entendam melhor disso —, não consigo entender bem uma empresa de propriedade do senhor pedir uma recuperação judicial e, 30 dias depois, outra empresa ser criada, mesmo sendo proveniente de um FIP ou de benefícios que isso pode lhe gerar. Eu não tenho uma especialização no mercado financeiro, mas esse tipo de situação é, sinceramente, muito delicada, na minha opinião.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu posso providenciar para o senhor toda a documentação da Aroeira e, depois, da Peroba, que a sucedeu. Isso aí eu tenho tudo, tranquilamente. O senhor pode ficar tranquilo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Se o senhor puder, envie para a gente, até para a gente ter um conhecimento sobre isso e também para nós não formarmos uma opinião aqui injusta em relação a essa questão.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeitamente, será disponibilizado.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eu quero passar a palavra para o Deputado Elias Vaz, mas peço a V.Exa., Presidente, permissão para eu fazer antes apenas algumas poucas perguntas. Depois, eu passo a palavra ao Deputado Elias Vaz, autor do requerimento. E aí podemos ir fazendo outras perguntas que tenho aqui, se outros Deputados não as fizerem.
Mas o senhor sempre disse, nas declarações do senhor... O senhor disse numa declaração aqui nesta Casa: "O banco de desenvolvimento de um país não precisa ter ação de frigorífico, é um mercado equilibrado, que anda sozinho. No nosso caso, nós nos dávamos bem no mercado financeiro e com bancos comerciais". Então, na política de campeão nacional, o senhor se autointitula "perdedor nacional" e acusa a JBS de ter sido beneficiada, na época, pelo Governo. Quem era o "padrinho" da JBS na sua opinião?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu... Antes da delação premiada, a gente não tinha ideia de quem seria o "padrinho". Após a delação premiada, o Sr. Joesley falou. Eu tenho conhecimento sobre o que tem de imprensa. Assim, a gente sabia que aconteciam coisas diferentes para diferentes companhias que lá estavam, no BNDES. Eu gostaria só de responder também à primeira pergunta do senhor. Em 2008, o mercado financeiro derreteu. Nós vínhamos totalmente alavancados — nós, Bertin, Marfrig e JBS/Friboi —, todos alavancados, num processo de consolidação. Do começo de 2008 até o fim de 2008, o mercado financeiro mundial derreteu. Não existia. Nós vimos isso, começamos a vislumbrar isso. O próprio banco começou a vislumbrar isso. E nós fomos procurar o banco no começo do ano, o BNDES, porque vimos no banco uma possibilidade de fazer um aporte, via BNDESPAR, para que, quando se fizesse o IPO, a abertura de capital, o banco saísse da operação. Era um recurso que a gente vinha vendo no mercado. Ele existia. E nós entramos pela porta da frente do banco e fomos nos habilitar para ter esses recursos. Eu continuo falando que Governo nenhum tem que ter ações de frigorífico, na minha opinião. Eu não mudo essa opinião.
15:33
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Nesses depoimentos que o senhor fez, obviamente o senhor sempre se coloca como lesado, em detrimento da relação que a JBS tinha. O senhor mais uma vez aqui repetiu, agora, que existiam tratamentos, na opinião do senhor, diferentes lá dentro do BNDES.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É. Para uma empresa foram 10 bilhões de reais; e para a minha vieram 250 milhões de reais. É isso.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - E, para o senhor, Sr. Roberto... Eu imagino que a família do senhor não construiu o Frigorífico Independência do dia para a noite. Devem ter sido muitos anos de luta e de trabalho, não é?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele foi fundado dia 7 de setembro de 1977.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Pois é, eu quase não era nascido ainda, mas já era. Mas, fora o Luciano Coutinho, como Presidente do Banco, a quem o senhor se refere quanto a um tratamento diferenciado ali?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O Sr. Caio Melo. Era o diretor da área de mercado de capitais do BNDES na época.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor se refere a ele por quê? Que atitudes ele tomou que fizeram o senhor sentir que foi prejudicado ou que ele tenha beneficiado a outra parte, no caso a JBS?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Praticamente, ele tinha que ter feito um aporte de 400 milhões de reais, que era o combinado, e ele não o fez. Ele dividiu em duas etapas, duas tranches. Fez a primeira, esperou até o fim do ano. A gente já vinha com a empresa... O mercado, em 2008, sabia que a empresa estava se deteriorando, e ele não fez, porque falou que não tinha recursos no BNDES. Eu estou falando de 200 milhões de reais. Não existia esse recurso no banco.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor acha que a relação da JBS com o Sr. Caio Melo foi fundamental nessa questão? Foi de propósito que eles não fizeram, para que depois viesse a acontecer com o senhor o que aconteceu?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu não posso afirmar que essa relação foi... Hoje, eu enxergo que havia um nível de competitividade muito forte no setor de frigoríficos, e simplesmente acabou isso. O senhor tinha Bertin e Independência com plantas extremamente atuais, modernas, e essas empresas, hoje, na minha opinião, precisavam sair do mercado.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eu vou fazer só mais um...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Pois não, Deputado Sidney.
O SR. SIDNEY LEITE (PSD - AM) - Deputado Altineu, só peço que se repita a última frase, por gentileza.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Independência e Bertin tinham plantas muito modernas e uma gestão muito sofisticada. Essas empresas, na minha opinião, precisariam sair do mercado.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Precisariam sair do mercado porque existia, na sua opinião...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Fica difícil, Deputado, competir com gente séria e forte, né? Fica difícil.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eles tinham dificuldade de competir com vocês? A JBS tinha dificuldade...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O mercado funcionava livremente. Eu volto a falar: o mercado funcionava livremente, o mercado era aberto. As quatro empresas estavam caminhando para abrir o capital e serem quatro grandes empresas. A política, na minha opinião, de campões nacionais nunca existiu; ela foi uma política de campeão nacional travestida de campões nacionais. O porquê disso e em quais condições isso aconteceu, eu acho que este é o resultado do trabalho desta Comissão.
15:37
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - É, nós estamos trabalhando. Mas eu tenho uma frase aqui que foi dita pelo Sr. Júnior, da Friboi. A relação dos senhores também não era, assim, uma relação de descontentamento um com o outro, porque os senhores responderam, em 2006, a um processo no CADE, em razão de um esquema de cartel. Uma das gravações em que o Sr. José Batista Júnior, conhecido como Júnior, da Friboi... Quem era o Júnior, da Friboi?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O Júnior, da Friboi, é o irmão mais velho dos irmãos Batista.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Isso. Ele diz assim: "Nós, o Bertin, o Independência, os três põem do preço do boi em tudo quanto é Estado". Vocês combinavam preço?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - De jeito nenhum! Essa é uma declaração dele. Nós fomos excluídos desse processo do CADE.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - É, porque, nesse processo do CADE, ele pagou uma multa, se não me engano, de 16 milhões de reais para esse processo ser arquivado. A situação é difícil, não é? A quanto chega naquele momento — é o que essa investigação diz aqui — o preço da carne no Brasil, o preço da carne das nossas cidades todas, o preço da carne na Bahia, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, em Goiás, no Espírito Santo; enfim, é lastimável!
Presidente, vou ficar por aqui. Depois farei as outras perguntas, até porque se trata de um assunto restrito também, senão eu esgoto sem os colegas adentrarem o restante do assunto.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Obrigado, Deputado Altineu Côrtes.
Passo a palavra, então, ao autor do requerimento, Deputado Elias Vaz, por 10 minutos. Tem a palavra S.Exa.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Muito obrigado, Presidente.
Não vou usar todo o tempo, até porque o nosso Relator já explorou bem o assunto. Acho que essa era a intenção e o que me chamou a atenção. Acho que precisava ser esclarecida essa situação, pois acho muito importante essa contradição de comportamento do BNDES.
Eu queria agradecer a presença do Sr. Roberto. Muito obrigado por V.Sa. estar aqui.
E eu queria um esclarecimento: qual era a situação da empresa em relação à participação no mercado antes desse processo? Em 2007 e no início de 2008, como era a participação da empresa, do frigorífico, no mercado brasileiro?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Obrigado pela pergunta. Eu só queria esclarecer... esclarecer não, eu queria frisar mais uma vez que o CADE excluiu o Independência desse processo. O Independência, em 2005, em 2004 ou em 2006, não me lembro, chegou a ser o maior exportador de carne do Brasil. Elas trabalhavam muito iguais, as quatro empresas. É claro, cada uma fazia uma aquisição, então uma crescia um pouco, outra crescia um pouco. Mas praticamente trabalhavam nessa época equiparadas as quatro empresas. O JBS teve, quando abriu o capital, a compra da Swift na Argentina. Isso, claro, cresceu bastante a empresa deles. Mas, no Brasil, trabalhavam mais ou menos equiparadas, até ele deslanchar.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Quantos empregos diretos o frigorífico gerava?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - No dia que pediu a recuperação judicial, 12 mil.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Doze mil empregos. Então, para o BNDES, que era para gerar emprego, o comportamento é muito atípico.
Eu queria que o senhor deixasse mais claro aqui...
15:41
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O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Dentro desse raciocínio, o senhor vê que, nesse frigorífico — e aqui não estamos fazendo nenhuma avaliação do mérito da participação do Independência —, eram 12 mil empregos. Vejam quantos empregos o Brasil perdeu, com situações no mínimo esquisitas, não é?
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - É verdade. Por isso eu acho importante, Sr. Presidente, que esses dados, na verdade, acompanhem a análise desta Comissão Parlamentar de Inquérito.
O senhor, então, em uma situação de crise de mercado, como o senhor colocou aqui, recorreu a esse pedido de empréstimo. No caso era um aporte, que ia ser feito, de 450 milhões?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Um aporte de capital, isso.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Como o senhor disse, foram quantos...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Duzentos e cinquenta, no final do ano; e os outros 200 nunca foram feitos.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Qual era a argumentação que eles...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Que não tinha caixa no banco.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - O senhor esteve várias vezes lá no banco?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, sim. Eu queria frisar também que a empresa nunca teve uma dívida com o BNDES. Essa foi a única operação do BNDES na história da empresa.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Eu acho importante que o senhor deixa bem claro que o senhor considera que esse empréstimo não saiu porque havia o interesse de que a empresa do senhor quebrasse, vamos dizer assim. Era isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Estava "facinho". A gente já vinha falando com o banco desde junho. Desde junho que a situação estava complicada. E estava fácil. Quebrar um frigorífico em 2008 era uma coisa muito fácil.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Nesse mesmo período, o senhor tem conhecimento de que o BNDES fez empréstimo para outro frigorífico.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, sim, é fato isso. Isso consta no BNDES. Fez empréstimo, fez uma debênture conversível para comprar o Bertin e Pilgrim's, converteu em ações, para não ficar no balanço da empresa, e seguia firme, aplicando dinheiro na empresa.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Por que o senhor acha que o BNDES fez essa opção, teve dinheiro para esse tipo de situação e não teve dinheiro especificamente para o frigorífico de que o senhor era proprietário?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pela delação premiada do executivo da JBS, parece que havia um pagamento de um percentual a um partido, para cada dinheiro que viesse do BNDES para ele.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Para quem?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Na delação de um executivo da JBS, ele afirma que pagava um percentual ao Partido dos Trabalhadores para receber dinheiro do BNDES, para cada real do BNDES que ele recebesse. Essa é a delação dele. Acho que é pública.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - O senhor considera que essa situação que na verdade se desenrolou no sistema dos frigoríficos no Brasil... Nós estamos falando aqui da questão da geração de empregos. Mas, na questão do consumidor, como é que o senhor entende o impacto disso para o consumidor?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Na geração de emprego... Vou só voltar à geração de emprego, e depois vou ao consumidor. Na geração de emprego, eu tenho aqui uma relação. São mais de 15 frigoríficos que pediram a recuperação judicial no ano de 2008, 2009 e 2010. Esses frigoríficos, grande parte deles foram absorvidos pela JBS. Com relação à geração de emprego, o emprego mais ou menos ficou o mesmo. Ele suprimiu algumas partes administrativas, mas o emprego ficou o mesmo. Com relação a consumidor, eu não sei essa análise. Com relação ao produtor, sim.
15:45
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O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - O que aconteceu com o produtor?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Por exemplo, o Independência tinha muitos programas de qualidade, de pagar qualidade para o couro, qualidade para o boi. O produtor perde um pouco de competitividade, perde um pouco de opção de venda.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Antes, quando você tinha, em tese...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ah, antes era muito pulverizado. O senhor imagina...
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Sim, tinha vários, o produtor tinha opções.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Total, total. No começo da indústria frigorífica, elas eram todas regionalizadas. São famílias que começaram empresas em regiões, em Estados. Então, as famílias eram conhecidas por operar nos seus Estados. Depois de 2005, 2006, começou essa consolidação. Então, empresas compraram outras em outros Estados. Isso, ainda dentro de um mercado livre, dentro de uma competitividade. Cada um que entrava no Estado do outro tinha que oferecer alguma coisa a mais para aquele produtor para ser um cliente novo. Isso tinha uma competitividade. Hoje, essas empresas todas convergidas em uma única, tira um pouco a opção. Tem regiões que são dominadas totalmente.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - É uma situação do tipo em que o frigorífico fixa o preço e, se quiser...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, não é bem assim, não. É mercado. É mercado, é balcão, não tem fixação de preço. Hoje também não é assim. Mas hoje, se o senhor tem uma fazenda, o senhor tem cinco fábricas da JBS em volta da sua fazenda.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Então, você não tem opção?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É, cada frigorífico põe um preço. Na hora que ele põe o preço, o senhor tem essa opção ali do lado. Só que o senhor tem que vender em outro Estado, tem que sair.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Daí a dificuldade é muito grande.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É complicado, complicado.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - E qual foi o desenrolar de todo esse processo da sua empresa? O que aconteceu?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nós estamos num processo há 10 anos de recuperação judicial. Ele não se encerrou ainda. A empresa, de 12 mil funcionários, tem 6 hoje, praticamente cuidando de processos, só.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Eram quantos funcionários?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eram 12 mil funcionários.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - E agora?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Seis. É esta mesa aqui, esta mesa aqui. A gente consegue fazer a empresa nesta mesa.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Seis funcionários?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - As plantas foram todas adquiridas pela JBS.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Todas?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Todas.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Inclusive vocês tinham fora também do País?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Tinha uma planta em Assunção, no Paraguai, que nós adquirimos para atender o produtor. Tem muitos produtores no Mato Grosso do Sul que têm propriedades no Paraguai, e eles acabavam pedindo para a gente ser uma opção no Paraguai. E a gente comprou uma planta, o Frigorífico Guarani, em Assunção, que era para atender basicamente o produtor. Essa carne, acho, era toda escoada para o Chile.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Veio à minha cabeça um fato curioso. Esteve aqui na nossa CPI o Sr. Mário Celso Lopes. O senhor conhece ele?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não conheço. Conheço de nome só, mas pessoalmente não.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O Mário Celso Lopes tinha um projeto de reflorestamento e teve um litígio grandioso. E me chama atenção o sentimento, porque eu vejo o senhor falando aqui e é o mesmo sentimento que o Sr. Mário Celso Lopes tinha em relação à JBS, aos irmãos Batista. Qual é o conhecimento que o senhor tem sobre a possível fraude, que nós estamos investigando aqui, do valor do Frigorífico Bertin?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Primeiro, eu gostaria de voltar ao Mário Celso. Ele não perdeu o patrimônio.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Não...
15:49
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O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele perdeu uma participação. A nossa família perdeu todo o patrimônio. Eu via... Isso foi bem depois. Essa fusão Bertin e Friboi foi na época em que eles compraram a Pilgrim's também. Eles fizeram uma proposta no National Beef, pelo que eu acompanhei. Acho que o Código de Defesa americano não aprovou a compra, para não haver consolidação nos Estados Unidos. O BNDES já tinha adiantado ou comprometido a verba para a compra da National Beef. Foi exatamente neste momento que o Dr. Luciano Coutinho fala que ele... Ele fala: "O setor de proteína fica em grave dificuldade e as oportunidades aparecem. Então o aditivo que foi feito é o seguinte: vamos procurar outros alvos". Esse aditivo de que ele fala é o dinheiro da National, que ele foi para a Pilgrim's Pride e foi para o Bertin. E eu acho muito interessante este "vamos buscar outros alvos".
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - "Vamos buscar", como?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Outros alvos.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Ele falou "vamos buscar"?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele falou, em depoimento, em resposta ao Deputado Delegado Francischini na CPI, em 3 de outubro de 2017.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor fala que "outros alvos" são outras vítimas?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Então, o Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento de um país buscando alvos é um sentimento de um caçador, não é? E não de um Presidente de banco.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Mas "vamos buscar outros alvos" como se ele fosse o proprietário da JBS?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ou um executivo, não é? Voltando ao Bertin...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor tem muito conhecimento nisso. Eu gostaria de pedir...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe, Deputado, é a minha vida. São 30 anos vivendo isso.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Então, eu gostaria de dizer ao senhor o seguinte: tudo passa, não é? Tudo na vida passa.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Quando está bom, passa; e quando está ruim, também passa.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Eu penso assim. O meu avô é que dizia isso. Quando está bom, passa; e quando está ruim, também passa. Então, este momento que nós estamos vivendo aqui, isso tudo vai passar. Eu gostaria de fazer um pedido ao senhor.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pois não.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Obviamente, de livre e espontânea vontade do senhor, que o senhor pudesse... O senhor sabe que o Sr. Mário Celso Lopes fez um livro de memórias?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não sei, não estou sabendo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Ele escreveu um livro de memórias. Depois, se o senhor quiser, eu posso dar uma cópia para o senhor.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Por favor, por favor.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Ele escreveu um livro de memórias. Se o senhor pudesse... Porque nós estamos perguntando muitas coisas ao senhor, mas o senhor tem um contexto dessa história toda. Se o senhor pudesse colocar esse contexto num papel, o que o senhor enxerga, não só onde o senhor foi lesado, mas todos esses erros. Porque todas as opiniões aqui são muito importantes, para a gente não cometer injustiça nem equívoco. Veja se o senhor pode pensar em fazer isso aqui para esta CPI.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pois não.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor vai estar prestar um trabalho ao Brasil, pode ter certeza.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pois não. Só terminando a resposta do Bertin, eu acompanhei. A gente estava no processo da recuperação. É um processo extremamente desgastante. Eu acompanhei, assim, de longe esse processo. Eu não sei falar esse negócio "cria fundo", "cria empresa". Eu realmente... Eu acompanhei por imprensa. Eu não participei, até porque eu estava cuidando do meu processo, que já estava bem complexo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Estão vindo as perguntas aqui. Só uma pergunta: o frigorífico do senhor, em relação ao Bertin, era de qual tamanho?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nós éramos bem menores que o Bertin. Chegou uma época em que passamos o Bertin, depois o Bertin passou a gente.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Mas, na época em que houve a aquisição, na época em que a JBS adquiriu o Bertin, vocês eram de que tamanho em relação ao Bertin?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Um pouquinho menor, um pouquinho menor.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Pouco menor?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pouquinho menor. O Bertin tinha uma operação de couro muito interessante e muito forte. Nós tínhamos também, mas nós processávamos acho que 25 mil couros/dia; eu acho que ele fazia 40 mil, 40 mil e poucos couros/dia, bem mais. Tinha outra linha também, acho, de sabão e detergente, tinha uma linha de calçados industriais... Ele estava bem mais diversificado do que a gente.
15:53
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O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O.k., Deputado Vaz.
O SR. ELIAS VAZ (PSB - GO) - Presidente, eu vou concluindo. Para mim, eu estou satisfeito com as declarações aqui do depoente. Agradeço até pela sinceridade.
Presidente, fica muito claro que aí há um total desvirtuamento de função de um banco de desenvolvimento. Não é um banco para quebrar ninguém. Não podia ser um banco para fortalecer inclusive um processo de monopolização de um setor. Todo mundo sabe que a monopolização traz aspectos negativos profundos para a sociedade. Está aqui o exemplo da questão do produtor, que realmente fica sem opção. Na verdade, essa concepção de mercado passa a não existir mais, se você tem uma única opção. Então, eu lamento. Fica aqui essa posição desse fato.
Para mim, eu achava importante a sua vinda, Sr. Roberto, para a gente deixar claro como o banco teve um comportamento distinto para uma mesma realidade. Nós tínhamos uma crise, e o banco tratou um grupo econômico de uma forma e tratou outro grupo de outra forma. Então, realmente, isso fortalece muito os vários indícios de irregularidades que nós já constatamos aqui nesta Comissão.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Obrigado, Deputado Vaz.
Passo a palavra ao Deputado Paulo Ramos por 10 minutos: 5 minutos como membro da Comissão, mais 5 minutos como Liderança.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Vou ser econômico.
Pelo que o senhor relata aqui, usando uma expressão mais objetiva, o senhor foi vítima de uma sabotagem?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Se eu tivesse essa formatação jurídica, eu estaria me movendo. As operações, elas foram todas dentro de uma legalidade e dentro da maior imoralidade possível.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor também, um homem do ramo, certamente não era nenhum desvalido, assim usando uma expressão. Quando se fala, assim, em 250 milhões, é um volume bem razoável de recursos. O senhor não tinha acesso a outras linhas de financiamento, outras linhas de crédito? A única linha de crédito era o BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Naquele momento, sim. Em 2008, o mundo financeiro derreteu. Eu gostaria de frisar para o senhor que, após a recuperação judicial — isso para responder a bancabilidade da companhia, para o senhor...Em recuperação judicial, nós emitimos um bond, que é um título de dívida no exterior, de 150 milhões de dólares. Isso é mais do que a operação do BNDES. Isso foi em 2010, já em recuperação judicial. Esse dinheiro veio para a empresa para a gente fazer... Tivemos que aprovar na assembleia da recuperação judicial. Muitos bancos pediram, para aprovar essa operação de dívida, pediram que a gente pagasse as suas linhas. Esse dinheiro veio, nós pagamos as linhas. Trabalhamos mais um pouco, pagamos a maioria; todos os credores, até 100 mil reais, foram todos quitados. Os trabalhistas, a gente entrou em recuperação judicial sem nenhuma classe trabalhista. Eles foram todos quitados. E a gente não conseguiu operar a companhia mesmo assim. A empresa sempre viveu com bancos privados, a empresa sempre trabalhou; a recuperação judicial nossa foi de 3 bilhões de reais. Isso eram dívidas com bancos privados.
15:57
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O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Quantos bancos privados?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Trinta e oito. Na recuperação, tinham 38 bancos privados.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Alguma vez BTG?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, BTG não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - HSBC?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - HSBC, existia.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Também com o HSBC?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Também. O Citibank, o JP Morgan, o Santander, BRADESCO, UNIBANCO. Aliás, todos, não é?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor enfrentou alguma situação muito difícil com o fato de o HSBC ter saído do Brasil depois daquela investigação que...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, não, não. A gente... Era um banco operacional. Saiu, entra outro banco. Vida que segue.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor, nos momentos de dificuldade, buscou, contratou alguma empresa de consultoria, alguma empresa de auditoria?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nós éramos auditados pela BDO Trevisan até a recuperação judicial. A gente tinha uma assessoria da KPMG na área de governança corporativa. Quando pedimos a recuperação judicial, eu pedi para a KPMG fazer um demonstrativo de deterioração do caixa. Depois nós passamos a auditoria para a PWC. Acho que foi isso. De auditoria, foi só isso.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Alguma dessas empresas que o senhor citou de consultoria e auditoria tinha o atual ministro Paulo Guedes como membro diretor ou alguma coisa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor. Das que a gente contratou, não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor não sabe?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor assevera que, no momento em que o BNDES negou ao senhor a complementação do empréstimo, ele simultaneamente socorreu outras empresas, fez empréstimos para outras empresas?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele fez para a JBS. Era isso que estava acontecendo.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Para a JBS. Então, o senhor entende que o... O BCN, o senhor teve algum...?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - BCN, não. Já era BRADESCO. Na época nossa, já era BRADESCO.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Já era BRADESCO.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Só para falar para o senhor que na época, um pouco depois disso, houve aportes do Governo Federal, cada porte de 50 bilhões de reais para o BNDES. E para a gente faltou 200 milhões.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - E o Banco Pactual?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, nunca trabalhamos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Nunca teve. JGP Investimentos, alguma vez o senhor se socorreu?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - JGP? Não conheço.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Não conhece? BR Investimentos?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não conheço.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - BVP Investimentos?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Também não conheço. Essas são empresas de investimentos, não é? A gente trabalhava muito com banco comercial, e não com as empresas de investimentos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sr. Presidente, eu quero lamentar muito, porque é uma situação...
Mas o senhor vem aqui e traz uma informação relevante. O senhor assevera que o BNDES, através, obviamente, de um sistema que foi organizado, contribuiu, naquela política de campeões nacionais, para que empresas como a sua sucumbissem e fossem apropriadas por outro grupo?
16:01
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu repito: no meu pensamento, é uma política de campeão nacional travestida em campeões nacionais. Eu gostaria de saber quem são os campeões nacionais.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor citou o nome de um dirigente do BNDES aqui. Foi o...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A gente tratava com o Dr. Eduardo Rath Fingerl e com o Sr. Caio Melo. Eu queria frisar também que eu nunca estive numa reunião com o Sr. Luciano Coutinho. A única reunião que eu poderia estar com o Sr. Luciano Coutinho foi em 2010, quando ele chamou todas as empresas, porque estavam sob ataque do Greenpeace — acho que era Greenpeace, na época — sobre qualidade, meio ambiente e responsabilidade social. Essa reunião era pra tratar sobre esses três temas na sede do banco ali em São Paulo. E eu soube pelo Presidente da ABIEC, na época, que eu não era pra participar daquela reunião. Tinham todos os frigoríficos, menos eu, porque eu estava em recuperação judicial. A empresa era a única que tinha as quatros ISOs. Depois dessa reunião, o Dr. Luciano Coutinho... Eu tenho uma reportagem aqui do Valor Econômico, de 23 de julho de 2009, onde ele exige que todas as empresas tenham quatro normas ISO certificadas, que ele apoiasse, exatamente as normas do Independência.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sr. Relator — pois o Sr. Presidente não está —, os dois nomes citados pelo depoente já foram...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Não, o Caio de Melo não. O Caio de Melo, eu acho que deveria ser fruto de um requerimento. Falta 1 mês, mas houve uma proposta do Presidente — e tem o meu apoio — para que nós pudéssemos trabalhar também às quintas-feiras para fazer oitivas, já que para oitivas não é necessário quórum. Só ficariam os Deputados interessados. Nós só temos mais quatro semanas pela frente, então poderíamos trabalhar às quintas-feiras.
Eu gostaria de fazer uma pergunta ao senhor. O Sr. Eduardo Rath Fingerl já foi convocado hoje e estará aqui na próxima terça-feira. Nós ouviremos dois depoimentos, e um deles será o do Eduardo Rath Fingerl. Qual é a participação dele?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O Dr. Eduardo Rath Fingerl participou dos nossos processos desde o começo, e ele se aposentou no meio dele. O BNDES é uma instituição extremamente séria e competente, com técnicos de primeira linha. Eu sei porque eu passei por todo o processo técnico do banco. Eu falo que nós entramos pela porta da frente no banco, pela recepção. O Dr. Eduardo Rath Fingerl é um dos homens muito sérios que tem naquela instituição.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Mas por que o senhor citou, então, o nome dele e o do Sr. Caio de Melo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Porque eram os dois que acompanhavam o nosso processo.
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - O senhor tem conhecimento de que o Sr. Eduardo Rath Fingerl prestou consultoria para alguém depois?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desconheço. Não conheço essa consultoria.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor...
O SR. ALTINEU CÔRTES (PL - RJ) - Então, vou passar a palavra, encerrando...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor, como empresário ou como pessoa física, fez doações para campanhas eleitorais?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor. Nunca.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Nunca? Para nenhum, nem...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nunca. Eu gostaria de frisar que meu pai foi Senador da República no ano de 2011 até...
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Isso, por Mato Grosso do Sul. Ele ficou na... Ele era suplente da Senadora Marisa Serrano.
16:05
RF
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor, em algum momento, percebeu algum assédio para que o senhor... Porque o senhor disse assim: "Porque o outro declarou em uma delação premiada que, em homenagem aos favores que recebeu, ficou com o compromisso de doar para aqui e para ali". Em algum momento, o senhor chegou a ser chantageado ou pressionado ou o senhor percebeu que havia uma insinuação no sentido de dar uma grana por fora?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Insinuações elas existem há muito tempo no nosso País, basta ver se os nossos preceitos morais e éticos permitem que elas cheguem à gente. Os nossos nunca permitiram que fôssemos assediados dessa forma.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Posso?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Pois não.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Está o.k.?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Está o.k.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Quer concluir?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Concluí.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Tem a palavra o Deputado Coronel Chrisóstomo.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sr. Presidente e nosso Relator, Deputado Altineu Côrtes, sou grato por esta oportunidade.
Sr. Roberto Graziano, Srs. Deputados, Deputada, meus cumprimentos a cada um.
Já há alguns meses, temos ouvido diversas pessoas, alguns sendo inquiridos, outros como testemunhas e até delatores. Nesses meses em que estamos trabalhando em prol dos brasileiros, eu tenho dito que eu sempre represento aqui o povo de Rondônia, e a ele eu devo o meu principal dever de estar aqui, como brasileiro. O Deputado Federal é do Brasil, não é especificamente do Estado, mas a base dele é o Estado. Não é isso, Deputado Altineu Côrtes? Temos que respeitar os nossos. E a eles eu tenho o dever aqui de ser o Parlamentar cumpridor das suas tarefas. Diante desta Comissão Parlamentar de Inquérito, é assim que eu procuro agir, e os outros também, logicamente.
Mas eu confesso para o senhor que, às vezes, eu desanimo. Muitas vezes, eu fico desanimado de saber parte do fato, e a pessoa, tendo tudo para falar a verdade para os brasileiros, fica segurando. Está no seu direito? Logicamente. Mas eu fico muito entristecido, porque nós nos preparamos para estar aqui. Nós estudamos, nós pesquisamos e, na hora "h", passamos 2, 3, 4 até 5, 6 horas aqui e andamos apenas uns passos, Deputados. Até vou me servir de algumas falas do senhor. Segundo V.Sa., em 2008, o mercado financeiro do Brasil derreteu. Derreteu?
16:09
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Do mundo.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - No Brasil, derreteu?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Também.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Mas o Brasil não vivia uma era maravilhosa, uma era de prosperidade em 2008? Derreteu? Vou prosseguir. O senhor que falou. Dez bilhões para qual empresa mesmo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - JBS.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Dez bilhões. Ô, 10 bilhões lá em Rondônia iam fazer um estrago, iam ajudar muito aquele povo, iam ajudar a Capital, que hoje tem 2% de saneamento básico. Dez bilhões, Deputada, fariam um estrago positivo no meu Estado! Como foi fácil passar 10 bilhões para a JBS, hein? Aí vem aquela pergunta: a custo de quê? O senhor sabe?
O tempo está tão curto! Está tão rápido esse tempo, Presidente. Vou acelerar aqui, porque, senão, o Deputado Altineu Côrtes já vai me mandar parar de falar.
Dez bilhões para quem e a custo de quê? Fica a pergunta para o senhor. Se o senhor sabe, por favor, relate aqui. Para onde foram esses 10 bilhões? O senhor deve saber. Guarde aí. Caio Melo, e quem mais? O senhor deve saber. Quais outras empresas participaram dessa festa? Quais outras empresas ajudaram a derreter este País nesses anos de que o senhor está falando? Informe-nos. Eu sempre tenho dito, e algumas pessoas têm me dito: "É isso mesmo, Coronel! Continue perguntando". Não sou eu que pergunto. Eu apenas uso as minhas palavras para pedir para o povo brasileiro, para o povo de Rondônia, como outros Parlamentares também fazem. Eu vou dizer uma coisa para o senhor: eu me entristeço de estar aqui e não ter a resposta que o povo quer. O povo quer saber o seguinte: quem afundou o BNDES? Parece que o senhor se quebrou.
Enfim, Deputado Altineu, fico grato pelo tempo a mais que o senhor me deu.
Faço essas perguntas ao senhor e peço que nos apresente tudo o que o senhor sabe. Aproveite esta oportunidade e fale para os brasileiros a verdade de tudo o que o senhor sabe.
Obrigado.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Obrigado, Coronel, pelas perguntas. O Estado do senhor perdeu a participação do Independência na cidade de Rolim de Moura. Tínhamos um frigorífico lá e um curtume em Colorado do Oeste.
16:13
RF
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Eu nem sabia disso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Essas fábricas eram certificadas pela quatro ISOs. Eu não sei se o senhor tem no Estado alguma fábrica frigorífica certificada hoje lá. Sim, o mercado financeiro derreteu em 2008 nos Estados Unidos e impactou muito aqui no Brasil, principalmente as linhas de crédito. Isso impactou para a gente. Eu falei, a gente vinha trabalhando, alavancado todas as empresas. Quando eu falo alavancado, pegávamos empréstimos para poder crescer. Esses empréstimos simplesmente acabaram e os bancos pediram essas linhas de volta. E isso estava tudo investido em fábricas. Os 10 bilhões, que o senhor perguntou para onde foram, eles foram para comprar empresas aqui no Brasil e principalmente no exterior.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Em que parte do exterior?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Estados Unidos, Europa e Austrália.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O BNDES ajudou muito na geração de emprego nesses três países na época da crise mais delicada do mundo.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - E Europa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - De 2008 não foi provocada pelo Brasil. Foi um grande golpe do capital financeiro. Essas empresas de consultoria... Essa que foi a organização criminosa que deu esse golpe no mundo inteiro, esse capital financeiro especulativo que corrompe e é corrupto. Todo mundo sabe disso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu concordo com o senhor e eu tenho uma pergunta: quem dá rating para as empresas de rating? Quem analisa o risco da empresa de risco? Retornando ao Coronel, eu falei do Sr. Caio Melo e do Sr. Eduardo Rath Fingerl, principalmente, que estão no escalão mais alto do banco e que nos atenderam. Houve inúmeras pessoas. Eu tenho aqui, inclusive, a relação de todas as reuniões que nós tivemos no banco e com todo mundo. São pessoas técnicas da mais alta categoria, são das áreas técnicas. Eu vou ser injusto, porque eu não vou saber, não vou lembrar o nome de todos para o senhor, mas as pessoas de diretoria seriam Caio Melo e Eduardo Rath Fingerl. Por isso que eu só citei os dois para o senhor. O senhor perguntou de outras empresas que participaram desse envolvimento todo. Eu não sei falar para o senhor. No setor frigorífico, o BNDESPar tem ações do Independência, só um pouquinho que foi com a gente, do JBS e da Marfrig. São dessas três empresas que o BNDESPar participa. Com relação a outras empresas, não sei falar para o senhor. O derretimento do País, volto a falar, ele ocorreu, sim. A crise dos Estados Unidos afetou muito as nossas linhas de crédito. As nossas linhas de crédito também vinham do exterior, principalmente dos Estados Unidos. Isso foi muito impactado. A última pergunta do senhor: quem afundou o BNDES? Essa é uma pergunta muito difícil. Eu tenho a minha posição e a minha percepção quanto a isso.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Mas é importante o senhor falar.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O BNDES é um banco do Governo. O BNDES é um banco público. Ele é de responsabilidade do Governo e do seu Presidente. Eu acho que... Desculpem. Eu vejo ali no BNDES uma gestão que ou ela foi conivente, ou ela foi incompetente. Eu acho que as duas situações não cabem para se dirigir um banco do tamanho do BNDES.
16:17
RF
(Intervenções fora do microfone.)
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Olha, eu só perdi o meu patrimônio.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - E os outros, agora?
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Vamos seguir.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu posso ir a restaurante, eu posso almoçar fora, eu continuo a minha vida, normal.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Deputado Pedro Uczai, V.Exa. tem 5 minutos, mais 7 minutos de tempo de Liderança.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Vou tentar utilizar os 5 minutos para fazer perguntas.
Quero cumprimentar o Relator Altineu Côrtes, os nossos pares, colegas Deputados e Deputadas, e o Roberto, que se dispõe aqui a dar esse depoimento.
O Frigorífico Independência fez aquisições ao longo da sua história para tornar-se desse tamanho?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Era normal fazer aquisições?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - A JBS fez aquisições. O Independência também fazia aquisições.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então faz parte do mercado vocês comprarem de pequenos, de outros...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - ... que estavam em crise ou por estratégia da empresa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não necessariamente.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não necessariamente em crise.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Nesse setor de frigoríficos é normal, até porque na minha região esse processo aconteceu sem participação ou com participação do BNDES.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k.? Segundo lugar. Em junho... Não sei se eu entendi bem. Em junho de 2008, a empresa já manifestava crise. Correto?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A empresa publicava o balanço. Por mais que não fosse uma empresa de capital aberto, nós tínhamos uma postura de capital aberto, nós publicávamos balanço trimestralmente. E...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - No balanço de junho ou julho de 2008...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. O balanço de junho é apresentado... O fechamento de julho é apresentado até 45 dias após. Em 15 de setembro ele é apresentado.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Qual era a situação da empresa em junho, julho?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Em setembro não apresentava ainda esse desgaste. No segundo semestre, sim, apresentou esse desgaste. O banco acompanhava, via as publicações, que a empresa publicava balanço no site. E houve também muitas recomendações das agências de risco sobre a nossa companhia.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Segundo lugar, os fornecedores de crédito, até 2008, todos eram privados?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O senhor se lembra mais ou menos quanto de empréstimo a empresa fez com os bancos privados ao longo da sua história e quanto pagou para esses bancos privados, aproximadamente?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Uma fortuna. Eu não lembro para o senhor, mas uma fortuna.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Uma fortuna?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Uma fortuna.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Para os bancos privados?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Para os bancos privados.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então, quando a empresa estava bem, emprestava de bancos privados?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sim. Por que os bancos privados não financiaram o Independência, a partir de 2008, se sempre foram dos bancos privados que o Independência aportou recursos, devolveu e pagou sempre honradamente os seus empréstimos? E o senhor fala em fortuna. Por que nesse momento, quando a empresa precisava, os bancos privados não aportaram crédito para o Independência? Perderam a confiança no Independência?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor. Acredito que eles estavam em dificuldades também.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Mas não é o que dizem os balanços de lucro dos bancos privados desses que aportavam crédito para o Independência.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Porque eles cortaram as linhas de crédito é que eles preservaram os balanços deles.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k. Vamos lá. O empréstimo do BNDES, 250 milhões, foi solicitado em julho. O BNDES liberou 250 milhões em novembro. Faltariam 200 milhões. O senhor tem algum documento emitido por esses técnicos ou pelo próprio banco formalmente, da negação dos 200 milhões e as razões definidas formalmente pelo banco?
16:21
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não foram empréstimos, foram aportes de capital. O total era 400 milhões. Foram feitos 250 milhões.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então, o Independência nunca solicitou empréstimo do BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor. Foi aporte de capital via BNDESPAR.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então, não há solicitação de empréstimo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Empréstimo, não.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Não há? Nem 250, nem 400 milhões?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então o Independência nunca solicitou empréstimo ao BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Empréstimo, não, senhor, foi aporte de capital via BNDESPAR.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k. Se o BNDES fez aporte de 250 milhões, aportou esse recurso, tem alguma avaliação técnica do banco de que, nesse período em que aportou recursos, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, piorou a situação da empresa, o que permitiu não fazer empréstimo? Porque o Independência não solicitou empréstimo, mas o BNDES tomou decisão técnica, por precaução, pela seriedade, como o senhor diz, dos técnicos, de não aportar mais recursos na empresa —, e aí vem a segunda pergunta —, que já em fevereiro entrou em situação judicial?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu desconheço se há algum relatório interno do banco sobre a nossa performance.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Poderia ter?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pode ser que tenha. Eu desconheço, não sei responder para o senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A situação da empresa veio deteriorando no segundo semestre inteiro. O aporte era para ser feito bem antes de novembro, de 400 milhões. Já estava acertado. A gente já tinha feito a transferência de 21% das ações da empresa para o banco.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O senhor não acha que um banco sério tem que ter precaução, se estava já fazendo uma avaliação — e a própria empresa tomou a decisão em fevereiro —, em novembro, da preocupação de que a empresa poderia não honrar esse aporte de capital?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele deveria ter feito, porque já estava concordado, já estava assinado, e ele deveria, para a manutenção de companhias nacionais, fazer a debênture que nós pedimos, além disso.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k. O senhor disse dos servidores, o Caio e o Eduardo, está se referindo a dois nomes que o senhor falou aqui...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Teve algum momento em que eles solicitaram propina para o senhor para fazer a negociação?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor. Nunca.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Nunca nenhum funcionário do BNDES solicitou propina para o senhor?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nunca, nunca.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Nunca?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nunca, nunca. Nunca fomos assediados.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k. O senhor está bem informado. O senhor disse que a JBS financiou 10 bilhões. Passa a impressão de que foi nesse período, somente, esses 10 bilhões.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor, foi no período todo.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Foi no período todo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - No período todo.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Já me ajudou a responder. Próxima pergunta: como o senhor está bem informado, a JBS honrou os financiamentos junto do BNDES ou não?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu desconheço empréstimos do JBS com o BNDES. O que eu estou falando aqui é de aporte de capital. Quando mais as companhias precisavam de dinheiro, ele recebia aporte de capital. Nem no balanço entrava como dívida. Eu desconheço empréstimos dele.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O.k., entendi. E em relação à empresa Independência, que foi aportado capital de 250 milhões, como ficou essa operação junto do BNDES até hoje?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O BNDES é sócio do Independência até hoje.
16:25
RF
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Como é sócio, se tem seis funcionários e tem passivos trabalhistas, previdenciários ou financeiros fora do BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele é sócio hoje do que é.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Do passivo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele é sócio do passivo.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Ótimo. Quero, então, fazer mais uma vez a pergunta. O BNDES aportou 250 milhões em um período de crise porque os bancos privados não aportaram recursos. O BNDES pode ter, internamente, feito uma avaliação técnica de que a empresa estava em risco de situação pré-falimentar, mas, mesmo assim, aportou 250 milhões, que são um passivo até hoje pendente junto da Independência?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe, Deputado. Não foi bem assim a história toda.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Conte, eu estou perguntando, estou tentando fazer uma lógica da minha interpretação.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O BNDES, a gente começou as conversas no começo do ano, a gente veio conversando com eles o ano inteiro, eles estavam acompanhando a situação da empresa, eles entraram na Câmara de Arbitragem com esses argumentos, eles foram vencidos por unanimidade, inclusive pelos árbitros que eles indicaram na Câmara de Arbitragem. A gente pode pegar: liberou o dinheiro em novembro, pediu a recuperação em fevereiro.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - É isso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Duzentos e cinquenta milhões é muito dinheiro.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - É.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A nossa recuperação judicial foi de 3 bi. Para a companhia não era muito dinheiro. Ele seria um dinheiro extremamente necessário naquele momento. E esse dinheiro, ele estava comprando ações. Se a gente faz o IPO, essa empresa ia valer muito mais e ele ia ganhar. E eu vou até fazer uma visão minha que eu tenho. A JBS comprou as fábricas do Independência, incorporou na JBS.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sim.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O que ele perdeu no Independência ele ganhou muito mais na incorporação das fábricas na JBS. A valorização da JBS foi um grande negócio. Eu li aqui...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Para quem? Um grande negócio para...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O BNDES.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Para o BNDES. Então, que fique registrada também essa resposta. A negociação que o JBS...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O monopólio do jeito que foi feito foi um grande negócio para o BNDES também. Eu não sei se...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O BNDES ganhou com a negociação da JBS de incorporar as companhias do Independência, e o BNDES não conseguiu recuperar os 250 milhões diretamente desse passivo do Independência. Está correto o meu raciocínio?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Esse é o ponto.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Esse é o ponto, que fique registrado aqui na CPI.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Isso pode ser, de um lado, benéfico para o banco e pode ser, de um lado, maléfico para o banco. O banco fazer um monopólio no País de carne pode ser um grande negócio para o banco. Eu não sei se essa é a função do banco.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Isso, eu tenho... Eu acho que a gente podia depois conversar... Estou encontrando aqui a questão financeira de um banco, de um banco que é público, se ele fez uma operação, se ele deveria fazer os 400... Não fazendo, ficou o passivo de 250. Fez 2 anos depois uma operação, que recuperou, teoricamente, em parte, esse recurso, pela sua fala.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe, o BNDES deveria ter feito os 400.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Sim, entendi.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ele não tinha essa opção de fazer a análise da companhia.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Então, eu acho que a gente podia, depois, buscar alguma nota técnica interna do banco que produziu...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Podemos, no acordo de acionistas.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - ...que produziu essa decisão do BNDES.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Há a expressão "quem afundou" em uma pergunta do Deputado, e o senhor, de certa forma, colaborou com a visão do Deputado de que o BNDES afundou.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Afundou o quê? A nossa empresa?
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Não, "quem afundou o BNDES?", uma fala do Deputado.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeito.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - O senhor colaborou com a fala do Deputado, e falando de inconveniente e incompetente. O senhor considera o BNDES inconveniente nas suas ações e incompetente? Os resultados financeiros do BNDES demonstram que o BNDES afundou?
16:29
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu concordo com o Deputado que a gestão de um banco público é do seu Governo. Eu não falei que os funcionários do BNDES são coniventes ou incompetentes. Eu falei que o Presidente do banco ou foi conivente com o que aconteceu no banco ou incompetente porque não viu.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Uma pergunta que eu queria fazer a V.Sa.: na crise de 2008, na ausência de banco público, o que ocorreria no setor agroindustrial de que o senhor participava?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Todas as empresas frigoríficas teriam pedido recuperação judicial, e estaríamos todos concorrendo em um livre mercado hoje.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Todos?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Todas as empresas pediriam... Se não houvesse o BNDES no setor frigorífico, eu acredito que em 2008 todas as empresas pediriam recuperação judicial, se recuperariam, e estaríamos vivendo um livre mercado hoje.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - É uma tese. Eu quero aqui aproveitar o tempo de Liderança para fazer algumas observações desse processo e da prática discursiva aqui presente. Eu acompanhei a falência do frigorífico Chapecó. Fui Prefeito da cidade de Chapecó, o BNDES aportou 560 milhões para o grupo Macri, que preside e está destruindo a Argentina, não recuperou e foi à falência, e o povo brasileiro pagou a conta. Mesmo com o aporte do BNDES, foi à falência. E trabalhamos 100 dias para recuperar, e nós agentes públicos que colocamos e recuperamos, arrendando os frigoríficos do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná.
Em segundo lugar, passa a ideia, está passando a ideia de que o BNDES é o responsável pela própria crise ou pela própria responsabilidade do futuro das empresas, de uma ou de outra. Quando a crise de 2008, do subprime, dos bancos americanos, do livre mercado financeiro mundial, põe em crise o mundo e afeta o Brasil, o Brasil tomou uma decisão anticíclica — eu concordo com o senhor, é decisão de Governo —, o Governo tomou uma decisão de colocar crédito no setor produtivo. Caso tenha errado nisso ou naquilo tem que se avaliar, mas a nossa avaliação foi correta, o banco colocar recursos públicos para desenvolver a economia, para manter o emprego no País, e chegamos lá em 2014 com 4,3% de desemprego neste País, com pleno emprego.
Portanto, ruiu o sistema financeiro mundial, europeu, americano, e o brasileiro não ruiu, porque teve a presença do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e do BNDES induzindo crédito para o setor produtivo. Se houve esse problema ou aquele, e eu acho que o senhor pode ter razão, do ponto de vista pessoal, da experiência pessoal, de uma experiência que fracassa, de tanta opção, de tanto trabalho, de tanta energia do seu pai e do senhor, mas, do ponto de vista da política de um banco, independente de ter cometido um erro ou outro, a política de concessão de crédito foi a mais acertada, porque induziu e manteve o setor produtivo funcionando no País e o emprego funcionando, porque senão ocorreria o que ocorreu em vários países europeus, como a Grécia, como a Espanha, como Portugal, como o próprio Estados Unidos, mas lá o Governo pôs dinheiro nos bancos, pôs dinheiro nos bancos.
16:33
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Em segundo lugar, o que está ficando claro é o que tem que se combater e discutir aqui é se houve propina do BNDES. Essa é a tarefa do objeto aqui. E o senhor diz que nunca foi assediado...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, nunca teve.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Nunca houve qualquer questionamento dos técnicos, dos assessores do BNDES.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nunca.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Para mim, isso é o que é importante aqui para a CPI, porque, se tivesse, eu ia inquirir o senhor para dizer quem é o funcionário, o nome do cara, o endereço do cara, se teve conta bancária e tudo. O senhor disse que não tem teve.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não teve.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Não teve. Então, eu acho que Presidente do BNDES não vai achar caixa-preta junto do BNDES. Mesmo que o senhor esteja criticando a atuação do BNDES, o senhor está dando um depoimento extremamente cristalino, decente aqui, honesto e honrado de dizer que não teve qualquer insinuação, qualquer solicitação, qualquer pedido. O senhor insinua dos outros, em função de delações, de mídia e de imprensa. Eu acho que o senhor tem tido uma postura extremamente decente e ética, independente se nós somos de posição diferente de qual é o papel dos bancos públicos.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu queria...
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Eu tenho uma tese diferente do senhor, quando disse que tinha que ir todos em acordo judicial, porque eu vi os meus agricultores lá chorando com 11 milhões de frangos mortos. Vocês, empresários, podem dar jeito nisso, podem entrar em acordo judicial e tudo. Mas, quanto aos agricultores que iam quebrar lá, eu sei o que aconteceu. Nós chorávamos junto com os agricultores com 11 milhões, Deputado Macris, de frangos mortos. E tivemos que começar a fazer abate humanitário, quando a Dona Maria estava chorando, com os frangos mortos em cima do carrinho, e os enterrando, disse: "Me socorre". E nós é que fomos socorrer. Uma empresa que tinha pegado dinheiro do BNDES, e nós tivemos que buscar o emprego de volta, porque tinha 5 mil trabalhadores demitidos. Na cidade de Xaxim, 64% do movimento econômico vinha de uma área de um frigorífico. Portanto, é isso que nós estávamos discutindo na época, o BNDES colocar crédito no setor produtivo. Equivocadamente, se o fez, se ajudou a concentração, eu acho que essa é outra discussão aqui.
Agora, o que está aqui, na CPI, é a questão da corrupção, se houve corrupção na sua relação do Independência com o BNDES. O senhor disse que não, que desconhece qualquer tipo de propina e assim por diante.
Segundo, a visão sobre os investimentos. E acho que há um ponto desse capítulo que não foi concluído. Por que o BNDES não aportou os outros 200 milhões? Eu acho que esse é um ponto que a gente podia perguntar para os técnicos do BNDES, se há alguma avaliação técnica, porque eu sei que, quando nós estávamos buscando recursos para o frigorífico lá, os técnicos deram um parecer que impediu. É por isso que houve situação de acordo judicial, depois falência, etc., do frigorífico. Eu, inicialmente, por exemplo, era contra, para nós tentarmos recuperar. Eu era Prefeito. Eu trabalhei 100 dias. E dessa coisa de frigorífico eu entendo bastante. Eu fiz um outro doutorado na área de frigorífico, na área de BNDES, na área dos técnicos, etc. Então, por isso, eu queria aqui, Sr. Presidente — e concluo a minha fala — sair do chavão, sair do discurso fácil e compreender o processo histórico e as decisões de um Governo e de um banco. Se você elege o tal Governo inimigo, fica fácil criticar; se elege o banco como inimigo, fica fácil criticar.
O senhor teve uma experiência concreta de negação do crédito. Mas é muito estranho antes, quando a relação com os bancos privados estava bem, os bancos privados receberam muito dinheiro do Independência. Quando o senhor precisou mesmo, o bicho pegou, e os capitalistas cuidaram e só emprestam para quem não precisa. E aí se aportou ao banco público. E a gente precisa entender por que os 250 milhões que ainda o banco é acionista... É que nem o grupo Macri que deu em garantia as ações. Vai à falência, e as ações ficam o quê? Só faltava transformar as ações em ações para o BNDES. E, no caso da Chapecó Alimentos, ficaria com 1 bilhão de passivo. Não só os 560 não receberia, como ficaria com o passivo dos outros bancos para pagar. Então, eu concluo aqui que o BNDES teve muita precaução em relação ao seu dinheiro, que é público, que é do povo brasileiro.
16:37
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O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Muito bem. O senhor quer fazer referência?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu gostaria de falar para o Deputado Pedro que eu estou alinhado com o raciocínio dele em relação à participação do Governo em momentos de crise na empresa nacional. Estou alinhadíssimo com o senhor nesse ponto. O único questionamento meu é porque foi numa empresa só e, depois de uma delação premiada, sabido que houve via propina. Todo esse aporte milionário foi feito via propina. É esse o ponto só, mas estou alinhado com o senhor nessa colocação. Em momentos de crise, eu vivi um momento de crise e recorri ao banco porque realmente o banco era quem poderia fazer essa operação.
O SR. PEDRO UCZAI (PT - SC) - Eu lamento a história sua e sei por causa das minhas agroindústrias da América Latina. Então, na minha região oeste, eu sei o que significou crises e falências para as famílias que construíram e fundaram lá a nossa região. Então, eu me solidarizo nesse sentido e gostaria que não tivesse ocorrido essa situação falimentar.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Bem, passo a palavra ao próximo orador, Deputado Sergio Vidigal. V.Exa. tem a palavra por 5 minutos.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Sr. Presidente, Deputado Vanderlei Macris, quero aqui, mais uma vez, parabenizar a coordenação dos trabalhos da CPI, juntamente com o Relator; saudar aqui os demais Parlamentares, cumprimentar o Sr. Roberto Graziano Russo e fazer alguns questionamentos, Sr. Roberto, baseado até em uma fala do senhor. O senhor falou aqui, e falou também quando o senhor esteve no Senado Federal, sobre a política de campeões nacionais. Eu gostaria de alguns esclarecimentos, se possível fosse. Primeiro, eu queria saber como era operacionalizada essa política. Eu pergunto uma de cada vez, Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Como preferir, Deputado.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Uma de cada vez. Eu queria saber como era operacionalizada essa política.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O Dr. Roberto tem a palavra.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Obrigado, Deputado, pela pergunta. A política de campeões nacionais, a gente começou a escutar ela de fora do banco quando o banco começou... A primeira participação muito forte do banco foi no IPO, na abertura de capital da JBS. O banco participou ativamente, e a gente começou a enxergar isso, e havia o discurso do Sr. Luciano Coutinho de que havia uma política de campeões nacionais e que isso se daria no mercado do agronegócio, especificamente no setor de frigoríficos. Aí é que nós tivemos o contato com isso e vislumbramos: "Poxa, se vamos ter uma política de campeões nacionais, nós nos habilitamos a ser um deles". É isso o que a gente conhece.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - E o senhor podia informar, nominar as autoridades do Governo responsáveis por essa política e também no BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pelo o que eu conheço, essa é uma tese do Prof. Luciano Coutinho, essa política de campeões nacionais.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Pelo BNDES ou pelo Governo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O Prof. Luciano Coutinho, pelo BNDES. Eu acho que ele levou isso ao Governo e acho que deve ter sido aprovado pelo Governo.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - E o senhor saberia citar se há algum nome do Governo responsável por essa política?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu não sei falar para o senhor. Eu não sei falar.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Como foi divulgado entre os empresários do setor essa política? Como é que ela impactou entre os empresários, essa política de campeões nacionais? O senhor saberia informar?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Como é que impactou no dia de hoje?
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Não. Como impactou no momento em que se divulgou essa política de campeões nacionais entre o setor empresarial?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Todo o setor vislumbrava o banco como... Ter o BNDES como sócio é um passaporte enorme para abertura de capital, para acesso ao mercado internacional. É um peso muito bom ter o BNDES a bordo. Quando todo o mercado viu isso, todo o setor gostaria de ter aportes do BNDES na política de campeões nacionais.
16:41
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O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Um Parlamentar falou aqui sobre a questão de quem quebrou o BNDES. Foi uma pergunta feita aqui, e ele citou os 10 bilhões de reais. Eu diria que, se o BNDES cometeu alguma irregularidade, eu tenho certeza de que esta Comissão vai apurar. Mas o BNDES deixa claro que ele não quebrou. Aliás, quem fragilizou o BNDES foram os 2 últimos anos. Primeiro, o Governo anterior devolveu 260 bilhões de reais do BNDES para o Tesouro; e, agora, a Câmara Federal acabou de aprovar a reforma da Previdência, Deputado, em que vocês estão tirando 270 bilhões de reais do BNDES, que é dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador, para poder reduzir o déficit da Previdência. Então, quem fragilizou e está incapacitando o BNDES é o Governo — o anterior e o atual — com a reforma da Previdência. Digo isso só para esclarecer um pouco em relação ao BNDES.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Quando V.Exa. fala de Governo anterior, é o Governo Michel Temer?
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Sim, os dois últimos anos de Governo.
Para encerrar minha fala, eu gostaria que o senhor pudesse me informar quem poderia se candidatar e como foi escolhida a campeã do setor de proteína.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Primeiro, quem poderia se candidatar eram todas as empresas que passassem pelo crivo técnico do BNDES. E quem foi o escolhido a história contou para gente.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Sr. Presidente, eu estou satisfeito com as respostas.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - O crivo técnico é, por exemplo, quando o senhor refere que tinha quatro certificações, não é isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, é a ISO 9001 de qualidade em produção de carnes, a ISO 14001 do meio ambiente, SA 8000 de responsabilidade social, OH 18001 de saúde e segurança no trabalho.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Desculpe-me por perguntar, mas o senhor citou que a ex-Senadora Marisa...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Serrano.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Ela era de que partido?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - PSDB.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - O senhor acha que isso pode ter influenciado na questão da decisão de não ter aportado, enfim, alguma coisa pode ter...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não acredito.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Eu gostaria de perguntar ao nobre Deputado, porque eu não entendi bem os valores que ele disse ter saído há pouco...
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Pode esclarecer, Deputado.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Por favor, é só para tirar uma dúvida. Eu acho que eu ouvi errado.
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - Pois não, Deputado. Eu quero informar a V.Exa. que, durante os 2 últimos anos, o Governo Federal retomou 260 bilhões de reais que estavam no BNDES à disposição para financiamento de empresas do Brasil. E agora, com a aprovação da reforma, aquela economia que se está propondo fazer, uma parte dela, é um percentual de 30% dos recursos do FAT, que constitucionalmente são obrigatórios repassar para o BNDES para ele poder fazer sua linha de financiamento. Esse dinheiro nem pertence ao Governo, esse dinheiro pertence ao trabalhador. E o que foi aprovado recentemente está tirando 30% desse recurso dos próximos 10 anos para poder reduzir o déficit da Previdência. Foi isso que eu falei anteriormente, quando o senhor questionou os 10 bilhões de reais que quebraram o banco. Não foi nada além disso.
16:45
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O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Eu entendi e até vou me inteirar melhor sobre esse assunto. Mas acho que o senhor sabe quem quebrou o BNDES, desde 2003. Eu acredito que o senhor deva saber quem afundou.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Sr. Presidente...
O SR. SERGIO VIDIGAL (PDT - ES) - O BNDES não afundou.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Se o senhor souber, depois me explica melhor quem afundou o banco.
O SR. PRESIDENTE (Altineu Côrtes. PL - RJ) - Deputado, por favor...
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Tem a palavra o Deputado Jorge Solla, por 5 minutos.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Muito obrigado, Deputada. Eu estava aqui pacientemente esperando a minha vez.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Estamos aqui para ouvi-lo, Deputado.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Veja só, eu não tenho muita intimidade com a área empresarial, eu lhe confesso. Mas acho que nessa brincadeira não tem nem mocinho nem bandido. Eu queria lhe perguntar primeiro... A gente sabe que houve uma prática predatória na concorrência, porque vários frigoríficos foram comprados para serem fechados. Vou dar o exemplo nosso da Bahia. Na Bahia, que eu saiba, três ou quatro frigoríficos que estou lembrando agora foram comprados pelas grandes empresas da área e foram fechados. E até hoje estão fechados. Então, a primeira pergunta que eu queria fazer é: essa prática foi só da JBS ou todos vocês faziam isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Nós nunca compramos fábrica para fechar. Sempre compramos fábrica para trabalhar, senão a gente não teria comprado. Eu ia perguntar: essa prática... Desculpe, eu ia perguntar para o senhor se isso é uma prática da JBS lá no Estado da Bahia ou não, se isso aconteceu explicitamente com ela ou não.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Eu sei que dos quatro, um foi da JBS. Os outros três eu não sei informar quem comprou. Mas é comum?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, não é comum não.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Era uma prática comum nesse período.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, até porque são fábricas caríssimas, de operacionalidade caríssima, de depreciação muito alta. Isso aí é antieconômico.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Entendo, mas aconteceu muito. E não foi só no nosso Estado não. No País inteiro aconteceu isso. O setor foi sendo concentrado com essa prática.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Para eliminar a concorrência.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - O senhor falou também que... vocês pagavam propina para algum agente público?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Não estão controlando o tempo, não?
Porque, em 2017... O senhor conhece Ivanildo da Cunha Miranda?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Conheço sim, senhor.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - O senhor deve estar sabendo que teve uma delação premiada, homologada em 2017, do Ivanildo da Cunha Miranda, que era o operador do André Puccinelli e do Reinaldo Azambuja.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - E está lá escrito que os frigoríficos pagavam 710 mil reais de propina mensais a Puccinelli. E, no caso do Independência, na delação dele, os senhores pagavam em torno de 60 a 80 mil reais por mês, inclusive em dinheiro vivo, entregue pelo Miguel Russo Neto, que deve ser...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Meu irmão.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Pois é, isso está na delação.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - O senhor desmente a delação dele?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desminto.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - É mentira?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É mentira.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Então, ele devia perder os direitos do acordo de delação premiada, não é?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Também acho. E acho que vai perder.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Bom, também o senhor disse que não ficou com dívida trabalhista, não é?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhor.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - E Nova Andradina? São 3 mil funcionários que, até recentemente — pelo menos, essa é a informação que a gente tinha —, não tinham recebido as rescisões.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Já receberam.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Este ano?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhor.
16:49
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O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Bom, em relação à razão por que quebrou, há uma matéria aqui em que o senhor mesmo era o entrevistado e diz os motivos de ter quebrado o Independência: "Uma estratégia comercial da empresa, que fez estoques, esperando a alta do preço", o que não aconteceu, caiu no mercado internacional...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É verdade.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - "... o recuo do preço no mercado internacional, a queda no mercado interno". E os custos com isso ficaram superiores aos da receita, de forma que — segundo informação que o senhor prestou — vocês tinham um custo de 6 reais por quilo da carne desossada e conseguiam vender por 4,78 reais.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É verdade.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Então, parece que o problema é muito mais complexo do que uma opção do BNDES de viabilizar ou não o financiamento de capital de giro. Pelo que eu entendi, diversas circunstâncias, no mercado internacional inclusive, tiveram um peso determinante para a situação que vocês enfrentaram de falta de liquidez.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, tivemos dois motivos básicos dessa queda toda. Um motivo foi econômico e outro motivo foi financeiro. Eu estou falando aqui sobre os motivos financeiros. Os motivos econômicos, todas as empresas passaram por isso. A carne ainda é uma commodity. Ela ainda é um preço... Eu não consigo ter um preço muito mais caro do que o do meu concorrente. Todo mundo passou por isso. Esses foram os motivos econômicos, que levaram aos motivos financeiros depois.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Até a hora em que eu parei para ler esta matéria aqui — confesso que não tinha lido antes; eu estava aqui aguardando a oportunidade —, suas intervenções me passaram a ideia de que o BNDES foi o grande responsável por ter quebrado o Frigorífico Independência.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Foi. No momento, ele foi.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Mas não foi isso que o senhor disse nesta reportagem.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Esses foram os motivos econômicos.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - O senhor nem cita entre os motivos a questão de financiamento bancário, muito menos do BNDES. O senhor cita outros motivos. Nenhum de natureza bancária o senhor citou na matéria.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Essa pesquisa... Essa... essa...
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Esta matéria foi da época, foi da ocasião.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Essa acho que foi uma matéria replicada do Valor Econômico, onde a repórter Alda do Amaral me perguntava sobre os valores econômicos que levaram à queda da empresa. Eu me lembro dessa matéria.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Bom, o tempo está muito curto, mas quero reiterar a situação do BNDES: era uma até 2 ou 3 anos atrás e hoje é outra. O Governo Temer e o Governo Bolsonaro são os responsáveis eu não diria por afundar o BNDES, mas por destruir o potencial do BNDES de ser um motor da economia brasileira, como foi nos Governos Lula e Dilma. Mas isso é coerente, porque, afinal, as medidas que vêm sendo tomadas por este Governo só visam uma única estratégia: baratear a força de trabalho.
Recentemente, inclusive, o Presidente do Itaú deu uma declaração bem transparente: que nunca foi tão bom o Brasil, porque nunca os recursos de produção mais importantes — ele usa este termo "recurso de produção"; na verdade, ele está falando de salário, força de trabalho — foram tão baratos. E vão ficar ainda mais. É por isso que ele disse que o desemprego está muito bom e que deve aprofundar, porque isso reduz a pressão inflacionária.
Agora, outra coisa que eu também não posso deixar de comentar é essa sensação de que nós estamos avançando pouco aqui no sentido de achar ilicitudes. Se nós quisermos achar ilicitude fácil, eu vou sugerir, por exemplo, que investiguemos a situação do famoso Itaipu Gate, em que um contrato secreto foi assinado pelo Governo Bolsonaro com o Governo do Paraguai e graças ao Paraguai nós ficamos sabendo da ilicitude desse procedimento — que, inclusive, envolveu um suplente de Senador do PSL, o Alexandre Giordano, que é proprietário de uma empresa e fez uma parceria com a Léros, e esses contratos secretos privilegiavam essa empresa. Detalhe interessante: a Léros tem outros envolvimentos que aportam em negócios escusos também, só que voltados a situações de desmonte da fiscalização ambiental no Estado de São Paulo, pelo então Secretário Ricardo Salles, do PSL, atual Ministro do Meio Ambiente, que está interessado em destroçar o meio ambiente neste País. Afinal, nós estamos vivendo um momento de um Governo em que o Ministro da Educação corta recursos das universidades e está mostrando que não tem interesse na produção científica; o do Meio Ambiente está desmontando qualquer fiscalização e qualquer cuidado com o meio ambiente; e a política econômica é só para baratear o valor da força de trabalho e, do outro lado, para completar, para destruir o patrimônio público — destrói o BNDES, enquanto motor da economia, destrói a PETROBRAS, ataca tudo o que pode ser entregue a preços vis para os irmãos do Norte, o grande irmão do Norte, para o qual o Presidente bate continência e subjuga os interesses do País.
16:53
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Obrigado.
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Sra. Presidente, peço 1 minuto. Peço apenas 1 minuto. (Pausa.)
Quanto a essa primeira pergunta que V.Exa. me fez a respeito de Itaipu, eu vou trazer a resposta para V.Exa., está bem? Eu não posso falar aqui. Acordos secretos o Governo de V.Exa. fez com as ONGs lá da Europa. Disso nós já sabemos. Então, esses não vou trazer porque desses o Brasil já sabe: V.Exas. afundaram o País.
Outra coisa: a PETROBRAS, com certeza, está tão no fundo e agora está crescendo. O Governo de V.Exa. também afundou a PETROBRAS.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. CORONEL CHRISÓSTOMO (PSL - RO) - Não, mas vou trazer a resposta que V.Exa. quer. Está bem?
Obrigado.
O SR. JORGE SOLLA (PT - BA) - Sra. Presidente, eu quero 1 minuto também, por favor. (Pausa.)
Quero só dizer que eu estou dando nome aos bois: Itaipu Gate é processo que está em curso, ameaçando de impeachment o Presidente do Paraguai. Se este País fosse sério, teríamos também que abrir um processo de impeachment aqui, porque não foi só o Presidente do Paraguai que se envolveu em negócios escusos, não.
Falar de ONG na Europa é mentira. É a estratégia da mentira, que não tem nem pernas curtas para pegar, porque nem diz em que se está querendo pautar.
Em relação à PETROBRAS, o que fizeram agora com a TAG, com o Gasoduto e com a BR Distribuidora é criminoso. Isso é crime de lesa-pátria. Venderam a BR Distribuidora por um valor menor do que o valor pelo qual foi vendido o Copacabana Palace. Venderam a TAG por um valor menor do que o de 1 ano de lucro da empresa. O valor de apenas 3 anos de aluguel, Deputada Paula Belmonte, vai ser maior do que todo o valor da venda.
Eu quero saber do representante que Bolsonaro botou na Secretaria de privatizações, o Mattar — que está matando o patrimônio público —, que é dono da Localiza, se ele entregaria a Localiza para qualquer um pelo valor de lucro de 1 ano da Localiza. É claro que não. Agora, o patrimônio do povo pode-se destruir à vontade para atender a interesses escusos.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Grata, Deputado Jorge Solla.
Eu me coloco à disposição, Sr. Deputado, para fazermos todas as investigações — e quando eu falo de todas, refiro-me a todas mesmo.
V.Exa. esteve aqui no depoimento do ex-Ministro Antonio Palocci, e ele deixou bem claro que faltou o PT reconhecer as suas atitudes que não foram lícitas. O que não for lícito do PT nós vamos verificar e o que não for lícito deste atual Governo nós vamos também verificar. Agora, não vamos eliminar uma coisa com a outra.
Temos hoje no BNDES um rombo de bilhões de reais, e isso é do povo brasileiro, como foi explicado aqui. A situação é que o Tesouro Nacional era sócio do BNDES, e com o FAT, que é do trabalhador. Nós não podemos desvirtuar o objetivo principal do BNDES, que não é visar dar lucro, como foi dito aqui por um Deputado, mas, sim, fomentar o desenvolvimento econômico e social.
16:57
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Foi dito aqui algumas vezes o que é legal e o que é moral, e nós tivemos situações que legalmente passaram por algumas coisas, mas não foram morais. Nós temos que ter compromisso com o povo brasileiro.
Em relação à educação, eu aproveito a oportunidade para chamar todos os Deputados que estão presentes — ontem nós tivemos aqui várias mulheres indígenas na 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Eu estive lá e perguntei para elas quantas das 150 que estavam lá eram mães. Havia lá pelo menos umas 140 mães. Dessas 140, eu perguntei quantas tinham filhos na universidade; se ficaram uma seis de braços levantados foi muito.
Então, nós vemos que a educação há muito tempo está aquém do que se deseja. Eu também, fazendo parte da Comissão de Educação, me coloco à disposição de todos os Deputados, independentemente de partido político, para que façamos com que a educação chegue verdadeiramente à ponta, o que não tem acontecido há muitos anos no Brasil.
É isso que eu gostaria de dizer. E quero pedir aqui...
O senhor quer fazer alguma ponderação em relação às perguntas do Deputado Jorge? Porque agora é minha vez de falar e eu estou querendo começar a fazer as perguntas. E eu vou entregar a Presidência...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Estou à disposição de V.Exa.
A SRA. PRESIDENTE (Paula Belmonte. CIDADANIA - DF) - Muito grata.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O que levou a JBS a enfrentar as dificuldades que enfrentou, sendo a campeã nacional?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Quais dificuldades?
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - A JBS está em recuperação judicial, perdeu mercado...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, não está não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - A JBS está tranquila?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Está tranquila.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Maravilha.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Boa tarde a todos.
Obrigada por mais esta oportunidade. Eu sempre gosto de pedir a benção de Deus, porque nós no Brasil estamos num momento de muitas mudanças, e mudanças geram às vezes incômodos. Mas que tenhamos sempre esperança no coração e que Deus esteja sempre nos iluminando para que possamos seguir o melhor caminho para esse povo tão sofrido e tão amoroso.
Sou muito grata ao Presidente Vanderlei Macris e ao Deputado Altineu Côrtes pela oportunidade que vêm me dando nesta CPI e a todos...
Eu quero aproveitar, Deputado... V.Exa. sabia que ontem foi aniversário do secretário Saulo? Eu estive aqui mais cedo e o cumprimentei. (Palmas.)
Saulo, peça para não descontarem o meu tempo.
Havia um bolo. Ele ficou de guardar para mim um pedaço de bolo de raspas de limão, que a Sílvia faz, não é?
Parabéns! Que Deus o abençoe.
Bem, nós estamos aqui, graças a Deus, apesar dessa situação tão séria, comprometidos em trazer a moralidade para questões que foram tidas como legais e trazer realmente o objetivo inicial do banco, que é o do desenvolvimento econômico e social do nosso País. E percebemos que várias situações que — como foi dito aqui e frisado — talvez para o BNDES tenham sido operações "lucrativas", entre aspas, na verdade, se colocarmos toda a questão dos empréstimos que foram concebidos pela JBS em relação a outras negociações e até aos juros subsidiados, não foram tão lucrativas assim. O mais importante é que nós percebemos que essa monopolização da empresa fez com que quebrassem outras.
17:01
RF
O senhor é do Mato Grosso — foi o que o senhor me disse?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, senhora. Nós somos paulistas, mas começamos a companhia no Mato Grosso do Sul.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas o seu pai foi Senador pelo Mato Grosso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Foi Senador pelo Mato Grosso do Sul.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor morava lá? Como que é? Ele tem vida política? Isso é só para eu entender aqui o contexto.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, ele já tinha a vida política dele no Mato Grosso do Sul.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Há muitos anos?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desde... Eu acho que desde o Governo Fernando Henrique Cardoso.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ah, então ele já tinha há muitos anos, não é?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Bom, nós sabemos que houve, um tempo atrás, a CPI a respeito dos frigoríficos do Mato Grosso.
O que foi dito sobre essa CPI? O senhor não acompanhou, acompanhou?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. Dessa eu não participei.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas o senhor não tem acompanhamento nenhum dessa CPI?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Dos frigoríficos do Mato Grosso, não. Parece que é uma coisa recente, de agora, não é?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - É, do ano passado.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É, nós não estávamos mais operando no Estado já havia 10 anos. Então...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas o senhor não tem notícia?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não; não estou acompanhando.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Presidente, eu gostaria de fazer um pedido, e me parece que nós podemos fazer através da nossa Secretaria. Gostaria de pedir o relatório dessa CPI do Mato Grosso. Quem trouxe essa possibilidade para nós, naquela nossa visita, foi o Sr. Natalino Bertin. Então, eu estou querendo pedir à Secretaria, se puder, para entrar em contato com a Secretaria da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, para que nós possamos pegar o relatório, porque eu já procurei na Internet, e não é fácil pegá-lo.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Deputada Paula, se puder, formalize um requerimento para nós votarmos na próxima reunião.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas será que precisamos desse requerimento, ou pode ser falado...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Precisamos necessariamente aprovar o requerimento.
(Intervenção fora do microfone.)
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O relatório final eu acho que não.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Da Assembleia de Mato Grosso? A não ser que esteja disponível na Internet. Talvez esteja. Se puder resolver dessa forma, melhor.
(Intervenção fora do microfone.)
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Teve. Isso.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Se não houver condições, nós pedimos para fazer o requerimento.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Isso é Mato Grosso do Sul ou Mato Grosso?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Saulo, você lembra se foi Mato Grosso do Sul ou Mato Grosso? (Pausa.)
Mas nós vamos entender. Eu sei; eu tenho todos os links. E nós podemos procurar.
Bom, eu quero só entender... Eu sei que o senhor já explicou várias vezes, mas a repetição faz com que nós compreendamos melhor um momento que não faz parte da nossa vida, do nosso dia a dia.
O senhor pode começar a falar para mim assim: "A empresa se iniciou lá com o meu pai..." até chegar a 2007, que foi quando vocês pediram o empréstimo? O senhor pode fazer isso, por favor, para mim?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Claro. A empresa foi fundada em 7 de setembro de 1977, com uma pequena fábrica de carne seca, de charque, para vender para o Norte e o Nordeste. Em 1992, ela iniciou a operação de abate em Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Em 1997?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É, 1997. Desculpe-me, em 1977, ela começou. E aí ela veio crescendo. Em 1992 começou o abate. Antes trabalhamos muito com a Sadia. No período de 1984, 1985 nós prestávamos muito serviço para a Sadia. Aí começamos a abater, em 1992, no Mato Grosso do Sul. Aí, a partir dali, em 2005, começa a consolidação, e a gente começa a participar dessa consolidação. Aí compramos algumas empresas aqui no Brasil. Algumas que estavam fechadas, como foi o caso do Kaiowa. Arrendamos as fábricas do Kaiowa, compramos o Goiás Carne, lá em Goiás, e compramos um grupo empresarial todo lá no Mato Grosso. E aí começamos a crescer a companhia. Até a recuperação judicial, estávamos abatendo 12 mil cabeças por dia, com 12 mil colaboradores, quase mil caminhões na sua frota e processando 25 mil couros por dia, com dois terminais, com dois entrepostos frigoríficos no Porto de Santos — a única companhia que tinha terminais próprios no Porto de Santos.
17:05
RF
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Então ela era menor do que a Bertin?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Era menor do que a Bertin. A Bertin era muito mais diversificada. Em termos de abate, a gente meio que competia igual, mas, em termos de empresa, ela era menor.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Só para eu entender. Então, vamos lá: isso aí até em 2006, não é? Aí, em 2006, vocês resolvem pedir uma parceria com o BNDES? Eu quero que o senhor me explique isso detalhadamente.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe, foi em 2008. Começo de 2008.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Em 2008.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A gente foi ao banco devido à crise financeira e começamos as tratativas com o banco para ver uma possibilidade de aporte de capital, de participação do BNDESPAR no capital da companhia.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E aí foi entregue um relatório. Como é que estava a situação da empresa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A situação da empresa seguia o seu curso normal. Elas eram auditadas pelos balanços. Todo mundo... O acompanhamento de uma empresa é sempre feito pelo balanço. Os balanços estavam lá, estavam entregues. A gente publicava esses balanços em site da companhia. Aí o BNDES faz ene questões, tanto da parte contábil quanto da parte técnica, e a gente ia suprindo o BNDES dessas informações.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Uma das alegações de que algumas empresas pediram essa... Como é que se chama?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Recuperação judicial.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - ... recuperação judicial foi a questão da Lei nº 11.634, de 2007, e da Medida Provisória nº 449, de 2008. O senhor tem conhecimento disso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Essa lei é aquela que muda o critério de balanços?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Isso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Isso não foi motivo para pedido da recuperação judicial. Isso foi o motivo de recolocação de alguns dados no balanço. Isso não é o motivo da recuperação judicial.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sim, mas essa é uma alegação de algumas empresas nesse setor...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Todas as empresas tiveram que se adequar a essa lei.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E isso foi prejudicial para o senhor ou benéfico? Como que o senhor... Foi totalmente prejudicial?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Totalmente, não. Ela impactou no nosso balanço, sim. Essa lei impactou no nosso balanço.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor já esteve numa outra CPI, não?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Esta é a terceira.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Essa é a terceira.
Tem uma em que o senhor afirmou assim: "que, nessa política das campeãs nacionais, o Governo fez com que tivesse os perdedores nacionais".
Nós temos aqui uma relação de 17 empresas que, em 2008 e 2009, pediram recuperação judicial. Duas não pediram, mas foram incorporadas. O senhor se considera um perdedor nacional?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E por que o senhor se considera?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Porque quando o Governo arbitra e usa o dinheiro dele para criar um campeão, consequentemente todas as outras empresas serão perdedoras.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sim, mas eu estou querendo entender o seguinte: o que significa o senhor pedir uma incorporação ao BNDESPAR de 250 milhões de reais, o BNDES coloca isso na empresa do senhor e, em 3 meses, o senhor pede recuperação judicial? Eu quero entender esse ponto aí, mas com mais minúcias. Não queria que o senhor lesse, não.
17:09
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Tranquilo.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu queria que o senhor falasse da cabeça do senhor. Como foi que aconteceu isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeitamente. A empresa negociou com o banco...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Quatrocentos e pouco... Isso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - ... uma participação no capital da empresa. Essa participação equivaleria a 400 milhões por 21,7% do capital da companhia.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Hã, hã!
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Isso foi pedido no começo do ano, com as tratativas do banco. Isso foi sendo trabalhado e foi indo, e foi indo, e foi indo. E só tivemos a primeira liberação no final do ano. Este ano, a empresa, toda ela, veio se depreciando, como todas as empresas, como todos os bancos vieram se depreciando — o seu balanço. Quando chegou ao final do ano, eu cheguei para o BNDES e falei: "Gente, está chegando a uma situação crítica. Vocês vão me liberar 250 só, e não vai suprir a minha demanda para capital de giro". O banco falou que não tinha dinheiro naquele momento e ia fazer a outra liberação quando tivesse o dinheiro.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Vamos voltar de novo.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeito.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Só para eu entender. O senhor, no começo do ano de 2008... É isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - No começo de 2008... Deixe-me só fazer outra pergunta. O Sr. Bertin esteve aqui e disse que o BNDES o procurou para que ele oferecesse um empréstimo. Aconteceu isso com vocês também?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. Fomos nós que procuramos o banco.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Foram vocês que os procuraram?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Tá.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Aí estava tudo bem, mas o senhor quis aumentar o capital da sua empresa para o BNDES se tornar um parceiro. Não foi isso que o senhor fez?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. Nós venderíamos ações para o banco, para ele... Ele compraria ações do banco portando dinheiro para, quando fizesse a abertura de capital, o banco sairia da companhia com essas ações valorizadas.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Hum, hum! Quatrocentos e cinquenta milhões...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Quatrocentos milhões...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Quatrocentos milhões significam 21%?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Vinte e um por cento, valorização do banco.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Então, nós podemos dizer, vamos colocar aí 20% que o banco...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - ... dois bi e duzentos, mais ou menos.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Dois bilhões e duzentos. O senhor disse que o senhor pediu...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - As dívidas eram 3 bilhões.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - ... três bilhões. Então, vamos só entender. Vamos voltar de novo. Eu quero pegar esse ponto aqui para mim, que é mais importante.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe, 3 bilhões na recuperação judicial. As dívidas eram 2 bilhões e pouco. Os bancos corrigem isso tudo, fazem todo uma... Quando fez a recuperação, davam 3 bilhões.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Então, vamos lá, de novo, voltando em 2008, ao início de 2008.
Quando se pede um empréstimo... O senhor está me dizendo que essas dívidas todas...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não é empréstimo.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Empréstimo não, essa compra...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Aporte.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Aporte.
Em 2008, quando começou essa negociação, estava tudo ótimo.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Estava.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor não tinha endividamento nenhum.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Tinha endividamento, sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - De qual valor?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu não sei falar para a senhora. De 2008 eu não me lembro para falar para a senhora, no começo.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E o senhor informou isso ao banco?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Claro!
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E o senhor tinha 30 instituições financeiras privadas que tinham esse endividamento?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Trabalhavam com a companhia. Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E todas elas foram colocadas explicitamente ao banco BNDES?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhora.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E o BNDES, mesmo sabendo que o senhor tinha essas dívidas...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Esse processo é o seguinte. Quando a senhora pleiteia...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - É isso que eu quero entender.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - ... quando a senhora pleiteia um aporte no BNDES, o BNDES faz uma coisa chamada due diligence. Essa due diligence nada mais é do que acompanhar todos os números do balanço da companhia, assim como todos os seus passivos — seus passivos trabalhistas, seus passivos fiscais. É feita uma due diligence completa da companhia por uma auditoria independente. A gente tem auditoria da empresa; o BNDES, com a empresa, contrata outra auditoria e faz essa due diligence, que se chama, que é uma auditoria paralela.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Muito grata pelo senhor me explicar, porque realmente eu não entendo e estou aqui aprendendo junto com todos os outros Deputados que também não entendem. Mas vamos voltar lá. Então, o senhor está me dizendo... Eu estou querendo trazer isso para nós...
17:13
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeito.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - ... que somos leigos no assunto. O senhor está me dizendo o seguinte: que em 2008, quando começou a negociação do BNDES, o senhor fez os pedidos e já tinha endividamento.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, claro!
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E o BNDES, dessa mesma maneira, foi fazendo análise ao longo do tempo só liberar em novembro, e, mesmo assim, sabendo do endividamento, em novembro — com certeza, como o senhor acabou de dizer, existia o acompanhamento —, ele liberou 250 milhões para o senhor.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Verdade. Sabendo do endividamento, sabendo da deterioração do balanço, mesmo assim, ele liberou metade.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ele liberou metade para o senhor? E aí, por que o senhor responsabiliza o BNDES, se ele ainda liberou um dinheiro para o senhor? Eu quero entender a lógica.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Porque ele liberou metade. Eu não fui pedir nenhum penico para o BNDES. Eu fui vender ações pela minha companhia. Estou fazendo um negócio com o banco.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sim, mas a sua companhia hoje tem seis funcionários, e o BNDES está com o passivo. Eu quero entender. O senhor está entendendo o que eu estou querendo entender?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim, senhora.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Porque eu sou leiga aqui. Eu estou querendo entender qual é a lógica. Porque para mim é o seguinte: quando eu vou ao banco, o banco pergunta assim: "O que você me dá de garantia?".
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Isso.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Se eu chegar e disser que a minha garantia é um passivo, ou que a minha situação financeira está muito delicada, ele não vai me oferecer o empréstimo. Concorda comigo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeitamente.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Então, eu não estou conseguindo entender a lógica desse contexto.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeitamente. A empresa vinha num crescimento, a gente tinha fábricas que estavam compradas e não estavam operando. É que a avaliação é toda um pouco mais complexa do que tudo isso.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Hum, hum!
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A senhora faz uma avaliação pela sua geração de caixa; não pela sua dívida. A dívida não é pecado. A senhora pode ter dívida, mas ter uma geração de caixa que a senhora paga no tempo que a maturação dessa dívida está.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Hum, hum!
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Então, todos esses fatores são considerados na avaliação de uma companhia. A avaliação a que o banco chegou da nossa companhia é que ela valia 2,2 bilhões de reais, contestada pela gente, porque sempre a gente acha que vale mais. Mas chegamos a este ponto. O que aconteceu foi exatamente o ano de 2008, onde o balanço veio se deteriorando, a dívida foi aumentando. E não aconteceu só com a gente. Isso aconteceu com todas as companhias não no Brasil, no mundo todo. Bancos quebraram.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Sr. Roberto, eu só quero entender. Eu, como cidadã, também sou dona do banco BNDES. Todos nós somos contribuintes do banco BNDES. Eu quero entender como contribuinte. O senhor está me dizendo, então, que o BNDES começou uma negociação com o senhor em 2008 no valor de 400 milhões de reais por 21% da empresa e que essa empresa estava endividada e foi se endividando cada vez mais, mas, mesmo assim, com esse acompanhamento e tudo, ele liberou 250 milhões. E aí, como ele não liberou o valor total que o senhor estava esperando, o senhor pediu a recuperação judicial e se sente prejudicado. Eu quero entender isso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É... Antes de pedir a recuperação judicial, nós fomos falar com o banco. Nós sempre explicitamos ao banco a nossa situação. Nós conversamos com ele. A gente foi pedir recuperação judicial em 27 de fevereiro.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor recebeu em que dia?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Em novembro. A gente vinha falando com o banco desde setembro, outubro que a situação estava ruim. Talvez o meu defeito foi falar que a situação estava ruim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu quero entender isso. Por quê? Porque para mim é muito diferente eu entender que o banco está vendo uma empresa que está com uma recuperação judicial a vapor, quer dizer, crescendo a cada momento; que vai chegar a esse limite do pedido de recuperação judicial; ele ainda emprestar os 250 milhões. Aí eu quero entender: ele estendeu essa entrega desse dinheiro, dos 250 milhões, para o senhor chegar a esse ponto?
17:17
RF
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Esse é o ponto.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Pois é. É isso que eu quero entender.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Esse é o ponto.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ele esperou chegar a esse ponto, ou ele foi bem benevolente e falou: "Não, você está em recuperação, eu vou dar 200...".
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Eu estou... Nós estamos aqui...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeito.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - ... Sr. Roberto, numa situação em que nós sabemos que os técnicos do BNDES são técnicos de boa qualidade, nós sabemos que têm um compromisso social, mas também sabemos, porque foi dito por várias pessoas que passaram por aqui, que, infelizmente, existia uma determinação totalmente de cima para baixo, inclusive na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que foi mudada para que nós realmente pudéssemos ter um investimento mais avantajado do recurso da população para proteína animal. Então, nós percebemos que tem uma orquestra aí. E é isso que eu quero que o senhor traga para cá. É isso que nós precisamos...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeito.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - ... mostrar e esclarecer, porque fica muito estranho eu estar falando de uma empresa que está num processo de endividamento e que, depois de 3 meses, está pedindo recuperação judicial e, mesmo assim, como o senhor acabou de dizer, tem todo um planejamento, e ainda se empresta 250 milhões. Eu quero saber qual é a intenção disso, qual é a lógica disso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É... O que eu vou dizer é o meu pensamento, e não fato, porque, infelizmente, eu não provo. O BNDES podia ter liberado os 400 milhões muito antes de novembro. Isso mudaria o quadro da companhia. Eu não sei por que essa liberação veio só no final do ano — e veio a metade. Eu não sei falar para a senhora. Eu imagino o porquê.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mas eu quero que o senhor diga o que o senhor imagina...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O senhor acha que... Perdão Deputada.
O senhor acha que houve pressão interna do banco ou de fora para evitar essa liberação?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Pode ter havido. O Independência, como eu falei aqui que o Prof. Luciano Coutinho estava buscando alvos, o Independência era um excelente alvo. O Independência era uma empresa muito interessante.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E quando o senhor afirmou que 17 empresas tiveram nessa mesma situação que o senhor, todas elas relatam essa mesma situação que o senhor está falando?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não necessariamente, porque elas não tiveram envolvimento com o BNDES. Eu relato que elas pediram recuperação, porque foi um ano de deterioração de todos os balanços. Veja o ponto: todas as empresas frigoríficas deterioraram seus balanços. Paralelamente, a JBS tinha aportes em ações. Não era dívida! O balanço dela ficava a cada dia mais forte.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Isso é uma coisa importante de nós observarmos, Deputado. Por quê? Porque nós estamos falando de um empréstimo que foi concedido à JBS rapidamente. Um empréstimo que demorava 300 e poucos dias — nós temos esse número exato — foi concedido em questão de dias; não foi nem em 1 mês. Então, isso...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe. A senhora fala da debênture?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - É.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - É bom frisar que essas debêntures foram convertidas em ação.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - É?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Por um valor questionado pelo mercado.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E por que demorou com uns e com... O senhor está entendendo a situação? E isso é importante frisar por quê? Porque isso mexeu com a economia local de várias cidades.
Quantos funcionários o senhor tinha na época?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Doze mil.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Doze mil funcionários. O senhor acha que esses funcionários foram readmitidos?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Absorvidos?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Absorvidos pelo mercado?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. Totalmente, não.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Uma das situações que aconteceu no Mato Grosso foi essa: vários frigoríficos acabaram com o domínio da JBS.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - No Mato Grosso, nós tínhamos fábrica em Colíder, Alta Floresta... Colíder... Tínhamos nos quatro pontos: Nova Xavantina... Tínhamos quatro fábricas lá, e foram as quatro embora. Então, as quatro hoje foram, as quatro, basicamente, para a JBS.
17:21
RF
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor conhece o Sr. Joesley Batista e...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E eles chegaram a propor ao senhor alguma coisa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Na recuperação judicial, sim: comprar a empresa na recuperação judicial.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - De qual valor eles fizeram a proposta?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não fizeram para a gente a proposta. Eles compraram os créditos na recuperação judicial. Nós não podemos arbitrar sobre o valor da empresa em recuperação judicial. Na verdade, eles compraram todos os créditos e, dentro desses créditos, as fábricas estavam em garantia. Então, eles compraram os créditos e levaram as fábricas. A empresa continua com a gente ainda hoje, que é o CNPJ. É o que ficou. A empresa continua.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Existe algum patrimônio ainda dessa empresa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. Ela existe e não existe. Tem uma fábrica que está arrendada para a JBS para pagamento de despesas, uma pequena fábrica.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - E quando o senhor fala... Quando a gente ouve uma delação do irmão do senhor falando algo diferente do que o senhor está falando aqui, como é que o senhor sente isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Meu irmão?
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - É. O que acabou de falar aqui. O Deputado disse que ele fez uma delação. O Deputado Jorge Solla disse que ele fez uma delação.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, desculpa, aquele não é meu irmão.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ah! não, não é seu irmão.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Aquele é o Sr. Ivanildo, de Campo Grande, que fez uma delação e acusou o meu irmão.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Ah! sim, desculpe-me. Foi bom o senhor esclarecer isso para...
Pode falar, é lógico, Deputado!
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - De repente o senhor valoriza uma delação e desvaloriza outra. Isto é, a delação do pessoal da JBS em relação à liberação de recursos, etc., a favorecimentos, o senhor entende que é procedente. Mas quando a delação vem de alguém em relação...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Como é isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Desculpe. As duas delações estão no mesmo nível. Elas precisam ser comprovadas. É que uma fala de uma coisa que não... As duas falam de coisas que podem não ter acontecido. O que eu estou falando é que a do Sr. Joesley pode ter acontecido e casa com o meu pensamento. Eu não tenho provas de que isso aconteceu, até porque, se eu tivesse... (Pausa.) Exatamente, podia ter entregado isso.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Então o senhor não está convalidando nenhuma das delações?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - De jeito... Não, eu nem tenho...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - É o contrário, tá?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu só estou... A do Sr. Joesley eu só alinho com a minha linha de raciocínio.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Quando o senhor se apresenta como alguém que foi vítima de um procedimento surpreendente do BNDES, que liberou parte... O BNDES tinha a obrigação de liberar a outra parte ou analisou a evolução...?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Era um contrato.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Era contratual. Já estava assinado, com ações e transferidos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Então o BNDES rompeu o contrato?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim. Não liberou a segunda etapa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O senhor sabe por quê, Sr. Presidente? Desculpe, mas... A sua perplexidade, vamos dizer assim, mais exacerbada do que a minha neste momento... Eu também estou aqui com essa garra. Mas é o seguinte: nós temos ouvido aqui que o BNDES age com todos os critérios; que o quadro técnico... Como é eu escuto... Na relação... A relação não é uma relação... Relação é com as pessoas.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Perfeitamente.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Na sua relação com os servidores do BNDES...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - São ótimas. Pena que eles não mandam no banco.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Sim, mas, naquele momento disseram: "O senhor está sendo golpeado aí, pô! Isso aí..."?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Eles próprios diziam isso em conversas informais? Como eles...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. É...
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Se eles não mandam, quem é que manda?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Quem manda no banco é o Presidente do banco.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - É o Presidente.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Não, não estou dizendo... Nós já tivemos aqui... Já ficou aqui caracterizado que não é o Presidente do banco que manda; que existe um modelo de procedimento, etc., etc., e o banco segue.
17:25
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Aliás, já passaram por aqui praticamente todos, com exceção... Os Presidentes do banco vieram aqui e disseram que o BNDES tem normas a que eles obedecem; que não é possível um presidente mandar; que a decisão é colegiada; que, quando chega ao Presidente, os pareceres já estão todos emitidos, e o Presidente somente...; que ninguém cumpre ordens do Presidente. Aliás, disseram que não cumprem ordens nem do Presidente da República! Isto aqui... Então, eu não sei...
Como diz a Deputada Paula, nós queremos entender. Aqui não estamos... Nós queremos entender, porque o senhor revela uma coisa que ainda não estava devidamente esclarecida para todos nós, como se o quadro técnico do BNDES cumprisse ordens do Presidente.
Aliás, lá mesmo, na visita ao BNDES, nas palestras a que assistimos, eles mostraram o fluxo para chegar à decisão dos procedimentos internos, para chegar a uma decisão. Quer dizer, nós gostaríamos e nós podemos ter acesso, Sr. Presidente, aos pareceres do BNDES para que depois não se fizesse a concessão, a aplicação do que faltava, para entender por que, e não ficar simplesmente: "Foi uma ordem do Presidente, e agora descumpre tudo".
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - É, porque essa segunda parcela que tinha que ser liberada e não foi... De quem o senhor acha que foi a decisão, Sr. Roberto?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não sei dizer de quem foi. Quem me falou foi o Sr. Caio Melo.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Caio Melo.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A decisão interna do banco, os senhores me desculpem, eu não sei de quem foi.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O senhor acha que existiu discussão jurídica, técnica dentro do BNDES...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, não, não.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - ... para dizer: "Olha, não façam essa...".
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não, não havia. Não havia.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Não havia.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não havia nada que impedisse a liberação do saldo, do aporte.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - É muito estranho isso.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não havia nada. A pergunta "Quem é que falou isso lá dentro?", eu não tenho... Eu estou aqui para tentar ajudar a descobrir.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Entendi.
Muito bem. Deputada Paula, pode continuar.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - São interessantes, Deputado, duas coisas, que eu não sei, mas nós podemos pedir para verificar aqui na Mesa.
Quanto à questão do BNDESPAR, se nós temos as empresas para as quais ele fez esse aporte de capital, e qual é o tempo de liberação desse dinheiro. Nós poderíamos fazer uma tabela comparativa para mostrar e explicar isso aí, porque o que está sendo colocado é que existia uma preferência para entregar o aporte de capital — no caso da JBS, menos de 1 mês; no caso de algumas empresas, 9 meses, 10 meses, 11 meses —, e isso fazia toda diferença até para a recuperação, a manutenção, da própria empresa.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Eu tenho impressão, Deputada Paula, que seria interessante essa comparação. Se V.Exa. puder formatar um requerimento para a próxima reunião, solicitando essas informações do BNDES e até, e inclusive, quais foram as decisões técnicas e jurídicas do próprio BNDES para não liberar a segunda parcela do empréstimo ao Frigorífico Independência, seria bom. Eu tenho impressão de que eles vão ter que dizer por que não liberaram. "Não liberamos por quê? Porque não era conveniente, ou porque juridicamente não podíamos, ou porque tecnicamente a empresa não podia receber". Tem que ter alguma explicação. O BNDES vai ter que explicar por que não liberou. Então, se V.Exa. pudesse formatar esse requerimento, seria bom, para que pudéssemos votar na próxima reunião.
17:29
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A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Está ótimo. E uma coisa é que, no depoimento anterior do Sr. Bertin ele diz o seguinte: que o Julio Raimundo e o Caio Melo, que são as pessoas com que o senhor tratava, foram as pessoas que o procuram para fazer o empréstimo. Segundo ele disse, esses dois senhores, que são técnicos — foi aprovado hoje um requerimento —, é que procuraram o Sr. Bertin para entregar a ele 2 milhões e meio.
Então, quer dizer, você percebe que existe uma história aí. Interessante isso, não é?
Só mais uma pergunta, Deputado?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - O.k., para terminar.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O senhor foi ouvido no dia 24 de setembro de 2015 na CPI do BNDES, que estava em curso naquela época. Na oportunidade, o senhor afirmou que o Frigorífico Independente se candidatou a ser campeão nacional. O que o senhor quis dizer com essa afirmação? Como era operacionalizada essa política? Quais eram os benefícios oferecidos? Quem eram os responsáveis do Governo à época por essa política? Quem ofereceu ao senhor a possibilidade de ser um campeão nacional? E como foi divulgada aos empresários que existiria, sim, essa política dos campeões nacionais? O que o senhor puder falar a respeito disso, eu agradeço.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A política de campeões nacionais não foi divulgada oficialmente. É uma coisa que a gente vinha acompanhando no banco. Todos os empresários acompanham todas as suas áreas nos seus setores, principalmente na área financeira. A gente via uma participação do banco no setor de frigorífico junto à JBS, e aí se falava — o banco falava — em campeões nacionais. O Sr. Luciano Coutinho falava em campões nacionais. Todos os frigoríficos do Brasil queriam se habilitar a ser campeões nacionais. Quem é que não quer ser um campeão na sua área? Muitos pedidos foram feitos e foram negados. Nós nos habilitamos, junto com o mercado, a também participar desse campeonato nacional, e o banco acatou o nosso pedido, viu na nossa companhia uma empresa que cumpria as regras tratadas nesse processo e nos aceitou nesse processo. Não havia uma política... formalizou uma política. Não. O banco começou a fazer aportes muito pesados na JBS, a gente começou a acompanhar isso. Era um período de crise, um período em que não se achava funding em lugar nenhum. Funding são recursos. E todo mundo foi ao banco, não fomos só nós. O banco filtrou essas companhias, e participavam Bertin, JBS Friboi, MARFRIG e Independência. Foram as quatro empresas que o banco aceitou para participarem dessa competição.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Hoje existem quantas delas?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Hoje existem MARFRIG e JBS Friboi.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O caso da MARFRIG...
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - MARFRIG.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - ... MARFRIG é muito interessante porque houve uma supervalorização nas ações. Parece-me que elas estavam valendo aí 6, 7 e foram compradas por 21 centavos. É uma coisa absurda, que não faz parte do escopo agora da CPI, mas é algo que nós temos que pedir para que o Ministério Público e o próprio TCU façam um relatório a respeito disso.
Deputado, o senhor me permite mais uma pergunta? (Pausa.) Não, pode, pode. O que o senhor... Estou à disposição.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Eu vou precisar votar.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Mais uma votação?
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Queria pedir a V.Exa. que pudesse...
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Processou o BNDES?
17:33
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O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ainda não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Por descumprimento do acordo?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Não. Ainda não.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Quanto anos tem?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Dez anos.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Dez anos (ininteligível)?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - A gente estava num processo arbitral que acabou faz 2 anos.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - O que ia dizer é o seguinte... Então, nessa história toda, eu posso concluir o seguinte: o BNDES entregou 250 milhões tardiamente para uma empresa que acabou pedindo recuperação judicial; o BNDES arcou com os passivos dessa empresa também, juntamente com a empresa; e a JBS se beneficiou, comprando os créditos dessa recuperação judicial. É isso?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - O BNDES não ficou com dívida nenhuma. A dívida é da empresa, não é do banco. O JBS comprou os créditos em recuperação judicial. Ele comprou as fábricas...
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Por qual valor ele comprou?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Eu acho que foram 360 milhões de reais, uma coisa assim.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - O BNDES não ficou com ações da empresa?
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Ficou com as ações da empresa.
O SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ) - Então parcialmente ele também perdeu!
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Sim. Desvalorizaram... Esses 250 milhões de reais desvalorizam. Mas ele não fica com passivos. Ele perdeu na operação, mas não fica com passivos. Os passivos não cabem a ele.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Eu gostaria de solicitar que a Deputada Paula Belmonte presidisse a reunião.
(Intervenções fora do microfone.)
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Bem, tendo em vista que não há mais oradores inscritos, a Presidência gostaria de agradecer muito ao Sr. Roberto Graziano Russo pela sua presença e pelas informações dadas à nossa CPI. Com certeza isso vai fazer parte de um processo investigatório bastante aprofundado. Suas informações foram fundamentais para que pudéssemos amarrar algumas linhas desse processo de investigação.
Agradecemos, portanto, sua colaboração.
Nada mais havendo a tratar, passo a palavra ao senhor, para suas considerações finais.
O SR. ROBERTO GRAZIANO RUSSO - Muito obrigado. Obrigado pela oportunidade de esclarecer o que aconteceu com a companhia. Ficamos à disposição para o que precisarem.
O SR. PRESIDENTE (Vanderlei Macris. PSDB - SP) - Muito bem.
Vou encerrar os trabalhos, antes convocando os Srs. Deputados para a próxima reunião ordinária, a realizar-se no dia 20 de agosto, às 14h30min, no Plenário 5 do Anexo II, para a tomada depoimento do Sr. João Carlos Mariz Nogueira, ex-Diretor da Odebrecht — Requerimento 144/19; e também do Sr. Eduardo Rath Fingerl, Diretor atual do BNDESPAR, responsável pela área de mercado de capitais — Requerimento 191/19, de autoria do Deputado Sidney Leite.
Está encerra a presente reunião.
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